domingo, 19 de janeiro de 2014

SCHUBERT e MAHLER “arrasados” na Fundação Gulbenkian — CCB, 17 de Janeiro de 2014

(Review in English below)


O concerto a que assisti no Centro Cultural de Belém na Sexta-feira deixou-me, no mínimo, perturbado.


Paul McCreesh, novo maestro titular da Orquestra da FCG, é conhecido pelo seu carácter inovador. Já tinha “saboreado” o fel da inovação com o Requiem de Mozart da temporada passada e, pelos vistos, não me vai passar o amargo de boca…


Na sua arrogância inventiva — parece que McCreesh nos tem de presentear com uma “nova perspectiva” de tudo o que faz e outros fizerem de maneira mais tradicional... —, os quatro andamentos da Sinfonia n.º 9 de Franz Schubert foram intercalados por intervalos e Canções de Gustav Mahler. A opção é péssima e injustificada (no programa de sala McCreesh encontra uma solução...): as interrupções constantes com aplausos pouco entusiasmados, cadeiras a entrar e a sair, músicos a chegar e a partir, instrumentos ora presentes, ora ausentes, fizeram perder o sentido unitário das peças apresentadas. McCreesh deve julgar o público amador ou que prefere ir tendo descanso da música por si apresentada. Talvez esta segunda opção seja a mais válida…


E que dizer das interpretações?! Uma pobreza. A Sinfonia de Schubert  — A Grande — foi arruinada. O que foi aquele segundo andamento? Foi, quase de certeza, o mais desagradável momento musical a que assisti na FCG: um tempo horrível, os naipes a soarem empastelados, amorfos... Juntando todos os andamentos (e, apesar de tudo, os dois últimos foram menos maus), assistiu-se a uma interpretação sem qualquer vida, com um tempo incerto, uma falta de sentido interpretativo total. A Orquestra parecia estar com um embotamento grave, muito grave.

E Mahler? O carácter bucólico das canções Des Knaben Wundehorn não existiu. Penso mesmo que McCreesh não entende Mahler. Foi terrível. Mais evidente ainda na canção Das himmlische Leben que integra, também, o último andamento da sua Sinfonia n.º 4, e que é bem conhecida do público em geral. Fez-nos o retrato tenebroso da destruição daquelas que deviam ser as alegrias do paraíso.


Valeu-lhe o soprano sueco Miah Persson que, com o seu timbre bonito, agudos fáceis e delicados, e excelente interpretação dramática elevou um pouco o nome de Mahler insistentemente rebaixado pelo maestro britânico. A sua interpretação da canção Wo die schönen Trompeten blasen foi assinalável e teve um legato perfeito.

A minha ideia de que Paul McCreesh, o único que pareceu minimamente entusiasmado, adora o seu génio inventivo e reformador, não é só minha. Se quiserem, deem uma vista de olhos a este site de crítica especializada. McCreesh é capaz de produzir as maiores tragédias... E perspectiva-se uma trágica tragédia em Orfeu e Euridice na próxima semana... A continuar assim, prevejo um declínio qualitativo desta orquestra e, para mim e com muita pena, McCreesh começa a ganhar o cognome de o assassino de música...

---------
(Review in English)

The concert I attended at the Centro Cultural de Belém on Friday left me, at least, disturbed.
Paul McCreesh, new principal conductor of the FCG Orchestra, is known for his innovative character. I had "tasted" the gall of innovation with Mozart's Requiem last season and, apparently, it will not pass me the bitter taste...
In his inventive arrogance — it seems that McCreesh must present with us a "new perspective" on everything he does and others do more traditionally... —, the four movements of Franz Schubert’s Symphony No. 9 were interspersed with intervals and songs of Gustav Mahler. The option is terrible and unjustified (in the room program McCreesh finds a solution...): the constant interruptions with little enthusiastic applauses, chairs coming and going, musicians arriving and leaving, instruments sometimes present, sometimes absent, did lose unitary sense of the pieces presented. McCreesh must judge the public is amateur or prefer to have a rest of the music he presents. Perhaps this second option is the most valid...
And what about the performances? Poverty. Symphony no. 9 — The Great — was ruined. What was that second movement? It was almost certainly the most unpleasant musical moment I attended at FCG: a horrible tempo, everything without any kind of passion, totally amorphous... Joining all movements (and, after all, the last two were less bad), there has been an interpretation without any life, with an uncertain tempo, a total lack of interpretive sense. The orchestra seemed to be in a serious, very serious dullness.
And Mahler? The bucolic character of the songs Des Knaben Wundehorn did not exist. I do think McCreesh not even understand Mahler. It was terrible. Even more evident in the song Das Leben himmlische that also integrates the last movement of Symphony no. 4, which is well known to the general public. He made a dark portrait of the destruction of those who should be the joys of paradise. Swedish soprano Miah Persson was the one who saved the songs. With her beautiful timbre, easy and delicate treble, and great dramatic interpretation raised slightly the name of Mahler repeatedly downgraded by the British conductor. Her interpretation of the song Wo die schönen Trompeten blasen was remarkable and had a perfect legato.


