quarta-feira, 20 de setembro de 2017

TURANDOT, Royal Opera House, Londres / London, Julho / July 2017

(review in English below)

A encenação da Turandot de Puccini na Royal Opera House de Londres é da autoria de Andrei Serban e tem já 33 anos. Como referido no programa de sala, é uma fantasia oriental de grande impacto visual. O cenário tem por base uma construção em madeira de 3 andares onde o coro está na maioria das intervenções. 



Todas as personagens envergam máscaras. O colorido dos trajos e dos adereços é riquíssimo. Há um corpo de baile acrobático omnipresente, representando guerreiros chineses. 




Do céu descem uma enorme lua, o gongo que o Calaf toca no final do 1º acto e o imperador Altoum num trono dourado. Um grande dragão atravessa o palco mais de uma vez. A princesa Turandot aparece ricamente vestida de branco ou de vermelho. Só a morte da Liù, que corta o pescoço com a espada do carrasco, é pouco conseguida. Enfim, é difícil descrever algo que é magnífico para ver.



O maestro Dan Ettinger cumpriu sem deslumbrar. A orquestra e o coro foram magníficos. A música é muito bonita, mas isso não justifica que lhe tenha dado primazia absoluta, afogando frequentemente os cantores, como aconteceu.




Assiti a duas récitas, com elencos diferentes nos solistas principais.

Primeira récita:



O príncipe Calaf foi interpretado pelo tenor letão Aleksandrs Antonenko. Esteve vocalmente muito bem, voz bem timbrada, cheia, com agudos emitidos de forma aparentemente fácil e sem perderem qualidade. Contudo, por vezes ouvia-se mal, não percebi bem se por culpa da orquestra, da encenação ou do cantor.



A soprano russa Hibla Gerzmava fez uma Liu fora da personagem. Tem uma voz excessivamente grande para o papel e não consegue transmitir a doçura e fragilidade necessárias nesta que é a figura feminina mais delicada da ópera. E em cena também não se destacou, foi sempre muito estática, mas os outros solistas também não.



A princesa Turandot foi interpretada pela soprano norte-americana Christine Goerke. É um dos seus papéis de referencia e interpretou-o com grande autoridade. A voz é grande e poderosa, bem adaptada à personagem. Foi a melhor em palco.




Ping, Pang e Pong foram respectivamente Michel de Souza, Aled Hall e Pavel Petrov. Os três óptimos na movimentação cénica mas merece destaque o primeiro que mostrou uma voz poderosa, bonita e sempre audível.



O jovem baixo coreano In Sung Sim fez um Timur aceitável, 



o sénior (71 anos) tenor inglês Robin Leggate cumpriu com distinção o Emperador Altoum




 e o barítono ucraniano Yuriy Yurchuk foi um Mandarim muito discreto.







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Segunda récita:





O príncipe Calaf foi interpretado pelo tenor francês Roberto Alagna. Os leitores deste blogue sabem que não é um cantor que admire mas nesta récita esteve em grande forma. Voz sempre afinada e audível com agudos claros e de qualidade. Manteve a boa qualidade interpretativa ao longo de toda a récita. Foi uma das melhores interpretações que lhe ouvi.



A Liù foi interpretada pela soprano polaca Aleksandra Kurzak. Foi uma das melhores da noite. Tem uma voz de timbre muito agradável, agudos fáceis e sem esforço e foi muito emotiva e expressiva na interpretação. Até a ineficaz cena da morte conseguiu fazer de forma mais credível.



A princesa Turandot foi a soprano norte americana Lise Lindstrom que é uma veterana nesta interpretação. Não esteve ao nível que a já ouvi anteriormente. Tem um timbre muito agudo, próximo da estridência e fazia um ruído estranho imediatamente antes de atacar as notas mais agudas. A voz foi sempre bem audível e esteve muito bem em cena, mas não foi uma Turandot memorável.



Ping, Pang e Pong foram bem interpretados respectivamente por Leon Kosavic, Samuel Sakker e David Junghoon Kim. Vozes muito dignas e excelente movimentação em palco.



O baixo britânico Brindley Sherratt fez um Timur de grande qualidade, mostrando uma voz poderosa com um assinalável registo grave.



Os restantes cantores foram os mesmos da primeira récita.








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A Turandot ideal neste mês na Royal Opera House teria como solistas Christine Goerke como Turandot, Roberto Alagna como Calaf, Aleksandra Kurzak como Liù, Brindley Sherratt como Timur, e Michel de Souza, Aled Hall e Pavel Petrov como Ping, Pang e Pong.


