sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O MELHOR DE 2010 por wagner_fanatic

Estamos no último dia de 2010, um ano cheio de boa música e, particularmente, boas Óperas.

O FanaticoUm lembrou-se de deixarmos o pódio dos melhores de 2010 e aqui vai a minha selecção:

Melhor Ópera:

MEDALHA DE OURO:

Se me permitem, e contra todas as críticas daqueles mais cépticos, tenho de eleger o Simão Boccanegra de Plácido Domingo e, aqui, tenho de eleger as duas récitas na Royal Opera, a recita dos PROMS e a récita no Teatro Real de Madrid

MEDALHA DE PRATA:

A Carmen na Staatsoper de Viena foi simplesmente soberba e merece este lugar extremamente renhido com Domingo. Mas... Domingo foi e é Domingo.

MEDALHA DE BRONZE:
Die Meistersinger von Nurnberg em Cardiff com a estreia marcante de Bryn Terfel no papel de Hans Sachs. Aqui, ao contrário do Simão, não coloco ao mesmo nível a récita dos PROMS.

Melhor Intérprete Feminino:

MEDALHA DE OURO:

Acho que vou ter de escolher Anna Netrebko. Fantástica no papel de Micaela na Carmen de Viena, sublime na Manon em Londres. Marcada estabilidade nas interpretações, é sempre aposta ganha em qualidade e... beleza.



MEDALHA DE PRATA:

Adrianne Pieczonka ocupa para mim este lugar. Depois de um Simão que só pude ouvir pela rádio, em directo do Metropolitan de NY, a sua estreia como Senta no Holandês Voador em Paris foi de nível superlativo.



MEDALHA DE BRONZE:

Embora num registo que sai do meu habitual, Sara Mingardo foi sublime no Tamerlano que Domingo falhou por doença.



Melhor Intérprete Masculino:
MEDALHA DE OURO:
Ainda têm dúvidas? Plácido Domingo, Plácido Domingo, Plácido Domingo!



MEDALHA DE PRATA:

Bryn Terfel, claro. Um Hans Sachs prometedor. Será ele o Sachs da produção de Dezembro 2011 – Janeiro 2012 da Royal Opera House? Acho que sim...



MEDALHA DE BRONZE:
Aqui estou altamente dividido e acho que vou dar o lugar a três cantores:

Falk Struckmann como Amfortas no Parsifal de Viena – talvez o melhor neste papel na actualidade;



Ferrucio Furlanetto como Fiesco no Simão Boccanegra com Domingo – um baixo de voz potente e lírica, com uma química de voz e palco com Domingo (dueto do último acto da ópera, por exemplo) de sensibilizar qualquer amante de Ópera.



Matti Salminen como Daland no Holandês Voador de Paris e como Rei Marke no Tristão de Zurique – Dois papéis de marca numa voz que, apesar da idade, ainda ressoa na alma de um wagneriano.




Se se lembram do vídeo de Domingo a fingir estar morto no final da récita dos PROMS e se gostaram, tinha guardado no meu arquivo mais um ponto engraçado dessa récita que me marcou muito – Marina Poplavskaya falha beijo a Domingo no final da récita, deixando o tenor literalmente pendurado.





Bom Ano de 2011, cheio de Boa Música e Boas Óperas.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Akademie für Alte Musik Berlin, Quatro Elementos (Jean Féry Rebel) - Quatro Estações (Antonio Vivaldi) / Four Elements - Four Seasons

(review in English below)

Confesso que foi com alguma curiosidade e desconfiança que aguardei por este concerto. No barroco, que tanto gosto, juntava uma das melhores orquestras mundiais a Akademie für Alte Musik de Berlim e uma das mais belas obras, as Quatro Estações, de Vivaldi. Mas, um concerto coreográfico, deixou-me de “pé atrás”.



O início do espectáculo foi de grande impacto. Após um atraso de mais de 10 minutos (penso que deliberado) com a presença de apenas um instrumentista no palco, a sala foi escurecendo e o concerto iniciou-se com um belo e suave solo de alúde, bruscamente interrompido por um intenso som dissonante tocado pela orquestra, subitamente visível com o acender das luzes do palco.


