terça-feira, 31 de agosto de 2010

Roméo et Juliette - Salzburger Festspiele - 10 de Agosto de 2010








O Festival de Salzburgo, que este ano celebra 90 anos de existência, incluiu no seu programa a conhecida ópera de Charles Gounod, Roméo et Juliette, baseada na obra homónima de William Shakespeare.
O elenco era verdadeiramente promissor, com destaque para a cantora da moda - Anna Netrebko - como Juliette.
A récita teve lugar na peculiar Felsenreitschule. A encenação foi muito interessante e enquadrou-se perfeitamente nas arcadas da sala, que rodeiam o palco, e que foram incluídas no cenário. O guarda-roupa era esplêndido.
A entrada em cena de Anna Netrebko ocorreu pouco depois do início do primeiro acto. A cantora entrou em passo de corrida, transmitindo jovialidade, inocência e alegria. E foi precisamente neste acto que Anna Netrebko teve um dos seus melhores momentos, com a conhecida ária "Je veux vivre". Netrebko cantou a ária rodopiando e dançando no palco, tendo sido, de facto, brilhante. Conseguiu transmitir uma enorme alegria de viver. São seguramente as suas qualidades de presença em palco, beleza feminina e jovialidade, aliadas a um bom uso que faz da sua voz redonda e cheia, que justificam toda a atenção que, ao longo dos últimos anos os media lhe têm dado e toda a popularidade que Anna Netrebko tem tido a nível mundial.

A seu lado, esteve um Roméo muito bem desempenhado pelo tenor polaco Piotr Beczala. O cantor, que fez a sua primeira aparição no Festival de Salzburgo em 1997, tem desenvolvido uma carreira internacional fulgurante. Detentor duma voz vigorosa e metálica, consegue entusiasmar o público facilmente. Na ária "Ah! Lève-toi, Soleil!" o tenor demonstrou claramente as suas qualidades vocais, entoando-a com linhas longas, projectando a voz com brilho e entusiasmo. A difícil nota aguda final foi intensa, longa e cheia. O público aplaudiu intensamente.
Ao longo de toda a ópera, Netrebko e Beczala conseguiram transmitir em toda a sua actuação a jovialidade e a paixão que as personagens requerem. Os restantes cantores, bem como o coro da Wiener Staatsoper que os acompanhou foram excelentes. Saliento, contudo, o barítono canadiano Russell Braun, que desempenhou muito bem o papel de Mercutio (amigo de Roméo).
O jovem maestro canadiano Yannick Nézet-Séguin, conduziu admiravelmente a Mozarteumorchester de Salzburgo.

sábado, 28 de agosto de 2010

Balanço final da Temporada 2009-2010, por FanáticoUm

Terminada a temporada de ópera 2009-2010 deixo aqui algumas notas sobre o que considerei mais relevante, de entre o muito que tive oportunidade de ver e ouvir. Todas as apreciações e comentários feitos em tempo poderão ser facilmente localizados recorrendo ao "Pesquisar neste blogue” pelo que aqui apenas colocarei ligações directas em casos muito excepcionais.

Os Melhores espectáculos de Ópera
Foram muitos aqueles que me deixaram excelentes memórias. Saliento, de entre eles,
Turandot , La Bohème, Hamlet e Simon Boccanegra em Nova Iorque, Götterdämerung em São Carlos, Rigoletto e La Sonnambula em Viena e Carmen, Don Carlo, Manon e Salome em Londres.

Antonio Pappano foi o Maestro que se destacou e das Orquestras foram excelentes as da Royal Opera de Londres, do MET de Nova Iorque e da Staarsoper de Viena.

Os Superlativos
No cômputo final e tendo em consideração a encenação, o maestro, a orquestra e os intérpretes, as óperas mais memoráveis foram:
Don Carlo na Royal Opera, Londres,
Salome na Royal Opera, Londres e, sobretudo,
Manon na Royal Opera, Londres (a melhor ópera da temporada a que assisti)!

(Anna Netrebko e Vittorio Grigolo em Manon, Royal Opera, Londres)

Os Cantores inesquecíveis
Também tive a sorte de ver e ouvir muitas interpretações excepcionais. De entre elas destaco:
Nina Stemme como Isolda e Ariadne, Anna Netrebko como Mimi e Manon, Patrizia Ciofi como Gilda, Angela Gheorghiu como Violetta, Natalie Dessay como Amina,
Luciana D’Íntino como Azucena, Elina Garanca como Carmen,
Juan Diego Flórez como Elvino, Piotr Beczala como Rodolfo, Jonas Kaufmann como Carlos, Vittorio Grigolo como Des Grieux, Joseph Calleja como Gabriele Adorno,
Simon Keenlyside como Rodrigo e Hamlet, Dmitri Hvorostovsky como Rigoletto, Plácido Domingo como Simon Boccanegra e
Ferrucio Furlanetto como Filipe II e Fiesco.

As Revelações
Foram várias (cantores que nunca tinha visto ao vivo), das quais assinalo Stefan Vinke como Sigfried, Maija Kovalevska como Liu, Alexei Tanovitsky como Príncipe Gremin, Vitorio Griggolo como Des Grieux, Gehrard Siegel como Herodes e Johan Reuter como Jokanaan.

(Salome, Royal Opera, Londres)

As Grandes Desilusões
Foram algumas e não merecem que perca muita tempo com elas. O Idomeneo Rei de Creta em Bruxelas, o Trovador em Barcelona, o Attila em Nova Iorque, as Bodas de Fígaro e o Morcego no São Carlos, foram para esquecer.
Houve também cantores e maestros que me surpreenderam pela negativa, mas não vou voltar a eles agora, dado que os referi anteriormente e, neste momento, pretendo recordar apenas o bom.
Deixo mais um apontamento de preocupação relativo ao nosso teatro nacional de ópera. Estamos a poucos dias do início da temporada 2010-2011 em muitos teatros (e também na Gulbenkian) e ainda nem se conhece a programação do São Carlos.

A Não Perder
A concluir e como nos grandes teatros de ópera as mesmas produções são periodicamente trazidas à cena, os espectáculos que considero absolutamente a não perder são La Bohème (Nova Iorque, Viena ou Londres) e as produções londrinas da Carmen, Don Carlo, Manon e Salome.

De entre elas, na próxima temporada de 2010-2011 estarão em cena La Bohème (Viena e Nova Iorque) e o Don Carlo (em Nova Iorque, mas é a mesma produção de Londres e acessível no MET Live).


(Ferrucio Furlanetto e Simon Keenlyside em Don Carlo, Royal Opera, Londres)


Brevemente teremos o balanço da temporada pelo wagner_fanatic e pelo FanáticoDois.

Votos de Bons Espectáculos na próxima temporada!!

domingo, 22 de agosto de 2010

Tristan und Isolde - Royal Opera House, Londres - 2 de Outubro 2009

Em jeito de memória, venho trazer a este Blog um pequeno apontamento sobre um espectáculo bastante bom que eu e FanaticoUm tivemos o prazer de assistir no início da Temporada em Londres.

Londres é um dos sítios onde se consegue ir e ver duas ou três óperas seguidas, principalmente no final da temporada mas, por vezes, também no início da mesma.

Assim, em Outubro de 2009, assistimos a um Don Carlo fantástico com Jonas Kaufmann, Simon Keelyside, Ferrucio Furlanetto e John Tomlinson, seguido de um Tristão e Isolda com Nina Stemme, Ben Heppner, Michael Volle, Sophie Koch e John Tomlinson e, com alguma ginástica de bilhetes, conseguimos ainda ver a Carmen com Elina Garanca, Roberto Alagna e Ildebrando d’Arcangelo.

É sobre este Tristão que quero deixar umas palavras. Antes da récita tive uma primeira desilusão que foi o facto de Matti Salminen ter de cancelar as primeiras récitas por ter sido operado ao joelho. Ainda não era desta que o via ao vivo e via o seu Rei Marke. Do mesmo modo que estou sempre a falar no blog sobre o seu Gurnemanz que ainda não tive oportunidade de ver ao vivo. A segunda desilusão, mas algo já relativamente esperado, foi Ben Heppner, cuja voz quebrou mesmo ainda antes do dueto do 2º acto.

