sábado, 24 de maio de 2014

WRITTEN ON SKIN de George Benjamin — FCG, 23.05.2014

(Review in English below)

(Fotos da internet)

A FCG apresentou a ópera Written on Skin de George Benjamin. O compositor britânico compô-la em 2012 para o Festival Aix-en-Provence e recebeu uma óptima recepção da crítica especializada. Saíram críticas com frases como «a melhor ópera dos últimos 20 anos» ou descrições como «apaixonada, sensualmente bela, terrivelmente dramática». O libreto ficou a cargo de Martin Crimp que se baseou num manuscrito anónimo do século XIII.

O texto é rico e interessante, tratando temáticas como o poder, o género, a mulher como objecto, a submissão ou a fuga para a libertação. Mas também trata do amor, da arte, da morte, da violência física e verbal, ou do suicídio. É uma obra que se divide em Primeira, Segunda e Terceira partes sem intervalo, podendo ler-se uma sinopse e um interessante texto introdutório de Susana Duarte nesta ligação.


A Orquestra Gulbenkian apresentou-se num nível muito elevado sob direcção do próprio compositor — George Benjamin. A música é, no meu entender, interessante, explorando várias tonalidades harmónicas e com um elevado sentido dramático. É música contemporânea de inegável qualidade e que merece uma audição atenta e despreconceituosa. Penso que o pouco público presente lhe soube dar valor.

Os cantores estiveram num plano muito elevado. O canto não era tecnicamente fácil e a expressividade e dramatismo constantes exigiam uma presença e entrega totais. Isto para não falar de que, apesar de em muitos momentos o volume sonoro da orquestra não ser fácil de combater, os cantores revelaram sempre facilidade em ouvir-se.


Christopher Purves, barítono inglês, esteve num nível elevadíssimo. Expressividade dramática vocal e corporal excelentes, voz de colocação e potência magníficas, além de um timbre muito agradável. O melhor do trio de personagens principais.


Elin Rombo, soprano sueca foi uma Agnès também excepcional. Voz com um timbre bonito, óptima amplitude vocal, projecção de nível (a soar sempre por cima da orquestra: destaque para o final da Segunda parte). Tem, também, uma excelente expressividade corporal e ofereceu uma interpretação dramática intensa.


Tim Mead, contratenor inglês, fez de Anjo 1 e de Rapaz. A voz surpreendeu-me pela qualidade e timbre de beleza muito invulgar. Teve uma interpretação de muito elevada qualidade. Aliás, este trio esteve brutal!


Depois, em papéis mais pequenos, tivemos o meio-soprano Victoria Simmonds como Anjo2/Marie e o tenor Rupert Charlesworth como Anjo3/John em bom plano.


Foi, pois, uma récita bem interessante com destaque para a qualidade da Orquestra FCG e para o trio Purves, Rombo e Mead, além, obviamente, do compositor Benjamin.

Fica uma pequena entrevista do compositor para a ROH.



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(Review in English)

The FCG presented the opera Written on Skin by George Benjamin. The British composer presented it in 2012 for the Festival Aix-en-Provence and received a great reception from critic. There were critics saying "the best opera of the last 20 years” or descriptions as "passionate, sensuously beautiful, terribly dramatic". Martin Crimp that was based on an anonymous manuscript of the thirteenth century did the libretto.

The text is rich and interesting, dealing with themes such as power, gender, woman as object, submission or escape to freedom. But comes to love, art, death, physical and verbal violence, or suicide. It is a work that is divided into First, Second and Third parties without intermission, and you can read a synopsis and an interesting introductory text by Susana Duarte at this link.

The Gulbenkian Orchestra has performed at a very high under the direction of the composer himself — George Benjamin. The music is, in my view, interesting, exploring various harmonics and high dramatic sense tonalities. It is contemporary music of undeniable quality and deserves an attentive and unprejudiced hearing. I think the little audience in the hall knew to value it.

The singers were on a very high level. The singing was not technically easy and dramatic expressiveness required a constant presence and total giving. Not to mention that, although many times the loudness of the orchestra were not be easy to surpass, the singers always proved easier to hear.

Christopher Purves, English baritone, was on a very high level. Excellent dramatic vocal and corporal expressiveness, and voice placement and magnificent power, plus a very nice timbre. He was the best singer within the main characters’ trio.

Elin Rombo, Swedish soprano was an Agnès equally exceptional. Voice with a beautiful timbre, great vocal range, projection of high level quality (always soar above the orchestra: highlight to the end of the Second Part). She also has a great body expressiveness and offered an intense dramatic interpretation

Tim Mead, English countertenor, did Angel 1 and Boy. The voice surprised me by the quality and timbre. He had an interpretation of very high quality. Indeed, this trio was amazing!

Then, in smaller roles, had at good level the mezzo-soprano Victoria Simmonds as Angel 2/Marie and tenor Rupert Charlesworth as Angel3/John.

It was therefore a very interesting recitation highlighting the quality of FCG Orchestra and the trio Purves, Rombo and Mead, besides, obviously, the composer Benjamin.                                       

2 comentários:

  1. Também estive presente e confesso a minha dificuldade em sentir prazer com música contemporânea como esta. A Gulbenkian estava às moscas. Os solistas foram excelentes. Christopher Purves e Elin Rombo fabulosos. Mas, ainda assim, foi uma obra de audição penosa para mim.

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    1. Manuel Mourato - 26/05/2014
      Estive presente no espetaculo do dia 23. Também verifiquei a boa qualidade dos cantores, nomeadamente do barítono, contudo não consegui aguentar até ao fim. Estas obras contemporâneas, geralmente parecem-se todas umas com as outras, nomeadamnete nas orquestrações, demasiado extridentes e nada agradaveis ao ouvido.

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