(review in english below)
Perdoem-me os bloggers se o amadorismo habitual destas minhas críticas atinge um grau ainda mais elevado nesta entrada. A razão é o facto de ser uma crítica sobre uma ópera pouco conhecida e a ter visto pela primeira vez e isoladamente, no passado dia 31 de Janeiro, em Barcelona.
O libretto foi escrito por Lorenzo da Ponte e a opera foi estreada em Viena em 1786, no mesmo ano que As Bodas de Fígaro de Mozart. Em poucas palavras, a história ronda dois irmãos, um Giocondo que é casado com Lucilla e que está na bancarrota porque a mulher lhe gasta tudo em roupas e jóias, embora sem saber que está a enterrar economicamente o marido; e Angelica que é jovem e está apaixonada por Valerio, um rapaz novo, honesto mas não rico. Giocondo que mandar a sua irmã para um Mosteiro mas Angelica quer casar-se. O tio Ferramondo, de quem Angelica e todos têm receio pela sua volatilidade de temperamento, quer ajudar Angelica a não ir para um mosteiro e fica de lhe arranjar um marido. Pensa no seu amigo e companheiro de xadrez, Dorval, muito mais velho que a jovem. No final, e com a ajuda da criada Marina, tudo se resolve, com Ferramondo a ajudar o sobrinho com as dívidas, e a apoiar o casamento de Angelica com Valerio, deixando no ar a ideia que todos fazem dele o que querem.
A acção, como se pode ver na foto, passou-se no que pareceu ser um lobby de hotel, embora também pudesse ser apenas a sala de estar da casa de Ferramondo.
Tida como possível de rivalizar com Mozart, o primeiro acto deixou-me algo de pé atrás. Teve realmente 2 ou 3 momentos de maior brilhantismo como um trio feminino, a grande ária de Dorval ou o dueto à mesa de xadrez de Ferramondo e Marina, mas com alturas em que a orquestração não me pareceu a mais cativante e nem sempre o estilo de melodia se adaptou completamente ao texto. Contudo, tudo mudou no segundo acto! Sessenta minutos de sequência recitativo-ária de uma excelência melódica e de orquestração Mozart-like do mais alto nível musical. Fiquei rendido!
Os cantores estiveram, de um modo geral, em muito bom nível.
Carlos Chausson como Ferramondo foi, sem dúvida, a estrela da opera, com representação excelente e performance vocal perfeita.
Marco Vinco, de quem não consegui foto boa mas que podem ver no video, foi Dorval e equiparou-se na excelência de timbre e representação.
Véronique Gens foi uma senhora em palco, com uma voz cuja qualidade não se consegue ficar indiferente e que a colocou ligeiramente acima do restante elenco feminino.
Elena de la Merced esteve muito bem, embora os agudos em força tenham soado algo gritados.
Paolo Fanale fez um Valerio de porte físico e beleza de feições perfeitamente enquadrado no papel de jovem apaixonado. Não gostei particularmente do timbre ao parecer estar a cantar com colocação de voz que parecia em falsete, embora não o estivesse a fazer deste modo. Cantando de forma a que se notasse as covinhas laterais da face também não deve ajudar à projecção do som… Contudo, foi um dos melhores actores em palco.
Do mesmo modo não gostei do timbre de David Alegret (na foto em cima, ao lado de Veronique Gens), que interpretou o papel de Giocondo; demasiado afemininado para o meu gusto embora com afinação e constância perfeitos.
Patricia Bardon foi Marina e Josep Miquel Ramon foi Castagna, completando o elenco como os criados, com um nível vocal e interpretativo de marcada qualidade.
Foi a primeira vez que vi Jordi Savall ao vivo e, apesar de no pódio como maestro, questionei-me onde havia deixado a sua viola da gamba… Não posso dizer que a tenha trocado pela batuta porque conduziu a orquestra, nesta belíssima opera, com aquilo que habitualmente usa no dedilhar das cordas do célebre instrumento antigo… as mãos.
Uma excelente supresa em Barcelona, numa aposta que seria interessante de ver no Teatro Nacional de São Carlos.
Aqui ficam uns clips do canal do youtube do Liceu:
IL BURBERO DI BUON CUORE – Vicente Martín y Soler – Gran Teatro del Liceu, Barcelona – January 31, 2012
My dear bloggers, forgive me if the usual amateurism of my reviews reaches an even higher level with the following one. The reason is that it is a review of a not so famous opera and I only saw it once and for the first time.
The libretto was written by Lorenzo da Ponte and the opera was premiered in Vienna in 1786, the same year as The Marriage of Figaro by Mozart. The story evolves two brothers, one is Giocondo who is married to Lucilla and is bankrupt because the wife spends it all on clothes and jewelry, but without knowing she is leaving his husband broke; and Angelica who is young and in love with the young, honest but not rich Valerio. Giocondo wants to send her sister to a monastery but Angelica wants to marry. Uncle Ferramondo, whom all are afraid of due to his volatility of temperament, wants to help Angelica not to go to a monastery and finds her a husband. He thinks of his friend and chess companion Dorval, much older than the young girl. In the end, and with the help of Marina, everything is solved with Ferramondo helping Giocondo paying his debts and supporting the marriage of Angelica with Valerio, leaving the idea that everyone does what they of him.
The action, as you can see in the picture, is set in what appeared to be a hotel lobby, but also could be just the living room of Ferramondo’s house.
Seen as a possible rival to Mozart’s operas, the first act left me in doubts. Actually it had two or three moments of brilliance such as a feminine trio, the great aria of Dorval, or the duet at the chess table between Ferramondo and Marina, but with passages in which the orchestration did not seem the most engaging and not always the style of melody adapted completely to the text. However, everything changed in the second act! Sixty minutes of recitative-aria sets filled with an excellent melodic and Mozart-like orchestration of the highest musical level. I surrendered myself!
The singers were, in general, in a very good level.
Carlos Chausson as Ferramondo was undoubtedly the star of the opera, with an excellent representation and a perfect vocal performance.
Marco Vinco, of whom I did not get a good photo but that you can see in the video, was Dorval and matched on the excellence of tone and representation.
Véronique Gens was a lady on stage, in a voice whose quality no one can remain indifferent and which placed her slightly above the remaining female cast.
Elena de la Merced was very good, although the high notes, given in strength, did sounded somehow shouted.
Paolo Fanale made a Valerio with a physical look and beauty of features perfectly matched with the role of young lover. I did not like his pitch since he seemed to be singing in a falsetto voice, although he was not doing it. Singing in a way that shows her face dimples should not also assist the projection of the sound… However, he was one of the best actors stage.
Similarly I did not like the tone of David Alegret (next to Veronique Gens in the photo above), who played the role of Giocondo. His voice was too much feminine-like for my taste, despite being very constant and tuned.
Patricia Bardon was Marina and Josep Miquel Ramon was Castagna, completing the cast as the servants, with a high level of vocal and interpretative quality.
It was the first time I saw Jordi Savall live and, despite in the podium as a conductor, I wondered where he had left his “viola da gamba” ... I can not say that he has changed her for the baton because he led the orchestra in this beautiful opera, with what we normally uses to play the strings of the famous ancient instrument ... his hands.
A great surprise in Barcelona, a production that would be interestng to see the at Teatro Nacional de São Carlos.
Here are some clips from the youtube channel from the Liceu: