segunda-feira, 15 de abril de 2019

TANNHÄUSER, De Nationale Opera, Amsterdão / Amsterdam, Abril 2019



(Review in English below)

A ópera de R Wagner Tannhäuser esteve em cena na Ópera Nacional de Amsterdão, numa encenação de Christof Loy, com cenografia de Johannes Leiacker, guarda roupa de Ursula Renzenbrink, luzes de Olaf Winter e dramaturgia de Klaus Bertisch.






A acção original passa-se em Wartburg (Século XIII) e conta a história do cavaleiro trovador Tannhäuser que é incapaz de escolher entre o amor profano, carnal (Venus) e o amor sagrado, casto (Elisabeth). Depois da belíssima abertura, a ópera começa com um bacanal no monte de Vénus, perto de Wartburg, onde a deusa mantinha os cavaleiros em grande deleite carnal.



Loy traz a acção para um clube masculino do início do século passado. Há um salão com lustres grandes, um piano a meio, alguns sofás, uma larga passagem à esquerda e um arco ao centro que dá acesso a outra sala com portas para além das quais pouco se vê. Os trovadores estão vestidos de casaca e os membros do coro de fato e laço preto. Venus tem um longo vestido negro. No bacanal entram bailarinas vestidas a rigor e, com o desenrolar frenético da acção, alguns homens e mulheres vão-se despindo até ao nú integral. É uma das partes mais bem conseguidas da encenação.




Tannhäuser regressa a Wartburg encontrando os seus amigos trovadores de longa data. Elisabeth, sua antiga amada, fica feliz com o regresso. O cenário mantem-se o mesmo até ao final. Elisabeth tem um longo vestido branco. Num concurso de canto sobre a natureza do amor os trovadores elogiam o amor puro, mas Tannhäuser defende Venus e o amor carnal. Todos ficam chocados e condenam-no, excepto Elisabeth que evoca a virgem Maria. Tannhäuser decide ir com os peregrinos a Roma para obter o perdão papal, sem sucesso. Wolfram, eterno apaixonado por Elisabeth, antevê o seu fim trágico. Tannhäuser regressa e encontra finalmente a redenção quando vê que Elisabeth sacrificara a vida. Nesta encenação, os peregrinos entram pela passagem lateral, há o reaparecimento muito precoce de Venus (em todo o 3º acto), o ambiente do monte de Venus tenta recrear-se e todos obtêm a redenção, excepto a Elisabeth.
É uma encenação vistosa, a preto e branco, mas que não faz justiça plena à obra de Wagner.



O maestro Marc Albrecht dirigiu superiormente a Nederlands Philharmonisch Orkest



O Coro da De Nationale Opera, sobretudo o masculino, esteve ao mais alto nas várias e magníficas intervenções.



Os solistas principais foram globalmente muito bons, mas com diferenças. A Venus foi interpretada pela mezzo russa Ekaterina Gubanova. Esteve muito bem, a voz é grande, agradável e sempre sobre a orquestra. Contudo, não transmitiu a sensualidade libidinosa que a personagem exige.



O Heinrich (Tannhäuser) foi o tenor alemão Daniel Kirch. É um papel muito difícil e o cantor fez o que pode. Com voz algo monocórdica, foi o solista menos marcante da noite, deixando-se afogar ocasionalmente pela orquestra.



O baixo dinamarquês Stephen Milling foi um Hermann, senhor da Turíngia, de grande qualidade. Tem uma voz bonita, potente, sempre afinada e teve uma notável presença cénica. 



A Elisabeth, interpretada pela soprano russa Svetlana Aksenova foi uma das melhores da noite, muito expressiva em palco e com uma voz forte, limpa, sempre afinada e sobre a orquestra. Começou logo bem com a ária Dich teure Halle e assim se manteve até ao final.



O barítono alemão Björn Bürger foi o Wolfram von Eschenbach. O melhor interprete da noite, teve tudo o que se pode esperar desta personagem. Um cantor jovem e com uma excelente figura. Voz magnífica, de uma beleza invulgar, afinação perfeita e uma interpretação muito emotiva. Wagner reservou-lhe a mais bela música da ópera, mas Bürger esteva à altura e fez-lhe justiça. Todas as intervenções foram muito boas mas a mais conhecida, O du mein holder Abendstern, foi comovente.




