sábado, 19 de setembro de 2015

KARABCHEVSKY, SCHÖENBERG E AS INFINTAS COMEMORAÇÕES DOS 80 ANOS.




É notável e impressionante que Issac Karabchevsky, um dos maiores regentes brasileiros, comemore 80 carnavais na ativa. Impressionante, problemático e arriscado ele reger o complexo e monumental ciclo de canções "Gurre Lieder" de Shöenberg pela primeira vez no Brasil. Mais impressionante ainda é que as comemorações dos 80 anos do regente parecem infinitas, nem me lembro quando começaram e parecem estar longe do fim. Jogada de marketing esperta, lembra a eterna turnê de despedida do tenor Luciano Pavarotti.
   
Tudo é gigantesco no ciclo de canções "Gurre Lieder", a obra exige monumental esforço para sua execução: Três coros, uma orquestra digna de Richard Wagner, cinco solistas, um narrador e um regente que consiga equilibrar tudo isso. A estrutura proporcionada pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo na apresentação do dia 17 de Setembro esteve à altura da peça. Quem não esteve no mesmo nível foi Karabchevsky, sua regência é de uma imprecisão atroz. Limitou-se a ficar estático e repetindo os mesmos gestos. Esqueceu que na sua direita existe o naipe dos violoncelos e na sua esquerda estão os violinos. O preço pago por essa regência pífia foi a musicalidade, esta sem delicadeza e refinação. Os solistas foram encobertos dezenas de vezes pelo elevado volume sonoro. Elevar os painéis da Sala São Paulo fazendo-a uma catedral teve um efeito visual incrível como veremos abaixo, a sonoridade foi sacrificada, o som reverberou por todos os lados. A execução da obra foi salva devido a grande capacidade dos músicos da casa e dos chefes de naipe que acertaram nas entradas.
   
A influência de Richard Wagner na composição é perceptível, sua estética nesse ciclo não é do rompimento que viria mais tarde com o dodecafonismo. Sua escrita orquestral é influenciada pelos compositores românticos alemães e tem sua raiz na transição entre dois períodos históricos. Os motivos musicais se repetem expressando a narração do poema, grandiosidade orquestral é unida a seções de música camerística.
   
A obra é baseada nos poemas de Jens Peter Jacobsen (1847-85) e relata o amor explosivo do rei Waldemar pela amante Tove, esqueceram de combinar com a rainha que não gostou nada da brincadeira e mandou assassiná-la cruelmente. O apaixonado rei não quer que sua amada seja enterrada e conversa com ela através de elementos da natureza. O que parece ser um dramalhão mexicano acaba se tornando uma obra complexa, com música rica em interlúdios e temas brilhantes. Dizem que as lendas são reflexo da vida e deve ser mesmo, nos corredores da OSESP se conta que uma violinista bonitona teve um caso com um regente casado. Ainda bem que o final da história foi diferente, cada um seguiu sua vida.
   
Os solistas estrangeiros justificaram sua vinda ao Brasil, cantaram de forma magnífica. O narrador, sabe-se lá por que, ficou no camarote número nove pertencente ao diretor da casa Arthur Nestrovski, bem do ladinho dele para que todos o vissem. 
   
Finda a primeira e segunda parte vem o intervalo, estranhamente um terço do público não volta para assistir ao final. Perderam o melhor da festa, um soco no estômago que surpreendeendente. A OSESP conseguiu isso apenas com o efeito da luz. Os painéis do teto foram erguidos de um lado da Sala São Paulo mostrando um belíssimo vitral, a luz em determinado momento fica na escuridão total e vai aos poucos ganhando força e cores nas colunas. O vitral ganha luminosidade que representa o sol quando essa passagem é citada na obra. Criatividade elevada à enésima potência em uma obra que tinha tudo para ser estática e tradicional.

Ali Hassan Ayache 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

RECITAL DE VIOLINO E PIANO, Ateneu Romeno, Bucareste, 1 de Outubro de 2014


Em Outubro de 2014 desloquei-me profissionalmente a Bucareste. Embora inicialmente tivesse a intenção de assistir a algumas récitas de ópera, na Ópera Nacional de Bucareste –  cujas temporadas são sempre muito ricas e variadas – tal não foi possível devido ao facto de a sala estar a sofrer obras de remodelação.
Acabei por conseguir bilhetes para um concerto de música de câmara no Ateneu Romeno (Ateneului Român), que é simplesmente uma das mais belas salas que já tive a oportunidade de visitar.



