(review in English below)
A encenação de Keith Warner é feia e desinteressante.
Palco
com uma estrutura espiralada metálica em toda a sua extensão. A meio uma pilha
de livros amontoados e um fosso. As mesmas cadeiras e mesa vistos no Ouro do
Reno. Uma escada vertical à esquerda e uma corda encarnada espalhada (a corda do destino).
No 1º acto, no
centro do palco, há uma plataforma elevada (uma sala) onde está a Sieglinde,
mas de pouco serve. O 2º acto não tem nada de relevante, tudo se passa sem
haver modificações cénicas.
No 3º acto há uma
parede branca giratória que ocupa a totalidade do palco. A cavalgada das
valquírias é feia e de mau gosto, feita com crânios de cavalo. O único
apontamento interessante é na cena final do fogo, em que o Wotan passa a mão
por ele e fica com uma chama elevada durante algum tempo na mão.
Nesta noite a
orquestra esteva assombrosa. Antonio
Pappano foi magistral como maestro e o som que se ouviu foi magnífico, sem
qualquer falha, grande intensidade dramática e cadência perfeita!
O Siegmund de Stuart Skelton foi vocalmente superior.
O cantor tem um timbre bonito, voz grande, cantou sempre afinado e sobre a
orquestra. A figura não ajuda no desempenho cénico, mas o principal é o canto e
esse foi irrepreensível.
Emily Magee foi o elo mais fraco da noite como Seiglinde.
Esta tem boa figura mas esteve aquém do desejável na interpretação vocal. A voz
até é agradável, mas deixou-se afogar pela orquestra quando esta soava mais
forte e o contraste com o Skelton foi evidente nos duetos.
O baixo Ain Anger foi um Hunding perfeito. Voz
cavernosa intensa e bonita, figura excelente e interpretação maléfica
impecável.
O baixo barítono John Lundgren foi um Wotan excepcional.
No Ouro do Reno tinha deixado a ideia que o poderio vocal estava abaixo do
desejável, mas deveria estar a guardar-se para esta noite em que foi notável e
onde tem a sua grande interpretação no Anel. Foi sempre bem audível e tem um
timbre muito bonito. Em cena foi ágil e muito convincente.
Sarah Connolly voltou a interpretar a Fricka ao mais alto nível,
consistente com o que havia feito no Ouro do Reno.
As valquírias
todas muito bem, acima do que é habitual ouvir-se e muito homogéneas. Aliás,
até agora, a homogeneidade na qualidade dos cantores tem sido um dos aspectos
mais positivos deste anel. Foram elas: Alwyn
Mellor (Gerhilde), Lise Davidsen
(Ortlinde), Kai Rüütel (Waltraute), Claudia Huckle (Schwertleite), Maida Hundeling (Helmwige), Catherine Carby (Siegrune), Monika-Evelin Liiv (Grimgerde) e Emma Carrington (Rossweisse).
E deixo para o
final a Brünhilde da Nina Stemme.
Para mim não há melhor soprano wagneriano na actualidade. Nunca falha e canta
sempre ao mais alto nível. Mais uma vez, assim foi. Tem uma voz enorme, um
timbre agradável e uma força dramática impressionante. Foi insuperável como
Brünhilde e, a manter-se este nível, imagino um Crepúsculo dos Deuses de
arrepiar.
É sempre um
privilégio raro assistir a uma Valquíria de topo.
****
DIE
WALKÜRE, Royal Opera House, London, October 2018
The production
of Keith Warner is ugly and
uninteresting. The stage has a metallic spiral structure in all its extension.
In the middle a pile of books heaped together and a moat. Same chairs and table
as seen on the Rhine. A vertical ladder to the left and a scattered red string (the string of destiny).
In the 1st
act, in the centre of the stage, there is an elevated platform (a room) where
Sieglinde is, but of little use. The second act has nothing relevant, everything
happens without any scenic changes.
In the 3rd
act there is a white rotating wall that occupies the whole of the stage. The ride
of the valkyries is ugly and poor, made with horse skulls. The only interesting
note is in the final scene of the fire, in which Wotan runs his hand through it
and stays with a raised flame for some time in the hand.
This
evening the orchestra was fabulous. Antonio
Pappano masterful as conductor and the sound that was heard was
magnificent, without any fault, great dramatic intensity and perfect pace!
Stuart Skelton's Siegmund was vocally superior. The singer
has a beautiful timbre, big voice, always sang in tune and over the orchestra.
The figure does not help on stage, but the main thing is the singing and this
was blameless.
Emily Magee was the weakest link of the night as
Seiglinde. She has a good figure but was below the desirable in the vocal
interpretation. The voice is pleasant, but she was drowned by the orchestra
when it sounded stronger and the contrast with Skelton was evident in the
duets.
Bass Ain Anger was a perfect Hunding.
Intense and beautiful cavernous voice, excellent figure and impeccable evil
interpretation.
Bass
baritone John Lundgren was an
exceptional Wotan. In Das Rheingold he had left the idea that the vocal power
was below the desirable, but he should be saving himself for this night in
which he was remarkable and where he has his great interpretation in the Ring.
He was always very audible and has a very beautiful voice. On stage was agile
and very convincing.
Sarah Connolly returned to interpret Fricka at top level,
consistent with what she had done in the previous opera.
The
valkyries all very well, above what is usual to hear, and very homogeneous. By
the way, until now, the homogeneity in the quality of singers has been one of
the most positive aspects of this Ring. They were: Alwyn Mellor (Gerhilde), Lise
Davidsen (Ortlinde), Kai Rüütel
(Waltraute), Claudia Huckle
(Schwertleite), Maida Hundeling
(Helmwige), Catherine Carby
(Siegrune), Monika-Evelin Liiv
(Grimgerde) and Emma Carrington (Rossweisse).
And I leave
to the end Nina Stemme’s Brünhilde.
For me there is no better Wagnerian soprano at the present time. She never
fails and sings always at the highest level. Again, it was so. She has a huge
voice, a nice timbre and an impressive dramatic force. She was unsurpassed as
Brünhilde and, to keep up this level, I imagine a thrilling Götterdämmerung.
It is
always a rare privilege to watch a top Valkyrie.
****
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