sexta-feira, 23 de outubro de 2015

OTELLO – METropolitan OPERA, Nova Iorque, Outubro 2015 / October 2015

(review in English below)

A ópera Otello de G. Verdi abriu a temporada de 2015-2016 da Metropolitan Opera.


Numa encenação de Bartlett Sher, assistimos a um espectáculo que praticamente só valeu pelas vozes, dado que no palco, sempre escuro, pouco de interessante se passou. Com 6 estruturas translúcidas e móveis, os cenários mudavam com frequência mas o efeito era pouco eficaz. Os cantores vagueavam entre eles, com eficácia duvidosa e, por vezes, até pareciam confusos em relação à direcção que deviam tomar, como foi manifestamente o caso do dueto de Otello com Iago no 2º acto. Num palco desta dimensão, foi uma abordagem cénica ineficaz.


Esta produção gerou grande debate porque, pela primeira vez, o mouro Otelo não apareceu de cara pintada de escuro. Não me pareceu nada de relevante, apesar das referencias no libreto. E esse facto, levado à letra, seria um debate delicado e perigoso, que extravasa a encenação da ópera.

A direcção do maestro canadiano Yannic Nézet-Séguin foi segura e de qualidade, permitindo à excelente Orquestra da Metropolitan Opera mais uma óptima interpretação. O Coro esteve também em bom nível.



O tenor letão Aleksandrs Antonenko foi um Otello de qualidade. Não é um cantor que eu admire e confesso que logo à partida ia predisposto a não gostar. Mas ultrapassei o preconceito. O grito inicial Esultate! fez prometer muito, mas a voz é relativamente pequena e não tem um timbre cativante, embora o cantor tenha conseguido projectá-la com eficácia. Em cena esteve muito estático e foi pouco emotivo, tanto nos momentos de glória como quando corroído pelo ciúme.


Já o Iago do barítono sérvio Zeljko Lucic foi muito melhor na voz e na prestação cénica. É um dos melhores barítonos verdianos da actualidade e, mais uma vez, aqui o demonstrou. Conseguiu transbordar maldade e cinismo ao longo de toda a récita, como a personagem exige. A voz foi sempre imponente (embora com ligeira quebra no registo mais grave), bem colocada e de assinalável beleza tímbrica.


A grande revelação da récita foi a Desdemona da soprano búlgara Sonya Yoncheva. Foi a melhor interpretação da noite. A cantora tem uma voz belíssima, sempre afinada e com uma potência invulgar. Conseguiu transmitir o que se espera da Desdemona inocente e vítima do ciúme doentio do marido. Se esteve muito bem em toda a récita, no último acto foi insuperável, com uma Ave Maria preciosa. Fantástica!



O Cassio do tenor americano Dimitri Pittas foi decente tanto na prestação vocal como cénica. Nos papéis secundários Jenifer Johnson Cano fez uma Emilia muito expressiva,  Jeff Mattsey foi um Montano competente e Chad Shelton um Roderigo eficaz.



No cômputo final, um bom espectáculo, numa encenação desinteressante.




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OTELLO - Metropolitan Opera, October 2015


The opera Otello by G. Verdi opened the 2015-2016 season of the Metropolitan Opera.

The staging by Bartlett Sher, was always dark and not interesting. Six translucent and mobile structures made scenarios changed often, but the effect was less than impressive. The singers wandered among and around them, with doubtful efficacy and sometimes even seemed confused about the direction they should take, as was clearly the case of the duet of Otello and Iago in the 2nd act.

This production generated great debate because, for the first time, the Moor Otello did not appear painted dark face. It did not seem relevant, despite the references in the libretto. And that fact, taken literally, would be a delicate and dangerous debate that goes beyond the staging of this opera.

Canadian conductor Yannic Nézet-Séguin was of high quality, enabling the excellent Orchestra of the Metropolitan Opera to deliver another excellent interpretation. The Choir was also at the highest level.

Latvian tenor Aleksandrs Antonenko was a good Otello. He is not a singer I admire and I confess that at the outset I was predisposed to dislike him. But I overtook the prejudice. His initial cry Esultate! promised a lot, but his voice is relatively small, has not a captivating tone, but he was able to project it effectively. On stage he was very static and unemotional, both in times of glory as when corroded by jealousy.

Iago by Serbian baritone Zeljko Lucic was excellent in voice and on stage. He is one of the best Verdian baritones of our time and, once again, he demonstrated it. He could spill over evil and cynicism throughout the performance, as the character requires. The voice was always impressive (although not so exciting in the lower register) and with a very beautiful timbre.

The great revelation was the Bulgarian soprano Sonya Yoncheva as Desdemona. She was the best performer of the night. The singer has a gorgeous voice, always in tune and with an unusual power. She managed to convey what is expected of an innocent Desdemona and the victim of her husband's insanely jealous. If she has been very well throughout the performance, in the last act she was unsurpassed, with a precious Ave Maria. Fantastic!

American tenor Dimitri Pittas was a very decent Cassio both in vocal performance as on stage. In supporting roles Jenifer Johnson Cano was an efficient Emilia, Jeff Mattsey a competent Montano, and Chad Shelton an effective Roderigo.

Overall, a good performance in an unattractive staging.

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