domingo, 27 de novembro de 2011

QUARTETO HAGEN - Quartetos de cordas de Beethoven - Fundação Calouste Gulbenkian - 27 Novembro 2011




O experiente Quarteto Hagen trouxe magia à Gulbenkian hoje.

Com uma sincronia literalmente perfeita entre os elementos, rigor musical e uma expressão romântica e quente, ofereceram os quartetos opus 130 e 131, bem como a Grande Fuga opus 133.

Beethoven gostaria de ter ouvido… Será que os ouviu?...

Para quem não conhece este agrupamento e não pode estar presente, fica aqui a nossa recomendação discográfica.





HAGEN QUARTETT – Beethoven string quartets – Calouste Gulbenkian Foundation – 27th November 2011



The experienced Hagen Quartet brought magic to the Gulbenkian today.

With literally a perfect synchrony between the elements, a rigorous musical and romantic and warm expression, they offered us the quartet opus 130 and 131 and opus 133 the Great Fugue.

Beethoven would have liked to hear them... I wonder if he did? ...

For those who do not know this ensemble and could not attend this concert, here is our CD recommendation.



sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Memória da Ópera – Um blogue a não perder!


Foi com enorme satisfação que verifiquei que o blogue Memória da Ópera, da autoria de Hugo Santos, voltou ao activo, após uma longa pausa.

Pela qualidade excepcional dos conteúdos que nos são oferecidos considero-o um blogue obrigatório para qualquer amante da lírica. Recomendo vivamente que o visitem (e depois digam se tenho ou não razão!).

Ao Hugo Santos, agradeço ter voltado a presentear-nos com estas pérolas do passado e peço-lhe que me perdoe ter copiado a imagem do blogue sem autorização prévia.



Memória da Ópera (Memory of the Opera) - A blog not to be missed!

It was with great satisfaction that I found that the blog Memória da Ópera, by Hugo Santos, reappeared after a long pause.

Due to the exceptional quality of contents that are offered I consider it a must for any opera lover. I strongly recommend a visit to the blog (and then tell me whether or not I'm right!).

To Hugo Santos, I express my gratitude for presenting us with these gems from the past. I also ask him to forgive me for having copied the image of the blog without prior permission.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Die Walküre, Theatro Municipal de São Paulo, Novembro de 2011

Mais um texto de Ali Hassan Ayache que, com todo o gosto, publicamos na íntegra. Obrigado ao Ali por nos trazer mais informações sobre o que se vai podendo assistir no Brasil.


A explosão amorosa da Valquíria no Theatro Municipal de São Paulo.

  
 Prosseguindo as comemorações de seu centenário, o Theatro Municipal de São Paulo apresentou a monumental ópera de Richard Wagner, Die Walküre (A Valquíria) no último dia 17/11/2011. Segunda parte de uma tetralogia conhecida como Der Ring des Nibelungen (O Anel do Nibelungo). Baseada em lendas nórdicas, a obra é de grande complexidade, tudo nela é grandioso. Desafio para todos os profissionais envolvidos e para o publico, aguentar mais de 4 horas no teatro virou tarefa hercúlea no século XXI. Nosso maior teatro e o público tirou de letra essa aventura Wagneriana.

A direção de André Heller-Lopes é extremamente feliz nos conceitos e nas ideias centrais. Faz Siegmund e Sieglinde se apaixonarem ao primeiro olhar. A intensidade da paixão só aumenta no decorrer da récita. Vestir a personagem Sieglinde de muçulmana, ressaltando o véu, mostra a opressão que ela sofre do marido. Remete as mulheres oprimidas do oriente médio ou à todas as mulheres oprimidas. Grande sacada. O personagem Hunding , marido de Sieglinde, lembra um sacerdote e chega acompanhado de sua silenciosa trupe. Outra bela idéia. A cena final do primeiro ato é um primor de ousadia e criatividade. A moça se rebela e o símbolo dessa rebeldia é a tirada do véu. Termina deitada na mesa com o amante e ao mesmo tempo irmão. Um primeiro ato Perfeito.


