(review in English below)
Roméo et Juliette de Charles Gounod é uma ópera (com prólogo e cinco actos) com libretto de Jules Barbier e Michael Carré, baseada na obra homónima de William Shakespeare.
A história, passada em Verona, é bem conhecida. Capulet (Capuleto) dá um baile de máscaras para apresentar a sua filha Juliette (Julieta). Roméo (Romeu), um Montaigue (Montequio), aparece com o amigo Mercutio, apaixona-se e corteja Julieta. Tybalt, seu primo, denuncia a identidade de Romeu mas Capuleto evita um confronto. À noite, Romeu entra no jardim dos Capuleto e, por baixo da varanda de Julieta, declara-lhe o seu amor. O padre Laurent casa-os em segredo, achando que esta será uma forma de por fim aos conflitos familiares. Contudo, membros das duas famílias encontram-se, lutam e Tybalt mata Mercutio que, depois, é morto por Romeu. O Duque de Verona condena-o ao exílio. Após passarem a noite de núpcias juntos, Romeu parte. Julieta é informada pelo pai que vai casar-se com o conde Paris. Pede ajuda ao padre Laurent que lhe dá uma poção que a fará parecer morta mas acordará no dia seguinte. Vestida de noiva, antes do casamento, desfalece e é dada como morta. Romeu chega à cripta dos Capuleto e, não tendo recebido a informação sobre a situação, crê que Julieta está morta e envenena-se. Julieta acorda e trocam palavras de amor, planeando o futuro. Quando ela sabe que Romeu está a morrer envenenado, apunhala-se mortalmente.
Tive a primeira surpresa logo que cheguei ao Met. Angela Gheorghiu havia cancelado a sua presença na véspera da primeira récita, aquela a que assisti.
Já referi neste blogue aqui e aqui que gosto particularmente da voz da Gheorghiu. Contudo, não posso deixar de voltar a salientar a total falta de respeito da cantora pelo público, dado que são mais os espectáculos que cancela, quase sempre por “doença”, (talvez cancelite?) do que os que canta. Nesta ópera, a desculpa foi de um ridículo atroz, pois alegou que havia sido envenenada (qual Julieta frágil, desprotegida e apaixonada!). Esta postura de prima donna, se foi uma prática de grandes divas da ópera na segunda metade do século passado, está totalmente desajustada aos dias de hoje.
Peter Gelb, director do Met, resolveu despedi-la na próxima temporada, onde interpretaria o papel de Marguerite numa nova produção do Faust de Gounod que, pelos cantores anunciados, se antecipa ser excelente. Infelizmente a substituta não está ao nível, mas não é disso que trata este texto.
Confesso que aplaudo a decisão de Peter Gelb e sou dos que acha que, se a Royal Opera House fizesse o mesmo, ela ou outras(os) com apetência para este comportamento talvez pensem duas vezes antes de o concretizar.
Voltando a esta produção, a encenação de Guy Joosten é sóbria, sem encantar e, aqui e ali, um pouco kitsch. Por exemplo a solução encontrada para a noite de núpcias, no início do 4º acto, que é talvez o momento cénico mais marcante, com o casal na cama, a descer das alturas. A idade dos cantores, sobretudo da Julieta, também não ajudou nada.
É a imagem que ilustra o cartaz do Met alusivo à ópera.
(Photography by Sara Krulwich/The New York Times)
Plácido Domingo foi banal na direcção da orquestra. Houve entradas desfasadas dos cantores e, por vezes, também de instrumentistas. Apesar do meu enorme respeito por este vulto maior da ópera, não compreendo por que razão Domingo insiste na direcção de orquestra. Não fora quem é e penso que nunca estaria à frente da orquestra do Met
(Photography by Sara Krulwich/The New York Times)
Roméo foi interpretado por Piotr Beczala, tenor polaco, que tem uma das vozes líricas que mais aprecio de entre os cantores da actualidade. Entrega-se sem reservas aos papéis que interpreta e o resultado é sempre de elevada dignidade e credibilidade. A voz é limpa, encorpada e colorida e o timbre muito agradável. Nesta récita, no final do 3º acto, ao abordar uma nota aguda, falhou rotundamente. Contudo, recompôs-se e foi brilhante até ao final.
Devo admitir que, sempre que assisto a um destes acidentes vocais com os cantores, não consigo deixar de ficar na expectativa que se venha a repetir, o que quebra a concentração mas, comigo, confesso que é inevitável.
Quem substituiu a Gheorghiu no papel de Juliette foi o soprano lírico sul coreano Hei-Kyung Hong, Nunca a tinha ouvido ao vivo. Começou mal, com notas desafinadas e potência irregular, mas após o 2º acto esteve sempre muito bem. A cantora é digna de elogio porque teve que assumir o papel em circunstâncias difíceis, um dia após a outra ter decidido que não cantaria. Os agudos saem-lhe a custo e, apesar de já não ter a frescura vocal de outrora, foi muito digna a sua interpretação.Passados os momentos iniciais de apuro, foi convincente, sobretudo nos duetos com Beczala.
