(review in english below)
Os Mestres voltaram a Londres e a noite de estreia na Royal Opera foi um momento de grande qualidade.
A encenação de Graham Vick, revista por Elaine Kidd, é uma encenação clássica, sem inovação conceptual embora cheia, colorida, e criando um ambiente acolhedor. Talvez o momento mais espectacular seja o final do 2º acto onde além do alvoroço de bulhas habitual em palco, surgem de pequenas janelas, várias pessoas, algumas delas até suspensas de cabeça para baixo, em agitação profunda.
Os fatos das personagens são de extremo bom gosto com a excepção do facto de a maioria das personagens masculinas terem uma espécie de protetor genital de forma fálica, hirta e curvada...
A Orquestra, sob a direção de um apaixonado Antonio Pappano, esteve a um nível como eu acho que nunca a ouvi em Wagner nos meus 6 anos de Royal Opera. Grande paixão, grande entrega, e sem falhas nos metais. Perfeita!
Em Julho de 2010, após os Mestres Cantores de Cardiff, e sabendo que esta Ópera voltaria a Covent Garden nesta Temporada, ousei sugerir um elenco celestial. Só acertei em Simon O’Neill…
Simon O’Neill foi um Walther de excelente qualidade. A voz está com uma clareza e projeção invejável, com agudos seguros. Do ponto de vista cénico esteve igualmente muito bem, embora, fruto de uns quilinhos a mais, tenha sido difícil esconder-se com Eva de Sixtus, debaixo de um banco… um momento que esboçou risos e sorrisos na plateia.
Emma Bell fez uma Eva especial. A voz é de timbre bonito e com capacidade para se exprimir em força mas sem gritar. Gostei da forma algo adolescente como encarou a personagem.
John Tomlinson tem escolhido muito bem as personagens que interpreta neste seu final de carreira. A sua fisionomia, com a barba e cabelos longos brancos, personifica a imagem ideal para a personagem de Pogner. Quando canta e interpreta, então o quadro está finalizado e de forma perfeita. Mais um daqueles cantores que, quando entram em palco, mostram e fazem-nos sentir que estão a um nível muito acima da média.
Toby Spence foi um David dinâmico e incansável. Muito bom actor e com o timbre perfeito para o papel.
Peter Coleman-Wright fez um Sixtus Beckmesser muito bom, num estilo de altivez snobista, roçando a descaracterização sexual masculina.
Robert Lloyd demonstrou que ainda tem aquela voz profunda de baixo, a qual tanto admiramos, e fez um guarda-nocturno impecável. Heather Shipp cumpriu bem como Madalena e os Mestres estiveram em muito bom nível.
O grande papel desta ópera é o de Hans Sachs. Confesso que senti uma grande desilusão quando soube que Bryn Terfel não iria cantar nesta produção. Em vez disso preferiu cantar um Leporello em Milão, numa produção que não o realça e numa personagem que já devia fazer parte do seu passado interpretativo… A sensação com que fiquei de Wolfgang Koch é que é muito novo para o papel. Bem sei que é praticamente da idade de Terfel mas quando digo novo, digo em termos interpretativos. Terfel, em Cardiff e nos Proms, conseguiu trazer um Sachs grave, introspectivo, sábio, vivido e sofrido. Koch parece demasiado jovial na sua abordagem ao papel, não conseguindo transmitir o peso do passado da personagem e da sua visão filosofal da arte e da vida. Fui gostando mais ao longo da récita e devo dizer que, desde o batismo da canção de Walther e até ao final da ópera, me surpreendeu bastante mas isso não é suficiente para o considerar um Sachs magnífico. A voz é muito boa, embora por vezes falte a força para se sobrepor a uma Orquestra wagneriana em dose completa. Isto foi visível em Wahn! Wahn! Uberall Wahn! Aqui quase não se ouvi o seu “mein liebes Nürnberg”, o ponto alto desta passagem. O seu “Euch macht ihr’s leicht” também foi pouco grave e sentido, depois de receber a grande ovação coral dos habitantes de Nuremberga. Terfel teria sido brutal, de certeza.
John Tomlinson tem escolhido muito bem as personagens que interpreta neste seu final de carreira. A sua fisionomia, com a barba e cabelos longos brancos, personifica a imagem ideal para a personagem de Pogner. Quando canta e interpreta, então o quadro está finalizado e de forma perfeita. Mais um daqueles cantores que, quando entram em palco, mostram e fazem-nos sentir que estão a um nível muito acima da média.
Toby Spence foi um David dinâmico e incansável. Muito bom actor e com o timbre perfeito para o papel.
Peter Coleman-Wright fez um Sixtus Beckmesser muito bom, num estilo de altivez snobista, roçando a descaracterização sexual masculina.
Robert Lloyd demonstrou que ainda tem aquela voz profunda de baixo, a qual tanto admiramos, e fez um guarda-nocturno impecável. Heather Shipp cumpriu bem como Madalena e os Mestres estiveram em muito bom nível.
