A encenação de Keith Warner, em reposição na Royal Opera House, é vistosa mas
desinteressante. A ópera abre com as Filhas do Reno a nadarem nuas, há um
efeito ondulante luminoso muito eficaz e está bem marcada a superfície do rio,
com um barco a remos a passar na parte superior do cenário. Alberich chega no
barco e toda a cena com as Filhas do Reno é muito boa.
A cena seguinte
passa-se num salão onde está o Wotan e restantes personagens. Há um enorme
telescópio antigo ao fundo, uma mesa e cadeiras, várias escadas verticais, uma
esfera gigante (já vem da cena anterior) e uma parede com vários objectos cujo
simbolismo não é claro. É lá que o Wotan coloca a lança.
Nas profundezas
da terra, no Nibelheim, terra dos nibelungos, passa-se a 3ª cena, aqui
aparentada com uma morgue austera, com um cadáver esventrado numa das duas
macas presentes. Os nibelungos aparecem vestidos com túnicas brancas. O
Tarnhelm, capacete mágico feito pelo Mime, irmão do Alberich, é um cubo com as
faces com múltiplos espelhos. Mas pode ser colocado na cabeça. O ouro é ouro. A
transformação de Alberich (por acção do capacete mágico) em gigante e depois em
sapo é literalmente encenada, num dos momentos visualmente mais explícitos e
que até desencadeou algum riso no público.
A última cena
volta a passar-se no salão do Wotan.
A direcção
musical, óptima, foi do maestro titular Antonio Pappano. A Orquestra da Royal Opera esteve quase sempre muito bem. Apenas os
metais tiveram algumas notas falhadas, algumas delas logo no início, o que fez
temer pela sua prestação mas, felizmente, nada de muito grave aconteceu.
Quanto aos
cantores a nota mais positiva foi que foram todos muito homogéneos na elevada
qualidade vocal e cénica.
As Filhas do
Reno, Lauren Fagan (Woglinde), Christina Bock (Wellgunde) e Angela Simkin (Flosshilde) abriram em
grande a parte cantada.
Johannes Martin Kränzle fez um Alberich ao mais alto nível, tanto cénico
como vocal.
O Wotan de John Lundgren tem um timbre muito
bonito, foi bom, mas em potencia vocal esteve um pouco abaixo do que esperava. Deve
estar a guardar-se para a Valquíria.
Já Sarah Connolly impôs-se como uma Fricka
de topo, deixando antever uma excelente prestação na ópera seguinte, onde tem
uma intervenção muito mais importante.
A jovem soprano
norueguesa Lise Davidsen foi uma
Freia destacada. Será que temos mais uma grande soprano wagneriana escandinava
(donde são originárias quase todas) em ascensão?
Os dois gigantes,
Günther Groissböck (Fasolt) e Brindley Sherratt (Fafner) foram
excelentes, tanto em cena como no canto.
O Froh do tenor Andrew Staples foi o elo mais fraco da
noite. Voz pequena e sem grande expressão. O Donner de Markus Eiche cumpriu.
Outro dos
melhores da noite foi o tenor Alan Oke
como Loge. Vocalmente irrepreensível, foi o melhor em cena, muito expressivo,
cínico e com grande agilidade.
O Mime de Gerhard Siegel cantou pouco mas deixou
antever uma grande interpretação no Siegfried.
Finalmente uma
palavra de muito apreço também para a contralto Wiebke Lehmkuhl que se impôs como Erda.
Um grande
espectáculo, música fantástica e interpretações vocais homogéneas e ao mais
alto nível. Um excelente começo do Anel.
****
DAS
RHEINGOLD, Royal Opera House, London, October 2018
The production
of Keith Warner, in reprieve at the Royal Opera House, is flashy but
uninteresting. The opera opens with the Rhine Daughters swimming naked, there
is a very luminous undulating effect and the surface of the river is well
marked, with a rowboat passing the upper part of the scene. Alberich arrives on
the boat and the whole scene with the Daughters of the Rhine is very good.
The next
scene takes place in a hall where Wotan and other participants are. There is a
huge ancient telescope in the background, a table and chairs, several vertical
stairs, a giant sphere (already comes from the previous scene) and a wall with
several objects whose symbolism is not clear. That's where Wotan puts the
spear.
In the
depths of the earth, in Nibelheim, land of the Nibelungen, the third scene is
passed, here related with an austere morgue, with a corpse exploded in one of
the two present litters. The Nibelungen are dressed in white robes. The
Tarnhelm, magic helmet made by the Mime, brother of the Alberich, is a cube
with the faces with multiple mirrors. But it can be put on the head. Gold is
gold. The transformation of Alberich (by the magic helmet) into a giant and
then into a frog is literally staged, in one of the visually more explicit
moments that even elicited some laughter in the audience. The last scene
returns to Wotan's hall.
The musical
direction was great, by maestro Antonio
Pappano. The Royal Opera Orchestra
was almost always very perfect. Only the metals had some missed notes, some of
them early on, which made me afraid of their performance, but fortunately
nothing very relevant happened.
As for the
singers the most positive note was that they were all very homogeneous in the
high vocal and scenic quality.
The Daughters
of the Rhine, Lauren Fagan
(Woglinde), Christina Bock
(Wellgunde) and Angela Simkin
(Flosshilde) opened well part the sung part.
Johannes Martin Kränzle was an Alberich at the highest
level, both scenic and vocal.
John Lundgren's Wotan has a very nice timbre, he was good,
but in vocal power he was a little lower than I expected. He must be guarding
himself for The Valkyrie.
In contrast,
Sarah Connolly was a top quality
Fricka, anticipating an excellent performance in the next opera, where she has
a much more important intervention.
The young
Norwegian soprano Lise Davidsen was
a prominent Freia. Do we have yet another great Scandinavian Wagnerian soprano
(where they all come from) on the rise?
The two
giants, Günther Groissböck (Fasolt)
and Brindley Sherratt (Fafner) were
excellent both on stage and in the way they sang superbly.
Tenor Andrew Staples’s Froh was the weakest
link of the night. Small voice and without great expression. Markus Eiche's Donner was good.
Another of
the best performers of the night was tenor Alan
Oke as Loge. Vocally irreproachable, he was the best on stage, very
expressive, cynical and with great agility.
Gerhard Siegel's Mime sang a little part but anticipated a
great performance in Siegfried.
Finally a
word of much appreciation also for contralto Wiebke Lehmkuhl who imposed herself as Erda.
A great performance,
fantastic music and homogeneous top vocal singing. An excellent start to the
Ring.
****
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