(review in English below)
Foi com grande expectativa que revi esta produção do Tristan und Isolde de R. Wagner
na Royal Opera House. A primeira vez
foi em 2009, com o wagner_fanatic, que a registou aqui.
A encenação, de Christof
Loy, é minimalista e sem qualquer interesse. No palco despido há apenas
duas cadeiras e uma pequena mesa.
Por trás de uma cortina (que está quase
sempre fechada), aparecem quarto mesas longas com diversos convidados, todos
homens vestidos a rigor, em diversas posições estáticas.
Os solistas cantam
quase sempre encostados ao lado esquerdo do palco, o que impede a visualização
do que se passa a quem está sentado desse lado do teatro.
Como não há nada para ver, podemos concentrar-nos totalmente
na audição.
Antonio Pappano
dirigiu superiormente a Orquestra da
Royal Opera House e foi uma das mais valias do espectáculo. Logo a abertura
foi magistral, e assim continuou.
A razão pela qual ansiei por este espectáculo foi a
possibilidade de voltar a ouvir Nina Stemme, desta vez acompanhada por um
Tristão que, pelo menos, não quebrasse logo no 2º acto, como acontecera em 2009
com Ben Heppner. E foi, afortunadamente, uma récita de elevadíssima qualidade.
Nina Stemme é, de
longe, o melhor soprano wagneriano da actualidade e um dos melhores de sempre.
Mais uma vez impôs-se numa interpretação superlativa. Tem uma voz gigante mas
sempre bonita e afinada. E, mesmo nestes papeis mais exigentes, termina ao
mesmo nível que começa, como se não tivesse feito grande esforço durante as
horas de canto que enfrenta. Logo no primeiro acto foi insuperável na
intensidade dramatica que imprimiu à descrição do seu passado traumático e,
sempre excelente, assim continuou até à morte. Avassaladora.
O Tristão do tenor Stephen
Gould foi de grande nível. Provavelmente Gould é também, na actualidade, o
melhor Tristão no activo. Foi sempre bem audível sobre a orquestra, imprimiu
emoção à voz e manteve a qualidade ao longo de toda a récita.
Outra interpretação fantástica foi a do mezzo Sarah Connolly como Brangäne. O papel é
muito exigente e a cantora esteve sempre ao mais alto nível, impondo a sua voz
forte, segura e expressiva.
Também o Kurwenall do baixo-barítono Iain Paterson foi marcante pela generosidade, intensidade dramática
e poderio vocal que o cantor revelou.
John Tomlinson é
um baixo respeitável no mundo operático mas já não está à altura de um papel
como o do rei Marke. Foram notórias as dificuldades em todos os registos,
sobretudo nos agudos que não saíram.
Nos papéis secundários estiveram Ed Lyon como marinheiro, Neal
Cooper como Melot, Graham Clark
como pastor e Yuriy Yurchuk como
piloto.
Um excelente Tristan und Isolde na Royal Opera House, para
ver de olhos fechados!
*****
TRISTAN UND ISOLDE, Royal Opera House, London, December 2014
It was with great expectation that I have reviewed this
production of R. Wagner’s Tristan und Isolde at the Royal Opera House. The first time I saw
it was in 2009, with wagner_fanatic, who described it here.
The staging of Christof
Loy is minimalist and without any interest. In the empty stage there are
only two chairs and a small table. Behind a curtain (which is almost always
closed), appear four long tables with many guests, all men dressed up, in
various static positions. The soloists sing almost always leaning to the left
of the stage, which prevents the vision of what happens to those who are
sitting on that side of the theater.
As there is nothing to see, we can focus entirely on
hearing.
Antonio Pappano
superiorly directed the Orchestra of the
Royal Opera House and was one of the strengths of the show. The overture
was masterful, and so it continued throughout.
The reason I expected for this performance was the
possibility of hearing Nina Stemme again, this time accompanied by a Tristan
that at least did not break right at the 2nd act, as happened in 2009 with Ben
Heppner. And, fortunately, it was a performance of the highest quality.
Nina Stemme is by
far the best Wagnerian soprano of our time and one of the best ever. Again she
imposed on a superlative interpretation. She has a giant but always beautiful
and refined voice. And even in these more demanding roles, she ends at the same
level as she begins, as if she had not made much effort during the hours of previous
singing. In the very first act she was unsurpassed in dramatic intensity on the
description of her traumatic past, and she proceeded always at the highest
level until her death on stage. Overwhelming.
Tenor Stephen Gould
was a Tristan of great quality. Probably Gould is also, at present, the best
Tristan of present days. He weas always well audible over the orchestra, imprinted
emotion to the voice and kept quality throughout the performance.
Another fantastic interpretation was Brangäne by mezzo Sarah Connolly. The role is very
demanding and the singer has always been at the highest level, imposing her
strong, secure and expressive voice.
Also bass-baritone Iain
Paterson’s Kurwenall was marked by generosity, dramatic intensity and vocal
power by the singer.
John Tomlinson is
a respectable bass in the opera world but he is no longer at the height of a
role such as the King Marke. Difficulties were notorious in all registers,
especially in top notes that did not come out.
In supporting roles were Ed Lyon as a sailor, Neal
Cooper as Melot, Graham Clark as
a shepherd and Yuriy Yurchuk as a
steersman.
An excellent Tristan und Isolde at the Royal Opera House, to
see with the eyes closed!
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