TURANDOT, Royal Opera House, London, July 2017

The staging of Puccini's Turandot at the Royal Opera House in London is by Andrei Serban and is now 33 years old. As stated in the room program, it is an oriental fantasy of great visual impact. The setting is based on a 3-story wooden construction where the choir is in most of the interventions. All characters wear masks. The color of the costumes and the props is very rich. There are an omnipresent acrobatic dancers, representing Chinese warriors. From the sky descend a huge moon, the gong that the Calaf plays at the end of the 1st act and the emperor Altoum on a golden throne. A great dragon crosses the stage more than once. Princess Turandot appears richly dressed in white or red. Only the death of Liù, who cuts the neck with the executioner's sword, is little achieved. Anyway, it is difficult to describe something that is really magnificent to see.

Conductor Dan Ettinger was ok without dazzling. The orchestra and chorus were fantastic. The music is very beautiful, but that does not justify giving it absolute primacy, often drowning the singers, as it happened.
I watched two recitals, with different casts on the main soloists.

First performance:

Prince Calaf was played by Latvian tenor Aleksandrs Antonenko. He was very well, full-featured voice, with top notes apparently easy and without losing quality. However, sometimes he was suddenly barely heard, I did not understand if it was the fault of the orchestra, the staging or the singer.

Russian soprano Hibla Gerzmava was a Liu out of character. She has an excessively big voice for the role and fails to convey the necessary sweetness and fragility in this most delicate female figure in the opera. And on stage she also did not stand out, was always very static, but the other soloists also were.

Princess Turandot was interpreted by American soprano Christine Goerke. It is one of her reference roles that she interpreted with great authority. The voice is big and powerful, well adapted to the character. She was the best on stage.

Ping, Pang and Pong were respectively Michel de Souza, Aled Hall and Pavel Petrov. The three were great on stage but the first one deserves highlight because he showed a powerful, beautiful and always audible voice.

The young Korean bass In Sung Sim was an acceptable Timur, senior (71 years) English tenor Robin Leggate fulfilled with distinction the role of Emperor Altoum and Ukrainian baritone Yuriy Yurchuk was a very discreet Mandarin.

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Second performance:

Prince Calaf was played by French tenor Roberto Alagna. Readers of this blog know that he is not a singer who I admire but in this performance he was great. The voice was always tuned and audible with clear and quality top notes. He maintained good interpretive quality throughout the performance. It was one of the best interpretations I heard from him.

Liù was performed by Polish soprano Aleksandra Kurzak. She was one of the best of the night. She has a very nice voice, easy and effortless top notes and was very emotional and expressive in the interpretation. Even the ineffectual death scene she was able to do it more credibly.

Princess Turandot was American soprano Lise Lindstrom who is a veteran in this role. She was not to the level I've heard her before. She has a very sharp timbre, close to stridency and made a strange noise just before attacking the higher notes. The voice was always very audible and she was very well on stage, but it was not a memorable Turandot.

Ping, Pang and Pong were well played respectively by Leon Kosavic, Samuel Sakker and David Junghoon Kim. Very dignified voices and excellent stage movements.

British bass Brindley Sherratt was a Timur of great quality, showing a powerful voice with a remarkable bass register.

The remaining singers were the same as in the first recital.

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The ideal Turandot this month at the Royal Opera House would have as soloists Christine Goerke as Turandot, Roberto Alagna as Calaf, Aleksandra Kurzak as Liù, Brindley Sherratt as Timur, and Michel de Souza, Aled Hall and Pavel Petrov as Ping, Pang and Pong.


2 comentários:

  1. Uma das récitas com Kurzak, Alagna e Lindstrom foi transmitida ao vivo no YouTube. Foi uma experiência muito interessante porque, sendo uma ópera que já conhecemos tão bem, muitos fanáticos de todo o mundo puderam comentar o espectáculo em tempo real pela primeira vez. Fomos muito menos entusiásticos do que o Fanatico_Um em relação ao Alagna. Kurzak foi muito louvada por um retrato deliberadamente nada convencional da Liù: mais do que a bonequinha romântica de Puccini, foi uma Liù racional e consequente. As opiniões quanto a Alagna e Lindstrom dividiram-se; Kurzak foi sem dúvida a mais elogiada online em tempo real.

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  2. Esta encenação de Andrei Serban e produção da Royal Opera House, vi-a em S. Carlos em Janeiro de 2004. De facto muito interessante.

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