Trata-se de um edifício da segunda metade do séc. XIX, no mais puro estilo neoclássico. O seu interior é ricamente decorado, com mármores multicolores e escadarias imponentes e a sala de concertos é redonda, encontrando-se as paredes pintadas com frescos maravilhosos, evocando a história da Roménia.



Sala que acolhe também a Filarmónica George Enescu, a principal orquestra da Roménia.


O concerto, ocorrido no Dia Mundial da Música, foi patrocinado pela Embaixada de Itália e ocorreu sob a égide da presidência italiana do Conselho da UE.



Contou com o consagrado violinista Uto Ughi e com o não menos famoso pianista Bruno Canino.
O programa poderia ter sido um pouco mais interessante, na medida em que se centrou, no essencial, em obras de cariz virtuosístico para o violino e em que o piano apenas desempenha uma função de acompanhamento.
Nesse âmbitoo recital abriu com a sonata para violino em sol menor, de Giuseppe Tartini, conhecida como “Le Trille du Diable”.
Uto Ughi tocou a peça com bravura, ultrapassando todas as dificuldades técnicas colocadas pela mesma com grande facilidade, ao mesmo tempo que colocava em evidência o escuro e aveludado timbre do Stradivarius que tocava.



Veio depois a obra mais interessante da noite: a sonata para violino e piano n.º 9, op. 47 “Kreutzer”, de Beethoven.
Trata-se, porventura, da mais interessante das obras para esta formação compostas por Beethoven e que desde o seu início gerou opiniões contraditórias. O seu dedicatário, o violinista francês Rodolphe Kreutzer, recusou-se sempre a tocá-la em público, declarando-a ininteligível. À data da sua publicação, em 1805, a imprensa de Viena qualificou-a como “terrorismo musical”, certamente impressionada pelos seus ritmos abruptos, pelo dramatismo da melodia, pelos contrastes muito marcados e pela energia quase selvagem que dela se desprende.
Não foi também por acaso que Tolstoi a escolheu como símbolo do seu célebre romance “Sonata a Kreutzer”...
De forma diferente do que sucede com as demais peças tocadas neste concerto, em que o violino assume o papel principal e o piano se reduz a simples acompanhador, nesta sonata o que temos é um verdadeiro duelo entre ambos os instrumentos, sem qualquer prevalência de um sobre o outro.
Foi precisamente aí que a versão trazida por Uto Ughi e Bruno Canino falhou, na medida em que o pianista não assumiu o protagonismo que a natureza da peça impunha. Ao invés, face a um Uto Ughi impetuoso, tivemos um Bruno Canino apagado e discreto, o que comprometeu toda a arquitectura da obra. Apenas no andamento final Canino demonstrou algum fulgor, mas ainda assim insuficiente para atingir o equilíbrio que a peça pressupõe.
Em qualquer caso, foi uma leitura correcta e em que o belíssimo timbre do violino tocado por Ughi proporcionou belos momentos.



Na segunda parte foram tocadas as “Quatro peças românticas”, de Dvorak, a “Introdução e Rondó Caprichoso”, de Camille Saint-Saëns e a “Fantasia Carmen”, de Sarasate.
Em todas elas Ughi brilhou e demonstrou um domínio absoluto do instrumento, tendo Canino desempenhado a sua função acompanhadora com correcção.
Em extra-programa, o duo brindou-nos com a conhecida “Ronde des Lutins”, de Antonio Bazzini, uma peça a exigir um virtuosismo funambulesco, que Uto Ughi tocou com brilhantismo.

Embora me tenha parecido um programa algo desequilibrado, por colocar em demasiado destaque o violino, em detrimento do piano, tratou-se de um serão muito agradável e uma oportunidade única de assistir a um concerto numa das mais belas salas do mundo destinadas à execução musical.

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Violin and piano recital, Romanian Athenaeum, Bucharest, 1st October 2014


Last October 2014 I went on a professional trip to Bucharest.
Although initially I intended to attend some opera at the National Opera of Bucharest - whose seasons are always very rich and varied - this was not possible due to the fact that the House was undergoing refurbishment works.
I ended up getting tickets for a chamber music concert at the Romanian Athenaeum (Ateneului Român), which is simply one of the most beautiful concert halls I've ever had the opportunity to visit.
It is a building of the second half of the 19th century, in the purest neoclassical style. Its interior is richly decorated with multicolored marbles and impressive staircases and the concert hall is round, with amazing fresco painted walls, evoking the history of Romania.
This concert hall houses the George Enescu Philharmonic, the main orchestra of Romania.