Assim se iniciou a suite Les Éleménts de Jean Féry Rebel, uma peça interpretada também por um bailarino solista (director e coreógrafo), Juan Kruz Diaz de Garaio Esnaola. Confesso que não sou grande apreciador deste tipo de coreografias e, em determinado momento, foram reproduzidas na perfeição posturas e comportamentos gestuais característicos de doenças humanas de elevada gravidade, o que muito me perturbou.


Chegámos depois às Quatro Estações. A presença de dois escadotes e a entrada dos músicos, descalços, fez-me recordar que, também esta peça, nos seria oferecida de forma distinta do convencional. Dizia o programa que a produção coreografada desloca a atenção do público, focada no solista, direccionando-a para os aspectos programáticos da música no seio da orquestra, actuando os músicos simultaneamente como actores. Foi, de facto, um espectáculo diferente. Como principal nota positiva deve salientar-se que a magnífica peça de Vivaldi foi integralmente respeitada, como já o Paulo do blogue Valkirio salientou, e que a orquestra a tocou ao mais alto nível. Merece relevo a violinista solista, Ariadne Daskalakis que foi soberba mas, na qualidade da interpretação musical, os restantes elementos estiveram ao seu nível.


Já a “coreografia”, apesar de alguns apontamentos interessantes, não foi, para mim, uma mais valia. Desconcentrou-me, teve elementos que perturbaram a audição (como, por exemplo, os baldes metálicos com água) e não foi fantasticamente interessante.

O texto de Bárbara Villalobos no programa dizia que nos era apresentada uma versão coreografada e com várias pequenas alterações na instrumentação, facto que não colide com a essência da obra em si, indo antes ao encontro da obsessão barroca pelo teatral e pela vontade de surpreender, maravilhar e deliciar o espectador.

Enfim, surpreendido, fiquei, mas maravilhado e deliciado, não. Confesso que prefiro a versão concerto…

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Akademie für Alte Musik Berlin, the Four Elements (Jean Fery Rebel) – Four Seasons (Antonio Vivaldi)


I confess that I waited for this concert with some curiosity and suspicion. I am a great fan of the Baroque and in this concert we could listen to one of the world's leading Baroque orchestras, Akademie für Alte Musik Berlin, playing one of the most beautiful musical works of the time, the Four Seasons by Vivaldi. But, a choreographic concert, let me suspicious.

The beginning of the concert was impressive. After a delay (I think deliberate) of more than 10 minutes, only one performer was on stage, the room was dark and the concert began with a beautiful and soft lute solo, sharply interrupted by a dissonant and intense sound played by the orchestra, suddenly visible with the lightening of the stage.

Thus began Les Éleménts by Jean Féry Rebel, a work also interpreted by a solo dancer (choreographer and director), Juan Kruz Diaz de Garaio Esnaola. I confess I am not very fond of this kind of choreography, and at one point the dancer reproduced perfectly gestural attitudes and behaviors characteristic of serious human diseases, which greatly disturbed me.

Then, the Four Seasons. The presence on stage of two ladders and the entrance of the musicians without shoes indicated immediately that also this musical work would be presented in an unconventional way. The room program mentioned that the choreography shifts the attention of the public from the soloist to the programmatic aspects of music within the orchestra, the musicians acting also as actors. It was indeed a different performance. As the main positive note it should be mentioned that the magnificent work of Vivaldi was fully respected, as Paulo from the blog Valkirio pointed out, and that the orchestra played it at the highest level. The violin soloist, Ariadne Daskalakis was superb, but the high quality of musical interpretation was identical among the other members of the orchestra.

But the "choreography", despite some interesting notes, was not a big plus. It made me loose the concentration on the music, included some elements that disturbed the hearing (for example, metal buckets with water) and was not fantastically interesting

The text by Barbara Villalobos in the room program mentioned that the choreographed version had several small changes in instrumentation, which is consistent with the essence of the work itself, and meets the baroque obsession of desire to surprise, amaze and delight the spectator.

Well, I was surprised, but not thrilled or delighted. I confess that I prefer the concert version ...

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sábado, 25 de dezembro de 2010

Feliz Natal por Bryn Terfel



Bryn Terfel oferece-nos, neste Natal, mais um agradável e acolhedor CD, desta feita com músicas da quadra.

Fiel às suas origens, um disco bónus transporta-nos para a língua galesa com algumas das tradicionais canções do seu país natal, bem como a repetição de algumas do disco original.





