Uma semana depois do
concerto com o primeiro acto da ópera Siegfried de Richard Wagner, a Gulbenkian
trouxe a palco o Ídilio de Siegfried e a Cena Final da ópera, intercalada com a
suite Romeu e Julieta de Tchaikovski, uma obra que pareceu encaixada à pressão
para encher tempo, talvez com a única relação temática num amor que acaba por
ser também trágico.
Continuo a manter a minha
opinião positiva em relação a Kirill Petrenko e à Orquestra Gulbenkian. Hoje
contudo a sonoridade pareceu-me mais “flat”, com menos profundidade, e algumas
entradas foram menos felizes, embora de base já difíceis como são os acordes
que antecedem o “Heil dir, Sonne!”.
Scott MacAllister, longe das
grandes vozes que na História da Música interpretaram, ao mais alto nível esta
personagem, fez uma interpretação honrosa de Siegfried, procurando uma
interpretação vocal com sentimento apesar do carácter concertante do espectáculo,
com uma projecção decente. Contudo, nos agudos, principalmente com vogais
abertas, a voz perde-se num timbre algo irritante.
Pela primeira vez na Gulbenkian
e, se a memória não me atraiçoa, tive a vontade de sair da sala ou enfiar-me
num local acusticamente isolado quando ouvi a voz de Anna Katharina Behnke.
Claramente uma escolha infeliz para Brunnhilde neste concerto. Uma voz rude e
áspera com frequentes agudos gritados de modo irritante e um vibrato labial em
jeito convulsivo fizeram desta uma das minhas piores experiências vocais. Penso que Wagner não tinha em mente uma voz semelhante para a sua
Brunnhilde, embora esta cantora pudesse, certamente, com a sua voz, logo desde
início com “Heil dir, Sonne!”, oferecer a Siegfried aquilo que nunca ninguém
lhe havia ensinado... o Medo.
Siegfried - Idyll and final scene of the opera -
Calouste Gulbenkian Foundation - May 10, 2012
A week after the concert with the first act of Richard Wagner's opera Siegfried, the Gulbenkian brought to stage the idyll of
Siegfried and the final scene of the opera, interspersed with a suite of
Tchaikovsky Romeo and Juliet, a work that seemed added to the program only to fill
in time, with perhaps the only relation with the other pieces in a love that
ends up being also tragic.
I maintain my positive opinion in relation to Kirill
Petrenko and the Gulbenkian Orchestra. Today however the sound seemed more flat,
with less depth, and some entries were less happy, though some of them are
already difficult like the chords that precede the "Heil dir, Sonne!".
Scott MacAllister, far from the great historical voices
that interpreted this role at the highest level, made an honorable
interpretation of Siegfried, looking for a vocal performance with feeling
despite the concert nature of the performance, reveling a decent projection and
a good voice. However, in the high notes, especially with open vowels, his
voice was lost in a tone somewhat irritating.
For the first time at the Gulbenkian and, if my memory
does not betray me, in any other place, I had the desire to leave the room or
put myself in a place acoustically isolated when I heard the voice of Anna
Katharina Behnke. Clearly an unfortunate choice as Brunnhilde. A rough and
harsh voice with frequently annoying shouted high notes and a seizure-like lip
vibrato made out of this one of my worst vocal experiences ever. I think that
Wagner did not have in mind a voice similar to this for his Brunnhilde, though
this singer could, certainly, with her voice, right from the beginning with
"Heil dir, Sonne", offer Siegfried what no one had taught him before...
Fear.
Para mim foi um dos concertos mais fracos a que assisti na Gulbenkian. A orquestra e o maestro mantiveram a prestação aceitável que referi no comentário ao 1º acto do Siegfried.
ResponderEliminarO tenor Scott MacAllister esteve um pouco melhor que no 1º acto, mas sempre que a orquestra tocava mais alto, deixava de se ouvir.
O soprano Anna Katharina Behnke tem um timbre feio mas o que mais marcou a sua interpretação foi a estridência com que vociferou a sua parte. Foi a pior Brünhilde que me recordo de ter ouvido.
Não pude assistir a esta série de concertos, mas recordo que Anna Katharina Behnke não me tinha entusiasmado como Sieglinde no Teatro de São Carlos. Suponho que Brünnhilde seja ainda mais difícil para ela.
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