CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET
O suntuoso Theatro Municipal do Rio de Janeiro
impressiona pela grandiosidade, conhecê-lo é viajar no tempo onde desfilavam
senhoras mais preocupadas em se exibir e cavaleiros mostrando orgulho e
grandeza do capital conquistado. O tempo passa e a sociedade muda com ele, hoje
qualquer cidadão pode ter acesso a suas frisas. Parte do público ainda vai para
mostrar as roupas de grife e bolsas compradas na Europa, embora a maioria
esteja lá para apreciar o evento.
O título escolhido pela
direção para fechar o ano é Madama
Butterfly de Puccini, o
Teatro Municipal do Rio de Janeiro usa uma produção de acervo, apresentada em
anos anteriores inclusive em São Paulo. Nunca entendi por que poucos teatros no
Brasil fazem isso.
(fotografia de Scheila Guimarães)
Carla Camurati assina a direção cênica, consegue dinâmica a um enredo caracterizado pela lentidão em um libreto não muito inspirado de Luigi Illica e Giuseppe Giacosa. Não cai na armadilha e no modismo da transposição temporal e mantém a personagem no Japão imperial. Sua versão é quase sempre limpa com ação rápida e acertos cênicos. A projeção no intermezzo mostra-se correta e unida com o desenho de luz de Carina Stassen e cenários de Renato Theobaldo deixa tudo harmônico. Os figurinos caminham lado a lado com os cenários embora pequem em alguns detalhes, essa é a primeira Butterfly que usa chinelo de dedo.
A regência de Issac Karabtghevsky esteve em bom nível
para uma ópera, sonoridade coerente e volume correto foram a constante do
espetáculo. Tirou dramaticidade e lirismo em momentos onde era necessário
da Orquestra Sinfônica do Teatro
Municipal do Rio de Janeiro.
(fotografia de Sheila Guimarães)
Dizem que Puccini não gostava de japonesas para cantar sua ópera, ele tinha suas razões e eu concordo com ele. O soprano Hiromi Omura mostrou um timbre cristalino e uma técnica correta cantando a protagonista. Pecou na dicção, no fraseado e no sotaque. Sua voz esteve afinada mostrando diversas nuances e cores. Constante do início ao fim, faltando a leveza no início para uma personagem de 15 anos. Cenicamente manteve um bom nível de atuação, ingênua no início e desesperada no terceiro ato.
O tenor Fernando Portari apresentou a qualidade de sempre, timbre agradável
e potente com agudos de sobra em uma interpretação cênica convincente. Denise de Freitas cantou uma Suzuki com
correção e excelência vocal. Quem não esteve a altura da turma foi Rodolfo Giugliani, frio e apático em
diversas passagens.
Os cariocas lotaram seu
teatro, pena que a temporada não tenha sido das mais expressivas. Poucos
títulos apresentados é a principal reclamação dos colegas do Rio de Janeiro.
Interesse em ópera existe, basta apresentar mais que o público comparece, tanto
é que o teatro esteve lotado na estreia do dia 30 e a palestra Falando
de Ópera apresentada no deslumbrante Salão Assyrio por
Silvio Viegas teve grande presença.
(fotografia de Sheila Guimarães)
Ali Hassan Ayache
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