Duetos com Bing Crosby, Rolando Villazon e Carin Finch fortalecem um disco onde claramente se vive o espírito do Natal e onde continua a ser visível o prazer que Bryn tem em simplesmente cantar.

O apoio pelo Nidus Children’s Choir, pela Orchestra of the Welsh National Opera e por Tecwyn Evans na direcção é exímio.

Escutem a entrevista a Bryn...











Feliz Natal Bryn! Feliz Natal a todos!



Merry Christmas by Bryn Terfel




This Christmas, Bryn Terfel gives us another fantastic and very cozy CD, this time performing... Christmas songs and carols.

True to his origins, a bonus disc transports us to the Welsh language with some of the traditional songs of his native country, and the encore of some of the ones in the original disc.





Duets with Bing Crosby, Rolando Villazon and Carin Finch clearly strengthen a disk where you truly live the spirit of Christmas and is still visible the pleasure that Bryn gets from simply singing music.

The support by the Nidus Children's Choir, the Orchestra of the Welsh National Opera and Tecwyn Evans in the podium is absolutely superb.

Listen to the Bryn’s interview ...










Merry Christmas, Bryn! And Merry Christmas to you all!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Jonas Kaufmann – Simpatia e simplicidade de um Grande Artista / Jonas Kaufmann - Sympathy and simplicity of a Great Artist

(text in English below)

Quando há poucas semanas escrevi aqui um texto sobre Jonas Kaufmann, estava longe de imaginar o que iria acontecer no dia 10 de Dezembro.

Acabado de chegar a Londres, ia a caminho da bilheteira na Royal Opera House quando me cruzo na rua com … Jonas Kaufmann. Será mesmo ele? Perdi a vergonha e, a medo, interpelei-o, dizendo-lhe que o iria ver e ouvir nessa noite. Parou de imediato, cumprimentou-me, abriu o sorriso e agradeceu. Disse-lhe que era português e que escrevia sobre ele num blogue, dado o meu grande apreço pelas suas qualidades artísticas. Respondeu com uma simplicidade e simpatia desconcertantes. Ficou sem resposta a pergunta de quando viria cantar a Portugal, mas trocámos umas breves palavras de circunstância muito agradáveis. Não me quis tornar um empecilho e despedi-me rapidamente.

Nunca me perdoarei o facto de não levar a máquina fotográfica comigo!

(estação de Metro de Covent Garden / Covent Garden underground Station)

(Covent Garden no Natal / Christmas time at Covent Garden)

(Royal Opera House)


Mais tarde ouvi-o como Maurizio na Adriana Lecouvreur (já comentada neste blogue) e, como escrevi, fiquei maravilhado mais uma vez. Aquela belíssima voz de tenor, com o perfume baritonal nos registos baixo e médio, que abre luminosamente nos agudos, para além da emotividade que transmite é, de facto, única e, neste registo, a melhor das que se podem ouvir nos nossos dias.




(Jonas Kaufmann as Maurizio. Photos by Catherine Ashmore)


No final da ópera, já de máquina fotográfica na mão, fui à Stage Door e, no meio de outros admiradores, com CDs, livros, fotografias ou só com o programa (eu entre os últimos) esperei na rua, ao (muito) frio, pela possibilidade de o voltar a encontrar.

Mesmo a meu lado uma bonita jovem atendeu um telefonema … em português. Cumprimentei-a. Disse-me que estuda canto e procura lugar em Londres (sim, porque em Portugal, lamentavelmente, é quase o deserto, sobretudo para os jovens). Espero que consiga e, dentro de poucos anos, gostaria de estar também à sua espera para lhe pedir um autógrafo. Ali, ao fim de mais de meia hora, conseguimos o nosso objectivo. Uma brevíssima troca de palavras com os cantores e, finalmente, uma fotografia!



S.A.P., espero que leia este texto e aqui fica o testemunho e o agradecimento por me ter tirado a fotografia com o Kaufmann, da qual só mostro a metade que interessa.



Jonas Kaufmann, visivelmente cansado, não deixou de se dispor a assinar tudo o que lhe pediram e a deixar-se fotografar por uma legião de admiradores, sempre com um sorriso e palavras simpáticas.


