segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

LA TRAVIATA, Royal Opera House, Janeiro / January, 2019



(review in English below)

Mais uma vez tive oportunidade de ver a belíssima encenação de La Traviata de Richard Eyre que há anos é frequentemente levada à cena na Royal Opera House de Londres.



O maestro Antonello Manacorda, sempre com muita atenção aos cantores, fez um excelente trabalho e impôs os ritmos correctos às diferentes partes da peça. A Orquestra correspondeu com grande nível.



O tenor Charles Castronovo foi um Alfredo de grande qualidade com muito boa interpretação vocal e cénica, e um 2º acto excelente.



Placido Domingo, que completou esta semana 78 anos, fez um Georgio Germont credível e agradável, apesar da personagem cruel. É notável a qualidade que ainda consegue imprimir às suas interpretações, embora o timbre não seja o mais adequado à personagem.



Os cantores secundários Aigul Akhmetshina como Flora, Catherine Cabry como Annina, Germán Alcántara como Barão Douphol e Simon Shibambu como Doutor Grenvil  foram todos muito bons.

Mas a interpretação superlativa foi a de Ermonela Jaho na protagonista. Já vi dezenas de vezes esta ópera e foi a melhor Violetta que alguma vez vi e ouvi. Aqueles que dizem que os cantores actuais não são tão bons como os grandes cantores do passado não têm razão. Há actualmente cantores idênticos ou melhores que os melhores de que há registo. E a Violetta de Ermonela Jaho é a clara demonstração de que assim é. A entrega é total, em cena vive o papel como uma actriz das melhores e, sobre isto, o canto é miraculoso. A voz é de uma beleza impressionante, transborda emoção, tem uma enorme amplitude e a afinação é total em todos os registos. E que dizer dos pianissimi? Que são luminosos e que não há mais nenhuma cantora actual que os consiga igualar, sim, mas mais que isso, são avassaladores e quase nos deixam incrédulos de como é possível cantar assim!





Na récita a que assisti, tive a sorte de praticamente não ter ouvido tosses ou outros ruídos, apesar da dimensão do teatro e de estarmos em pleno Inverno, o que também ajudou (seria impossível em Portugal, onde parece que o público faz gala em tossir ruidosamente!).

As fotografias ficaram muito más. Quando a cortina é encarnada e não abre, como foi o caso, a minha limitada máquina fotográfica não consegue captar melhor!





Dentro de poucos dias (30 de Janeiro) esta produção vai ser transmitida em directo em cinemas nacionais de vários Países, incluindo Portugal. Corram porque é uma oportunidade única de assistir à melhor Violetta / Traviata da actualidade!

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LA TRAVIATA, Royal Opera House, January, 2019

Once again I had the chance to see the beautiful performance of La Traviata directed by Richard Eyre, who has been frequently taken to the scene at the Royal Opera House in London for years.

Maestro Antonello Manacorda, always with great attention to the singers, did an excellent job and imposed the correct rhythms to the different parts of the opera. The orchestra corresponded at top level.

Tenor Charles Castronovo was an Alfredo of great quality with very good vocal and scenic interpretation, and an excellent 2nd act.

Placido Domingo, who was 78 years old this week, was a credible and pleasant Georgio Germont despite the cruel character. It is remarkable the quality that still manages to impress to his interpretations, although the timbre is not the most appropriate to the personage.

The supprotind singers Aigul Akhmetshina as Flora, Catherine Cabry as Annina, Germán Alcántara as Baron Douphol and Simon Shibambu as Doctor Grenvil were all very good.

But the superlative interpretation was that of Ermonela Jaho in the leading role. I've seen this opera dozens of times and it was the best Violetta I've ever seen and heard. Those who say that the current singers are not as good as the great singers of the past are not right. There are currently singers who are identical or better than the previous best singers. And Ermonella Jaho’s Violetta is the clear demonstration that it is. The commitment is total, on stage she lives the role like a top quality actress and, over this, the song is miraculous. The voice is breathtakingly beautiful, it overflows emotion, it has a huge amplitude and the pitch is total on all records. And what about the pianissimi? That they are luminous and that there is no longer any current singer that can match them, yes, but more than that, they are overwhelming and almost leave us incredulous of how it is possible to sing like this!

In the performance I attended, I was lucky to have practically not heard coughs or other noises, despite the size of the theatre, and the fact that we were in the middle of winter (it would be impossible in Portugal, where it seems that the public can’t resist coughing loudly!).

The photos came out very bad. When the curtain is red and does not open, as was the case, my limited camera cannot capture better!

Within a few days (30th January) this production will be broadcast live in national cinemas in several countries, including Portugal. Run to buy a ticket because it's a unique opportunity to watch the best Violetta / Traviata of our times!

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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

ADRIANA LECOUVREUR, Met Live, Fundação Gulbenkian, Janeiro 2019



(text in English below)

Não é meu hábito comentar aqui as transmissões de óperas que actualmente podemos ver quer na FCG quer em cinemas. A possibilidade de as ver é óptima porque, pelo menos, ficamos com uma ideia do que se passa em algumas das grandes catedrais da ópera mundiais. Mas o som é amplificado e, por isso, o que se ouve não corresponde à “verdade vocal”.

Contudo, a transmissão em diferido de Sábado passado da bela ópera Adriana Lecouvreur de Cilea merece uma nota no blogue, para mais tarde recordar. Deverá ter sido uma récita quase perfeita, como raramente se consegue assistir.