The concert, which took place on World Music Day, was sponsored by the Embassy of Italy and ocurred under the auspices of the Italian Presidency of the EU Council.
It featured the recognised violinist Uto Ughi the no less famous pianist Bruno Canino.
The program could have been a little more interesting, since it focused mainly on virtuosic works oriented towards the violin, in which the piano only performs an accompaniment function.
The recital opened with the violin sonata in G minor, by Giuseppe Tartini, known as “Le Trille du Diable”.
Uto Ughi played the part bravely, surpassing all the technical difficulties involved in it with great ease, while putting in evidence the dark and velvety timbre of the Stradivarius he was playing.

Then came the most important piece of the evening: the Sonata for violin and piano no. 9, op. 47 "Kreutzer", by Beethoven.
This is perhaps the most interesting of the works for this formation composed by Beethoven and ever since it has been generating contradictory opinions. Its dedicatee, the french violinist Rodolphe Kreutzer, has always refused to play it in public, since he considered it unintelligible. When it was published, in 1805, the press of Vienna described it as "musical terrorism", certainly impressed by its abrupt rhythms, by the drama contained in the melody, by its sharp contrasts and its almost savage energy.
It was also no accident that Tolstoy chose it as a symbol of his famous novel "The Kreutzer Sonata" ...
Different from what happens with the other pieces played in this concert, in which the violin takes center stage and the piano is just accompaniment, this sonata is a real duel between both instruments, without any prevalence of one over the other.
Precisely at that point the version performed by Ughi and Canino failed, since the pianist did not assume the role imposed by the very nature of the piece. Instead, faced with a fierce Uto Ughi, was a shallow and discreet Bruno Canino, which compromised the entire structure of the work. Only in the final movement Canino showed some glow, but still insufficient to achieve the balance the piece requires.
In any case, it was a correct reading and the beautiful timbre of the violin played by Ughi provided beautiful moments.

After intermission they played the "Four romantic pieces" by Dvorak, the "Introduction and Rondo Capriccioso" by Saint-Saëns and "Carmen Fantasy" by Sarasate.
In each one of them Ughi demonstrated an absolute mastery of the instrument, and Canino performed his accompanist function correctly.
As an extra-program, the duo performed the famous "Ronde des Lutins" by Antonio Bazzini, a piece demanding a funambulartory virtuosity, brilliantly played by Uto Ughi.

Although it seemed a somewhat unbalanced program to me, by putting too much emphasis on the violin instead of the piano, this was a very pleasant evening and a unique opportunity to attend a concert in one of the most beautiful concert halls in the world.

sábado, 12 de setembro de 2015

OS PESCADORES DE PÉROLAS DO THEATRO DA PAZ NA VISÃO DE FERNANDO MEIRELLES



Crítica de Ali Hassan Ayache no blog de ópera e ballet

Escalar o diretor Fernando Meirelles (Cidade de Deus e o Jardineiro Fiel entre outras tantas) para a direção cênica da ópera Os Pescadores de Pérolas de Bizet trás à XIV edição do Festival de Ópera do Theatro da Paz de Belém do Pará grande relevância nacional. O diretor não se fez de rogado, criou um monte de polêmicas antes da estreia. Especialista na sétima arte postou um vídeo de divulgação nas redes sociais onde tenor e barítono cantam no chuveiro, anunciou em entrevistas que como diretor de ópera se sentia um amador e estagiário.

Diretores de cinema ou teatro comandando espetáculos operísticos nem sempre é um casamento perfeito, existem casos de sucesso e lambanças imperdoáveis. No Brasil Ugo Giorgetti fez uma "Norma" razoável no Theatro São Pedro e Gabriel Vilela fez o pior "Don Carlo" de Verdi de todos os tempos no Municipal de São Paulo. As falas de Meirelles indicavam que tudo podia dar errado, felizmente não foi bem assim.

O nobre diretor fez na ópera o que mais entende, filmes. Usou o recurso em diversos momentos tornando a ópera didática, facilitando a compreensão das cenas. Sua leitura é correta e muitas vezes criativa. A primeira cena, onde a projeção mostra o mar e ao fundo descem do teto pescadores de pérolas é de uma beleza atroz. Seguem-se filmagens e mais filmagens, exagera-se na dose em diversos momentos.