(o autógrafo /the autograph)

É verdade que ainda há Grandes Artistas que, apesar do estatuto que adquiriram e do lugar cimeiro na cena lírica mundial que atingiram por mérito próprio, ainda se mantêm pessoas simples e muito acessíveis, mesmo na ópera (um dos territórios mais atreitos ao vedetismo) que, por isso, geram em nós um respeito e admiração ainda maiores.
É o caso de um Grande Senhor chamado Jonas Kaufmann!



Jonas Kaufmann - Sympathy and simplicity of a Great Artist


A few weeks ago, when I wrote here a text about Jonas Kaufmann, I was far from imagining what would happen on December 10th.

I had just arrived in London and was on my way to the Royal Opera House box office when I saw on the street ... Jonas Kaufmann. Is it really him? I lost the shame and fear and I addressed him, saying that I would be seeing and hearing him that night. He stopped immediately, greeted me, smiled and thanked me. I told him I was Portuguese and that I used to write about him in a blog because of my great appreciation for his artistic qualities. He replied with a disconcerting simplicity and sympathy. He has not mentioned when he would come to sing in Portugal, but we exchanged some nice brief words. I did not want to bore him and I said goodbye quickly.

I will never forgive myself the failure to take the camera with me at that moment!

Later I heard him as Maurizio in Adriana Lecouvreur (already commented in this blog) and, as I wrote, I was amazed once again. That beautiful tenor voice, with the baritonal perfume in low and middle registers, which opens brightly in top notes, beyond the emotion it conveys is, in fact, unique, and the best that can be heard live today.

After the end of the opera, this time with the camera ready, I went to the Stage Door and among other admirers, with CDs, books, photographs, or only with the program (as I was) I waited on the street in the (very) cold weather by the possibility to meet him again.

Just by my side a beautiful young woman called on the phone … in Portuguese. I greeted her. She told me she studies singing and seeks place in London (yes, because in Portugal, unfortunately, there are no professional offers, especially for young people). I hope she can get it, and within a few years, I would like to be also waiting for her for an autograph. After over half an hour, we reached our goal. A very brief exchange of words with the singers, and finally a photo!

S.A.P. I hope you read this text and here is my testimony and thank you for taking the photograph of Kaufmann and me, which I show only the half that matters.

Jonas Kaufmann, visibly tired, signed everything his fans asked for, took photographs with a legion of admirers, always with a smile and very kind words.

Indeed, it is true that there are still Great Artists who, despite having acquired the highest top status in their art and a world leading role in opera, exclusively due to their quality and effort, are still simple and very accessible people, even in the world of opera (which is prone to “primadonna” behavior). This way to deal with ordinary people generates in us an even greater respect and admiration.

This is the case of a Great Man called Jonas Kaufmann!

domingo, 19 de dezembro de 2010

Neve sobre Quebra-Nozes no Coliseu de Londres e Tannhäuser na Royal Opera House – Dezembro 2010

Caros bloggers,

Embora o risco de se comprar bilhetes com grande antecedência seja sempre grande, começo a pensar que, no meu caso, esse risco tem vindo a ter aspectos negativos em proporção maior do que a que estou habituado a ter.

Como poderão eventualmente saber através do meu post na crítica do Tannhäuser de 11 de Dezembro feita pelo FanáticoUm, hoje era o meu dia de ver esta ópera em Londres. Mas, em vez disso, estou onde?... Isso mesmo: em casa!

Há uns meses atrás, quando foram saindo as temporadas de ópera vi uma sequência interessante e potencial: ver A Valquíria no Scala a 17 de Dezembro e de Milão partir para Londres onde veria o Tannhäuser a 19 de Dezembro, tendo pelo meio, e para proporcionar à esposa algo diferente, um Quebra-Nozes no Coliseu de Londres a 18 de Dezembro.