Apesar destes pontos negativos, a récita foi memorável muito pela presença de 3 cantores fantásticos e em excelente forma: Nina Stemme, Michael Volle e Sophie Koch.

Nina Stemme foi uma excelente Isolda! Timbre muito bonito, com força mas não comprometendo a afinação e o dramatismo, facilmente sobrevoa uma orquestra wagneriana. Sublime a sua prestação e a grande heroína da noite, infelizmente não suportada por um Tristão à altura.

Michael Volle é um baixo-barítono fantástico! Dotado de uma classe exemplar em palco, voz forte e dramática, foi um prazer ouvir o seu Kurwenal. Ainda não tive oportunidade de o rever ao vivo mas espero poder fazê-lo no futuro. Brevemente estará à venda um DVD com adaptação cinematográfica de Der Freischutz e podem dar um olhinho ao seu Amfortas na gravação do Parsifal de Zurich – fantástica (encenação igual à de Barcelona no próximo ano).

Sophie Koch tem uma voz de mezzo sublime! Em tudo se aplica o que referi sobre os dois cantores prévios.

Em relação a Ben Heppner já estávamos à espera que quebrasse a voz. Alguém o ouviu na net no 2º acto do Tristão nos PROMS? Também teve algumas excursões vocais interessantes... Sem dúvida que tem uma voz fenomenal mas estas gaffes são frequentes e distraem muito, além de serem intoleráveis ao nível que se pretende. Estivemos sempre à espera de quando ia falhar o que foi muito incomodativo. A escolha de Peter Seiffert ou Ian Storey teria sido uma aposta ganha e um Tristão à altura da Isolda que tivemos.

John Tomlinson já está na recta descendente da carreira. Sem graves potentes e com agudos onde tem de literalmente puxar pelo movimento do corpo para que estes saiam e, mesmo assim, pouco bonitos. Esta ginástica física e vocal levam por vezes a sorrisos tímidos, muito semelhantes aos que se podem fazer quando se ouvem as gaffes de Ben Heppner. Mas Tomlinson ainda é audível e raramente desafina, aliando a isto uma presença forte em palco.

A Orquestra da Royal Opera e Pappano estiveram muito bem.

A encenação foi muito simples e pobre. Uma mesa com vários convidados ocasionais, cadeiras dispersas em palco, ambiente muito escuro... Foi a antítese do Tristão em Barcelona, muito colorido e infantil.





domingo, 15 de agosto de 2010

Roberto Devereux com Edita Gruberova - Münchner Opernfestspiele - 4 de Julho de 2010





















































O dia 4 de Julho de 2010 acolheu, porventura, o momento mais alto de todo o Festival de Ópera de Munique: Roberto Devereux com a presença da Primadonna Assoluta Edita Gruberova.

A extraordinária cantora, que detem o título de Kammersängerin (KS) da Bayerische Staatsoper, desempenhou nessa noite um dos mais difíceis papéis da história do Belcanto: Elisabetta em Roberto Devereux. Na apresentação do espectáculo, a Direcção Artística da Bayerische Staatsoper escreve:


London, 1601: love, lust and a death sentence at the English royal court - that's just the mix for great Italian opera. Roberto Devereux - an opera for a sovereign, a work for Edita Gruberová! The prima donna assoluta of bel canto triumphs in this drama. Either an opera house can acquire the services of "la Gruberová" - or they can forget putting on this opera.


Com efeito, depois de vermos Edita neste papel, temos a clara convicção de que, actualmente, mais ninguém conseguirá desempenhar de forma tão impressionante este dificílimo papel.

