sábado, 6 de maio de 2017

LA TRAVIATA, METropolitan Opera, Março / March 2017


(review in English below)

La Traviata, uma das minhas óperas favoritas de Verdi, esteve em cena na Metropolitan Opera de Nova Iorque. Nunca tinha visto esta encenação,  marcante, de Willy Decker.

Palco quase vazio, circular, branco, tipo arena e apenas um sofá vermelho no centro e um grande relógio num dos lados. Violetta com vestido escarlate rodado. Uma figura masculina velha e de negro está ao lado do relógio. Sempre que a Violetta se preocupa com a sua saúde o relógio revela-lhe o tempo de vida e a figura do velho aparece. No último acto percebemos que é o Dr. Grenvil. O baile do 1º acto tem todos os elementos vestidos como homens de fato preto.


No 2º acto 5 sofás brancos e o relógio estão cobertos por panos com flores estampadas de cores garridas, com padrão idêntico ao de um grande painel que aparece no fundo do palco. A Violetta e o Alfredo (Germont) estão em trajos menores, com robes do mesmo padrão. À medida que decorre a acção, com a visita do pai (Giorgio Germont), e quando a Violetta vai ficando desesperada e derrotada, as cores garridas das flores do fundo do palco vão desaparecendo, ficando quase sem cor. O efeito é magnífico. Por cima do painel posterior do palco, aparecem ocasionalmente as figuras vestidas de negro (o coro), apontando Violetta.
No segundo acto o relógio é retirado do canto e levado para o meio do palco pelos figurantes, sempre vestidos de negro e com máscaras. A cena do jogo passa-se centrada no relógio.
No último acto o palco está quase vazio e nele apenas estão os solistas vestidos de negro (Dr. Grenvil, Annina, Alfredo, Giorgio) e Violetta de branco. Quando está agónica e morre, cai desamparada no solo. O padrão de flores no fundo do palco reaparece, desta vez todas vermelhas.
É uma encenação marcante e opressiva, de excelente efeito.

O Maestro Nicola Luisotti proporcionou-nos uma excelente interpretação da Orquestra e Coro da Metropolitan Opera.



O soprano Carmen Giannattasio fez uma Violetta excelente. Voz poderosíssima, muito lírica no primeiro acto, dramática no final, mas sempre uma projecção impecável, sobre a orquestra A interpretação cénica, importantíssima nesta encenação, foi brilhante. A melhor da noite, sem dúvida.




O tenor Atalla Ayan foi um Alfredo à altura da Violetta. Tem um timbre de lirismo apreciável e foi sempre audível sobre a orquestra. Em palco esteve bem e ágil, muito ajudado pela figura, mas notou-se a maior preocupação com o canto.





O tenor Placido Domingo foi o Georgio Germont. Recebeu uma enorme ovação logo que apareceu em palco, o que é compreensível, dado ser uma figura ímpar da ópera nas últimas décadas. A prestação cénica foi muito boa mas, o papel é de barítono e não soa bem cantado por Domingo, não tem a profundidade dramática necessária.



A mezzo Maria Zfichak fez uma Annina de voz grave e muito expressiva, sempre bem audível. O baixo barítono James Courtney foi um Dr. Grenvil de elevada qualidade e barítono Dwayne Croft fez um Barão Douphol aceitável.










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LA TRAVIATA, METropolitan Opera, March 2017

La Traviata, one of my favorite Verdi operas, was on stage at the Metropolitan Opera in New York. I had never seen this remarkable staging of Willy Decker.
The stage is almost empty, circular, white, arena type, and only a red sofa in the center and a large clock on one side. Violetta wears a scarlet dress. An old black male figure sits next to the clock. Whenever Violetta cares about her health the watch reveals her life time and the figure of the old man appears. At the last act we realize that he is Dr. Grenvil. The ball of the 1st act has all the elements dressed like men in black suits.
In the second act 5 white sofas and the clock are covered with cloths with flowers printed in bright colors, with a pattern identical to the one of a great panel that appears over the bottom of the stage. Violetta and Alfredo (Germont) are in underwear, with robes of the same pattern. As the action proceeds, with the visit of Alfredo’s father (Giorgio Germont), and Violetta getting desperate and defeated, the colors of the flowers blooming from the bottom of the stage disappear, and become almost colorless. The effect is magnificent. Above the back panel of the stage, occasionally appear the figures dressed in black (the choir), pointing to Violetta.
In the second act the clock is removed from the corner and taken to the middle of the stage by the extras, always dressed in black and masked. The game scene is centered around the clock.
In the last act the stage is almost empty and in it only the soloists dressed in black (Dr. Grenvil, Annina, Alfredo, Giorgio) and Violetta in white. When she is agonized and dies, she falls helplessly on the ground. The pattern of flowers on the bottom of the stage reappears, this time all red.
It is a remarkable and oppressive staging of excellent effect.

