quinta-feira, 18 de julho de 2013

SIMON BOCCANEGRA, Wiener Staatsoper, Fevereiro de 2013 / February 2013

(review in english below)

Simon Boccanegra, ópera de G. Verdi com libretto de Francesco Maria Piave e Arrigo Boito, foi já anteriormente comentada neste blogue, por exemplo aquí, aquíaquí, aquí e aquí. Confesso que está longe de ser uma das que mais gosto.

Em Viena a encenação de Peter Stein foi muito sóbrea, com o palco quase sempre vazio, frequentemente desinteressante, mas procurou situar-se na época. O guarda-roupa foi a condizer.


 O maestro italiano Evelino Pidó dirigiu sem impressionar a Orquestra e o Coro da Ópera Estatal de Viena.


 Não havendo nada que ver, toda a atenção centrou-se nos cantores.


 Placido Domingo foi o melhor da noite. Interpretou o Simão Boccanegra, papel de barítono (aqui com laivos de tenor), com uma classe que só ele e poucos mais conseguem alcançar. Apesar da idade, a voz mantém uma qualidade de excepção, tanto na beleza tímbrica como na forma como é projectada. Domingo imprime um sentimento assaz invulgar à interpretação e é muito convincente no papel. É mais um actor que canta e, sobretudo, que cativa em cada intervenção. 




 A Amelia do soprano letónio Maija Kovalevska foi outra das grandes intérpretes da noite. É uma cantora com uma voz de invulgar beleza, redonda, sempre sobre a orquestra e com agudos brilhantes. É dotada de uma excelente figura que torna muito credível a sua acção cénica.


 O baixo italiano Michele Pertusi foi um Fiesco à altura dos restantes solistas, com boa presença em palco e uma interpretação vocal muito interessante, embora o registo mais grave não tenha a mesma qualidade do médio.


 O Gabriele Adorno do tenor italiano Roberto De Biasio foi bem interpretado e o cantor tem agudos aparentemente fáceis e bem audíveis. Contudo, faz-se aos aplausos quando termina as suas intervenções mais significativas, o que detesto e, felizmente, é cada vez menos frequente nos dias que correm.


 Também merecem referência Marco Carito e Dan Paul Dumitrescu que tiveram interpretações dignas como Paolo e Pietro respectivamente.

Mas a noite foi de Placido Domingo que no final, por mais de 15 minutos, foi chamado inúmeras vezes ao palco e inundado com flores, num reconhecimento muito merecido pelo público de Viena.







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SIMON BOCCANGRA, Wiener Staatsoper, February 2013

Simon Boccanegra, opera G. Verdi with libretto by Francesco Maria Piave and Arrigo Boito, was previously commented in this blog, for example here, herehere, here and here. I confess that it is far from being one of my favorites.

In Vienna, the staging of Peter Stein was very sober, with the stage almost always empty, often uninteresting.

Italian maestro Evelino Pidó directed fairly the Orchestra and the Chorus of the Vienna State Opera.

As there was almost nothing to see, all the attention was focused on the singers.

Placido Domingo was the best of the night. He interpreted Simon Boccanegra, a baritone role (here with a tenor flavour), with a class that only he and a few more reach. Despite his age, the vocal quality remains exceptional, both in the beauty of timbre as the way it is delivered. Domingo prints a rather unusual feeling to his interpretation and he is very convincing in the role. He is an actor who sings and, especially, that is captivating in all interventions.

Latvian soprano Maija Kovalevska was Amelia, another of the great performers of the night. She is a singer with a round voice of unusual beauty, always heard above the orchestra. Her top notes are bright. She has an excellent figure that makes her scenic presence very credible.

Italian bass Michele Pertusi was a Fiesco with identical quality as the other soloists, with good stage presence and very interesting vocal interpretation, although the lower register was not as impressive as the medium.

Gabriele Adorno's Italian tenor Roberto De Biasio was well played and the singer has apparently easy and well audible top notes. However, he adopts a posture “appealing” to applause when he finishes singing his most significant parts, which I hate. This practice  is (fortunately) becoming less common these days.

Also worth mentioning are Marco Carito and Dan Paul Dumitrescu that had decent performances as Paolo and Pietro respectively.

But the night belonged to Placido Domingo that, in the end, for more than 15 minutes, was called to the stage numerous times and was flooded with flowers, a much deserved  acknowledgment by the public of Vienna.

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6 comentários:

  1. Caro Fanático_Um:
    Parece ter sido uma excelente récita, pese embora a austeridade da encenação.

    Confesso que estas incursões do Placido Domingo em papéis de barítono me suscitam bastantes reservas. É justo dizer, no entanto, que isto será talvez um puro preconceito, pois nunca o ouvi efectivamente a cantar estes papéis (há uns anos, estive para ir a Madrid para o ouvir precisamente cantar este Simon, mas acabou por não se proporcionar). Ainda assim, a sua encarnação do Fígaro, no Barbeiro (penso que terá sido a sua primeira incursão neste domínio, embora não tenha a certeza) não me seduziu nada e não vejo como o seu timbre se preste a este tipo de papéis, ainda que consiga alcançar as notas sem transposição. É certo que será apenas o regresso a uma tessitura em que começou a carreira, mas ainda assim…
    Também parece que já cantou o Rigoletto, o que me causa uma enorme estranheza. Convivendo há tanto tempo com as vozes de Bechi e Gobbi, entre outros, nesses papéis, custa-me imenso imaginar o Domingo a cantá-lo. Mas enfim… Ainda o veremos a cantar o Boris…!
    Para já, esperemos que recupere brevemente do problema que sofreu nos últimos dias.
    Cumprimentos,
    J. Baptista

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    1. Caro J Baptista,
      É verdade que quem ouviu durante décadas Domingo como tenor, estranha um pouco agora os papeis de barítono. Mas, apesar da voz continuar a ter um "fundo" de tenor, Domingo é um verdadeiro Senhor do canto lírico e, como ele, poucos haverá. Para além do canto é a sua excelente postura em palco que também impressiona. E penso que é uma decisão sábia deixar de cantar os papeis de jovem galã, agora que caminha para os 70 anos. É sempre um privilégio vê-lo actuar.
      Parece que, felizmente, já está recomposto do problema de saúde que teve (até já quer retomar os ensaios em Madrid!).
      Entre nós, autores do blogue, há um fervoroso apreciador do Domingo, o wagner_fanatic. E costumamos dizer que ainda o ouviremos cantar o Wotan! (Mas o Boris também serve)!!.
      Cumprimentos

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    2. Concordo inteiramente quando diz que o Plácido Domingo é um Senhor do canto lírico. Embora o seu timbre não seja completamente do meu agrado, reconheço que é uma referência absoluta e que, não obstante a enorme extensão do repertório que aborda (e penso apenas no repertório para voz de tenor…), fá-lo sempre com grande nível técnico e interpretativo. Será difícil apontar um papel que tenha cantado e que se possa dizer que era manifestamente inadequado para a sua tipologia vocal ou dotes cénicos. Infelizmente nunca o ouvi ao vivo, mas a sua marcante presença dramática é bem perceptível nas versões em tv ou dvd.
      Quanto ao Wagner, apenas conheço as suas gravações dos Meistersinger (dir. Jochum e do Tannhäuser (dir. Sinopoli), sendo que a sua prestação na primeira não me agrada.
      Nunca mais tive conhecimento de notícias sobre o seu estado de saúde, pelo que fico satisfeito em saber que já estará recomposto.
      Cumprimentos,
      J. Baptista

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  2. Caro Fanático,
    que maravilha saber que o Plácido Domingo que tanto admiramos ainda está em plena forma!
    Obrigado pelas crônicas sempre tão esclarecedoras e
    incentivadoras da grande arte!
    Um abraço

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  3. Vi essa produção em novembro passado. Achei fantástico, teve 15 minutos de aplauso, as cortinas fecharam e Placido e o resto do elenco apareceram pela lateral do camarote e receberam mas uns 5 minutos de aplausos. Foi lindo.
    Edielton de Paula.

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  4. As usual, a perfect cronicle !!
    Thanks a lot for the reaction.
    Take a nice holiday filled with high level doremi's...
    Abraço,Willy

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