quinta-feira, 29 de setembro de 2022

AIDA, Royal Opera House, Londres, Setembro / September 2022


(review in English below)

A nova produção da Royal Opera House da Aida de Verdi foi entregue a Robert Karsen. Não há qualquer semelhança com o enquadramento original. O Egipto e a Etiópia foram esquecidos e tudo se passa num bunker militar cinzento de um País sob uma ditadura militar. Embora a produção tenha sido concebida antes da pandemia e da guerra na Ucrânia, ganha alguma actualidade pois poderia passar-se na Coreia do Norte ou mesmo na Rússia. Toda a espectacularidade habitual da ópera não existe.

As cenas passam-se todas nesse cenário muito cinzento, onde apenas há as cores azul e vermelha (com a estrela comunista) de bandeiras do País imaginado. Os protagonistas são militares de variadas patentes e o coro são soldados. Numa das grandes cenas de bailado este é substituído por um conjunto de empregadas domésticas a pôr uma enorme mesa, sob supervisão militar e a outra é dançada pelos soldados que exibem as suas capacidades militares. 


A marcha triunfal do 2º acto começa com uma série de caixões cobertos pela bandeira, o 3º acto passa-se à volta do que seria um túmulo de um soldado desconhecido e a cena final num depósito de mísseis.

A direcção musical de Antonio Pappano foi excelente e a orquestra esteve ao mais alto nível. 

O Coro foi talvez o melhor de todo o espectáculo e, no primeiro acto, os elementos cantando em pianíssimo, armados de metralhadoras e sentados como se numa igreja estivessem, foi sublime!

A soprano Elena Stikhina foi uma Aida notável, voz bonita, emotiva, bem audível e excelente presença em palco.




Agnieszka Rehlis foi uma Amneris algo contida, o seu mezzo não tem o poderio habitual nas interpretações desta personagem, mas cantou em crescendo e no final esteve bastante bem, apesar de a encenação não ajudar.

O tenor Francesco Meli foi um Radames fantástico. Sempre afinado, embora cantando aparentemente no limite em algumas vezes, nunca desafinou e transmitiu todas as emoções que se esperam do personagem. 



O Amonastro do barítono Ludovic Tézier não me surpreendeu porque sempre que ouvi este cantou, fiquei muito bem impressionado. Foi marcante, sobretudo no diálogo com a Aida no 3º acto.


Fabuloso foi o baixo Solomon Howard, talvez o melhor solista da noite, com uma interpretação magistral do Sumo Sacerdote Ramfis. 


In Sung Sim foi um Rei do Egipto desinteressante, mas o papel é muito pequeno.



(equipa de produção)

Um espectáculo musicalmente superior numa encenação cinzenta e algo monótona.





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AIDA, Royal Opera House, London, September 2022

The new Royal Opera House production of Verdi's Aida was handed over to Robert Karsen. There is no resemblance to the original opera. Egypt and Ethiopia have been forgotten and everything takes place in a gray military bunker in a country under a military dictatorship. Although the production was conceived before the pandemic and the war in Ukraine, it gains relevance as it could take place in North Korea or even Russia. All the usual spectacularity of opera does not exist.

The scenes all take place in this very gray setting, where there are only the blue and red colors (with the communist star) of flags of the imaginary country. The soloists are soldiers of different ranks and the choir are soldiers. In one of the great ballet scenes, this is replaced by a group of maids setting a huge table, under military supervision, and the other is danced by soldiers displaying their military skills. The 2nd act's triumphal march begins with a series of flag-draped coffins, the 3rd act takes place around what would have been a tomb of an unknown soldier and the final scene in a missile depot.

Antonio Pappano's musical direction was excellent and the orchestra was at the highest level. The Choir was perhaps the best of the whole show and, in the first act, the elements singing in pianissimi, armed with machine guns and seated as if they were in a church, was sublime!

Soprano Elena Stikhina was a remarkable Aida, with a beautiful, emotional, well-audible voice and excellent stage presence.