Ao final da tarde do dia 4 de Julho de 2010, muitas pessoas afluem à escadaria que conduz à imponente fachada da Ópera de Munique. Algumas ostentam pequenos letreiros onde se lê: Suche karte für Edita Gruberova (procuro bilhete para Edita Gruberova). Outras perguntam a quem chega se tem algum bilhete a mais para ver Edita Gruberova. Ninguém pede bilhetes para Roberto Devereux, mas sim para Edita Gruberova. Regateiam-se preços, algumas pessoas vendem bilhetes, outras compram... Nos corredores da ópera o público troca impressões entre si e, com frequência, ouve-se pronunciar o nome de Gruberova. Estava, pois, claro o motivo que tinha trazido todo aquele público até ali: ver e ouvir Edita Gruberova.

Nesta produção, que foi especialmente concebida para Edita Gruberova por Christof Loy, a acção é transportada para a actualidade. Todos os cantores utilizam trajes actuais e os cenários retratam espaços contemporâneos.

A Bayerisches Staatsorchester foi magnificamente dirigida pelo exímio maestro austríaco Friedrich Haider. Foi impressionante a energia com que levou a orquestra a executar a fantástica abertura de Roberto Devereux.

A acção tem início. Pouco depois, surge Edita Gruberova, com uma energia impressionante! Uma verdadeira Raínha tanto na personagem, como no canto. Logo nos primeiros momentos da ópera, Donizetti colocou passagens de extrema exigência para a Raínha Elisabetta, como é o caso da dificílima ária "L'amor suo me fe' beata", seguida da espectacular cabaletta "Nunzio son del Parlamento", onde Edita revelou duma forma exímia os seus dotes de coloratura milagrosa. Seguiu-se uma fortíssima e prolongada ovação em cena, na qual o público exclamava repetidamente: "Brava! Brava!".

O drama segue, e a Gruberova foi exímia no desempenho da personagem: a expressão facial, a gestualidade, a postura, os movimentos em palco. Tudo foi perfeito. Edita transmitiu, duma forma absolutamente inefável, todo o drama psicológico da personagem que, por um lado, se confronta com a dor e o ódio que lhe provoca a traição de Roberto e, por outro, o enorme amor e ternura que continua a sentir por ele.

De salientar que o papel é extremamente exigente não só sob o ponto de vista vocal e psicológico, mas também sob o ponto de vista físico, já que a cantora, que conta já com 63 anos de idade, tem de cair várias vezes no chão, ajoelhar-se, levantar-se, rastejar e cantar em posições difíceis.

O dramatismo da acção cresce progressivamente ao longo da ópera, atingindo o seu máximo no último acto. Aqui, Edita consegue arrepiar o público com toda a carga emocional que transmite à personagem. É absolutamente inacreditável a forma como desempenha as cenas finais, após a morte de Roberto: a dor que carrega em si, a revolta contra Sara, o sentimento de perda. Quando profere "Non più regno! Non più vivo!", parece que as próprias tábuas do chão estremecem. Impressionante!

Mas o que se segue é ainda mais marcante: Gruberova inicia a ária final - "Quel sangue versato al cielo" - num pianissimo milagroso, para depois seguir em todo um crescendo de intensidade sonora e dramática. A cantora consegue, aqui, algo de extremamente difícil: produz frases longas, arrastadas, parecendo nunca respirar, graças a uma técnica prodigiosa. Com efeito, Edita consegue produzir estas grandes e arrastadas frases, respirando apenas a intervalos muito grandes e duma forma quase imperceptível, muito bem engrenada na sonoridade da música, praticamente sem causar interrupção nas frases. Consegue, assim, intensificar o dramatismo desta passagem, com frases longas, arrastadas, magoadas, como se estivesse a chorar enquanto canta. A sua expressão facial e a sua emissão vocal configuram um imenso pranto e uma enorme revolta.

E é nesta cena final que sucede algo de muito peculiar: todos os outros cantores e coralistas presentes em palco, deixam de ser elementos do espectáculo, para se tornarem eles próprios espectadores. Todos olham para Edita verdadeiramente emocionados, impressionados perante aquele desempenho inacreditável. No fosso da orquestra, alguns músicos que não estavam a tocar, afastam-se o mais possível do palco e olham para cima, tentando ver Edita no seu desempenho fantástico. Verdadeiramente impressionante! Edita Gruberova termina esta dificílima cena final com um poderoso e prolongado sobreagudo, com os braços erguidos e, por fim, tomba desfalecida no chão. O pano cai e, imediatamente, o público clama: "Brava! Brava!".

