(review in English below)
A opera La Traviata de Verdi encerrou a temporada do Teatro
de São Carlos em Lisboa. Felizmente que se abandonou a concretização da
nova produção (ao que se soube a Violeta seria um travesti com SIDA!) e se
recuperou a encenação de Pier Luigi
Pizzi, clássica, digna e que cumpre perfeitamente. Foi talvez a melhor
encenação da temporada.
Já muito foi
escrito neste espaço sobre esta ópera pelo que farei apenas um pequeno
apontamento sobre os cantores e o público.
A soprano russa Ekaterina Bakanova foi uma Violeta de
excelente qualidade, muito acima dos restantes cantores e do melhor que se tem
ouvido em São Carlos nos últimos tempos. Voz bonita, potente, sempre bem
colocada e coloratura eficaz. A cantora tem uma figura que ajuda muito no
papel, é alta e magra, embora no último acto mais parecia que estava a morrer
com uma peritonite do que com tuberculose pulmonar (mas a culpa não foi dela).
Esteve sempre bem, mas no 2º acto foi fabulosa!
(fotografia do Teatro Nacional de São Carlos)
O Alfredo foi o
jovem tenor português Luís Gomes. O
timbre vocal não é bonito, a figura também não ajuda, mas conseguiu cumprir com
dignidade este grande papel, que será um marco na sua carreira.
O barítono
britânico Alan Opie não esteve bem.
Foi irregular na emissão, parecia perder o controlo vocal com frequência, a voz
foi excessivamente nasalada e, ocasionalmente, tinha muito “grão”.
Dos cantores
secundários, destacaria a boa prestação de Carolina
Figueiredo como Annina. Os restantes cumpriram sem deslumbrar, João
Merino como Marquês d’Obigny, João
Oliveira como Dr. Grenvil e Joana
Seara como Flora. Mário Redondo como
Barão Douphol e João Cipriano como
Gastone foram os mais apagados.
(fotografia do Teatro Nacional de São Carlos)
Uma nota final
para o público, pelo menos no local onde estive. Para além das tosses
contínuas, uma mulher sentada atrás de mim teve o telemóvel a vibrar durante
grande parte do 2º Acto. Apesar de estar no silêncio, ouvia-se perfeitamente a
vibração e ela nada fez, ou melhor, logo depois resolveu desembrulhar demoradamente um rebuçado, perturbando a audição de algumas das partes mais
dramáticas da ópera.
Tivemos ainda como surpresa adicional o maestro Michele Gamba a trautear a área Addio, del passato enquanto a Bakanova a cantava!
Não há
paciência!!
***
LA TRAVIATA
- Teatro de São Carlos, Lisbon, June 2018
Verdi's opera La
Traviata closed the São Carlos Theater season in Lisbon. Fortunately, the
new production announced was abandoned (in which Violeta was known to be a transvestite
with AIDS!) and recovered the production by Pier Luigi Pizzi, classic, dignified and that perfectly fulfils the
staging of the opera. It was perhaps the best staging of the season.
Much has
already been written in this blog about this opera so I will only make a small
note about the singers and the audience.
Russian
soprano Ekaterina Bakanova was a
Violet of excellent quality, far above the other singers and the best that has
been heard in São Carlos in recent times. Beautiful powerful voice, always well
tuned and effective coloratura. The singer has a figure who helps a lot in the
role, she is tall and lean, although in the last act more seemed to be dying
with a peritonitis than with pulmonary tuberculosis (but it was not her fault).
She was always good, but in the 2nd act she was fabulous!
Alfredo was
the young Portuguese tenor Luís Gomes.
The vocal tone is not beautiful, the figure also does not help, but he managed
to perform with dignity this big role, which will be a milestone in his career.
British
baritone Alan Opie was not well. He
was irregular in the vocal emission, seemed to lose vocal control frequently,
the voice was excessively nasal and occasionally had much "grain".
Of the
secondary singers, I would emphasize the good performance of Carolina Figueiredo as Annina. The rest
performed without being dazzled, João
Merino as Marquis d'Obigny, João
Oliveira as Dr. Grenvil and Joana
Seara as Flora. Mário Redondo as
Baron Douphol and João Cipriano as
Gastone were the most discreet.