Agnieszka Rehlis was a somewhat restrained Amneris, her mezzo doesn't have the usual power in the interpretations of this character, but she sang in crescendo and in the end she was quite good, although the staging didn't help.

Tenor Francesco Meli was a fantastic Radames. Always in tune, although singing seemingly on edge at times, he never went out of tune and conveyed all the emotions one would expect from the character.

Baritone Ludovic Tézier's Amonastro did not surprise me because whenever I heard him sing, I was very impressed. He was remarkable, especially in the dialogue with Aida in the 3rd act.

Fabulous was the bass Solomon Howard, perhaps the best soloist of the night, with a masterful interpretation by High Priest Ramfis.

In Sung Sim was an uninteresting King of Egypt, but the role is very small.

A musically superior show in a gray and somewhat monotonous staging.

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segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Meet the Jette Parker Artists, Royal Opera House, Setembro / September 2022

 


Os jovens artistas do programa Jette Parker da Royal Opera House foram apresentados num espectáculo informal no Lindbury Theatre, uma das salas de espectáculos da Royal Opera.


O excelente acompanhamento ao piano esteva a cargo dos dois maestros do programa que se ajudaram mutuamente, André Callegaro e Edward Reeve.

Ouvimos os 4 solistas (a óptima mezzo lituana Gabriele Kupsite, o tenor britânico Michael Gibson, a fantástica soprano canadiana Sarah Dufresne e o barítono sul coreano Josef Jeongmeen Ahn) numa área de ópera, numa canção folclórica do País de origem e em dois “ensembles”.



Meet the Jette Parker artists, September 2022

Young performers from the Royal Opera House's Jette Parker program were featured in an informal show at the Lindbury Theatre, one of the Royal Opera's performance halls.

The excellent piano accompaniment was in charge of the two conductors of the program who helped each other, André Callegaro and Edward Reeve.

We listened to the 4 soloists (the great Lithuanian mezzo Gabriele Kupsite, the British tenor Michael Gibson, the fantastic Canadian soprano Sarah Dufresne and the South Korean baritone Josef Jeongmeen Ahn) in an opera area, in a folk song from the Country of origin and in two “ensembles”. ”.

domingo, 11 de setembro de 2022

Ir ao Festival de Bayreuth – uma experiência (2ª parte) / Going to the Bayreuth Festival – an experience (2nd part)


(text in English below)

Bayreuth – o Festival

Assistir a várias óperas do Festival foi o que me trouxe a Bayreuth. O Festspielhaus (o teatro) é imponente e, como tudo o resto, está perfeitamente enquadrado numa área arborizada e cheia de flores, sem outros edifícios à volta.






O interior é grande e austero.




O exterior está rodeado por locais onde, durante os intervalos de 1 hora, o público pode adquirir bebidas (desde água a champanhe) e alimentos, sobretudo as famosas salsichas no pão. Todos têm que sair do teatro e nos jardins circundantes há bancos.





Há também várias placas alusivas ao passado do Festival e seus intervenientes, e uma das muitas estátuas de Wagner da cidade.




Os nomes das ruas mais próximas do local (mas também um pouco por toda a cidade) são bem sugestivos da importância do festival para a cidade.







O público maioritariamente veste-se a rigor – os homens de smoking e as senhoras de vestido comprido e adereços vistosos. Também há quem se apresente de forma mais casual, mas são uma minoria. Dominam os mais idosos, vêem-se poucos jovens.



Antes de começar cada acto, uma fanfarra assinala por 3 vezes o tempo até ao início (15 minutos, 10 minutos, 5 minutos). A identificação de cada membro do público é rigorosamente verificada através da apresentação do bilhete e de um documento de identificação.



No interior do teatro, não se vê a orquestra, está totalmente sob o palco. Não há legendas (nem em alemão) e não há ar condicionado. O calor é, frequentemente, excessivo. A acústica é fabulosa!