Quem não comete exageros é sua equipe, os cenários de Cassio Amarante, todo em madeira é funcional. Os figurinos de Veronica Julian estiveram compatíveis com o Ceilão e a luz de Joyce Drummond conversa com as cenas dando um realce extra. A coreografia de Marília Araújo leva coro e solistas a cenas impactantes. A impressão que fica é : Fernando Meirelles ficou mais atento aos vídeos e sua equipe se dedicou às cenas de palco e a produção foi pensada para o cinema onde será exibida no próximo dia 15 em diversas salas do país. 

O resultado é visualmente impactante com uma leitura simplista da obra. Quando diretores dizem que não leem críticas e Meirelles é mais um deles, podem acreditar amigos que o contrário é a verdade. As minhas todos leem embora nunca admitam em público.

Miguel Campos Neto é regente da nova geração que começa a ganhar destaque no cenário nacional. Regeu a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz com precisão, o volume e a intensidade musical é operístico destacando todas as melodias de Bizet. Uma boa interpretação da partitura com toda sua intensidade melódica. Derrapadas acontecem em todas as récitas, seus metais se perderam em duas passagens no primeiro ato. 

Vanildo Monteiro consegue com o Coral Lírico sonoridade digna dos melhores coros profissionais do Sudeste. Lembrando que seus coristas são amadores, cantam com intensidade e doação. O equilíbrio entre os naipes e a harmonia vocal foram a constante na apresentação, além de cantarem executaram a coreografia de maneira digna. A galera do Coral Lírico canta com empolgação, como se fosse a última récita de sua vida. 

A ousadia é sempre bem vinda e permeia a direção do festival, ano passado o diretor Mauro Wrona arriscou e inovou ao escalar a novata Gabriela Rossi para o papel de Desdemona da ópera "Otelo" de Verdi. Esse ano não foi diferente chamou a jovem Camila Titinger para o papel de Leila. A moda nos espetáculos operísticos é que o cantor tenha semelhança física do personagem e Camila Titinger é a encarnação viva da personagem Leila. A bela jovem não se intimidou em cantar ao lado de dois veteranos, soltou a voz em agudos brilhantes e líricos. Sua voz tem uma beleza que contrasta com expressividade marcante. Sofreu ao encarar as complexas coloraturas, a jovialidade do timbre e a marcante presença cênica compensaram essa falha.

Fernando Portari é veterano e tarimbado tenor do cenário nacional e internacional, tirou de letra o personagem Nadir em uma voz que explode em agudos potentes.

Leonardo Neiva foi vocalmente explosivo, uniu graves volumosos com médios precisos. Os duetos foram o melhor de sua participação, com Nadir em "Au fond du temple saint" e com Leila "Je fremis, je chancelle" mostrou bela musicalidade em uma atuação cênica louvável. O baixo paraense Andrey Mira fez um Nourabad com voz volumosa e escura, graves explosivos saiam como dinamite dignos de uma divindade. Pena a voz ter perdido esses atributos no terceiro ato.    


A XIV edição do Festival de Ópera do Theatro da Paz prova a consolidação do mesmo no Estado do Pará e agora como o único e mais importante festival do Norte do país. O que se vê é um teatro sempre lotado e um público ávido e interessado por ópera. Soubemos que a edição do ano que vem homenageará Carlos Gomes, que venham suas melhores óperas. Ganhará o público paraense e o Estado do Pará.


Ali Hassan Ayache viajou à Belém do Pará a convite da direção do XIV Festival de Ópera do Theatro da Paz. 

terça-feira, 8 de setembro de 2015

LA BOHÈME, Staatsoper Hamburg, Março / March de 2015


(review in English below)

No passado mês de Março assisti a uma récita de La Bohème de G. Puccini na Ópera Estatal de Hamburgo. Foi a minha estreia neste teatro de ópera, talvez o mais feio onde estive até hoje.


Está há longos anos em construção um novo e, por Hamburgo, quando algo demora indefinidamente, diz-se que é como a nova opera…


A encenação de Guy Joosten e Johannes Leiacker trás a acção para os dias de hoje. No primeiro acto vêem-se 9 apartamentos de classe média baixa, o central e mais degradado é onde vivem os protagonistas. A Mimi vive por cima deles e quando procura Rodolfo finge estar mais doente para o cativar. O segundo acto passa-se num grande bar de strip tease e a Musetta é a striper principal. A cantora têm uma excelente figura para a personagem e oferece-nos uma interessante interpretação cénica. No 3º acto, a barreira do inferno é um bordel e no 4º regressam-se aos apartamentos iniciais, agora já abandonados e vandalizados, onde apenas residem os 4 amigos como “sem abrigo”.