 Os cenários são assinados pelo diretor, o primeiro ato está em dois níveis. Uma bela árvore divide a cena, a raiz é a parte inferior e o caule é a superior. Mudanças de cores em uma luz equilibrada realçam as movimentações cênicas. O segundo ato mostra os ex-votos de Aparecida do Norte (SP), cenário carregado e estreito. A movimentação dos cantores expressou os sentimentos dos personagens. A morte de Siegmund por Hunding é feita com um bastão de basebol, acompanhado de toda sua turma o marido traído arrebenta com o herói wagneriano. Wotan depois derruba todos, um a um eles vão caindo como bonecos. Muito interessante.

O terceiro ato é de uma leveza única, com painéis negros e esfumaçados. Colocar os Cavalhadas de Pirenópolis (GO) na cavalgada das Valquírias é interessante. Profusão de cores na cena, moderna e bem brasileira. As Valquírias, trazendo os heróis mortos, quase nus e vestindo-os com roupas dignas é outra parte memorável da abertura do terceiro ato. Grande direção, digna de ser apresentada em qualquer grande teatro lírico do mundo. Modernizou a obra, acrescentou questionamentos e mesmo assim se manteve fiel a Richard Wagner.

As vozes estiveram niveladas pela excelência. Surpreendi-me com o tenor Martin Muehle, voz wagneriana por excelência. Escura e com grande beleza tímbrica, sustenta as notas no limite. Agudos possantes e vivos. Canta e interpreta de forma genial, coloca a alma no canto. Um Siegmund completo. Outra surpresa foi o soprano Lee Bisset, sua Sieglinde tem voz quente, de qualidade superior, dramática, ora forte, ora leve e delicada. Tudo de acordo com as necessidades do momento. Belos dotes cênicos.


 O Hunding de Gregory Reinhart mostrou um belo timbre nos graves, mas não chega a empolgar. Janice Baird começou fria em sua participação como a Valquíria Brünnhilde. No terceiro ato melhorou, mostrou agudos luminosos. Um grande soprano que poderia ter rendido mais. Stefan Heidmann fez um Wotan com grande credibilidade, graves cheios e escuros com consistência do começo ao fim da apresentação. Sua voz não tem o peso ideal para o personagem, a compensação está na bela técnica e no timbre escuro. Denise de Freitas arrasou, sua Fricka tem voz áspera, perfeita para uma mulher chata, que inferniza o marido infiel. Graves potentes e sólidos realçaram sua apresentação.

A Orquestra Sinfônica Municipal nas mãos de Luiz Fernando Malheiro esteve impecável, tocou com sonoridade wagneriana ímpar. Os metais mostraram uma uniformidade única, as cordas foram marcantes e as madeiras líricas. Volume e tempos corretos fizeram a apresentação ser uma das melhores dos últimos anos da orquestra paulistana.

Nem tudo são flores em uma grande apresentação. O programa só foi distribuído entre o segundo e o terceiro ato e em quantidade insuficiente, alguns o disputaram a tapa. Fazer um intervalo de 45 minutos, entre o primeiro e segundo ato. Para os mais abastados jantarem, atrapalha aqueles que dependem de transporte publico. Lembro que a récita terminou após a meia noite.

 Previ que a maioria não ficaria até o final da apresentação. Minha preocupação era a complexidade da história, a dificuldade de deglutir a música de Wagner e o longo tempo da recita fizessem o teatro esvaziar. Quebrei a cara. Plateia concentrada e fixa se manteve fiel até o fim. Foram embora os que dependiam de transporte público. Uma pequena minoria que não pode acompanhar o fim grandioso da ópera. Labaredas envolvem a Valquíria Brünnhilde, os painéis se fecham sobre ela, a espera de um herói que a retire desse sono será grandiosa.   

