(review in English below)
Ernani é uma opera da fase inicial de G
Verdi, com libretto de Francesco
Maria Piave (com quem viria a colaborar em várias óperas posteriores), baseado
na obra Hernani de Victor Hugo.
O argumento é
inverosímil, como tantos outros. A acção passa-se em Espanha, no Séc. XVI. Três
homens querem casar com Elvira: O tio, Don Ruy Gómez de Silva, Ernani, um
bandido que é Don Juan de Aragão disfarçado (quem Elvira ama), e Don Carlo, rei
de Espanha. Depois de diversos episódios, o rei acaba por concordar com o
casamento de Elvira com Ernani. Silva, querendo ficar com Elvira, obriga Ernani
a cumprir uma promessa que lhe havia feito, matando-se. Elvira, confrontada com
a situação, mata-se também.
A encenação de Pier Luigi Samaritani é muito
convencional e datada, mas não minimalista, e não acrescenta nada a este
peculiar e desinteressante argumento. A maioria das cenas tem como elemento
principal uma grande escadaria que ocupa a maior parte do palco.
O maestro James Levine foi, mais uma vez,
excelente. Orquestra e coro ao mais alto nível e, como sempre, deu primazia aos
cantores.
Ernani foi
interpretado pelo tenor italiano Francesco
Meli. Foi uma prestação sensacional, cénica e vocal. A voz é bonita, grande
e expressiva. O cantor manteve a qualidade vocal ao mais alto nível durante
toda a récita, o que muito contribuiu para o
elevado nível do espectáculo.
O soprano norte
americano Angela Meade foi uma
Elvira de grande porte. A voz é forte, bem timbrada mas, por vezes, pouco suave.
Cantou sempre em força mas manteve uma apreciável qualidade vocal. Cenicamente
foi estática.
Don Carlo, um
papel de barítono, foi interpretado pelo tenor Placido Domingo. Domingo é uma referencia incontornável das últimas
décadas da ópera. Cantou bem, mas este não será o seu melhor papel. Dado ser
quem é e tendo em conta o contributo único que deu e dá ao mundo da ópera actual,
foi uma presença marcante.
Don Roy Gómez de
Silva foi superiormente interpretado pelo baixo ucraniano Dmitry Belosselskiy. Foi o melhor cantor da noite. A voz é
poderosíssima, muito bonita e de grande versatilidade. O cantou usa-a com irrepreensível
sentido dramático e é um consolo ouvir e ver uma interpretação deste calibre.
Nos papéis
secundários estiveram Mary Ann McCormick
como Giovanna, Paul Corona como Jago
e Issachah Savage como Don Riccardo.
Foi um excelente
espectáculo de ópera, muito mais para ouvir do que para ver.
*****
ERNANI, Metropolitan Opera, New York, March 2015
Ernani is an
opera of the initial period of G Verdi,
with libretto by Francesco Maria Piave (with
whom he would collaborate on several later operas), based in Victor Hugo’s Hernani.
The plot is far-fetched, like so many others. The action
takes place in Spain in the XVI century. Three men want to marry Elvira: Her
uncle, Don Ruy Gómez de Silva, Ernani, a bandit who is Don Juan of Aragon disguised
(who loves Elvira), and Don Carlo, King of Spain. After several episodes, the
king ends up agreeing to the marriage of Elvira with Ernani. Silva, wishing to
get Elvira, Ernani requires Ernani to fulfill a promise he had made him, and he
kills himself. Elvira, faced with the situation, kills up too.
The staging of Pier
Luigi Samaritani is very conventional and dated but not minimalist, and
adds nothing to this peculiar and uninteresting plot. Most of the scenes have
as main element a grand staircase that takes up most of the stage.
Conductor James
Levine was, again, excellent. Orchestra and chorus at the highest level
and, as always, he gave primacy to the singers.
Ernani was played by Italian tenor Francesco Meli. It was a sensational performance, scenic and vocal.
The voice is beautiful, strong and expressive. The singer kept his voice
quality at the highest level throughout the night, which greatly contributed to
the high performance level.
North American soprano Angela
Meade was a strong Elvira. The voice is powerful and with a nice timbre,
but sometimes hard. She always sang in force but kept a high vocal quality.
Scenically she was static.
Don Carlo, a baritone role, was interpreted by tenor Placido Domingo. Domingo is an
unavoidable reference of the last decades of opera. He sang well, but this will
not be his best role. Given who he is and taking into account the unique
contribution that he gave and gives to the world of opera, he was a striking
presence.
Don Roy Gomez de Silva was top sung by the Ukrainian bass Dmitry Belosselskiy. He was the best
singer of the night. The voice is very powerful, very beautiful and has great
versatility. The singer uses it with great dramatic sense, and what a pleasure
it is to hear and see an interpretation of this caliber.
In supporting roles were Mary Ann McCormick as Giovanna, Paul Corona as Jago and Issachah
Savage as Don Riccardo.
It was an excellent opera perfrormance, much more to hear
than to see.
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