sábado, 23 de março de 2013

Requiem de Verdi — Casa da Música, Porto — 22.03.2013


(Review in English below)

O Requiem que Giuseppe Verdi compôs em 1874 em memória do escritor Alessandro Manzoni é um obra de uma dimensão tal que a torna uma peça fundamental no âmbito da música sacra.


A sua musicalidade é tremenda, possui um poder absolutamente sobrenatural bem evidenciado em várias secções nomeadamente o Dies Irae ou o Rex Tremendae. Consegue, também, aliar quatro solistas, todos eles com intervenções de uma qualidade musical sem par, a um coro omnipresente como só Verdi soube usar. É, por tudo isso, considerada, por alguns, como uma das melhores obras de Verdi e é, sem dúvida, um dos mais belos e poderosos Requiem jamais escritos.


A Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música e o Coro Casa da Música foram dirigidos pelo maestro russo Michail Jurowsky


A Orquestra apresentou-se num nível razoável, com um bom plano global, apesar de, por vezes, ter havido alguns desencontros. O Coro, apesar de muito jovem e, naturalmente, inexperiente, esteve, também, em bom plano, embora com algumas heterogeneidades entre os grupos de vozes.


Quantos aos solistas. O soprano russo Evelina Dobraceva esteve muito abaixo do exigível, com uma interpretação deficiente, quase inaudível sobretudo no registo grave.


O mesmo não se diz do mezzo-soprano russo Ekatarina Semenchuk. Tem um timbre de mezzo verdiano belíssimo, sabia o texto de memória e interpretou a obra com elevada qualidade, tendo sido, de muito longe, o melhor elemento da récita. 


O tenor norte-americano Michael Spyres esteve, inicialmente, com algumas dificuldades na projecção vocal, tendo melhorado ao longo da récita. Possuiu um timbre bonito e que se adapta bem ao papel e esteve em bom nível no Ingemisco e Hostias.


O baixo grego Christophoros Stamboglis teve, também, dificuldades na projecção vocal, tendo-se apresentado num plano razoável.

Assistimos, assim, a uma interpretação digna do Requiem de Verdi, do qual destacamos a interpretação de qualidade elevada de Ekatarina Semenchuk, além, obviamente, da música de absoluta maestria de Verdi.

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(Review in English)

The Guiseppe Verdi’s Requiem, which he composed in 1874 in memory of the writer Alessandro Manzoni, is a work of such a dimension that makes it a critical piece of sacred music ever written. Their musicianship is tremendous, and has an absolute supernatural power well evidenced in several sections including the Dies Irae or Rex Tremendae. Verdi can also combine four soloists, all with musical interventions of unequalled quality, to a ubiquitous chorus as only Verdi knew to explore. It is, by all that regarded by some as one of the best works of Verdi and is undoubtedly one of the most beautiful and powerful Requiem ever written.

Russian conductor Mikhail Jurowsky led the Symphony Orchestra of Porto Casa da Musica and Choir Casa da Musica. The Orchestra has performed at a reasonable level, with a good overall plan, though, sometimes have been some tempo miscalculations. The Choir, although very young and naturally inexperienced, was also in good plan, but with some heterogeneity between groups of voices.

About the soloists, the Russian soprano Evelina Dobraceva was much inferior than required, with a poor interpretation, barely audible especially in the grave registration. The same cannot be said of the Russian mezzo-soprano Semenchuk Ekatarina. She has a beautiful timbre of Verdian mezzo, knew the text by memory and performed the piece with high quality and has been, by far, the best element of recitation. American tenor Michael Spyres was initially with some difficulties in vocal projection, having improved over the recitation. He owns a beautiful timbre that fits the role well and was in good level and in Ingemisco and Hostias. The Greek bass Christophoros Stamboglis had also difficulties in vocal projection, and has presented in a reasonable plan.

We witnessed thus a worthy interpretation of Verdi’s Requiem, of which we highlight the high quality of Ekatarina Semenchuk interpretation, besides, obviously, the absolute mastery of Verdi’s music.