 Texto de Ali Hassan Ayache do blogue Ópera & Ballet
http://operaeballet.blogspot.com/

terça-feira, 22 de novembro de 2011

SATYAGRAHA – Met Live em HD, Fundação Gulbenkian, Novembro de 2011

Satyagraha é uma ópera de Philip Glass com libretto do autor e de Constance de Jong que retrata episódios da vida de Gandhi enquanto jovem, quando viveu na África do Sul.



A encenação de Phelim McDermoff foi vistosa.
O som da transmissão esteve excessivamente alto e as vozes dos cantores pareciam distorcidas.
A música é de uma monotonia e repetitividade entediantes e exasperantes.
Ser cantado em sânscrito e quase sem tradução (apesar de ter sido dada a explicação que era deliberado, para se ouvir e não para ler) foi outro aspecto negativo para mim.

O comentário da Gi é, também, elucidativo.

Enfim, uma tarde penosa e uma ópera que não tenciono rever.

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SARYAGRAHA - Met Live in HD, Gulbenkian Foundation, November 2011


Satyagraha is an opera by Philip Glass with libretto by the author and Constance de Jong depicting episodes from the life of Gandhi as a young man when he lived in South Africa

The staging, by Phelim McDermoff, was interesting.
The sound was too loud and the voices of the singers seemed distorted.
For me, the music is a tedious monotony and repetitiveness.
Be sung in Sanskrit and almost without translation (despite having been given the explanation that it was deliberate, to be listen and not to be read) was another negative aspect for me.

Gi's comment is also instructive.

A painful afternoon and an opera that I do not intend to see again.

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sábado, 19 de novembro de 2011

2º ANIVERSÁRIO DOS FANÁTICOS!!!!

O Blogue Fanáticos da Ópera faz hoje 2 anos de existência!!!





A Música é talvez a mais emotiva das artes, e a Ópera o seu expoente máximo. A nossa paixão por ela é imensa, ao ponto de não conseguirmos diariamente passar sem a sua companhia. O esforço, dedicação e entrega que temos dado a este blog tem alimentado essa mesma paixão e o facto de a podermos partilhar com todos vocês, que se aventuram nas nossas crónicas e partilham também as vossas experiências e opiniões, é um privilégio imenso.

A nossa história já todos conhecem pela voz do FanaticoUm que celebrou há um ano o primeiro aniversário deste blog com um post emotivo e com a humildade sincera que nos caracteriza. Desde então triplicámos o número de seguidores e no mês passado atingimos o máximo de visualizações de página de sempre com cerca de 6800. Abrimos também o blog a outros colaboradores que nos deliciaram com as suas críticas operáticas.

Em tempos difíceis, não cobramos nada, muito menos IVA, não reduzimos salários, não agravamos o IRS de quem nos lê… Só esperamos poder continuar a solidificar este blog com os nossos sonhos. É isso que a Ópera nos possibilita… Sonhar! Uma vivência num mundo paralelo onde podemos, por momentos, ser um criado de um sedutor, um deus com um só olho, um duque insensível, um prisioneiro injustiçado, um mouro falsamente traído, um simplório apaixonado… sermos humanos em todas as vertentes, elevando a compreensão dos nossos sentimentos e do que somos neste mundo real.

Obrigado a todos e sejam felizes!




The Blog Opera Fanatics comemorates today 2 years of existence!




Music is perhaps the most emotive of the arts, and the opera its highest expression. Our passion for it is overwhelming to the point where we can not live without its daily company. The effort, dedication and commitment we have given to this blog has fueled our passion and the fact that we can share with you all, who venture on our chronicles, and also share your experiences and opinions, is an incredible privilege.

Everyone knows our story by the voice of FanaticoUm a year ago when celebrating the first anniversary of this blog with an emotional post filled with sincere humility that characterizes us. Since then we tripled the number of followers and last month reached the highest page views ever of about 6800. We also opened the blog to others who delighted us with their operatic reviews.

