terça-feira, 24 de janeiro de 2017

ROMEO ET JULIETTE, Metropolitan Opera, Janeiro 2016



(text in English below)

Assistimos na passada semana a mais uma transmissão da Metropolitan Opera de Nova Iorque, desta vez o Romeu e Julieta de C. Gounod.

A encenação de Bartlett Sher (originária de Salzburgo) é tradicional, escura e muito estática. Os cenários são sempre os mesmos, mas a movimentação em palco é interessante. O guarda-roupa vistoso. A direcção musical foi do maestro Gianandrea Noseda.

(Fotografias / Photos Ken Howard, Metropolitan Opera)

Quanto aos cantores, houve enormes diferenças qualitativas, como raramente se assiste neste teatro de ópera.

A soprano alemã Diana Damrau foi, de longe, a melhor em palco e ofereceu-nos uma interpretação de luxo. A voz é extraordinária, de um lirismo e coloratura marcantes. O registo médio é sólido e os agudos luminosos e de uma beleza invulgar. Em palco foi também fantástica, quer na agilidade, quer na expressividade cénicas. Só ela valeu o espectáculo.


O Romeu do tenor italiano Vittorio Grigolo também foi bom. Sem atingir o nível de excelência da Damrau, cantou bem, tem uma voz sólida e potente, que perde alguma qualidade nos agudos, algo forçados. Esteve constantemente a olhar para o maestro, mais vezes do que para a parceira de cena o que, nos grandes planos dos duetos, perturbou. Grigolo tem um porte físico perfeito para o papel de Romeu e a sua movimentação cénica ajudou muito a dar credibilidade à personagem.


A veterana mezzo inglesa Diana Montague foi uma Gertrude muito digna e também a jovem mezzo francesa Virginie Verrez foi um notável Stéphano.


Os restantes, muito fracos: O baixo russo Mikhail Petrenko foi um mais que discreto Frère Laurent, com uma interpretação desinteressante e um registo grave pouco audível. Laurent Naouri, baixo-barítono francês, foi outro cantor decepcionante no papel de Capuleto mostrando uma voz quase irreconhecível. Elliot Madore (Mercucio), Tony Stevenson (Benvolio), David Crawford (Páris) e Jeongcheol Cha (Grégorio) foram  muito maus e Diego Silva (Tebaldo) foi talvez a voz mais feia e desafinada que se ouviu nas transmissões da presente temporada. A transmissão terminou com várias interferências sonoras, o que quebrou totalmente a concentração na cena final.


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ROMEO ET JULIETTE, Metropolitan Opera, January 2016

We attended last week another broadcast of the Metropolitan Opera of New York, this time Romeo and Juliet by C. Gounod.

The direction of Bartlett Sher (originally from Salzburg) is traditional, dark and very static. The scenarios are always the same, but the movement on stage is interesting. The dresses are showy. Maestro Gianandrea Noseda directed. 

As for the singers, there were huge qualitative differences, as is rarely seen in this opera house.

German soprano Diana Damrau was by far the best on stage and offered us a luxury performance. The voice is extraordinary, of a remarkable lyricism and coloratura. The medium register is solid and the top notes are luminous and of an unusual beauty. On stage she was also fantastic, both in agility and in expressivity. Only she was worth the performance.

Romeo by Italian tenor Vittorio Grigolo was also good. Without reaching the level of excellence of Damrau, he sang well, has a strong and powerful voice, which loses some quality in the top register, somewhat forced. He was constantly looking at the conductor, more often than at his stage partner, which, in the grand plans of the duets, disturbed. Grigolo has a perfect body for the role of Romeo and his scenic drive helped a lot to give credibility to the character.

Veteran English mezzo Diana Montague was a very dignified Gertrude and also young French mezzo Virginie Verrez was a remarkable Stéphano.

The remaining singers were very weak: Russian bass Mikhail Petrenko was a more than discreet Frère Laurent, with an uninteresting interpretation and a barely audible bass register. Laurent Naouri, French bass-baritone, was another disappointing singer in the role of Capulet showing an almost unrecognizable voice. Elliot Madore (Mercutio), Tony Stevenson (Benvolio), David Crawford (Páris) and Jeongcheol Cha (Grégory) were very bad, and Diego Silva (Tybalt) was perhaps the most ugly and out of tune voice that was heard in the transmissions of this season.


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1 comentário:

  1. Ao contrário do Nabucco, estamos em crer que uma transmissão televisa adequada, com os seus grandes planos e as mudanças de perspetiva, poderá dar maior dinâmica a este Romeo et Juliette que tivemos o privilégio de assistir no Met no princípio do ano.

    Não é que a encenação não seja movimentada: por vezes até o é em demasia. Os pobres cantores, bem como o coro, andaram sempre em grande correria pelo palco. “Je veux vivre”, a ária mais famosa de Julieta, foi cantada em meio de grande sobressalto, com Julieta a rodopiar apertada por uma multidão. Já a agilidade de Grigolo é de pasmar. O senhor trepa pelas paredes e pelas colunas do cenário, como se fosse a coisa mais natural do mundo, e consegue cantar bem ao mesmo tempo. A cena dos espadachins, em que Mercutio é morto por Tybalt que por sua vez morre às mãos de Romeo, é digna dos melhores filmes de Errol Flyn.

    Mas se a encenação é dinâmica, quase todas as restantes componentes dramáticas são muito estáticas. O cenário é grandioso, mas é escuro e não muda ao longo da performance. O grande lençol que esvoaça no III Ato e serve de cama no IV não chega para animar. A música de Gounod é bonita, mas de uma beleza sem grandes rasgos, como um grande e majestoso rio que escorre pachorrentamente por um largo vale. A orquestra, com Noseda, esteve bem, mas quem salvou realmente a noite foram Damrau e Grigolo, ambos excelentes em palco, conseguindo trazer ao espetador a emoção que a música, por si só, ficou longe de conseguir alcançar. Damrau é, sem dúvida, uma das grandes sopranos da atualidade, com uma voz belíssima e uma capacidade interpretativa notável. A sua “Dieu! Quel frisson court dans mes veines” ficar-nos-á para sempre na memória.

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