A CAFONICE DECADENTE DO CAVALEIRO DA ROSA NO THEATRO MUNICIPAL DE SP.
CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.
Richard Strauss já tinha composto "Salome" e "Elektra
quando em 1911 lança uma ópera de estilo completamente diferente, para não
dizer antagônico ao que vinha compondo. Dois sucessos recheados de drama e
tensão com histórias chocantes, marcantes e personagens vorazes, é substituído
pela ópera "O Cavaleiro da Rosa" onde aparecem nobres assediadores
querendo dotes polpudos. Valsas vienenses desfilam com carinho nos ouvidos
(estas nem existiam na época que a história é ambientada) e inspiração
mozartiana são características inerentes da ópera.
Raras vezes é montada no Brasil, tive a chance de ouvi-la
em forma de concerto pela OSESP em 2009. Alguns musicólogos veem similaridades
entre a opereta "O Morcego" de Johann Strauss e "O Cavaleiro da
Rosa" de Richard Strauss. O sobrenome pode ser igual, o parentesco é
nenhum. Similaridades entre as duas estão no fato de serem cômicas e vienenses.
A música de Richard é de uma riqueza absurda, contrastes entre o dramático, o
cômico e melancólico aparecem a todo instante. Enquanto a opereta de Johann tem
melodias que grudam na memória e nada mais.
A segunda produção do ano no Theatro Municipal de São
Paulo teve vozes que compensaram às quatro horas na casa. Luisa Francesconi
como sempre soberba como Octavian. A Marechala de Carla Filipcic Holm tem voz
poderosa e compatível com o canto de Strauss, o baixo Dirk Aleschus não atinge
as notas mais graves, apresentação caracterizada pela atuação cênica eficaz
como Barão Ochs. Grande destaque é a voz de Elena Gorshunova, soprano de
grandes qualidades vocais.
Pablo Maritano opta pelo caricato, pelo toque de humor a
costumes de uma sociedade que se imagina nobre e esta em fase final de
existência. Acerta ao narrar com clareza os diversos encontros e desencontros e
aproximar o título a uma opereta. A transposição de época não afeta o
resultado, o século XVIII vira início do século XX na montagem. O cenário de
Italo Grassi vai do simples no primeiro ato a cafonice decadente do segundo e
terceiro.
O exagero do dourado simboliza perfeitamente essa
característica. Uma verdadeira crítica as elites tupiniquins. Os cavaleiros na
"Apresentação da Rosa" mais parecem os Dragões da Independência. Os
figurinos de Fabio Namatame acompanharam a ideia e a luz de Caetano Vilela fica
torta, sombras por todos os lados e algumas penumbras que transmitem a ideia de
decadência social.
A Orquestra Sinfônica Municipal regida por Roberto Minczuk
manteve bom nível do início ao fim da récita. Quem imagina que o regente só é
chegado a concertos começa a ver um Minczuk conhecedor da linguagem operística.
Segurou a orquestra nos três atos em excelente nível técnico, valsas de
sonoridade leve e clara em uma orquestra enorme exigida pela partitura.
Ali Hassan Ayache
Extra-campo:
-Preço do programa R$ 35,00, um absurdo de caro.
-A galera adora tirar fotos e fazer filmagens quando isso é permitido
durante um pequeno trecho da ópera, boa sacada iniciada na gestão Cleber Papa.
-O público foi diminuindo conforme os intervalos iam chegando. Ópera
longa é para poucos nos tempos onde o mais importante é o celular e as redes
sociais.
- É o fim dos tempos um colega crítico de ópera ficar mendigando um
programa para a produção.
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