Aproveitando, como quase sempre, os preços baixos da Easyjet, as idas de Lisboa para Milão e de Milão para Londres ficariam à volta de 66 euros. Aproveitei e comprei mesmo antes de saber se conseguiria bilhetes. Os para o Tannhäuser foram fáceis mas os de A Valquíria não (acabei por ter de comprar para outro dia...). Acabamos por ir a Milão pela cidade. Contudo, chegando a sábado (ontem), com voo às 14h50, o que permitiria chegar a Londres a hora confortável para chegar ao Coliseu, a neve e os cancelamentos fizeram-nos estar ontem desde as 12h30 até às 21h15 à espera da resolução da situação. Como se percebe, o Quebra-nozes já tinha "ido à viola". O voo que vinha de Gatwick acabou por chegar a essa hora, 21h15, foi cancelado. Mais umas 3h de espera e lá fomos encaminhados para um Holiday Inn perto do aeroporto e ofereceram-nos um voo para Gatwick hoje às 13h. Ora 13h de Milão são 12h em Londres, mais 2 horas de caminho chegávamos às 14h na melhor das hipóteses. Era preciso haver uma máquina de teletransporte directo para a Royal Opera House para lá chegar a tempo do Tannhauser às 15h... Decidimos assim voltar para Lisboa, trocando o voo.

Assim, a manhã passou-se a tentar remediar o sucedido, com algum sucesso relativo e algumas coisas ainda por resolver em relação com alojamentos, bilhetes não usados...

Mas acima de tudo fica a frustração de não poder ter assistido, principalmente ao Tannhäuser que, a adivinhar pela vivência do FanáticoUm, seria por certo um grande espectáculo para um Wagneriano.

Lamento não poder transmitir-vos a minha opinião sobre este espectáculo mas, espero, poder fazê-lo sobre outros que virão.

Fiquem com umas fotos de Milão sobre neve (o melhor que vos posso oferecer), com os desejos de um Feliz Natal e um 2011 cheio de Música e Felicidade!!!











Snow over the Nutcracker at the Coliseum in London and Tannhäuser at the Royal Opera House – December 2010

Dear bloggers,

Although the risk of buying tickets well in advance is always big, I begin to think in my case, that risk has come to have negative aspects in greater proportion than the one I am accustomed to.

You might have seen by my post at the review of Tannhäuser of December 11 made by FanáticoUm, that today was my day to see this opera in London. But instead, where am I? ... That's right: at home!

A few months ago, when opera houses seasons were being annouced I saw a an interesting and potential sequence: to see Die Walküre at alla Scala on 17th December, and from Milan to London to see the Tannhäuser on 19th December. In the middle and to provide the wife something different, a Nutcracker at the Coliseum in London on 18th December. Taking advantage of advanced low prices from Easyjet, trips from Lisbon to Milan and from Milan to London would be around 66 euros. I took advantage and bought, even before knowing whether I could the opera tickets. The Tannhäuser was easy but I failed to get tickets for Die Walküre (I ended up having to buy them to another day). We ended up going to Milan only for the city. Yesterday’s flight from Milan to London at 14:50 would have given confortable time to get to the Colosseum on time for the Nutcracker, but snow and cancellations made us stand from 12:30 to 21:15 waiting until the resolution of the situation. The flight from Gatwick had finally come to this hour, 21:15, but it was canceled. Three hours later we were sent to a Holiday Inn near the airport and it was offered us a flight to Gatwick today at 13h. Since the flight was at 13:00 (12:00 in London), if we add the 2 hour flight, we would arrive around 14:00 (in the best of possibilities). If Gatwick had a Star Trek like teletranspotation system, we might have been able to arrive in time for Tannhäuser at the Royal Opera, schedule to start at 15:00. So we decided to change the flight and return to Lisbon.

Today’s morning was spent trying to undercost what happened. Some success but still some unresolved subjects (unatended accommodation, unused tickets...).

But most of all we find the frustration of not being able to have witnessed, especially Tannhäuser which, guessing by the experience of FanáticoUm, would certainly be a great performance for a Wagnerian.


I am sorry for not being able to give you my opinion on this production but I hope to do so on others to come.

I leave you some photos os Milan under snow, whishing you a Merry Christmas and a 2011 full of Music and Happiness!







sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

ADRIANA LECOUVREUR – Royal Opera, Londres, Dezembro de 2010


(review in english below)

Ópera de Francesco Cilea com libretto de Arturo Colautti, segundo Scribe e Legouvé.