Como é habitual na Alemanha, o público tem um comportamento exemplar durante o espectáculo. Não tocam telemóveis, não há outros ruídos e quase não há tosses. E é um público conhecedor, muito exuberante quer nos aplausos do que gosta, quer nas vaias do que não gosta. Assisti às duas situações e foi talvez neste teatro que ouvi quer os aplausos mais esfuziantes, quer os protestos mais ruidosos, dirigidos a maestros, cantores e, sobretudo, encenadores, o que não deixa de ser um sinal de qualidade.

Já anteriormente escrevi as minhas impressões sobre as 7 óperas que tive oportunidade de ver. Termino recordando que esta foi a minha primeira deslocação a Bayreuth. Deixo um apontamento final sobre os aspectos que considerei mais negativos e mais positivos:


Os mais negativos:
- Calor excessivo dentro do teatro.
- Falta de legendas (mesmo em alemão).
- Algum desconforto dos assentos.
- Preço elevado dos bilhetes (tendo em comparação a prática habitual na Alemanha).
- Algumas produções “desafiantes”.
- Viagem até Bayreuth e regresso.
 
Os mais positivos:
- Ouvir-se Wagner em todo o seu esplendor!
- Acústica fabulosa.
- Qualidade dos intérpretes (orquestra, maestro, coro, cantores).
- Comportamento do público, conhecedor e exigente.
- Mística do local e envolvência.
- Organização.
- Cidade jardim de uma beleza, asseio e segurança exemplares.
- Alimentação de qualidade e a bom preço.



Going to the Bayreuth Festival – an experience (2nd part)


Bayreuth – the Festival


Watching several Festival operas is what brought me to Bayreuth. The Festspielhaus (the theater) is imposing and, like everything else, is perfectly framed in a wooded area full of flowers, with no other buildings around.






The interior is large and austere.






The exterior is surrounded by places where, during the 1-hour intermissions, the public can purchase drinks (from water to champagne) and food, especially the famous sausages on bread. Everyone has to leave the theater and there are benches in the surrounding gardens.





There are also several plaques alluding to the Festival's past and its participants, and one of the city's many Wagner statues.




The names of the streets closest to the place (but also all over the city) are very suggestive of the importance of the festival for the city.








The public mostly dresses up – men in tuxedos and ladies in long dresses and flashy accessories. There are also those who present themselves more casually, but they are a minority. The elderly dominate, few young people are seen.




Before each act begins, a fanfare marks the time until the beginning (15 minutes, 10 minutes, 5 minutes) 3 times. The identification of each member of the public is rigorously verified through the presentation of the ticket and an identification document.




Inside the theater, you can't see the orchestra, it's completely under the stage. There are no subtitles (not even in German) and there is no air conditioning. Heat is often excessive. The acoustics are fabulous!


As usually in Germany, the public behaves in an exemplary fashion during the performances. No cell phones ring, no other noises and hardly any coughing. And it's a knowledgeable audience, very exuberant, whether in the applause of what they like, or in the boos of what they don't like. I watched both situations and it was perhaps in this theater that I heard both the loudest applause and the loudest protests, directed at conductors, singers and, above all, directors, which is a sign of quality.


I have previously written my impressions of the 7 operas I had the opportunity to see. I will end by reminding you that this was my first trip to Bayreuth. I leave a final note on the aspects that I considered the most negative and most positive:


The most negative:
- Excessive heat inside the theater.
- Lack of subtitles (even in German).
- Some discomfort from the seats.
- High ticket prices (compared to the usual practice in Germany).
- Some “challenging” productions.
- Travel to Bayreuth and back.
 
The most positive:
- Hear Wagner in all his splendor!
- Fabulous acoustics.
- Quality of the performers (orchestra, conductor, choir, singers).
- Public behavior, knowledgeable and demanding.
- Mystique of the place and surroundings.
- Organization.
- Garden city of exemplary beauty, cleanliness and safety.
- Quality food at a good price.