(review in English below)
Na English National Opera vi uma das
produções mais imaginativas da ópera A
Flauta Mágica de Mozart. A
encenação de Simon McBurnay é muito
simples, multimédia, eficaz, cheia de momentos inovadores e de bom gosto e,
sobretudo, original. É um excelente exemplo que atirar dinheiro para as
produções operáticas não é condição obrigatória para fazer bons espectáculos.
A acção passa-se
na actualidade. Do lado esquerdo do palco vemos serem desenhadas as figuras que
são projectadas, muitas delas muito engraçadas, e do lado direito vemos
produzir os efeitos musicais.
Há no centro do
palco uma grande plataforma móvel, presa nos cantos por cabos, movimentada por
elementos vestidos de negro, que a elevam, baixam ou inclinam, e tudo se passa
sobre ou debaixo dela.
Os pássaros são
simples folhas de papel movimentadas na mão dos membros de negro, formando um
efeito muito simples e eficaz.
O Papageno é um
pintor sempre com um escadote, a Rainha da Noite uma velha de cadeira de rodas,
o Sarastro um executivo de fato impecável e os três rapazes são velhos
estranhos. O Tamino e a Pamina estão vestidos de branco e descalços na maioria
da ópera, sobretudo quando decorrem as provas de submissão.
A orquestra está
quase ao nível do palco e participa directamente na acção, com a flautista a
subir ao palco e os cantores a atravessarem-na frequentemente.
Dirigiu a
orquestra o maestro Ben Gernon. Houve
ligeiros desencontros entre os cantores e a música. Nos papéis solistas houve
alguma heterogeneidade. Contudo, na sua maioria, foram muito bons.
O jovem tenor Rupert Charlesworth fez um Tamino
excelente. Com óptima presença em palco (a encenação assim o exige) cantou de
forma segura, sempre afinado e sobre a orquestra. Tem um timbre muito
agradável.
A soprano Lucy Crowe foi uma Pamina fabulosa, a
melhor cantora da noite. Tem uma voz muito bonita, bem colocada, com agudos
fantásticos, e um poderio vocal assinalável.
Outro grande
cantor foi o baixo Brindley Sherratt
que se impôs como Sarastro, numa interpretação vocal superior.
O Papageno do barítono Thomas
Oliemans esteve bem, sem deslumbrar. O papel é um dos mais relevantes na
ópera, incluindo a componente cómica, que cumpriu. O canto foi interessante mas
sem grandes rasgos de invulgaridade qualitativa.
A soprano Rowan Pierce foi uma Papagena também correcta. O papel é relativamente
curto, apesar do belíssimo dueto final com o Papageno.
Nas três damas, Susanna Hurrell,
Samantha Price, Katie Stevenson, imperou a qualidade mas merece uma referencia
muito elogiosa a mezzo Katie Stevenson que vocalmente foi excelente.
Também os três rapazes, vestidos de forma muito bizarra, cumpriram bem as
suas intervenções, Alex McSweeney, Zeb Jenkins e Sasha Rose.
O Monostatos de Daniel Norman foi desinteressante e
cantou sem grande vigor. Também a voz não ajudou, não é bonita nem extensa.
A grande decepção
foi a soprano Julia Bauer como Rainha
da Noite, uma das personagens vocalmente mais marcantes da ópera. Apesar de ter
estado bem na coloratura da ária principal, cantou baixo, de forma irregular
(parecia que ia quebrar a qualquer instante) e a voz não é nada cativante. Uma
pena.
Mas foi um
espectáculo muito bom, tanto pela originalidade como pela elevada categoria da
grande maioria dos cantores.
****
THE MAGIC
FLUTE, English National Opera, March, 2019
At the English National Opera I saw one of the
most imaginative productions of Mozart's
opera The Magic Flute. The production
of Simon McBurnay is very simple,
multimedia, effective, full of innovative moments and, above all, original.
It's a great example that throwing money on opera productions is not a
prerequisite for good performances.
The action
is set in the present. On the left side of the stage we see the drawings that
are projected, many of them very funny, and on the right side we see the
musical effects produced.
There is in
the center of the stage a large movable platform, fastened in the corners by
cables, moved by elements dressed in black, which raise, lower or incline, and
everything happens on or under it.
Birds are
simple sheets of paper moved in the hands of supernumeraries in black, forming
a very simple and effective effect. Papageno is a painter always with a ladder,
the Queen of the Night a wheelchair-bound old woman, Sarastro a flawless
executive and the three boys are old strangers. Tamino and Pamina are dressed
in white and barefoot in most of the opera, especially when the submission
takes place.
The
orchestra is almost at the stage level and participates directly in the action,
with the flautist taking the stage and the singers crossing it frequently.
Maestro Ben Gernon directed the orchestra.
There were slight mismatches between the singers and the music. In the soloist
roles there was some heterogeneity. Most, however, were very good.
Young tenor
Rupert Charlesworth was an excellent
Tamino. With great presence on stage (the staging so requires) he sang firmly,
always tuned and over the orchestra. he has a very nice tone.
Soprano Lucy Crowe was a fabulous Pamina, the
best singer of the night. She has a very beautiful voice, well tuned, with
fantastic top register, and a remarkable vocal power.
Another
great singer was bass Brindley Sherratt
who sang Sarastro, in a superior vocal interpretation.
The
Papageno of baritone Thomas Oliemans
was well, without dazzle. The role is one of the most relevant in the opera,
including the comic component, in which he was well. The singing was
interesting but without great bursts of qualitative surprises.
Soprano Rowan Pierce was also a correct Papagena.
The role is relatively short, but includes the beautiful final duet with
Papageno.
In the
three ladies, Susanna Hurrell, Samantha
Price, Katie Stevenson, prevailed the quality but mezzo Katie Stevenson deserves
a very complimentary reference due to her vocal excellency.
Also the
three boys, dressed in a very bizarre manner, sung well their parts, Alex McSweeney, Zeb Jenkins and Sasha Rose.
Daniel Norman's Monostatos was uninteresting and sang
without impressing. Also the voice did not help, it is neither beautiful nor
extensive.
The great
disappointment was soprano Julia Bauer
as Queen of the Night, one of the most vocal impressive characters of the
opera. Although she was well in the main aria's coloratura, she sang low,
irregularly (it seemed like she was going to break at any moment) and the voice
is not very catchy. A disappointment.
But it was
a very good performance, both for the originality and for the high category of
the great majority of the singers.
****
Conheço bem a Lucy Crowe, e também Rowan Pierce, que ouvi ainda há pouco na Casa da Música. Tem uma linda voz para música barroca (cantou Pergolesi). Mas sem Raínha da Noite não há Flauta... ah, saudades da Damrau !
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