A actriz Adriana Lecouvreur diz a Michonnet, director da Comédie Française, que ama o conde Maurizio da Saxónia. Michonnet fica muito desapontado porque há muito que está apaixonado por ela, sem nunca o ter confessado. Antes de subir ao palco Adriana dá um ramo de violetas a Maurizio. O príncipe de Bouillon ama também uma actriz, a Duclos, rival de Adriana e teme ser enganado por esta ao interceptar um bilhete para Maurizio, pedindo um encontro. Na verdade, é a sua própria mulher que o engana.
Maurizio encontra-se com a princesa de Bouillon na casa da Duclos e oferece-lhe o ramo de violetas. Mantém com ela uma relação de conveniência política, mas rejeita o seu amor, confessando amar outra. Quando chegam convidados do príncipe para uma festa, a princesa esconde-se e é ajudada a fugir por Maurizio e por Adriana. As duas mulheres suspeitam serem rivais. Numa festa no palácio da princesa a voz de Adriana é reconhecida como a mulher que a ajudou a fugir. Jura vingança, sobretudo depois de esta recitar um texto sobre a infidelidade. Manda à actriz um ramo de violetas envenenadas, como presente de aniversário. Adriana pensa que as flores foram enviadas por Maurizio, cheira-as e inspira o veneno. Morre nos braços do amante.
É uma história desinteressante de romance, ciúme, intriga, vingança e morte (pela inalação de um veneno num ramo de violetas).
(Fotografia de Catherine Ashmore)

A encenação de David McVicar é esplêndida e conseguiu tornar muito agradável a apresentação da obra. Coloca a acção no período em que o autor a concebeu, dando-nos o esplendor da Comédie Française do Século XVIII em Paris. A produção é rica e bem concebida. Os cenários rotativos de Charles Edwards proporcionam-nos a acção atrás do palco e no palco no 1º acto, na casa da Duclos no 2º, no palácio do príncipe no 3º e na casa de Adriana no 4º.

Já há muito que considero que a Orquestra da Royal Opera House é talvez a melhor de entre as dos grandes teatros de ópera. Mais uma vez teve uma actuação de excelência, muito ajudada pelo Maestro Mark Elder que conseguiu extrair dela um desempenho de elevada qualidade, com momentos de grande expressividade lírica.

O soprano espanhol Angeles Blancas interpretou Adriana Lecouvreur. Teve uma interpretação aceitável, a voz era um pouco agreste, mas não conseguiu transmitir as diferentes emoções da personagem. Na belíssima ária inicial Io son l’humile ancella esteve aquém do que esperaria. Fazia um ruído audível a inspirar e cantou com dureza. Tenho como referência uma interpretação de Angela Gheorghiu há oito anos num concerto aqui em Londres com o Maestro Ion Marin. Aí sim, uma interpretação de um lirismo insuperável. E a Gheorghiu foi quem cantou a personagem em quase todas as outras récitas…
Já na ária final do primeiro acto Poveri fiori melhorou e manteve o nível, tendo estado bastante bem no 3º acto. Cenicamente não conseguiu transmitir o menor entrosamento amoroso com Maurizio.

Maurizio foi interpretado pelo grande tenor alemão Jonas Kaufmann. Foi um dos grandes da noite. Apesar de a actuação em palco ter sido irrepreensível, mesmo sem a correspondência de Adriana, foi o canto o que mais marcou. Voz de uma beleza única, timbre belíssimo e musicalidade impar. Nunca cantou em esforço e, em mezza voce, foi sempre audível. Entrou logo bem com a ária La dolcissima effigie em que declara a sua paixão por Adriana e manteve a qualidade interpretativa, vocal e cénica.

(Fotografia de Catherine Ashmore)

Cada vez que o oiço mais me convenço que é o melhor tenor que está actualmente no activo. E ainda há quem diga que o sucesso de Kaufmann se deve ao seu bom aspecto. É verdade que o tem, mas esta apreciação é profundamente injusta porque o mais importante é a voz e a forma como a usa que, actualmente, é do melhor que se pode ouvir.

O mezzo russo Olga Borodina foi também uma intérprete impressionante. A sua Princesa de Bouillon destilou raiva, ciúme e agressividade sempre que necessário. A voz é de grande beleza, sobretudo no registo mais grave. A potência é esmagadora e a emissão parece feita sem esforço. A ária Acerta volluta no início do 2º acto foi colossal.



O baixo / barítono italiano Alessandro Corbelli foi outro excepcional artista no papel de Michonnet. Deu-nos uma personagem cativante, atraído por Adriana mas resignado por não ser correspondido. Transmitiu grande humanismo e simpatia na interpretação, sem ser piegas. A voz esteve à altura da personagem, tanto na qualidade como na potência da emissão.






