segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Mahler – Sinfonia Nº 9, Gustavo Dudamel e Orquestra Filarmónica de Los Angeles, Fundação Gulbenkian, Janeiro de 2011
Mais uma vez, um concerto de excepção foi-nos proporcionado pela Fundação Gulbenkian.
Não pensava comentá-lo, dado que habitualmente só o faço sobre espectáculos em que o canto é parte integrante, mas a minha indignação sobre o que se passou no final, levou-me a escrever esta nota.
A expectativa era grande, tal como a fama dos protagonistas. O preço pago por cada bilhete (65 €) não é habitual na Gulbenkian, mas também aqui os tempos são outros. Juntou-se uma tríade que nos proporcionou um espectáculo de invulgar qualidade: Mahler, Dudamel e Orquestra Filarmónica de Los Angeles.
A música de Mahler é única. Para admiradores incondicionais, entre os quais me incluo, chega a tocar o divino, como é o caso, na 9ª Sinfonia, do quarto andamento.
Foi a primeira vez que vi Dudamel ao vivo. Estava mesmo muito próximo e reconheço que dirige a orquestra de forma diferente e única, que entusiasma qualquer um. A sua fotografia divulgada no site da Gulbenkian, que aqui reproduzo, retrata-o fielmente. É de tal modo explícito que tudo o que vai acontecer, em termos orquestrais, se anuncia e percebe claramente.
A obra foi tocada em crescendo, cada andamento mais marcante que o anterior. O quarto é, para mim, um dos mais belos trechos musicais escritos pela mão humana. A interpretação foi sublime, o silêncio final arrebatador.
Lamentavelmente, não posso deixar de mencionar o comportamento de alguns elementos do público que, na parte mais emotiva da obra, no final do quarto andamento, não hesitaram em tossir repetidamente, quebrando a solenidade do momento! Quem está doente ou quem tem tosses histéricas incontroláveis não deveria ir a estes espectáculos. Há sempre a alternativa das transmissões televisivas ou dos CDs e DVDs que poderão ser vistos em casa. Aí podem tossir alarvemente, sem prejudicar os outros, incluindo os músicos. Neste concerto, talvez Deus lhes perdoe o mal que fizeram, eu não consigo!
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. A interpretação de Dudamel foi característica porque foi, de facto, em gradação crescente, em que se tem aquela ideia do pathos sempre a aumentar. A gesticulação do maestro no 4º movimento foi fascinante (mesmo lutando sempre contra os chumaços do casaco). Transmitia uma energia e um poder associados à música de uma maneira fascinante.
ResponderEliminar. A sua crítica às tosses foi no meu blog reduzida a meia dúzia de palavras, mas faço minhas as suas palavras. Como escrevi, foi um sacrilégio profanador da música divina. Foi uma vergonha. Bem podiam ir tossir para casa. Ou talvez levar uns lenços? Ou tossir quando a música abafe o barulho, no 1.º ou 3.º andamentos? -- agora nos pianississimi solenes do 4.º movimento? E já agora bufar o tabaco e tossir para a cara de quem respeita a música, não?
Caro FanaticoUm
ResponderEliminarEste é um dos concertos que tenho muita pena de não poder ter assistido. Mas, muitas vezes, não é fácil vencer distâncias.
Quanto às tosses, também não as entendo. Há tanta coisa que se pode fazer para não tossir...
Ah, as toses! Achava eu ser coisa do barulhento povo espanhol.
ResponderEliminarQue me diz o senhor de umas tosezinhas no meio de "Beim Schlafengehen" de Richard Strauss?
É ou nao é crime de "lesa humanitas"?
Caro FanaticoUm,
ResponderEliminarJá temos falado muito sobre estas intercorrências que acredito serem de pessoas que não vão aos concertos pelo amor à própria música. E quem diz tosses, diz tira e põe óculos, mexe as pernas, descalça, põe baton, coça a cabeça... enfim... Tudo bem que às vezes não conseguimos impedi-lo mas a frequência com que se vêem estas situações é tão grande que ultrapassa, por certo, qualquer lei de probabilidade... É triste porque parecem que têm todos um sensor particular que dispara quando os momentos mais marcantes das obras estão a decorrer...
Fiquei realmente muito triste de não ter podido ir a este concerto mas não consigo ainda estar em dois sítios ao mesmo tempo :)...
Nunca vi o Dudamel ao vivo mas tenho algumas das suas gravações. Acho um maestro muito novo mas que transpira amor à música e isso, com o talento que tem, é meio caminho andado para continuar a crescer e a ser fenomenal (o que quase já se pode dizer que é).
Mahler é um dos meus compositores favoritos, como sabe. E esta nona é, para mim, juntamente com a 2ª, uma das suas melhores sinfonias (que são todas fantásticas). O último andamento é realmente suprelativo.
O ano passado, com Bertrand Billy, assistimos a um momento também de grande qualidade na Gulbenkian.
Caros bloggers,
ResponderEliminarObrigado pelos vossos comentários solidários. É realmente ultrajante estar perante uma obra da envergadura da 9ª de Mahler e, sobretudo nos momentos mágicos de maior intensidade dramática e emotividade, assistirmos à insensibilidade chocante de quem não sabe apreciar o que realmente lhe está a ser oferecido e tosse ruidosamente ou faz outros ruidos (desta vez, por mero acaso, não ouvi desembrulhar um rebuçado a meu lado!). Vergonhoso e ultrajante, concordo!
E,em relação à tosse, como referiram, há tantas formas de a dissimular... só tossir qundo estritamente necessário (e isto acontece quase sempre quando se está doente do aparelho respiratório, situação que deveria impedir o próprio de se deslocar a um espectáculo deste tipo, pelo menos até a situação passar), esperar por momentos de intensidade sonora elevada, cobrir a boca com um lenço, respirar fundo, etc.
Resta-nos o triste consolo de não ser apenas em Portugal que este fenómeno acontece, mas há países no centro da Europa em que é muito raro!
That is awful. It has happened to me as well. I do not appreciate such an audience. What a pity. I think even God will not forgive them.
ResponderEliminarStuff like this happens more and more often.
ResponderEliminarMy worst experience was the woman sitting in front of me at the opening night of "la Boheme" who (very slowly) unwrapped a hard candy during "mi chiamano Mimi". It took her the length of the whole aria!
BTW I love Mahler.
Por motivos profissionais, com muita pena não pude assistir aos concertos de Dudamel. Gostaria muito de ter ouvido, principalmente, a 9ª de Mahler.
ResponderEliminarCaro Paulo,
ResponderEliminarSó fui à 9ª de Mahler e foi um espectáculo excepcional. Pena as tosses que arruinaram os momentos finais de maior emotividade.
Já para não falar dos rebuçadinhos que parte do público da Gulbenkian tanto gosta...
ResponderEliminarCaro Luís,
ResponderEliminarSeja bem vindo a este blogue. É verdade, há também os rebuçados e muito mais. Estamos a preparar alguns pequenos textos sobre esses aspectos que pensamos publicar lá mais para diante, quando escassearem os espectáculos para comentar.
Cumprimentos musicais