(Review in English bellow)
Lohengrin é uma ópera romântica em 3 actos com música e libreto de Richard Wagner. Foi estreada em 1850 na cidade de Weimar por Franz Liszt.
Trata-se de uma ópera que se baseia na história de Percival, personagem da literatura medieval germânica. A relação com a derradeira ópera de Wagner — Parsifal — é evidente, expondo-se muitas das mesmas temáticas em ambas as óperas e podendo estabelecer-se uma relação entre as suas personagens ou duos de personagens. Fala-se de nobreza de carácter, honra, verdade, justiça, humildade, confiança. Sempre em espelho com o seu contrário. No fundo, da dicotomia do bem e do mal. Mais uma vez, Wagner põe na mulher o gérmen do mal, podendo comparar-se Ortrud (e também Elsa von Branbant) a Kundry. Também se pode comparar Friedrich von Telramund a Amfortas: estandartes de bravura e honra, são seduzidos pela luxúria e pelo poder. A ligação à tríade de personagens do Livro do Génesis é evidente: a serpente encarna o mal e seduz a mulher Eva, deixando-se o homem Adão tentar e não resistindo a projectar a sua culpa em Eva. A relação entre Parsifal e Lohengrin é evidente e está para além do grau de parentesco: ambos representam a redenção e o poder místico.
A encenação de Andreas Homoki é bastante banal. A acção passa-se numa taberna. Estrutura em madeira, mesas e muitas cadeiras (moda que não passa). Logo na abertura, mostram Elsa a, já vestida de noiva, recusar casar com Friederich. Tudo isto torna Friederich mais mesquinho, pois toda a sua acção parece poder interpretar-se como vingança.
Há um elemento constante: primeiro na tela que cobre o palco e, depois, num quadro ao fundo da taberna. São dois corações e uma inscrição que diz Es gebit ein Gluck (qualquer coisa como Existe uma alegria — não sou versado em alemão…). Durante o casamento de Lohengrin e Elsa, Ortrud rasga o quadro, em sinal de que o amor está desfeito. Tudo o mais é muito convencional, ou pouco fiel ao texto.
Desde logo o cisne aparece apenas como um elemento de porcelana. Lohengrin aparece de branco entre a multidão que anuncia a sua chegada numa barca e, no final, Gotfried aparece da mesma forma.
A Orquestra da WSO foi dirigida por Graeme Jenkins e apresentou um nível muito elevado, proporcionando momentos de extrema beleza e grande intensidade dramática. O Coro da WSO foi, igualmente, fantástico, oferencendo vários dos grandes momentos da tarde/noite.
O Konig Heinrich de Gunther Groissbock foi de muito boa qualidade. Tem uma óptima presença em palco, uma voz sempre audível e com um timbre bonito.
Tomasz Konieczny fez de Friedrich von Telramund. A voz é potente, escura e agradável, com boa projecção. A interpretação cénica foi, igualmente, convincente.
A Ortrud de Petra Lang foi soberba. Para mim, a melhor da noite. Interpretação intensa, maléfica, doentia, manipuladora, aliada a uma voz cristalina, com agudos vivos e arrepiantes. O seu final foi arrasador!
Ricarda Merbeth foi uma Elsa von Brabant de qualidade e com bom equilíbrio vocal. Só não ponho a sua interpretação noutro nível porque achei que lhe faltou alguma intensidade cénica para o papel (ser mais misteriosa, frágil e manipulável).
Klaus Florian Vogt foi um Lohengrin óptimo. Deve ser dos tenores mais rodados neste papel. A voz tem um timbre lindíssimo, os agudos são fáceis, a projecção impecável, o fraseado muito elegante, o que faz dele um dos melhores tenores wagnerianos da actualidade. Sei que muitos discordarão, mas continuo a achar a sua voz muito leve. Para mim, peca apenas por isso. Cenicamente, é convincente, embora um pouco estático, privilegiando a qualidade do canto.
O restante elenco cumpriu muito bem.
Foi uma récita muito agradável, que poderia ter alcançado outro nível com uma encenação mais interessante. Mas sobressaiu pelos desempenhos de elevada qualidade de todos os intervenientes musicais, pelo que foi um mimo para os ouvidos.
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(Review in English)
Lohengrin is a romantic opera in three acts with music and libretto by Richard Wagner. It was first performed in 1850 in the city of Weimar by Franz Liszt.
This is an opera that is based on the story of Percival, character of German medieval literature. The relationship with the ultimate Wagner opera - Parsifal - is evident, exposing many of the same themes in both operas and being able to establish a relationship between their characters or characters duos. The opera is about character of nobility, honor, truth, justice, humbleness, confidence. Or its exact opposite. In the end, its about good and evil dichotomy. Again, Wagner puts woman as an evil germ. Ortrud (and Elsa von Branbant, too) can be compared to Kundry. You can also compare Friedrich von Telramund to Amfortas: they are standards of bravery and honor, but are seduced by lust and power. The connection to the triad of characters from the Book of Genesis is clear: the serpent embodies evil and seduces the Eve, Adam is tempted and project his guilt on Eve. The relationship between Parsifal and Lohengrin is evident. And it is beyond the degree of kinship: both represent the redemption and the mystical power.
The staging by Andreas Homoki is quite banal. The action takes place in a tavern. Wooden structure, tables and many chairs (fashion that does not pass). In the opening, Elsa appears already dressed as a bride, refusing to marry Friederich. All this makes Friederich more stingy, because all the action seems to be able to be interpreted as revenge. There is a constant element: first in the curtain covering the stage and then a draw in the tavern background. There are two hearts and an inscription that says Es gebit ein Gluck (something like There is a joy - I am not versed in German...). During the marriage of Lohengrin and Elsa, Ortrud tear the picture as a sign that love is broken. Everything else is very conventional, or little faithful to the text. Since then the swan appears only as a porcelain element. Lohengrin appears in white among the crowd that are announcing his arrival in a boat and, in the end, Gotfried appears in the same way.
The Orchestra of WSO was directed by Graeme Jenkins and showed a very high level, providing moments of great beauty and great dramatic intensity. The WSO Chorus was also fantastic, offering many of the great moments of the afternoon/evening.
The Konig Heinrich of Gunther Groissbock was of very good quality. He has a great stage presence, a voice always audible and a beautiful timbre.
Tomasz Konieczny made Friedrich von Telramund. The voice is powerful, dark and nice, with good projection. The scenic interpretation was also convincing.
The Ortrud of Petra Lang was superb. For me, she was the best of the evening. Great and intense interpretation, full of evil, sickness, manipulation, that she combined with a clear voice, and vivid and chilling treble. Her final phrases were overwhelming!
Ricarda Merbeth was one Elsa von Brabant of goog quality and vocal balance. I can't metion her interpretation to be of top level because I think she lacked some scenic intensity for the role (to be more mysterious, fragile and manipulable).
Klaus Florian Vogt was a great Lohengrin. He is certainly one of the most experienced tenors in this role. His voice is extremelly beautiful, high note flows very easily with elegant projection and phrasing, which makes him one of the best Wagnerian tenors of today. I know many will disagree, but I still think his voice is a bit light. Scenically, he is convincing, although a bit static, privileging the quality of the singing.
The remaining cast went very well.
It was a very enjoyable evening, which could have reached another level with a more interesting staging. But it stood by the musical performances that transformed the evening in a balsam for the ears.
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