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E na Stage Door:



(Autógrafos de Olga Borodina e Jonas Kaufmann)


(Olga Borodina)



Adriana Lecouvreur - Royal Opera, London, December 2010

Adriana Lecouvreur is an opera by Francesco Cilea with libretto by Arturo Colautti, after Scribe and Legouvé.

Actress Adriana Lecouvreur tells Michonnet, director of the Comédie Francaise, that she loves Maurizio, Count of Saxony. Michonnet is very disappointed because he is secretly in love for her for a long time. Before going onstage Adriana gives a bunch of violets to Maurizio. The Prince of Bouillon also loves an actress, Duclos, Adriana's rival and fears to be cheated by her by intercepting a written note to Maurizio, requesting a meeting. In fact, it is his own wife who betrays him. Maurizio meets the Princess of Bouillon in Duclos’ house and offers her the bunch of violets. He maintains a relationship with her for political reasons, but rejects her love, confessing his love for another woman. When guests arrive for a party organized by the prince, the princess hides and is helped to escape, in disguise, by Maurizio and Adriana. The two women suspect they are rivals. At a party at the palace of the prince, Adriana’s voice is recognized by the princess as the woman who helped her escape. She promises revenge, specially after Adriana recite a text about infidelity. She sends her a poisoned bunch of violets as a birthday present. Adriana thinks that the flowers were sent by Maurizio, smells them and inhales the poison. She dies in the arms of Maurizio.

The plot is an uninteresting story of romance, jealousy, intrigue, revenge and death (by inhalation of poison from a bank of violets).

The staging by David McVicar is splendid and managed to make a very nice presentation of the work. He put the action in the period in which the author conceived it, giving us the splendor of the eighteenth century Comédie Française in Paris. The production is rich and well designed. The action is backstage and onstage in the 1st act, in Duclos's home in the 2nd, in the prince's palace in the 3rd and at Adriana’ home in the 4th.

For a long time I consider that the Orchestra of the Royal Opera House is perhaps the best among the orchestras of the major opera houses. Once again it had an excellent performance, much helped by conductor Mark Elder who managed to extract from it a high quality performance, with moments of great lyric expressiveness.

Spanish soprano Angeles Blancas played Adriana Lecouvreur. She had an acceptable interpretation, the voice was a little rough, but failed to convey the different emotions of the character. In the initial beautiful aria Io son l'humile ancella she was not as good as I expected. She made an audible noise when inspiring and sang with no lyricism. As a reference, I have the interpretation of Angela Gheorghiu in concert eight years ago here in London with the conductor Ion Marin. That was an interpretation of an unsurpassed lyricism! And to know that Gheorghiu was the artist that interpreted the role of Adriana in almost all other performances ...
At the final aria in the first act Poveri fiori she was better and kept the same level throughout. She was quite well in the 3rd act. Artistically, she was not able to transmit that she was in love with Maurizio.

Maurizio was interpreted by the great German tenor Jonas Kaufmann. He was one of the best of the performance. Artistically he was flawless, even without the effective counterpart of Adriana, but the singing was really the thing. His voice is of unique musicality and beauty, and the tone is fantastic. He never sang in effort and, in mezza voce, he was always audible. He started well with the aria La dolcissima effigie declaring his love for Adriana and maintained the quality of interpretation, both vocal and artistic throughout the performance.
Every time I hear him the more I am convinced that he is the greatest performing tenor of our days. And still some say that his success is due to Kaufmann's good looks. Indeed he has good looks, but this view is deeply unfair because the most important is the voice and how he uses it. He is probably the best one can hear live at present times.

Russian mezzo Olga Borodina was also an impressive performer. Her Princess of Bouillon was angry, jealous and aggressive whenever necessary. The voice is of great beauty, especially in low register. The vocal power is overwhelming and she seems to sing without effort. The aria Acerta volluta at the beginning of Act 2 was colossal.

Italian bass / baritone Alessandro Corbelli was another exceptional artist in the role of Michonnet. He gave us a captivating character, attracted by Adriana but resigned for not being corresponded by her. He conveyed sympathy and great humanism in the interpretation, without being ridiculous. The voice was effective for the character, both in quality and potency of the issue.


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