My idea that Paul McCreesh, the one who seemed a bit of enthusiasm, loves his inventive and reformative genius, is not only mine. If you want, give a look to this site of specialized critic. McCreesh is capable of the greatest tragedies... And I foresee a tragic tragedy Orpheus and Euridice next week... If this keeps up, I predict a qualitative decline of this orchestra and, for me and with very sorry, McCreesh begins to gain the cognomen of, the music killer…

9 comentários:

  1. A mim pareceu-me uma parvoíce intercalar assim as duas obras. Não assisti, e pelo que aqui leio, ainda bem.
    Gostaria de ouvir Miah Persson ao vivo, mas assim não.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não perdeu nada Gi. A única coisa que perdeu foi um péssimo e constrangedor concerto. O Mr. McCreesh dá dó, mas não o ré, o mi ou as outras notas...

      Eliminar
  2. Também assisti a este concerto e não gostei. A orquestra esteve sempre sem garra e sem brilho, muito amorfa.
    A estratégia de intercalar os andamentos da sinfonia de Schubert com canções de Mahler foi um disparate.
    E achei que Maih Persson, apesar de ter sido a melhor da noite, também não brilhou. A voz é bonita mas muito pequena, quase inaudível nas partes mais recuadas do CCB.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A Miah Persson foi, objectivamente, a melhor da noite. Quanto à voz, como estava numa fila bem à frente, não senti dificuldades em ouvir, embora me tenha dado a ideia de que, quando se virava, que se perdia muito volume. Já quando a ouvi em Viena num Le Nozze di Figaro me pareceu ter algumas dificuldades na projecção. Em cima disso, a acústica da sala do CCB também não é a mais favorável.

      Eliminar
  3. Completamente de acordo com a crítica ao concerto Schubert/Mahler. Aliás, tenho ficado profundamente decepcionado com todos os concertos dirigidos por McCreesh. A questão é que continuará a dirigir a orquestra não sei por quantos anos. Tenho ouvido interpretações absolutamente impensáveis.

    ResponderEliminar
  4. A crítica vem adensar as dúvidas e receios que já vinha formando a propósito da bondade da escolha de McCreesh para maestro titular da Orquestra Gulbenkian. McCreech pertence ao grupo dos entusiastas HIP mais radicais, sendo disso exemplo o link que dá para a apreciação da Matthäus-Passion, sendo duvidoso que se trate de uma escolha adequada para uma orquestra sinfónica tradicional.
    Gostei de o ouvir, há uns 2 ou 3 anos numa Die Schöpfung, precisamente com Miah Person e o coro Gabrieli, mas aqui o paradigma estético é completamente diferente.
    Quando vi o programa decidi logo não comprar bilhetes para este concerto, quer por não me agradar ouvir as obras retalhadas, quer porque não me consigo habituar à acústica do CCB. Parece que não perdi nada.
    Cumprimentos,
    J. Baptista

    ResponderEliminar
  5. Estas novidades também não me aguçaram o apetite, pelo que tenho andado voluntariamente distante da temporada da Gulbenkian.

    McCreesh estava presente no concerto de estreia de Joana Carneiro com a OSP. O que terá pensado ele? A sala estava esgotada e o público completamente rendido ao Beethoven da maestrina.

    ResponderEliminar
  6. Comentário de José Lima por email:
    Completamente de acordo com as críticas mais recentes acerca do maestro Paul McCreesh. A questão é que o referido maestro, julgo, por contrato, vai continuar não sei quantos anos à frente da Orquestra Gulbenkian. Todo o seu trabalho, até agora, parece-me francamente lamentável. O auge foi, de facto, o concerto Schubert/Mahler no CCB

    ResponderEliminar
  7. Caros Anónimo, João Baptista, Paulo e José Lima,
    Obrigado pelos vossos comentários.
    É bom saber que não sou só eu a ter esta opinião.
    O número de anos que se perspectiva que o maestro Paul McCreesh esteja à frente da Orquestra FCG faz-me temer pela minha assiduidade ao auditório a estrear em Fevereiro… É que, a manter-se o nível dos espectáculos McCreeshianos, pondero pedir reembolso...

    ResponderEliminar