(review in English below)
A nova produção da Royal Opera House da Aida de Verdi foi entregue a Robert Karsen. Não há qualquer semelhança com o enquadramento original. O Egipto e a Etiópia foram esquecidos e tudo se passa num bunker militar cinzento de um País sob uma ditadura militar. Embora a produção tenha sido concebida antes da pandemia e da guerra na Ucrânia, ganha alguma actualidade pois poderia passar-se na Coreia do Norte ou mesmo na Rússia. Toda a espectacularidade habitual da ópera não existe.
As cenas passam-se todas nesse cenário muito cinzento, onde apenas há as cores azul e vermelha (com a estrela comunista) de bandeiras do País imaginado. Os protagonistas são militares de variadas patentes e o coro são soldados. Numa das grandes cenas de bailado este é substituído por um conjunto de empregadas domésticas a pôr uma enorme mesa, sob supervisão militar e a outra é dançada pelos soldados que exibem as suas capacidades militares.
A marcha triunfal do 2º acto começa com uma série de caixões cobertos pela bandeira, o 3º acto passa-se à volta do que seria um túmulo de um soldado desconhecido e a cena final num depósito de mísseis.
A direcção musical de Antonio Pappano foi excelente e a orquestra esteve ao mais alto nível.
O Coro foi talvez o melhor de todo o espectáculo e, no primeiro acto, os elementos cantando em pianíssimo, armados de metralhadoras e sentados como se numa igreja estivessem, foi sublime!
A soprano Elena Stikhina foi uma Aida notável, voz bonita, emotiva, bem audível e excelente presença em palco.
O tenor Francesco Meli foi um Radames fantástico. Sempre afinado, embora cantando aparentemente no limite em algumas vezes, nunca desafinou e transmitiu todas as emoções que se esperam do personagem.
O Amonastro do barítono Ludovic Tézier não me surpreendeu porque sempre que ouvi este cantou, fiquei muito bem impressionado. Foi marcante, sobretudo no diálogo com a Aida no 3º acto.
Fabuloso foi o baixo Solomon Howard, talvez o melhor solista da noite, com uma interpretação magistral do Sumo Sacerdote Ramfis.
In Sung Sim foi um Rei do Egipto desinteressante, mas o papel é muito pequeno.
(equipa de produção)
Um espectáculo musicalmente superior numa encenação cinzenta e algo monótona.
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AIDA, Royal Opera House, London, September 2022
The new Royal Opera House production of Verdi's Aida was handed over to Robert Karsen. There is no resemblance to the original opera. Egypt and Ethiopia have been forgotten and everything takes place in a gray military bunker in a country under a military dictatorship. Although the production was conceived before the pandemic and the war in Ukraine, it gains relevance as it could take place in North Korea or even Russia. All the usual spectacularity of opera does not exist.
The scenes all take place in this very gray setting, where there are only the blue and red colors (with the communist star) of flags of the imaginary country. The soloists are soldiers of different ranks and the choir are soldiers. In one of the great ballet scenes, this is replaced by a group of maids setting a huge table, under military supervision, and the other is danced by soldiers displaying their military skills. The 2nd act's triumphal march begins with a series of flag-draped coffins, the 3rd act takes place around what would have been a tomb of an unknown soldier and the final scene in a missile depot.
Antonio Pappano's musical direction was excellent and the orchestra was at the highest level. The Choir was perhaps the best of the whole show and, in the first act, the elements singing in pianissimi, armed with machine guns and seated as if they were in a church, was sublime!
Soprano Elena Stikhina was a remarkable Aida, with a beautiful, emotional, well-audible voice and excellent stage presence.
Agnieszka Rehlis was a somewhat restrained Amneris, her mezzo doesn't have the usual power in the interpretations of this character, but she sang in crescendo and in the end she was quite good, although the staging didn't help.
Tenor Francesco Meli was a fantastic Radames. Always in tune, although singing seemingly on edge at times, he never went out of tune and conveyed all the emotions one would expect from the character.
Baritone Ludovic Tézier's Amonastro did not surprise me because whenever I heard him sing, I was very impressed. He was remarkable, especially in the dialogue with Aida in the 3rd act.
Fabulous was the bass Solomon Howard, perhaps the best soloist of the night, with a masterful interpretation by High Priest Ramfis.
In Sung Sim was an uninteresting King of Egypt, but the role is very small.
A musically superior show in a gray and somewhat monotonous staging.
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