terça-feira, 30 de julho de 2013

DER FLIEGENDE HOLLÄNDER, Teatro Schiller, Berlim, Abril de 2013 /Berlin, April 2013

(review in english below)

Der Fliegender Holländer é uma ópera de R. Wagner que já tive o privilégio de ver diversas produções.

O Teatro Schiller estará bem próximo do conceito de Wagner. A orquestra está num fosso muito fundo e não é visível de grande parte dos lugares.


 A cortina abre numa vasta biblioteca com um enorme quadro representando o mar que ocupa quase todo o fundo do palco. Há de lado um conjunto de sofás e no outro uma mesa comprida. Uma menina, vestida de branco, lê num grande livro a história do holandês e adormece no sofá.
A tela do quadro sobe e a acção passa-se por trás, extravasando para a sala. Chega o primeiro navio. Daland e os seus homens que invadem a biblioteca. Quando adormecem, espalhados pela sala, pelo cais e pelo navio, surge o imponente e assustador navio fantasma. O impacto visual é magnífico!


 A criança acorda e esconde-se debaixo da mesa. Daland, em troca da filha Senta (é a criança de branco) recebe do holandês um enorme baú cheio de ouro e pedras preciosas.
Ao longo da ópera há uma mistura entre o sonho de Senta, baseado no livro, e a realidade, com partes da acção passada na biblioteca e outras, em simultâneo, na zona posterior do palco, sempre que a tela do quadro se eleva.
A abordagem cénica é original, fantástica, muito eficaz e de belíssimo efeito. Há opções discutíveis, nomeadamente a festa final de casamento de Senta com o holandês em que todos se embriagam e que termina com o suicídio de Senta que corta o pescoço com uma taça de champanhe que parte previamente. Mas, no cômputo final, foi uma das melhores encenações que vi desta ópera.

O maestro Daniel Harding foi responsável por uma boa direcção da orquestra que, contudo, no início, teve algumas notas falhadas nos metais. O Coro esteve soberbo.

O barítono Michael Volle destacou-se dos outros solistas pela sua excepcional interpretação, cénica e vocal, do holandês. Tem uma voz ideal para o papel e foi imponente sempre que esteve em palco.


 A Mary de Simone Schröder foi também uma cantora de grande categoria. Voz penetrante, afinada, grave e sempre bem colocada sobre a orquestra.

Os restantes solistas estiveram bem mas não impressionaram:
 Daland foi interpretado pelo barítono Tobias Schabel. É um cantor com boa figura mas não teve uma presença marcante. A voz tem um timbre agradável. Por vezes, deixou-se afogar quando a orquestra soou mais forte.


 O soprano Emma Vetter interpretou a Senta. Foi sempre bem audível mas no registo mais agudo perdia qualidade e tornava-se um pouco agreste.


 Erik, interpretado pelo tenor Stephan Rügamer, foi outro cantor que, tendo cumprido, não realçou qualquer aspecto relevante.


 Mas foi um espectáculo de grande qualidade, com uma encenação deslumbrante.






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DER FLIEGENDE HOLLÄNDER, Schiller Theater, Berlin, April 2013

Der Fliegender Holländer is na opera by R. Wagner that I had the privilege to see several different productions.

The Schiller Theater will be very close to the concept of Wagner. The orchestra pit is very deep and is not visible to most of the seats.

The curtain opens up in a vast library with a large painting representing the sea which occupies nearly the entire back of the stage. At one side of the stage there are couches and at the other a long table. A girl, dressed in white, reads a big book about the story of the Dutchman and falls asleep on the couch.
The painting goes up and the action moves up behind the frame, invading the room.
The first ship arrives. Daland and his men invade the library. When they fall asleep, around the room, the pier and the ship, arrives the imposing and scary ship of the Dutchman. The visual impact is magnificent!
The child wakes up and hides under the table. Daland, in exchange for his daughter Senta (she is the child is white) receives from the Dutchman a huge amount full of gold and other values.
Throughout the opera there is a mixture between the dream of Senta, based on the book, and the reality, with parts of the action in the library and others, simultaneously, at the back of the stage, whenever the screen frame rises.
The staging approach is unique, fantastic, very effective and of beautiful effect. There are debatable topics, particularly the marriage party of Senta to the Dutchman where everybody gets drunk and finishing with the suicide of Senta cutting her neck with a glass of champagne. But, all together, it was one of the best productions of this opera I've seen.

Conductor Daniel Harding directed the orchestra with high quality. However, at start, a few notes had failed in metals. The choir was superb.

Baritone Michael Volle outranked the other soloists for his exceptional interpretation, artistic and vocal, of the Dutchman. He has an ideal voice for the role and was impressive whenever he was on stage.

Simone Schröder’s Mary was also a top singer. She has a penetrating voice, tuned, with a great low register, and always well heard over the orchestra.

The other soloists were ok but not impressive:

Daland was interpreted by baritone Tobias Schabel. He is a singer with a good figure but he did not have a strong stage presence. The voice has a pleasant timbre but sometimes was not heard when the orchestra sounded lauder.

Soprano Emma Vetter was the Senta. She was always very audible but in the top register she lost quality and became a bit harsh.

Erik, by tenor Stephan Rügamer, was another singer who has just singed well, without any excitement.

But it was a performance of great quality, with a stunning production.


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4 comentários:

  1. Caro Fanático_Um:
    Numa altura em que vamos tendo algumas notícias sobre o tão aguardado (com um misto de expectativa e de apreensão, da minha parte) Anel do bicentenário, em Bayreuth, é reconfortante saber que ainda se encontram produções de óperas de Wagner que façam algum sentido.

    Não sou daqueles que rejeita tudo o que não sejam produções tradicionais, em que uma espada é uma espada e não outra coisa qualquer. Mas penso que a encenação deve estar ao serviço da compreensão global da obra e que o seu significado deve ser minimamente perceptível e compreensível para o frequentador de ópera informado.
    Pela intemporalidade e universalidade das temáticas das óperas de Wagner, elas constituem um alvo privilegiado para produções mais arrojadas. Todavia, muitas vezes tenho a sensação que cada vez é mais frequente os encenadores ultrapassarem a linha da re-interpretação ou recriação da obra para apresentarem algo que já se situa para além desta, não cobrando nela o seu sentido e razão de ser.

    Na encenação que descreve, a ambiguidade entre os planos onírico e real constitui uma abordagem muito válida da obra e, embora não sendo revolucionária, apresenta um potencial de originalidade que se encontra longe do esgotamento.

    Cumprimentos,
    J. Baptista

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    1. Caro J Baptista,
      Estou totalmente de acordo consigo. Já tenho visto encenações inqualificáveis, quer no mau gosto, quer na deturpação total da obra original. Não foi, de todo, o caso desta produção do Teatro Schiller. Como referi, gostei muito, apesar de a abordagem não ser original, como bem recorda, mas foi muito bem conseguida.
      Cumprimentos

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  2. Thanks for sharing my friends!
    Abraço,Willy

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  3. Wagner is still a little difficult for me to absorb, but I am going to see La Traviata this week. Thank you!

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