8 comentários:

  1. Também estive presente e concordo totalmente com a sua apreciação, caro camo_opera.

    Ekaterina Semenchuk, com a sua bela voz eslava, esteve muito acima dos outros solistas que, no global, cumpriram sem encantar.
    Assistimos a um fanico de uma das meninas do coro que, felizmente, não teve interferência no decorrer do espectáculo.

    A deslocação ao Porto foi recompensada em pleno porque é sempre um momento ímpar o privilégio de assistir a esta obra magistral de Verdi. Como disse, com graça acutilante, um Amigo, é uma das melhores óperas do compositor...

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  2. Dear Fanatico_Um,

    You sure have a gooe time with Michael Spyres. I'm also planning to hear him in coming sommer in Bad Wildbad.

    I need your help again.
    This evening the concert of Franco Fagioli will be take place at casa da musica. It's sold out! To tell the truth I'm a little bit surprise. It seems that there're more Baroque music lovers in Porto than in Frankfurt or Vienna:-)
    Many of Fagioli fans would like to know if the concert is recorded. How can I find it out? I only know the radio antena 2. Which newspaper do I have to check to find out reviews about this concert?
    Thank you very much in advance for your help. You're always kind to me.

    Have a nice Sunday!

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    1. Dear lotus-eater,
      I regret I can not help you. The concert will be brodcasted by the national classic radio station (antena 2) but I do not know if it will be recorded.
      Today is Sunday, tomorrow Monday (working day) therefore I can no go to Porto again to listen to this concert. I Think none of us that write in this blog will be there. If I find a review in a portuguese blog, I will translate it and send it to you. I know how much you appreciate Fagioli.

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    2. Sorry to bother you, but please check the newspapers in Porto.

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    3. Thank you for your effort. I also couldn't find any serious review either. But according to some comments on the Facebook there were standing ovations. And the concert was sold out. That's actually enough.
      Yes, the ticket prices were unbelievably low:-( Hopefully Fagioli got paid well:-) He, who lives in Madrid, definitely will come to your city someday. I appreciate your critic more than the ones of press:-)

      Happy Easter for all!


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  3. O instrumento de Ekaterina Semenchuk evocará, amiúde, a compatriota Obraztsova, pese embora, não denotando o estarrecedor metal tímbrico característico da mesma.

    No que a Michael Spyres se reporta haverá, somente, a obstar uma curiosa ausência de ressonância na emissão em determinadas alturas da tessitura, aspecto amplamente suplantado pela elegância e expressividade da linha de canto.

    O engajamento dramático e solidez de Christophoros Stamboglis redundaram numa prazenteira prestação, enquanto que a Evelina Dobraceva lamentar-se-á a flagrante debilidade do registo grave, insuficientemente, contrabalançada pela manifesta amplitude patenteada no limiar da região aguda.

    A leitura de Michael Jurowski, tributária de uma matriz algo generalizada, conquanto maturada, terá pecado pela ausência de um superior contraste dinâmico.

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  4. Comentário recebido via email de Luís Geraldes:

    Publicado no meu Facebook:

    (1)
    Grande noite, grande noite!! …
    Como dizia o programa de televisão dos anos 90, a que vivemos ontem, 22 de março de 2013 na Casa da Música do Porto. Deu-se à luz nada mais, nada menos do que essa obra incontornabilíssima que é o Requiem de Verdi.
    Noite de triunfo e de júbilo. O público que o diga que bem o expressou nos aplausos finais que todos os concertantes receberam, e à saída desta mesma grande Casa da Música, tendo sido a minha 1ª vez nesta mesma.
    Pois bem, a 1º vez não doeu :-D ;-D como diz o “aviso” popular, bem até pelo contrário. Se não fosse a direção desigual de Michail Jurowski e a “berrância de Ekaterina Semenchuk, diria que estaríamos perante um excelente Requiem de Verdi, ao nível das grandes salas europeias, com os seus maestros e cantores de primeira linha… publicitária. :-\
    Em primeiro lugar, o seu a seu dono. A Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música e Coro da Casa da Música, estes sob a direcção de Marion Sarmiento, deram-nos uma execução de primeiríssimo plano. Eu sei que o naipe dos tenores, no início, deixava muito a desejar e houve uma “membra” do naipe feminino à qual lhe deu um fanico, estava o Baixo Christophoros Stamboglis em pleno Confuctatis Maledictis :-X !! … mas tudo isso passou e tudo foi ao sítio mais que correcto… e de que maneira! Grande aplauso para eles, o primeiro de todos!!
    Sobre a direção do pai do clã russo Jurowski, já disse o que tinha a dizer. Não nos deu uma visão coerente do Requiem. Parecíamos estar a ouvir De Sabata, a seguir Chailly, para cair em estilo Muti…
    O Baixo grego Christophoros Stamboglis foi talvez o melhor dos solistas. Voz adqequadissima para esta parte. Embora, de vez em quando, Jurowski ia para um lado e ele para outro.
    O tenor norte-americano Michael Spyres já com media hype atras de si, transmissões Mezzo e quejandos, mostrou-se uma boa voz… mas mais do que isso… nada! É serviçal, mas para tal já temos muito em toda a Europa. O seu agudo no Ingemisco não me convenceu… nem me elevou.
    A Mezzo russa Semenchuk talvez tenha sido grande senão de toda a Récita. Deus sabe o quanto adoro as vozes potentes e berronas… mas… nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Berrona, dominadora, arrasante, com aquele habitual acento eslavo no dizer e cantar do texto latino. As notas e a potência estavam todas lá, mas não me seduziu. Ponto positivo: pouco olhou para a partitura, demonstrando, por isso, conhecimento da obra que executava. Apresentou-se como uma autêntica cantora de Ópera: big bubbs :-D e até de tiara !!!
    … o que não teria adorado o meu irmão Vítor em ver este Requiem com a mulher de tiara!! … :-D :-D
    Muito mais discreta foi a Soprano russa (isto foi uma noite de maioria russa, está visto!) Evelina Dobratcheva, de pouco nome e que veio substituir a Soprano inicialmente escalada, uma tal de Karina Flores. De grave e médios pouco encorpados, pianissimi às vezes um bocado dúbios, não desmereceu no fim de tudo. Bem até pelo contrário, nos potentes agudos exigidos pela partitura, cortava plenamente (!!) a Orquestra o que já não é nada de pouca monta!! … e esteve mais do que à altura no famoso agudo em fortissimo que quase encerra o Libera me e este Requiem. Cortou toda a Sala Suggia! BRAVA, portanto.
    Sem mais nada a declarar. Mais uma vez: grande noite, grande noite!
    Mr. LG

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  5. (2)
    Ah, meus caros… :-\
    Ia-me esquecendo da minha odisseia autógrafos no passado sábado neste Requiem de Verdi da Casa da Música.
    Pois bem, todos sabem do meu gostoi dos autógrafos aos performers da “minha” música. Esta odisseia, pela primeira vez na Casa da Música, rendeu-me a 60%.
    Só tive autógrafos do maestro, soprano e mezzo-soprano.
    De Spyres e Stamboglis, Tenor e Baixo, nem vê-los. Tudo se deve à pressa com que esta gente corre e vive para os aeroportos para o next engagement e, acima de tudo, à SAGRADA INCOMPETÊNCIA dos arrumadores de carros…
    Hummm… perdão …
    “Arrumadores de corredores”:-P …
    Que não nos indicam o sítio certo para apanharmos os artistas ou o local do seu camarim para obtermos então o nosso desejado autógrafo, estando nós ali a pastar pó povo, até que uma gentil funcionária da Casa da Música lá me indicou o sítio correcto para apanhar os artistas, e lá fui eu a correr, que já passava da hora :-/
    À próxima já sei o que hei-de fazer, ignorando as indicações de gente ignara e , one more time, “arrumadores de carros” promovidos a “arrumadores de corredores”!
    Disse!

    Pode não ser do vosso género de comentários e apropriados para o vosso Blog, mas são os meus e eu exprimo o meu amor pela música desta maneira. A que sei...

    Caro Luís,
    Obrigado pelo seu comentário e volte sempre. Todos os comentários correctos são aqui publicados!

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