Os restantes solistas foram de grande nível, Attilio Glaser (Walter), Lucas van Lierop (Heinrich), Eric Ander (Reinmar) e Kay Stiefermann (Biterolf, este com uma voz potente mas algo agreste). Termino com um grande elogio à soprano Julietta Aleksanyan que foi excelente como jovem pastor!



Apesar da encenação e de alguns pontos menos favoráveis que referi referentes às interpretações vocais, foi um espectáculo que ficará na minha memória por três componentes extraordinárias, a Orquestra, o Coro masculino e o Wolfram (Björn Bürger).








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TANNHÄUSER, De Nationale Opera, Amsterdam, April 2019

R Wagner’s opera Tannhäuser was on stage at the Amsterdam National Opera, staged by Christof Loy, with scenography by Johannes Leiacker, dresses by Ursula Renzenbrink, lights by Olaf Winter and dramaturgy by Klaus Bertisch.

The original action takes place in Wartburg (13th century) and tells the story of the troubadour knight Tannhäuser who is unable to choose between carnal, profane love (Venus) and sacred, chaste love (Elisabeth). After the beautiful overture, the opera begins with a bacchanal on the mount of Venus, near Wartburg, where the goddess kept the knights in great carnal delight.

Loy brings the action to a male club from the beginning of the last century. There is a hall with large chandeliers, a piano in the middle, some sofas, a large passage on the left and an archway in the center that gives access to another room with doors beyond which little is seen. The troubadours are dressed in their formal suits and the members of the choir in black suites and black bow. Venus has a long black dress. In the bacchanal there are classical dancers dressed in rigor and, with the frenetic unfolding of the action, some men and women go undressing to the full nude. It is one of the most accomplished parts of the staging.

Tannhäuser returns to Wartburg meeting his long-standing troubadour friends. Elisabeth, her old beloved, is happy to know he is back. The scenario remains the same until the end. Elisabeth has a long white dress. In a singing contest about the nature of love the troubadours praise pure love, but Tannhäuser defends Venus and carnal love. Everyone is shocked and condemn him except Elisabeth who evokes the Virgin Mary. Tannhäuser decides to go with the pilgrims to Rome to obtain the Pope´s pardon, without success. Wolfram, eternally in love with Elisabeth, foresees her tragic end. Tannhäuser returns and finds redemption at last when he sees that Elisabeth had sacrificed her life. In this production, there is a very early reappearance of Venus (throughout the whole 3rd act), the atmosphere of the mount of Venus tries to be recreated, and everyone obtains redemption, except Elisabeth.
It is a showy, black and white production, but does not do full justice to Wagner's work.

Maestro Marc Albrecht directed the Nederlands Philharmonisch Orkest. The Choir of De Nationale Oper, especially the male choir, was sublime in several magnificent interventions.

The main soloists were overall very good, but with differences. Venus was performed by Russian mezzo Ekaterina Gubanova. She was very well, the voice is great, pleasant and always over the orchestra. However, she did not convey the libidinous sensuality that the character demands.

Heinrich (Tannhäuser) was the German tenor Daniel Kirch. It's a very difficult role and the singer has done what he can. Not bad, he was the least striking soloist of the evening, occasionally drowning in the orchestra.

Danish bass Stephen Milling was a high-quality Hermann, Lord of Thuringia. He has a beautiful, powerful voice, always in tune and has a remarkable stage presence.

Elisabeth was Russian soprano Svetlana Aksenova. She was one of the best of the night, very expressive on stage and with a strong and always tuned voice and over the orchestra. She began very well with the aria Dich teure Halle and so she remained until the end.

German baritone Björn Bürger was Wolfram von Eschenbach. The best interpreter of the night, he had everything that can be expected for this character. A young singer with an excellent figure. Magnificent voice, of an unusual beauty, perfect tuning and a very emotional interpretation. Wagner reserved to him the most beautiful music of the opera, and Bürger did him justice. All the interventions were very good, but the best known aria, O du mein holder Abendstern, was moving.

The other soloists were also good, Attilio Glaser (Walter), Lucas van Lierop (Heinrich), Eric Ander (Reinmar) and Kay Stiefermann (Biterolf, this one with a powerful but somewhat harsh voice). I end with a great compliment to the young soprano Julietta Aleksanyan who was excellent as a young shepherd!

Despite the staging and a few less favorable points I mentioned regarding vocal performances, it was a performance that will remain in my memory for three extraordinary components, the Orchestra, the Male Choir, and Wolfram (Björn Bürger).

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