O pano volta a subir e, no centro do palco, está Edita Gruberova de pé. O público aplaude em verdadeiro delírio. Os restantes cantores olham para Edita emocionados. É a apoteose total!

Sem dúvida que Edita Gruberova foi o centro, o âmago, o milagre de toda esta récita. Contudo, os restantes cantores foram uns dignos acompanhantes da Primadonna Assoluta do Belcanto. Paolo Gavanelli fez um Duque de Nottingham formidável. Detentor duma poderosa voz de baixo, teve um desempenho excelente. Sona Ganassi foi uma Sara convincente, intensa, apesar de se notar, nesta récita, um ligeiro cansaço. Finalmente, José Bros, fez um Roberto digno. Na verdade, o papel de Roberto não se presta a grandes brilhantismos. O momento em que o tenor tem mais possiblidade de brilhar é apenas na ária final, que executou bastante bem.

Mas os aplausos não paravam e duraram seguramente mais de 20 minutos! O público não parava de gritar "Brava! Brava!". Alguns elementos do público desenrolaram, sobre o fosso da orquestra, um cartaz de louvor a Edita Gruberova. Os cantores, visivelmente felizes, regressavam uma e outra vez ao palco. Mas o público estava ali, de pé, para louvar Edita Gruberova. Começaram então os chamamentos: "Edita! Edita!". E Edita, perante os gritos do público pelo seu nome, surge novamente. E é assim uma e outra e outra vez. Por fim, os aplausos cessam e o público converge para os corredores da Bayerische Staatsoper, para se acumular numa longa fila de espera para uma sessão de autógrafos com a Primadonna Assoluta.

Edita Gruberova, depois de todo o seu magnífico desempenho, depois de toda a sua entrega, ainda teve forças para atender o imenso público que a aguardava. E, para cada um, teve uma palavra amável, um sorriso. Na sua enorme grandiosidade, Edita Gruberova é alguém simples, humilde, afável, natural, duma enorme doçura no contacto pessoal. Edita Gruberova, detentora da aura dum imenso talento, tem a humildade que é natural em todos aqueles que são, de facto, grandes! Bravissima!!!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Tosca - Münchner Opernfestspiele - 2 de Julho de 2010












No passado dia 2 de Julho, o Festival de Ópera de Munique acolheu a ópera "Tosca", numa produção original do Metropolitan Opera de Nova York, em colaboração com o Teatro alla Scala de Milão.

Da imponente fachada do Nationaltheater, sede da Bayerische Staatsoper, pendiam 3 longos cartazes, estando o nome "Mario" inscrito em cada um deles, mas a alturas diferentes, simulando um crescendo. Estava, pois, aqui representada a primeira exclamação que Floria Tosca profere ao entrar em cena, chamando pelo nome daquele que ama: Mario Cavaradossi.

O elenco era, sem dúvida, promissor. Floria Tosca foi desempenhada pela conhecida soprano finlandesa Karita Mattila e Mario Cavaradossi foi encarnado pelo tenor Jonas Kaufmann. O papel de Scarpia coube ao baixo-barítono finlandês Juha Uusitalo.

Os cenários, apesar de relativamente sóbrios, recriaram uma encenação de época. Tratou-se, pois, duma versão clássica desta célebre ópera.

Karita Matilla, que detém capacidades expressivas e dramáticas amplamente reconhecidas, conseguiu imprimir à personagem o dramatismo necessário. Num dos momentos de maior lirismo da ópera - a conhecida ária Vissi d'arte - a cantora não conseguiu controlar as suas emoções e teve de produzir longas pausas entre as últimas frases, para não irromper num pranto. As últimas notas saíram já um pouco "sujas", dado que a sua voz estava um pouco embargada pelas lágrimas que pareciam chegar-lhe aos olhos. Por um lado, não podemos deixar de reconhecer que a emotividade foi algo de louvável e tocante, dado que traduzia uma vivência sincera e genuína da personagem. Por outro lado, a falta de controlo das emoções prejudicou um pouco o seu desempenho vocal nessa ocasião. Talvez por isso, os aplausos não tenham sido demasiadamente entusiastas no final de Vissi d'arte.

