quinta-feira, 9 de maio de 2013

RIGOLETTO, Teatro de São Carlos, Maio de 2013


(review in english below)

 Rigoletto, de G. Verdi, foi a última ópera da trilogia do compositor a que assisti este ano no nosso Teatro Nacional de Ópera. Deixo também aqui a minha breve opinião (quase tudo já foi dito e comentado anteriormente) que difere em alguns pontos da do meu amigo e colega de blogue camo_opera. Assisti à récita de estreia, dia 3 de Maio.

Achei a encenação de Francesco Esposito grotesca, a pior da trilogia. Nada tem a ver com a obra original. Logo no início a cena no palácio com padres, coelhinhas playboy e toda a sorte de outras personagens a despropósito deu o mote ao que se iria seguir. Foi sempre bera, mas outro ponto alto no mau gosto foi a cena inicial do último acto, na estalagem, que é uma casa de prostituição e, entre outras situações, quando Marullo se prepara para que uma das “meninas” lhe faça sexo oral, verifica que, afinal, é um travesti e foge do quarto. Fantástico em originalidade e bom gosto, não acham?
Foi uma encenação que me fez lembrar, frequentemente, o período Cristoph Dammann no São Carlos!


A direcção musical de Martin André foi “empastelada” e o maestro, mais uma vez, foi excessivamente ruidoso, perturbando a audição da música. Disseram-me que está de saída. Na minha opinião, a perda não será muito grande.

Rigoletto foi interpretado pelo barítono Piero Terranova. Esteve bem, embora no final tenha quebrado um pouco. A voz é decente, o timbre agradável e a representação foi aceitável. No final do 1º acto não cantou tudo, nomeadamente, quando chama por Gilda depois do rapto, mas enfim…


O soprano Romina Casucci foi uma Gilda desinteressante, com voz audível, embora denotando fragilidade nos agudos. A ária Caro nome não lhe saiu bem, tal como a maioria dos duetos.


 Um desastre foi o tenor Alessandro Liberatore como Duque de Mântua. Voz fraca, excessivamente nasalada mas, sobretudo, quase sempre desafinado. Esteve constantemente mal mas no La donna è mobile foi confrangedor ouvi-lo. O João Baptista disse o essencial no comentário que deixou ao texto do camo_opera.


Outro cantor que esteve aceitável foi o baixo Giovanni Furlanetto como Sparafucile. Não tendo uma potência vocal elevada mas o registo grave é interessante e, cenicamente, foi um dos melhores.


A interpretação do mezzo Agostina Smimmero foi desinteressante. Fez uma Maddalena com fraca projecção vocal. A figura e a encenação também  não ajudaram em nada.


Mais uma vez, os cantores portugueses foram arrastados para os papéis secundários mas estiveram muito bem, sobretudo Mário Redondo como Conde de Monterone, mas também João Merino como Marullo, Luís Rodrigues como Conde de Cepano e Marco Alves dos Santos como Matteo.


Continuo a não perceber por que razão não se dão os papéis solistas aos portugueses.



*

RIGOLETTO, Teatro de São Carlos, May 2013

Rigoletto by G. Verdi was the last opera of the composer´s trilogy that I watched this year in our National Opera Theater. This is my opinion about this production that is different in several aspects from that of my friend and blog colleague camo_opera.

The staging of Francesco Esposito was grotesque, the worst of the trilogy. Early on the scene the tone to what would follow was given at the palace with priests, playboy bunnies and all sorts of other nonsense characters to the set. It was always bad, but another high negative part was the opening scene of the last act, the inn, which is a house of prostitution and, among other situations, when Marullo prepares for a oral sex scene with a "girl" he realises that “she” is a travesty and flees the room. Fantastic in originality and decency, is it not?
It was a performance that reminded me often the Christoph Dammann period in São Carlos!

The musical direction of Martin André was boring and the conductor, once again, was excessively noisy, disturbing the hearing of the music. They told me that he is leaving the theater. In my opinion, the loss will not be significant.


Rigoletto was played by baritone Piero Terranova. He was good, although in the end he has broken a bit. The voice is decent, pleasant timbre and on stagew he was convincing. At the end of the 1st act he did not sing everything, especially when he should call by Gilda after the abduction, but anyway ...

Soprano Romina Casucci was a not ery exciting Gilda, with clear voice, although losing quality in the high register. She was not efficient in the aria Caro nome and in most of the duets.

A disaster was tenor Alessandro Liberatore as the Duke of Mantua. A weak voice, overly nasal, but above all, almost always out of tune.

Another singer who did well was bass Giovanni Furlanetto as Sparafucile. He does not have a high vocal power but is tone in low register is interesting. His artistic performance was one of the best.

The performance of mezzo Agostina Smimmero as Maddalena was not interesting. She had a weak vocal projection.The figure and the staging had not helped anything.

Again, the Portuguese singers were drawn into secondary roles but were very good, especially as Mário Redondo as Count Monterone, but also João Merino as Marullo, Luís Rodrigues as Count of Cepano and Marco Alves dos Santos as Matteo.

I still do not understand why the soloist roles are not given to the Portuguese singers.

*

5 comentários:

  1. Boa Tarde Fnático_Um!
    Concordo mais com a sua posição do que com as outras e demais comentários; este Rigoletto foi desastroso cenicamente: foi assassinar Verdi, que é tão grande, que até a isto resiste.
    Achei de péssimo gosto pôr a Gilda a fazer uma espécie de Strip Tease enaquanto canta o Caro Nome...E "trajar" a Madalena daquela maneira, como se não bastasse...já a figura que ela tem...E os bidons...E as prostitutas no último acto...

    ResponderEliminar
  2. Caro Fanático Um,
    Concordo com a sua avaliação. Os pontos negativos da encenação que descreve são, também para mim, opções de muito mau gosto como sublinhei na minha crítica. Essa do travesti, por exemplo, é extrema. Ainda assim, e é apenas neste pormenor que discordamos, no que respeita às encenações e apesar de todas elas serem, no meu ver, de má qualidade, a mais desadequada foi, de longe!, a de Il Trovatore. A de Rigoletto, apesar das opções estéticas e de direcção de actores aqui sobejamente comentadas, foi menos em desacordo com o ambiente geral que o texto proporciona. Aliás, refira-se, a música de Verdi é estrondosamente melhor que o texto de Piave.
    Quanto às interpretações: parece que tive mais sorte com o Liberatore (que não esteve tão mal no dia 5 quanto no dia 3) e menos com a Smimmero e a Casucci. Estas últimas estiveram num nível muito baixo.
    Já a direcção de Martin André é o que se sabe: má. Não varia de récita para récita, uma vez que estará a dar o seu melhor. Infelizmente o seu melhor é de muito má qualidade, à excepção dos seus vibrantes rugidos... Não se sentirá a sua falta caso deixe o TNSC... Será, aliás, um alívio.

    ResponderEliminar
  3. Dizem fontes próximas da sec. de estado que um dos candidatos, senão o mais forte a director de são sarlos é Rui Massena. Ainda vão todos ter saudades da "má qualidade" actual do teatro.

    ResponderEliminar
  4. Eu estive na récita do sabado 11. A encenaçao nao me pareceu assimm tao disparatada. O pior foi sim, o Alessandro Liberatore. Pare ele e tambem para o maestro houve fortes "abucheos" (nao sei como é que se diz em portugués)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Na récita a que assisti também houve algumas manifestações de desagrado, embora ligeiras. Mas os aplausos também não foram muito calorosos. Eu não gostei nada da encenação. A da Traviata foi bem melhor.

      Eliminar