In tough times, we do not charge anything, not even any kind of tax, we do not low wages, we do not fire anyone... we just hope to continue to solidify this blog with our dreams. That is what Opera enables us... To dream! A life in a parallel world where we can, for brief moments, be a servant of a seducer, a god with one eye, an insensitive Duke, a wronged prisoner, a falsely betrayed Moor, a simple human being in love ... to be human in all its aspects, raising the understanding of our feelings and who we really are in this world.

Thank you all and be happy!


terça-feira, 15 de novembro de 2011

PHILIPPE JAROUSSKY + APOLLO'S FIRE – Fundação Gulbenkian, Novembro 2011

(review in English below)


Fireworks – barroco da mais alta qualidade na Gulbenkian

O jovem contratenor francês Philippe Jaorussky apresentou-se na Gulbenkian com a orquestra barroca americana Apollo’s Fire sob a direcção da cravista Jeannette Sorell, sua fundadora.



O contratenor, para mim, é aquela voz que não me deixa indiferente. Ou gosto muito, ou detesto (o que acontece mais vezes, confesso). Neste caso já ia predisposto a gostar, apesar de ter sido a primeira vez que vi Jaroussky ao vivo.

Com o sugestivo título de Fireworks, o concerto foi um pitéu para os apreciadores de Vivaldi e Häendel, entre os quais me incluo. Jaroussky interpretou este reportório barroco com um virtuosismo marcante e notável capacidade vocal. A voz é cristalina e de uma beleza celestial invulgar.

(fotografias do site e do programa de sala da Gulbenkian)

Logo no início ouvimos a ária de Oreste Agitato da fiere tempeste, bem cantada e exuberantemente ornamentada. Seguiu-se Ho perso il caro bem de Parnasso in Festa. O contraste não podia ser maior. Nesta intervenção Jaroussky conseguiu transmitir um dramatismo e uma tristeza atrozes, noutra sublime interpretação vocal. Pensei que o melhor tinha-nos sido dado logo no início. Mas enganei-me.

Seguiu-se o concerto para dois violoncelos em Sol menor de Vivaldi. A orquestra Appolo’s Fire, de 14 elementos e instrumentos da época, ofereceu-nos a magnífica sonoridade barroca. No prelúdio em Lá maior, para cravo solo Jeannette Sorell brilhou.
Mas o ponto alto viria mais tarde, na apresentação do Concerto Grosso sobre La Follia, também de Vivaldi. Uma interpretação exímia, de qualidade estonteante que, só por si, teria valido o concerto.



Mas tivemos muito mais. Jaroussky foi cantando Händel e Vivaldi de forma imaculada, ora o mais exuberante e colorido, ora o mais sério e de linha melódica contínua (muito mais do meu agrado, ao contrário do que pareceu ser o gosto do público).



No final, após uma merecida ovação de pé, três encores, incluindo árias das óperas Rinaldo e Serse, terminando com Ombra mai fù. Um maravilha!

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Philippe Jaroussky + Apollo's Fire - Gulbenkian, November 2011

Fireworks - Highest quality Baroque at the Gulbenkian

The young French countertenor Philippe Jaorussky sang at the Gulbenkian Foundation with the American baroque orchestra Apollo's Fire with the direction of harpsichordist Jeannette Sorell, its founder.


The countertenor is that voice that does not leave me indifferent. Or I really like it or I hate it. In this case I was already predisposed to like it, despite having been the first time I saw live Jaroussky.

With the evocative title of Fireworks, the concert was a delicacy for lovers of Vivaldi and Händel, among whom I include myself. Jaroussky has interpreted this Baroque repertoire with fantastic virtuosity and remarkable vocal ability. His voice is crystal clear and with as unusually heavenly beauty.

Right at the beginning we heard Oreste’s aria Agitato da fiere tempeste, exuberantly decorated and well sung. It was followed by Ho perso il caro bem from Parnasso in Festa. The contrast could hardly be greater. In this intervention Jaroussky managed to convey a dramatic and appalling sadness, another sublime vocal performance. I thought the best we had been given at the start of the concert. But I was wrong.