A grande revelação da noite foi, sem dúvida, Jonas Kaufmann. O tenor alemão que é, por assim dizer, filho da casa, dado que nasceu e deu os seus primeiros passos artísticos em Munique, revelou ter qualidades surpreendentes não só sob o ponto de vista da qualidade da voz, mas também da capacidade expressiva.
É possuidor duma voz cheia, encorpada, timbricamente assemelhando-se quase a um barítono. Desde logo, no início do primeiro acto, as suas qualidades foram evidentes ao cantar Recondita armonia. Contudo, o seu melhor momento foi já perto do final da ópera, com a célebre ária E lucevan le stelle, onde os seus dotes expressivos foram mais evidentes, sobretudo nos pianissimi que executou numa voz velada, revelando ter a capacidade de emocionar o público. Os aplausos foram, naturalmente, efusivos.

Por fim, uma palavra para Juha Uusitalo, que desempenhou um barão Scarpia imponente, dado que é detentor duma voz forte, vigorosa, diria mesmo wagneriana.

A direcção musical esteve a cargo do maestro Fabio Luisi - chefe designado da Staatskapelle Dresden e ex-regente principal da Wiener Symphoniker - que foi um digno dirigente da Bayerisches Staatsorchester.

Simon Boccanegra - Teatro Real Madrid - 25 Julho 2010 - Os Videos...

Como prometido, aqui ficam os videos da récita do Simão Boccanegra de 25 de Julho 2010 no Teatro Real de Madrid. Desta vez sem sustos mas sempre com muita classe por parte de Plácido Domingo.

O Elenco...



Apenas com Plácido Domingo...



E, no final, o Elenco e a Rainha de Espanha na varanda do Teatro... Não se consegue ver todos mas é a voz de Plácido Domingo que canta "Campeones" congratulando Espanha pela vitória no Campeonato do Mundo de Futebol na África do Sul 2010...



Cumprimentos musicais.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Simon Boccanegra - BBC PROMS 2010 - 18 Julho - Finalmente o video do final com Domingo a fingir estar morto...

Finalmente consegui, com a preciosa ajuda do blogger Plácido Zacarias (Obrigado!!!), fazer o upload no Youtube do video, feito por mim, do final do Simão Boccanegra nos BBC PROMS 2010, no qual Plácido Domingo finge estar morto, causando preocupação visível nos colegas, principalmente Antonio Pappano e Joseph Calleja.

A partir de agora estarão disponíveis, sempre que possível, os videos do final das óperas (chamadas ao palco / curtain calls) assistidas pelos Fanáticos da Ópera!!!





Nos próximos dias... Chamadas ao palco de Domingo em Madrid e Domingo cantando "Campeones" na varanda do Teatro Real.

Cumprimentos musicais!

domingo, 1 de agosto de 2010

IDOMENEO, RE DI CRETA – La Monnaie, Bruxelas, Março de 2010

Idomeneo, Re di Creta é uma opera seria de W. A. Mozart com libretto de Giambattista Varesco. A acção passa-se na ilha de Creta, depois da guerra de Tróia.