O grande papel desta ópera é o de Hans Sachs. Confesso que senti uma grande desilusão quando soube que Bryn Terfel não iria cantar nesta produção. Em vez disso preferiu cantar um Leporello em Milão, numa produção que não o realça e numa personagem que já devia fazer parte do seu passado interpretativo… A sensação com que fiquei de Wolfgang Koch é que é muito novo para o papel. Bem sei que é praticamente da idade de Terfel mas quando digo novo, digo em termos interpretativos. Terfel, em Cardiff e nos Proms, conseguiu trazer um Sachs grave, introspectivo, sábio, vivido e sofrido. Koch parece demasiado jovial na sua abordagem ao papel, não conseguindo transmitir o peso do passado da personagem e da sua visão filosofal da arte e da vida. Fui gostando mais ao longo da récita e devo dizer que, desde o batismo da canção de Walther e até ao final da ópera, me surpreendeu bastante mas isso não é suficiente para o considerar um Sachs magnífico. A voz é muito boa, embora por vezes falte a força para se sobrepor a uma Orquestra wagneriana em dose completa. Isto foi visível em Wahn! Wahn! Uberall Wahn! Aqui quase não se ouvi o seu “mein liebes Nürnberg”, o ponto alto desta passagem. O seu “Euch macht ihr’s leicht” também foi pouco grave e sentido, depois de receber a grande ovação coral dos habitantes de Nuremberga. Terfel teria sido brutal, de certeza.
DIE MEISTERSINGER VON NÜRNBERG - Royal Opera House - December 19, 2011
The Meistersingers returned to London and the opening night at the Royal Opera was of great quality.
The staging by Graham Vick, reviewed by Elaine Kidd, gives us a classical scenario, without conceptual innovation though filled, colorful, and creating a welcoming environment. Perhaps the most spectacular moment is the end of the 2nd act where besides the usual flurry of sounds on stage, there are small windows, where many people, some of them even hanging upside down in deep turmoil, complete de scene.
The costumes of the characters are of extremely good taste with the exception of the fact that most of the male characters have a sort of genital protection phallic shape device, rigid and curved…
The costumes of the characters are of extremely good taste with the exception of the fact that most of the male characters have a sort of genital protection phallic shape device, rigid and curved…
The Orchestra, under the direction of a passionate Antonio Pappano, was at a level as I think I ever heard in my six years of Wagner at the Royal Opera. Great passion, great delivery, and flawless in the metals section. Perfect!
In July 2010, after the Meistersingers in Cardiff, and knowing that this Opera would return to Covent Garden this season, I dared to suggest a heavenly cast. Missed them all except Simon O'Neill ...
Simon O'Neill was a Walther of excellent quality. The voice is with an enviable clarity and projection, with secure high pitch notes. From the scenic point of view he was also very good, though, as the result of some extra pounds, it was difficult for him to hide with Eva of Sixtus, under a stall ... a moment that drew laughs and smiles in the audience.
Emma Bell made a special Eva. The voice is has a beautiful tone and ability to express itself in power but without shouting. I liked the teenager way she gave to the character.
John Tomlinson has chosen well his characters in the end of his career. His face, with long white hair and beard, embodies the ideal image for the character of Pogner. When he sings and performs, then the frame is finished and in a perfect form. He is one of those singers who, when they come on stage, show and make us feel they are at a level far above the average.
Toby Spence’s David was a dynamic and tireless one. A very good actor and with the perfect voice for the role.
Peter Coleman-Wright did a very good Sixtus Beckmesser, in a snobby pride way, confounding the male sexual characterization.
Robert Lloyd has shown that he still has that deep bass voice, which we admire so much, and made a flawless night watchman. Heather Shipp was a good Magdalene and the Masters were in a very good level.
The major role of this opera is that of Hans Sachs. I confess I felt a great disappointment when saw that Bryn Terfel would not sing in this production. Instead he chosed to singing Leporello in Milan, in a production that does not enhance him and in a role I believe it should belong to his interpretative past now... The feeling was that Wolfgang Koch is too young for the role. I know he is almost the age of Terfel but when I say this, I say it in terms of interpretation. Terfel, in Cardiff and at the Proms, managed to bring a serious, introspective, wise, experienced and suffered Sachs. Koch seems too youthful in his approach to the role, failing to transmit the background of the character and his philosophical vision of art and life. I began to enjoy his performance along the night but I must say, from the baptims of Walther song until the end of the opera, hesurprised me but not in an enough way to consider him a magnificent Sachs. The voice is very good, but sometimes lacks the strength to override a Wagnerian orchestra at full dose. This was visible in “Wahn! Wahn! Überall Wahn!” Here we could hardly hear his "Mein lieber Nürnberg," the high point of this passage. His "Euch macht ihr's leicht" was not serious and felt, after receiving the coral standing ovation from the inhabitants of Nuremberg. Terfel had been brutal, for sure.