These first interpretations were followed by the concert for two cellos in G minor by Vivaldi. The orchestra of 14 elements and baroque musical instruments gave us the magnificent baroque sound. In the prelude in A major for harpsichord solo Jeannette Sorell was magnificent.But the highest moment would came later, in the interpretation of the Concerto Grosso on La Follia, also by Vivaldi. It was an interpretation of stunning quality that, by itself, would have been worth the concert.

But we had much more. Jaroussky with is immaculate singing of Händel and Vivaldi, either the most exuberant and colourful arias, or the most dramatic with continuous melodic lines (the ones I prefer, in contrary to what appeared to be the audience's preference).

In the end, after a deserved standing ovation, three encores, including arias from Händel’s operas Serse and Rinaldo, closing with Ombra mai fù. A wonder!

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sábado, 12 de novembro de 2011

TANNHÄUSER, Bastilha, Paris, Outubro de 2011

(review in English below)

Tannhäuser é uma das óperas de Richard Wagner que mais vezes tive oportunidade de ver. O enredo pode ler-se aqui.
No seu centro estão os torneios poéticos trovadorescos medievais. Grande parte da obra wagneriana está imbuída da redenção pelo amor, tema dominante nesta ópera, apesar de a sua magnitude ultrapassar largamente o confronto entre o amor carnal (simbolizado por Vénus) e o espiritual (por Elisabeth).


A belíssima abertura da ópera é, talvez, a primeira grande página sinfónica do compositor e inclui os temas principais da ópera com valor simbólico. Os leitmotive virão a ser uma marca indelével nas partituras de Wagner.

Sir Mark Elder dirigiu a Orquestra e Coros da Ópera Nacional de Paris. Apesar da magnífica sonoridade alcançada, acho que nunca conseguiu ser empolgante. Nunca me canso de salientar as cordas (em particular os violoncelos e, sobretudo, as harpas), para as quais Wagner escreveu páginas de uma beleza sublime. Os coros estiveram bem, mas quando cantavam fora de cena o som perdia-se um pouco na imensidão do teatro.


 A encenação de Robert Carsen, que já tinha visto em Barcelona em Abril de 2008, é polémica mas, para mim, interessante. A acção centra-se na pintura.
A ópera abre com Tannhäuser a pintar Vénus, que surge nua, como modelo. A cena do bacanal está bem imaginada, apesar de uma abordagem pouco convencional. Subitamente entram dezenas de bailarinos vestidos de negro, cada um com uma tela (todas viradas para os bastidores). As telas são pousadas ao longo de todo o fundo do palco, os bailarinos despem-se e começam uma dança frenética em que se vão “sujando” progressivamente de tinta vermelha, à medida que se intensificam a musica e os movimentos. Quando terminam estão totalmente “sujos”. O eleito visual é marcante. Mas, comparado com o que vi em Barcelona, onde esta cena foi muito mais ousada e de um erotismo acentuado, aqui em Paris foi tornada mais “soft”.
No segundo acto há um concurso de pintura numa galeria de arte (o concurso poético sobre o amor). O público (o coro) e os solistas entram pela plateia, como se de espectadores se tratassem. São servidos de champanhe e canapés. As telas estão frequentemente colocadas em cavaletes com rodas mas nunca viradas para o público.


 A última cena passa-se numa grande sala pejada de quadros de grandes pintores, com um espaço vago, onde Tannhäuser vai pendurar o seu. No momento em que, finalmente, a tela se veria, apagam-se as luzes e a ópera termina.






 O tenor britânico Christopher Ventris foi um Tannhäuser notável. Começou algo nervoso, com hesitações, mas depois melhorou muito. A voz é potente, cheia e afinada. O papel é exigente e esteve sempre à altura. Confesso que gostei muito mais do seu Parsifal, mas este Tannhäuser também foi de grande qualidade.


Sophie Koch, mezzo francesa, foi uma Vénus excepcional. É uma cantora com uma voz muito bonita, forte, redonda e sempre afinada. A sua presença cénica foi marcante, muito ajudada pela figura esbelta que possui e pela forma como apareceu em cena (a Vénus que surgiu inicialmente nua era uma dupla muito parecida com Sophie Koch).


