(review in English below)
O
Lohengrin de hoje foi absoluta e
perfeitamente brutal! Um 2º acto de morrer pela intensidade dramática e
potência musical! É inevitável a comparação com o de Londres de há 2 dias e
posso dizer o seguinte: ambos tem encenações completamente diferentes mas excelentes
- a de Londres linear, apenas transposta no tempo original da ação, a de Viena
original mas no mesmo estilo de não adicionar nada de novo e igualmente
transportada no tempo original da ação; a direção de Nelsons pode dizer-se em
algumas passagens dramaticamente inovadora mas a de Weigle, mais by the book foi
poderosa, intensa e lírica; em ambos os cenários as orquestras estiveram do
outro mundo, produzindo um som wagneriano brutal e, para variar, sem uma única
falha nos metais!!!
Ambas
as encenações com um link interpretativo de venerar: Londres com o Rei de
Zeppenfeld e Viena com o Rei de Groissbock
- ambos fazem um papelão vocal e interpretativo numa personagem que para mim a
vi sempre como secundária na ópera. Estes são, sem qualquer dúvida, os 2
melhores baixos wagnerianos da actualidade e eu sinto uma honra enorme ter tido
a oportunidade imensa de os ouvir e ver (em Bayreuth volto à carga com ambos -
Zeppenfeld como Marke e Groissbock como Gurnemanz). Que grande Wotan vai ser
Groissbock a partir de 2020...
Em
relação aos restantes, tendo todos estado a um nível estrelar, o par londrino
(com diferença de idades menos exuberante ou menos perceptível) não deixa de
estar um ligeiro patamar acima... Robert
Dean Smith mantém a voz como lha conheço de há vários anos e interpreta o
Lohengrin com veracidade e transparência de sentimento, embora esteja um pote
e, aparecendo no 1º acto só com uma túnica, dificulta o acreditar estético do
papel... contudo mais vestido no 2º e 3º actos continua a ser um Wagneriano de
elite (escola do passado mas de elite).
A
Annett Dasch é muito boa e esteve
impecável mas a miúda de Londres transmite uma Elsa mais inocente, voz mais
cristalina e pura, no mais esperado perfil da personagem!
O
Telramund em Viena foi Jukka Rasilainen
que vocalmente é muito, muito bom, foi um dos grandes de Bayreuth no passado, e
o aspecto físico joga muito bem com o tipo de encenação de Viena. Embora em
estilo e timbre vocal diferente de Thomas J. Mayer, foi estratosférico!
Em
relação à Ortrud, Elena Zhidkova, em
Viena, traz o estilo de Ortrud que eu mais gosto e como acho que a personagem
deve ser: uma Ortrud que transparece, quer vocal quer fisicamente, mais a
maldade do que a astúcia, ao estilo da preferida de Karajan, Dunja Vejzovic, de
Evelyn Herlitzius ou de Petra Lang; Goerke é o contrário: transmite mais o
cinismo e a manha. Talvez por isto eu tenha que dizer que o dueto Ortrud-Telramund
no início do 2º acto em Viena foi melhor que o de Londres...
Nunca
me senti tão feliz e preenchido numa produção Wagneriana como nestes dois Lohengrin.
Aproximando-se disto só mesmo o Parsifal de Madrid em 2016 mas mesmo aí houve
aspectos negativos ligeiros que nestas 2 récitas não houve. Mais perfeito que
isto vai ser difícil nos próximos tempos.
Não
sou tão radical como Christa Ludwig que, do alto dos seus 90 anos, afirmou que
a ópera italiana não vale nada e que a alemã é que é boa, mas estas récitas
reforçaram a minha paixão pela ópera alemã e neste génio que foi Wagner
(inspirado por Weber ;).
Texto de wagner_fanatic
LOHENGRIN,
Wiener Staatsoper, June 2018
Today's Lohengrin was absolute and perfectly
brutal! A 2nd act of dying for dramatic intensity and musical power! It is
inevitable to compare with the Lohengrin in London from 2 days ago and I can
say this: both have completely different but excellent stagings - that of
linear London, only transposed in the original time of the action, that of
original Vienna but in the same style of not adding nothing new and also
transported in the original time of the action; the direction of Nelsons can be
said in some dramatically innovative passages but the one of Weigle, more by the book, was powerful,
intense and lyrical; in both scenarios the orchestras were out of this world,
producing a brutal Wagnerian sound and, for a change, without a single fault in
the metals !!!
Both stagings
with an interpretive link of reverence: London with the King of Zeppenfeld and
Vienna with the King of Groissbock -
both play a vocal and interpretive role in a character that I have always seen
as secondary in opera. These are undoubtedly the top 2 Wagnerian basses of today
and I feel a huge honor of having the opportunity to hear and see them (in
Bayreuth I will come back to both - Zeppenfeld as Marke and Groissbock as
Gurnemanz). What a great Wotan will be Groissbock in 2020 ...
Concerning
the other singers, having all been to a star level, the London couple (with
less age difference or less noticeable) was a small step above ... Robert Dean Smith keeps his voice as I
have known it for several years and interprets Lohengrin with truthfulness and
transparency of feeling, although it is a pot and, appearing in the 1st act
with only a tunic, makes it difficult to believe the aesthetic of the role ...
yet more dressed in the 2nd and 3rd acts remains a Wagnerian of elite (school
of the past but elite).
Annett Dasch is very good singer and has been impeccable
but the girl from London conveys a more innocent Elsa, a more crystalline and
pure voice, in the most awaited profile of the character!
Telramund
in Vienna was Jukka Rasilainen who
vocally is very, very good. He was one of the greats of Bayreuth in the past,
and the physical aspect plays very well with the type of staging of Vienna.
Although in style and vocal tone different from Thomas J. Mayer, he was
stratospheric!
Regarding
Ortrud, Elena Zhidkova, in Vienna,
brings the Ortrud style that I like the most and as I think the character
should be: an Ortrud that transpires, both vocal and physically, more evil than
cunning, in the favorite style of Karajan, Dunja Vejzovic, Evelyn Herlitzius or
Petra Lang; Goerke is the opposite: she conveys more cynicism and mornings.
Perhaps for this I have to say that the duet Ortrud-Telramund at the beginning
of the 2nd act in Vienna was better than the one in London ...
I have
never felt so happy and fulfilled in a Wagnerian production as in these two
Lohengrin. Approaching this, only the Parsifal of Madrid in 2016 but even there
there were slight negative aspects that in these 2 performances did not exist.
More perfect than this will be difficult in the coming times.
I am not as
radical as Christa Ludwig, who from the age of 90 said that Italian opera is
not worth anything and that German is the good one, but these performances
reinforced my passion for German opera and for this genius that was Wagner (inspired
by Weber:-).
Text by wagner_fanatic