O maestro Gianandrea Noseda, um dos meus preferidos, foi excelente na condução da também excelente Orquestra da Metropolitan Opera. E os quatro solistas principais foram todos fabulosos.

Anna Netrebko na protagonista ofereceu-nos mais uma interpretação de referência. A voz está mais encorpada mas continua belíssima, sem nunca gritar e com agudos luminosos.

O Piotr Beczala está no auge da sua forma vocal, tem um timbre muito bonito, e fez um Maurizio inesquecível.

A Princesa de Bouillon da Anita Rachvelishvili foi arrepiante tanto na interpretação cénica como vocal. Para mim a melhor da récita e penso que ainda melhor é impossível!

Também o Ambrosio Maestri esteve em grande forma no papel simpático do Michonnet.

Esta talvez tenha sido a melhor transmissão desta temporada do MetLive, embora possa vir aí uma grande concorrente – La Fille du Régiment, assim a Pretty Yende e o Javier Camerana estejam no seu habitual nível.

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ADRIANA LECOUVREUR, Met Live, Gulbenkian Foundation, January 2019

It is not my habit to comment here on the transmissions of operas that we can see at the FCG and in cinemas. The possibility of seeing them is great because at least we get an idea of ​​what is happening in some of the world's great opera cathedrals. But the sound is amplified and therefore what we hear does not correspond to "vocal truth."

However, last Saturday's transmission of the beautiful opera Adriana Lecouvreur by Cilea deserves a note on the blog, to remember later. It must have been an almost perfect performance, as one can rarely watch.

Maestro Gianandrea Noseda, one of my favorites, was excellent at conducting the also excellent Orchestra of the Metropolitan Opera. And the four main soloists were all fabulous.

Anna Netrebko in the leading role offered us another interpretation of reference. The voice is more full-bodied but still beautiful, without ever shouting and with shimmering top register.

Piotr Beczala is at the height of his vocal form, has a very beautiful timbre, and was an unforgettable Maurizio.

The Princess of Bouillon by Anita Rachvelishvili was amazing both in scenic and vocal performance. For me the best of perfromance and I think even better is impossible!

Also Ambrosio Maestri was great in the friendly role of Michonnet.

This may have been the best transmission of this season of MetLive, although there may come soon a big competitor - La Fille du Régiment, so Pretty Yende and Javier Camerana are at their usual level.

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sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

LES PÊCHEURS DE PERLES, METropolitan OPERA, Dezembro / December 2918




(review in English below) 

A produção de Les Pêcheurs de Perles de G Bizet em cena na Metropolitan Opera de Nova Iorque é originária da English National Opera mas, neste palco enorme, é impressionante.



É uma encenação verdadeiramente espectacular, que começa com mergulhos dos pescadores, num efeito visual magnífico. Os cenários são deslumbrantes, mas o movimento (incluindo o mar agitado) foi o que mais me impressionou. Brilhante!



A direcção musical foi do maestro Emmanuel Villaume. Os cantores solistas foram arrasadores. O Javier Camarena (Nadir) junta tudo, voz de uma beleza invulgar, potência fabulosa, afinação constante e qualidade superior em todos os registos, embora os agudos sejam estratosféricos. E em palco não é tão mono como parece. Actualmente penso que é o melhor tenor ligeiro no activo, mesmo superior ao Florez, que já está a deslocar-se para um reportório um pouco mais pesado.



A soprano Amanda Woodbury foi uma Leila extraordinária. Tem também uma voz lindíssima, uns agudos fantásticos e ouve-se sempre sobre a orquestra em perfeita sintonia com a música. Em palco foi óptima, a encenação ajuda muito.



O barítono Alexander Birch Elliott também esteve em grande forma como Zurga. Não teve uma projecção vocal avassaladora mas ouviu-se sempre afinado e bem, com uma excelente presença em palco.



Finalmente o baixo Raymond Aceto fez um óptimo Nourabad, com um registo grave de timbre muito agradável e intensidade vocal assinalável.



Uma récita vocal excelente com um espectáculo visual belíssimo.






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LES PÊCHEURS DE PERLES, METropolitan OPERA, December 2918

The production of Les Pêcheurs de Perles by G Bizet on stage at the Metropolitan Opera in New York originates from the English National Opera but on this huge stage is impressive.

It's a truly spectacular staging, which begins with fisherman dives, in a magnificent visual effect. The scenarios are stunning, but the movement (including the rough sea) was what impressed me the most. Brilliant!

The musical direction was of maestro Emmanuel Villaume. The soloist singers were fabulous. Javier Camarena (Nadir) puts it all together, voice of an unusual beauty, fabulous power, constant tuning and superior quality in all registers, although the top notes are stratospheric. And on stage he’s very good also. At the moment I think that he is the best running light tenor, even superior to Florez, that already is moving towards a heavier repertoire.

Soprano Amanda Woodbury was an extraordinary Leila. She also has a beautiful voice, a fantastic top register and she always sings in perfect harmony with the music. On stage was great, the staging helps a lot.

Baritone Alexander Birch Elliott was also great as Zurga. He did not have an overwhelming vocal projection but he was always heard, well tuned, and with an excellent presence on stage.

Finally bass Raymond Aceto was a great Nourabad, with a low register of very pleasant timbre and remarkable vocal intensity.

An excellent vocal performance, also beautiful to be seen.

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