Nos papeis secundários Dwayne Croft, barítono americano, foi um Capulet que se impôs em qualidade, Sean Panikkar, tenor americano, foi um Tybald regular, Lucas Meachem, barítono americano, foi um Mercutio de belo timbre mas presença banal em palco e James Morris, baixo americano, fez um padre Laurent digno mas já com a voz desgastada e sem a força e profundidade que outrora teve.
Em conclusão, um bom espectáculo, mas a saber a pouco, sem a grandiosidade nem a magia que sempre esperamos.
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ROMEO ET JULIETTE - Metropolitan Opera, New York, March 2011
Roméo et Juliette by Charles Gounod is an opera (with a prologue and five acts) with libretto by Jules Barbier and Michael Carré, based on the homonymous work of William Shakespeare.
The story, set in Verona, is well known. Capulet gives a masquerade ball to present his daughter Juliet. Romeo, a Montaigue, appears with his friend Mercutio, and falls in love with Juliet. Tybalt, her cousin, reveals the identity of Romeo but Capulet avoids a confrontation. At night, Romeo enters the Capulet garden and beneath Juliet's balcony he declares his love to her. Father Laurent marry them in secret, convinced that this is a way to put an end to family conflicts. However, members of two families meet, fight and Tybalt kills Mercutio, which then is killed by Romeo. The Duke of Verona condemns him to exile. After their secret wedding night, Romeo leaves for exile. Juliet is informed by her father that she will marry Count Paris. She seeks help from Father Laurent that gives her a potion that will make her appear dead but wake up the next day. Wearing the wedding dress, when she is about to go to the chapel, she collapses and is presumed dead. Romeo arrives at the Capulets’crypt, and having received no information about the situation, believes that Juliet is dead and poisons himself. Juliet wakes up and exchange words of love with him, planning the future. When she realises Romeo is dying, she stabs herself.
I had the first surprise when I first arrived at the Met. Angela Gheorghiu had cancelled her presence on the day before the first night presentation, the one I attended.
I mentioned before in this blog here and here that I particularly like the voice of Gheorghiu. However, I must re-emphasize the singer’s the total lack of respect for the public, since there are more performances that she cancels than those where she actually sings. The excuse is almost always "illness" (perhaps cancelitis?). In this opera, a ridiculous excuse was atrocious, she alleged that she had been poisoned (poor fragile and helpless Juliet!). This behaviour of prima donna, if it was a practice of great opera divas in the second half of last century, is totally inappropriate at present times.
Peter Gelb, the Met's general manager, decided to fire her next season, where she would sing the role of Marguerite in a new production of Gounod's Faust that is anticipated to be excellent, considering the singers announced.
Unfortunately her substitute is not at the level of the other soloists, but that is not the subject of this text.
I confess that I applaud the decision of Peter Gelb and I think that if the Royal Opera House would do the same, she (or others) with a similar behaviour may think twice before actually doing it.
Returning to this production, the stageing by Guy Joosten is sober, without charm, and here and there, a little kitsch. For example the solution adopted for the wedding night, at the beginning of the 4th act, which is perhaps the most striking scenic moment, with the couple in bed, descending from the heights. Also the age of the singers, especially of Juliet, has not helped the scene.
It is this image that illustrates the poster alluding to the opera at the Met.
Placido Domingo, who conducted the orchestra, did a regular job. There were staggered entrances of the singers and sometimes also of instrumentalists. Despite my enormous respect for this major figure of the opera, I do not understand why he insists on being a conductor. If he was not Domingo, I think he would never be allowed to conduct the Met orchestra
Roméo was played Polish tenor Piotr Beczala. He has one of the lyrical voices I most appreciate among the singers that perform in present times. He gives himself unreservedly to the roles that he interprets and the result is always of high dignity and credibility. The voice is clean, full bodied and very nice in colour and timbre. In this performance, at the end of the 3rd act, when trying a top note, has cracked. However, he recovered and was brilliant until the end.
I admit that whenever I watch one of these vocal accidents with singers, I can not forget it immediately and fear a repetition, which breaks the concentration, but, I confess, with me it is inevitable.
Gheorghiu was replaced in the role of Juliette by the South Korean lyric soprano Hei-Kyung Hong. I had never heard her live. Her beginning was bad, with notes out of tune and uneven power, but after the 1st act she was always very good. The singer is worthy of praise because she had to assume the role in difficult circumstances, only one day after the other has decided not to sing. The top notes were forced and although without the vocal freshness of before she gave us a dignified performance and she was convincing, especially in duets with Beczala.
In secondary roles American baritone Dwayne Croft, was Capulet, singing with a high quality, American tenor Sean Panikkar, was a regular Tybald, American baritone Lucas Meachem was Mercutio with a beautiful voice but a weak artistic performance and American Bass James Morris was an interesting Father Laurent despite his voice has no longer the strength and depth of before.
In conclusion, a good performance, but without the grandeur or the magic that we always expect to feel.
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