A princesa troiana Ilia, após a queda de Tróia, está prisioneira do rei grego Idomeneo e ama secretamente o seu filho Idamante que, num gesto de boa vontade e como prova de amor por ela, liberta os presos de guerra troianos. Entretanto Idomeneo, após uma longa ausência, quase morre, vítima de uma forte tempestade desencadeada por Neptuno, deus do mar. Para se salvar, promete sacrificar-lhe o prmeiro ser humano que encontrar no seu regresso.
O filho Idamante é a primeira pessoa que o recebe em Creta e, depois de se reconhecerem, é repelido brutalmente pelo pai, sem perceber porquê. Para não ter que matar o filho, Idomeneo manda-o para Argos na companhia de Electra, uma princesa grega. Ilia revela ao rei o seu amor pelo filho. Neptuno, para castigar a traição de Idomeneo, lança uma nova tempestade com um terrível monstro marinho que impede a partida de Idamante, o que deixa a população de Creta em pânico.
Nos jardins do palácio real Ilia e Idamante cantam o seu amor quando surgem Electra e Idomeneo, que manda o filho partir sem demora. Idamante recusa e diz preferir a morte. Arabace, confidente do rei, informa-o que o povo o quer confrontar com a destruição que o monstro marinho está a causar. É então decidido concretizar o sacrifício, apesar de um coro anunciar que Idamante venceu o monstro. Quando a morte está prestes a acontecer, Ilia oferece-se para tomar o lugar do seu amado. Ouve-se a voz de Neptuno dizer que prevaleceu o amor e que exige apenas que Idomeno abdique em favor do filho.Todos, excepto Electra, rejubilam. Começará uma nova era de paz sob o reinado de Idamante e Ilia.
Parte das fotografias são de Bernd Uhlig

A encenação do belga Ivo van Hove é trazida para os dias de hoje e centra-se no terrorismo, na guerra, na chacina de inocentes e tudo o que gravita à roda do tema. O catraz que anuncia a ópera é uma fotografia do Hotel Taj Mahal em Mumbai, Índia, quando foi atacado por um comando terrorista. Mas o que se viu no espectáculo foi bem mais chocante! Recorrendo frequentemente à projecção vídeo, recordou-se um pouco de tudo. Os cenários eram parcos, havia estruturas metálicas sobre o palco, montou-se uma sala de conferências para políticos e militares e no 3º acto apareceram plantas, flores e muitas, muitas garrafas, tudo de plástico (o jardim do palácio do rei). Ao fundo, num ecran gigante, projectavam-se as imagens.


A ópera começa com Idomeneo e o filho ainda criança a verem a actuação da Al-Qaeda na televisão. Depois, ao longo de todo o espectáculo, transmitem-se ataques terroristas com grande número de mortes e cenas explícitas de corpos estropiados, aviões a desembarcarem tanques de guerra ou caixões cobertos com a bandeira norte americana, cenas de guerra, etc. No palco é montada uma sala de conferências de imprensa, com toda a tecnologia moderna, com projecção vídeo dos conferencistas para o grande ecran. A parte mais violenta foi a encenação de um ataque por um bombista suicida na sala, com o ferimento e morte de várias crianças presentes. Se tudo isto foi uma metáfora à maldição de Neptuno que o encenador pretendeu mostrar, foi muito exagerada, perturbadora e feriu, mortalmente, o prazer de assistir tranquilamente ao espectáculo.


O coro e a orquestra, sob a direcção do jovem maestro francês Jérémie Rhorer, foram o melhor da noite. Fechando-se os olhos, ouvia-se Mozart com qualidade.
Os cantores andaram todos pela mediania banal. O tenor americano Gregory Kunde foi um Idomeneo decente e bem audível, embora com agudos deficientes. A mezzo-soprano sueca Malena Ernman fez um Idamante melhor cenicamente do que vocalmente, mas ainda assim foi uma das melhores. A soprano Ingela Bohlin (uma substituição de última hora) foi uma Ilia de timbre agreste e que, por vezes, mal se ouvia e a soprano búlgara Alexandrina Pendatchanska foi uma Electra de voz pequena e inaudível sobre a orquestra.

Hesitei muito em escrever esta crítica, mas acabei por fazê-lo. Incluo algumas imagens mostradas (em vídeo) ou presentes no programa do espectáculo, para dar uma ideia da violência seleccionada. Contudo, não escolhi as que conisdero mais chocantes.




O histórico Teatro La Monnaie é um edifício de beleza apreciável, em particular a sala principal. Fiquei num dos melhores lugares do balcão (consegui um bilhete de uma desistência no último momento) mas, mesmo assim, não ouvia bem os cantores, ao contrário da orquestra e do coro...

Que saudades da versão de concerto na Gulbenkian em Maio de 2008 com Fabio Biondi e a Europa Galante e, como solistas, Ian Bostridge, Jurgita Adamonyte, Kate Royal e, sobretudo, Emma Bell!

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