 Stéphane Degout, jovem barítono francês, foi um Wolfram aceitável. A voz é bem timbrada, quase sempre bem audível, mas não teve a suavidade exigida à personagem. No canto à estrela da noite (O du, mein holder Abendstern), talvez o momento musical mais belo da personagem, não conseguiu transmitir a emoção esperada.


 Deixo para o fim Elisabeth, interpretada pelo soprano sueco Nina Stemme, que se estreava em Paris. Já referi várias vezes neste blogue a minha profunda admiração por esta cantora. É, para mim, o melhor soprano wagneriano da actualidade. Mais uma fez esteve ao seu mais alto nível. A voz é avassaladora e foi, de todos os cantores que ouvi na Bastilha, a única que parecia estar a cantar num teatro de ópera de dimensões “convencionais”. Mas, para além da potência, a beleza tímbrica e a emotividade vocal são únicas. A presença em palco faz o resto. Fabulosa!




 Estiveram também muito bem o baixo alemão Christof Fischesser como Hermann e os trovadores Walther (o tenor francês Stanislas De Barbeyrac), Heinrich (o tenor francês Eric Huchet), Biterolf (o baixo barítono polaco Tomasz Konieczny) e Reinmar (o baixo polaco Wojtek Smilek).







 Um Tannhäuser de qualidade em Paris onde brilharam, sobretudo, as senhoras.



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TANNHÄUSER, Bastille, Paris, October 2011

Tannhäuser is one of the Richard Wagner’operas that I had the opportunity to see more often. The plot can be read here.
At its center are the poetic troubadour medieval tournaments. Much of the work is imbued with Wagnerian redemption through love, a dominant theme in this opera, although its magnitude largely overcome the conflict between carnal love (symbolized by Venus) and spiritual love (Elisabeth).

The beautiful opening of the opera is perhaps the first composer's great symphonic page and includes the main themes of the opera with symbolic value. The leitmotive will become an indelible mark in the scores of Wagner.

Sir Mark Elder directed the Orchestra and Chorus of the Opéra National de Paris. Despite the superb sound achieved, it was never exciting. I always point out the strings (particularly the cellos, and especially the harps), for which Wagner wrote sublime beautiful pages. The choruses were fine, but when they sang offstage the sound was a little lost in the vastness of the theater.

I had seen this staging by Robert Carsen before, in Barcelona, in April 2008. It is controversial but interesting. The action focuses on the painting.
The opera opens with Tannhäuser painting Venus, who appears naked, as a model. The orgy scene is well concieved, though an unconventional approach. Suddenly dozens of dancers appear dressed in black, each with a painting (all facing backstage). The paintings are left throughout the back of the stage, the dancers undress and begin a frenzied dance that will be "messing" progressively red ink, as the music intensifies. When they finish they are totally "dirty." The visual effect is striking. But compared with what I saw in Barcelona,
​​where this scene was much more erotic here in Paris it was made more "soft".

In the second act there is a painting contest in an art gallery (the poetry contest about love). The public (the choir) and the soloists enter through the audience, as if they were members of the audience. Champagne and appetizers are served. The paintings are often placed on easels with wheels but never face the public.
The final scene is in a large room filled with well-known paintings, with a vacant space, where Tannhäuser will hang his painting. Finally, when we are about to see the painting, the lights go off and the opera ends.

British tenor Christopher Ventris was a remarkable Tannhäuser. He started somewhat nervous, with hesitations, but he improved greatly. The voice is powerful, sound and refined. The role is demanding and he was always well. I confess that I liked his Parsifal more than his Tannhäuser but this was also of great quality.

Sophie Koch, French mezzo, was an exceptional Venus. She is a singer with a beautiful strong and round voice, and she is always in tune. Her stage presence was remarkable, aided by her very slender figure and by the way she appeared on the scene. (the first naked Venus was a double, looking like to Sophie Koch).

Stéphane Degout young French baritone, was an acceptable Wolfram. The voice has a nice timbre and was almost always audible. However, he could not express the smoothness required. In the song to the star of the night (O du mein holder Abendstern), perhaps the most beautiful musical moment of Wolfram, he failed to convey the expected emotion.

I leave Elizabeth to the end, interpreted by Swedish soprano Nina Stemme, who premiered in Paris. I have already mentioned several times in this blog my profound admiration for this singer. She is, for me, the best wagnerian soprano of our days. Once again, she was at her best. The voice is overwhelming, and from all the singers I heard in the Bastille, she was the only one who seemed to be singing in a "conventional" size opera house. But beyond the power, the vocal beauty and emotional timbre are unique.
Her presence on stage does the rest. Fabulous!

We had also good performances from German bass Christof Fischesser Hermann, and the troubadours Walther (French tenor Stanislas De Barbeyrac), Heinrich (French tenor Eric Huchet) Biterolf (Polish bass baritone Tomasz Konieczny) and Reinmar (Polish bass Wojtek Smilek).

A Tannhäuser of good quality in Paris where the stars were, above all, the ladies.

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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Celebração dos 40 anos de Plácido Domingo na Royal Opera House – 30 Outubro 2011




(review in english below)

Para celebrar os 40 anos passados sobre a estreia de Plácido Domingo na Royal Opera House, esta casa de ópera levou a palco, nos dias 27 e 30 de Outubro, dois concertos, onde o mítico tenor (agora “baritenor”), acompanhado de outros nomes célebres, nos trouxe os últimos actos encenados do Otello, do Rigoletto e do Simão Boccanegra, todas, como sabem, de Giuseppe Verdi.

Foi a primeira vez e, por certo, a última oportunidade que tive de ver Domingo como Otello. Tenho pena de não ter visto ao vivo a sua interpretação deste papel há vários anos atrás, quando era considerado um dos melhores Otello de sempre. Embora com uma pose e caracterização exímia, Domingo claramente esticou a corda demasiado num papel que já não se adapta à sua voz de momento. Contudo, e como sempre, não quebrou, embora alguns dos agudos tenham sido em defesa com diminuição da projecção de som. Esteve com o apoio maioritário de Marina Poplavskaya que não esteve, na minha opinião, à altura do evento. Desafinou muito durante a canção do salgueiro e o Ave Maria, principalmente nos agudos mantidos, o que, embora procurasse disfarçar com um canto em choro, não me convenceu minimamente que tal se devia a opções de dramatismo vocal. A Orquestra também entrou mal, com pelo menos dois momento de descoordenação com Pappano e algumas notas ao lado.



Como Rigoletto, Domingo apresentou-se claramente mais confortável mas confesso que, se como Boccanegra a sua presença, postura e voz se enquadram bem com a personagem, em Rigoletto não o sinto assim. Depois de o ver na produção em directo para televisão de 2010, acho que numa casa de ópera e ao vivo não funciona, embora a sua qualidade vocal e interpretativa não estejam em causa e permaneçam de elevado nível. Talvez por isso, e do modo sensato que o caracteriza, ainda não tenha prosseguido para uma produção como cabeça de cartaz desta ópera. Francesco Meli foi arrasador como o Duque, com a sua voz jovial, cristalina, segura e expressiva. Ailyn Pérez como Gilda esteve bem, a prometer vir a tornar-se uma soprano de relevo mas, pelo menos para já, sem estrelinha de genialidade. Paata Burchuladze cumpriu bem como Sparafucile bem como Justina Gringyte no papel de Madalena.