Os leitores habituais deste blogue sabem que não sou apreciador de encenações modernas e, o início desta, deixou-me muito desagradado. Contudo, fui sendo “conquistado” e acabei por reconhecer que é uma encenação interessante e bem conseguida, não obstante algumas pequenas incoerências.

Na direcção musical esteve o maestro Ivan Repusic que cumpriu sem deslumbrar.
Os cantores, todos jovens e desconhecidos para mim, foram uma agradável surpresa.

O Rodolfo foi interpretado pelo tenor romeno Teodor Ilincai. Começou mal mas rapidamente atingiu um nível muito bom e manteve-o ao longo da récita. Voz potente, viril, sem quebrar no registo mais agudo, embora faltando-lhe alguma suavidade, sobretudo nos momentos de maior intimidade.


Também a Mimi do soprano romeno Tatiana Lisnic foi muito expressiva, sobretudo vocalmente, e teve sempre em bom nível interpretativo. A voz é forte, bem projectada mas, por vezes, um pouco dura. No quarto acto não sobressaiu quanto o esperado porque a encenação não a ajudou.


O Marcello do barítono turco Orhan Yildiz este bem, a voz era bonita mas pequena. A prestação cénica foi melhor que a vocal, mas não desiludiu.


O mezzo francês Solen Mainguené foi uma Musetta muito sui generis. Uma striper com bom corpo e actuação cénica mas que também cantou muito bem, sobretudo a ária do 2º acto.


O Scaunard de Viktor Rud foi apagado e o Colline de Florian Spiess também cumpriu com dignidade. Já o Benoit de Frieder Stricker praticamente não se ouviu, o Parpignol de Benjamim Popson foi banal, tal como o Alcindoro do Stanislav Sergeev.


Uma Bohème totalmente fora do convencional mas, apesar da temática escolhida, constituiu um espectáculo interessante

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La Boheme, Staatsoper Hamburg, March 2015

Last March I attended a performance of La Bohème by G. Puccini in Hamburg State Opera. It was my debut in this opera house, perhaps the ugliest I've been until today.

For many years a new building is being constructed and, in Hamburg, when something takes ages, it is said that it is like the new opera ...

The staging by Guy Joosten and Johannes Leiacker brought the action to the present times. In the first act we see 9 lower middle class apartments, the central and most degraded is where the protagonists live. Mimi lives above them and when she asks for help to Rodolfo, she pretends to be more ill than what she is, to captivate him. The second act is set in a large strip tease bar and Musetta is the main striper. The singer has a great figure for the character and offers an interesting stage performance. In the 3rd act we have a brothel. In the final act, we are back at the initial appartments, now abandoned and vandalized, where only the 4 friends live as "homeless".

Regular readers of this blog know that I'm not fond of modern staging approaches, and the beginning of this one let me very displeased. However, I was being "conquered" and I finally recognize that it is an interesting and well effective staging, despite some minor inconsistencies.

Musical direction was by maestro Ivan Repusic who did a good job. The singers, all young and unknown to me, were a pleasant surprise.

Rodolfo was played by romanian tenor Teodor Ilincai. He had an unhappy start but quickly reached a very good level and kept it throughout the performance. The voice is powerful, virile, without breaking in the high register, although lacking some softness, especially in parts of greater intimacy.

Also romanian soprano Tatiana Lisnic was very expressive Mimi, especially in the vocal interpretation that was always at a high level. The voice is strong, well heard but sometimes a little harsh. In the 4th she did not not stand out as expected because the staging did not help.

Marcello was interpreted by turkisch Baritone Orhan Yildiz. The voice was beautiful but small. The stage performance was better than the vocal, but he did not disappoint.

French mezzo Solen Mainguené was a very sui generis Musetta. A stripper with a good figure and good staging performance but she also sang very well, especially the aria of the 2nd act.

Viktor Rud’s Scaunard was not impressive but Florian Spiess’ Colline offered an interesting performance. Frieder Stricker’s Benoit could hardly be heard, and Benjamin Popson’s Parpignol as well Stanislav Sergeev’s Alcindoro were banal.

A totally out of the conventional Bohème but, despite the chosen theme, an interesting performance.


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