Maestro Nicola Luisotti gave us an excellent interpretation of the Orchestra and Choir of the Metropolitan Opera.

Soprano Carmen Giannattasio was an excellent Violetta. Powerful voice, very lyrical in the first act, dramatic in the end, but always an impeccable projection, over the orchestra. The stage interpretation, very important in this staging, was brilliant. The best of the night, no doubt.

Tenor Atalla Ayan was an Alfredo at the top level of Violetta. He had an appreciable lyricism timbre and was always audible over the orchestra. On stage he was good and agile, much helped by his figure, but he showed always greater concern with singing.

Tenor Placido Domingo was Georgio Germont. He received an enormous ovation as soon as he appeared on stage, which is understandable since he has been an odd figure of the opera in the last decades. The performance was very good but the role is of a baritone and does not sound well sung by Domingo, it does not have the dramatic depth required.

Mezzo Maria Zfichak was an Annina with a low rwgister and very expressive voice, always well audible. Bass baritone James Courtney was a high-quality Dr. Grenvil and baritone Dwayne Croft was an acceptable Baron Douphol.


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2 comentários:

  1. Obrigado pela sua óptima apreciação acerca dos cantores, caro Fanático_Um.
    Para quem não tenha podido estar na sala do MET para o espectáculo ao vivo, é um dado importantíssimo, sobretudo porque foi possível no passado dia 6 na FCG assistir à transmissão em diferido do espectáculo de 11 de Março no MET.
    E embora se trate de coisas diferentes, até porque o elenco que vimos na transmissão não foi o mesmo que teve a oportunidade de ver na sala, o espectáculo merece alguns comentários adicionais.

    É muito difícil estragar num registo em vídeo aquela que é sem dúvida uma das melhores encenações desta ópera de Verdi, a magnífica proposta de Willy Decker que o MET decidiu repor este ano.
    Pois podemos dizer sem risco de contestação que isso quase aconteceu desta vez, pela mão de Mathew Diamond, o realizador.
    Os sinais da incompetência e do amadorismo da direcção televisiva multiplicaram-se durante o espectáculo, proporcionando-nos momentos dignos de uma antologia da asneira: duetos em que apenas se vê um dos cantores, movimentos de câmara erráticos, atravessamento do campo por uma grua etc etc.

    A somar a esta tragédia o problema do som foi notório, com as vozes todas iguais em intensidade em resultado de uma amplificação digna de amadores.
    Em palco os cantores terão provavelmente ultrapassado a mediania da transmissão, mas as peculiares circunstâncias referidas a propósito do tratamento do som impedem-nos em rigor de fazer alguma apreciação fidedigna. Daí o interesse redobrado do seu relato.

    Mesmo assim pode perceber-se claramente que Thomas Hampson já não deveria cantar o papel de Giorgio Germont numa casa de ópera que tenha a preocupação de respeitar o seu público. É visível a sua dificuldade e audível o resultado do esforço e do tempo.

    Mas perante a sua apreciação sobre a distribuição que viu em sala, em que o papel foi dado a Placido Domingo, ficamos na dúvida acerca de qual dos dois intérpretes terá sído menos mau.

    Dúvidas não restam pelo contrário acerca dos determinantes da escolha dos elencos pelo MET: o importante é vender bilhetes mesmo que à custa da qualidade.

    JAM

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    1. Também vi a transmissão na FCG e concordo consigo, não transpareceu o cariz opressivo marcante desta excelente encenação. A obsessão pelos grandes planos das caras dos cantores quebra toda a noção de conjunto da encenação.
      Quanto aos cantores, devido à amplificação sonora na transmissão, não posso comparar mas, seguramente, o Thomas Hampson (com todas as suas actuais limitações) terá sido bem melhor que o Placido Domingo, um desastre no papel de gGorgio Germont!

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