A final
note about the public, at least where I've been. In addition to the continuous
coughs, a woman sitting behind me had the cell phone vibrate during much of the
2nd Act. Despite being in the silence, the vibration was heard perfectly, and
she did nothing, or rather, she soon resolved to slowly unwrap a candy,
disturbing the hearing of some of the most dramatic parts of the opera. We also
had as an additional surprise maestro Michele
Gamba treading the area Addio, del
passato while Bakanova was singing!
There is no
more patience !!
***
Assisti ontem à ópera e no geral concordo com esta apreciação.
ResponderEliminarGostei do Luís Gomes, francamente.
Quanto ao público português só me apraz dizer que não perdem uma oportunidade para aplaudir e têm a péssima ideia de juntar um BRAVÔ quando em Portugal se diz BRAVO.
Devemos amar a nossa língua sem contornos a estrangeirismos que ficam muito mal.
Gostei da ópera e a soprano russa foi um estrondo.
Nota. O São Carlos precisa reformar as cadeiras. São incómodas. Não seria pior pensar nisso.
Venha a nova temporada.
Abraços aos fanáticos da ópera.
Pela aparente transversalidade de valorações relativamente à prestação de Ekaterina Bakanova, anseio que a intérprete integre a distribuição vocal que se apresentará no Coliseu do Porto, nesta mesma produção, no próximo mês de Outubro.
ResponderEliminarConcordo com o teor da crítica apresentada. Também não gostei nada do barítono britânico. Apesar disso, para mim, esta foi a melhor produção desta temporada. Gostei muito da Bakanova. Brava! Foi a melhor da noite. Do público é melhor não falar. Ainda está para vir o dia em que eu não tenha de dizer mal da educação do público depois da récita acabada.
ResponderEliminarAntes de mais parabéns a todos pelo excelente serviço que prestam a todos os fanáticos de ópera Portugueses, eu sou um deles, adoro ler o vosso blog! Chamo-me Pedro Ribeiro e fui eu quem desenhou, em conjunto com o António Lagarto, o conceito para a nova Traviata que infelizmente não chegou a ser produzida por motivos que já foram explicados no comunicado de imprensa do TNSC. Eu gostava de acrescentar ao seu texto uma nota importante (para que isto não se torne num boatoBlog)... a prostituta em questão não seria um travesti e não iria morrer com sida... mas gosto da criatividade portuguesa em deturpar coscuvilhices, sempre muito original heheheh! Continuação de um bom trabalho de crítica e opinião séria e não de adivinhação ;-)
ResponderEliminarObrigado pelo seu esclarecimento. O que constou foi o que escrevi no texto e não fui o único a fazê-lo. Veja-se o texto de Jorge Calado no Expresso do Sábado passado.
EliminarAinda bem que, afinal, foram coscuvilhices infundadas, caso contrário seria um péssimo serviço a esta magnífica ópera de Verdi que tanto tem marcado as audiências ao longo de décadas e que traduz com fidelidade como a tuberculose era encarada pela sociedade no Século XIX, antes de ter sido descoberta a sua natureza infecciosa.
Continuem a escrever bem sobre as operas a que assistem e tentem ignorar aquilo que os outros escrevem (so porque se imprime uma noticia num jornal nao quer dizer que ela seja verdade) senao realmente este blog torna-se tambem ele numa cuscuvilhice, perdendo todo o seu interesse. O passa-a-palavra nao interessa para a forma de arte, o que interessa e' experienciarmos a obra de arte e depois escrever sobre o que sentimos. Cumprimentos.
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ResponderEliminarDeslumbrante Traviata que eu assisti no nosso querido TNSC.Cantores fantasticos não sou eu que digo é o publico que o diz com os seus calorosos aplausos e o com as cinco récitas completamente esgotadas. Muito gostaria que os fanaticos deligassem do Sr Jorge Calado esse senhor diz mal de tudo e de todos sem saber o que está a dizer, talvez em casa sozinho ao espelho diga mal dele proprio.