Como Simão Boccanegra, Domingo domina com uma classe impressionante. Utilizando uma produção da que assistimos em 2010 e que se encontra disponível em DVD, a sua interpretação mantém-se estratosférica, sem me ferir o facto da sua voz não ser a de um verdadeiro barítono. O modo como, no último acto, chama os guardas quando ouve a voz de Fiesco sem ainda saber que é este que lhe fala é feito de um modo só ao alcance de quem compreende o papel e sabe tornar estas personagens operáticas como reais. Continua também a cair de morto de forma atleticamente surpreendente, sem quebrar um único osso. Paata Burchuladze foi um Fiesco com qualidade embora me pareça uma voz já cansada e sem brilho interpretativo. Mais uma vez, e embora em modesta passagem como Adorno, Francesco Meli este excelente, acompanhado por uma Marina Poplavskaya em melhor forma do que no Otello (também, numa passagem vocal menos exigente…). Jonathan Summers foi Paolo e esteve irrepreensível nos momentos que antecedem a sua execução.





Foi uma tarde interessante mas o facto de, embora se conheçam as óperas apresentadas, só se assistir aos últimos actos, acabou por obrigatoriamente faltar alguma emoção e alma, mesmo com encenação. Acho que a Orquestra e Pappano entraram menos bem mas compuseram com o desenrolar da matiné. Fica a impressão de que se quer homenagear um grande cantor mas que não se constrói um espectáculo à altura estrelar que se desejaria.















Placido Domingo Celebration (40 years at the Royal Opera House) - 30 October 2011




To celebrate the 40 years after the debut of Plácido Domingo at the Royal Opera House, the Opera House took the stage, on the 27th and 30th October, two concerts, where the legendary tenor (now "baritenor"), accompanied by other famous names, brought us the staged final acts of Otello, Rigoletto and Simon Boccanegra all, as you know, by Giuseppe Verdi.

It was the first time and probably the last opportunity I had to see Domingo as Otello. I regret not having seen him live on this role several years ago when hr was one of the greatest Otello ever. Although with an excelent pose and characterization, Domingo too clearly “stretched the rope” in a role that no longer fits his voice. However, as always, he did not crack, although some of the high notes were sung in a defensive way with a decrease in sound projection. He was mainly supported by Marina Poplavskaya who was not, in my opinion, on the expected level of the event. Frequently of tune a lot during the Willow song and the Ave Maria, especially in the acute notes, I find hard to accept that they came out that way only in a overdramatic sense she wanted to give to Desdemona. The Orchestra had a bad start, with at least two moments of clumsiness and some notes on the side.



As Rigoletto, Domingo presented clearly more comfortable but I confess that, as Boccanegra his presence, posture and voice fit well with the character. This I do not feel in Rigoletto. After watching the live television production in 2010, I believe that live in an opera house it does not work, although his vocal quality and interpretation are not in question and remain a high level. Maybe so, and in a so prudent way that characterizes him, he has never accepted a production on live stage with his name as Rigoletto.. Francesco Meli was superb as the Duke, with his cheerful, clear, safe and expressive voice. Ailyn Pérez was good as Gilda, and she promises to become a very good soprano but, at least for now, we don’t see a perfect star of genius. Paata Burchuladze was ok as Sparafucile just like Justina Gringyte as Magdalene.





As Simon Boccanegra, Domingo rules with an awesome class. Using a production different from the one we saw in 2010 and is available on DVD, his interpretation remains stratospheric, without hurting me that his voice is not that of a true baritone. How, in the last act, he calls the guards when he hears the voice of Fiesco without even knowing who is talking to him is done in a way only possible to those who understand the role and know how to make these operatic characters look real. He also continues to drop dead in an athletically amazing way, without breaking a single bone. Paata Burchuladze was a good quality Fiesco though I sensed a tired voice and dull interpretation. Again, although in the modest passage as Adorno, Francesco Meli was excellent, accompanied by a Marina Poplavskaya in better shape than in the Otello act (also, in less demanding vocal passage...). Jonathan Summers was a magnificent Paolo in the moments before his execution.





It was an interesting afternoon but the fact that only the final acts were presented it lead to a must have feeling of lack of emotion and soul, despite knowing the operas content and previous actions and despite the staging. I think Pappano and the Orchestra started not so well but they went better in the course of the concert. The overall impression is that the purpose is to honor a great singer but the result does not end to be as memorable as it should be.