terça-feira, 9 de dezembro de 2014

TOSCA, Theatro Municipal de São Paulo, Dezembro de 2014

PUBLICO VAIA EQUIPE DE CRIAÇÃO DA TOSCA DE PUCCINI. Críticade Ali Hassan Ayache no blog de Ópera e Ballet



Tosca de Puccini encerra a temporada lírica do Theatro Municipal de São Paulo de 2014, a ópera manteve o padrão do programa "Mais Cantores" instituído pelo teatro paulistano (http://operaeballet.blogspot.com.br/2014/04/programa-mais-cantores-do-teatro.html) com uma penca de estrangeiros cantando e dirigindo. A direção cênica esteve a cargo do italiano Marco Gandini, não me comove em nada ele ter sido assistente do afamado diretor de óperas Franco Zeffirelli. Na Tosca ele pisou na bola em diversos quesitos. Seu maior pecado foi ter transportado a ação para a década de 1970 em meio a uma ditadura militar. O problema é que o libreto não permite essas aventuras já que nele constam fatos históricos do século XIX e a confusão está instaurada.

O primeiro ato representa uma catedral moderna em concreto com duas estátuas fantasmas ou sei lá o que é aquilo no centro. Parece uma assombração, cruz credo! Os atores se movimentam com dinâmica e conseguem dar sustentação ao enredo. O segundo ato utiliza dois níveis ao fundo do palco, no primeiro ficam os torturadores, cena escura demais e quase invisível, aconselho o público a levar óculos para visão noturna. Na parte de cima se passa a ação, quando se abre a porta para ouvir o canto de Tosca uma luz florescente está bem de frente para a plateia ofuscando a visão, recomendo que o público leve um óculos escuros. Colocar a ação no alto e no fundo acabou com a acústica e as vozes foram prejudicadas. O terceiro ato mostrou uma limpeza cênica com exceção de um monumento artístico com anjos. Bonito pra caramba e inútil em um local recheado de milicos fuzilando condenados e heroínas se atirando das alturas.




 Marco Gandini mostrou-se perdido na direção cênica, a transposição temporal não funcionou pelo libreto histórico e os cenários de Italo Grassi prejudicaram ainda mais seu trabalho. Os figurinos de Simona Morresi estiveram corretos com a ideia da direção embora tenha transformado Tosca em uma pirigete dos anos 70, aquela que adora aparecer com cores berrantes e frequenta o Shopping Light. A luz de Virginio Levrio foi a salvação com sombras e cores que ajudam a narrar os acontecimentos. Parte do público vaiou a equipe de criação na estreia, sinal de maturidade, a galera não aceita mais invencionices exageradas nas montagens.

Outro que diziam que era um figurão e que também não me comoveu é o regente Oleg Caetani, filho do também regente Igor Markevitch. Exagerou no volume e colocou sua orquestra acima de tudo. A opção por tempos lentos em diversos momentos realça a música de Puccini, regeu uma ópera como se fosse um concerto de Mahler ou de Strauss. Faltou a delicadeza e a sensibilidade operística em sua leitura. O Theatro Municipal de São Paulo possuí um excelente órgão Tamburini que não está sendo utilizado, dizem que está quebrado. Será que é tão difícil concertar o Tamburini? Enquanto isso não acontece usa-se um órgão elétrico de churrascaria.  

Os solistas foram soberbos, Marcelo Alvarez é tenor top e sua voz está entre as mais belas da atualidade. Agudos brilhantes em uma voz de coloridos únicos que beiram a perfeição. Ainhoa Arteta fez uma Tosca com voz densa e escura, um timbre ideal para a personagem e uma atuação cênica comovente. O Scarpia de Roberto Frontali exibiu um timbre de barítono clássico com os graves volumosos e cheios. Voz que realça a excelente atuação cênica: sádico, dominador e sacana são atributos de um bom Scarpia e Frontali consegue com naturalidade. Saulo Javan, um dos raros brasileiros, mostrou como sempre voz segura e uma interpretação muito engraçada do sacristão.

O personagem Spoleta de Luca Casalin e Angelotti cantado por Massimiliano Catellani fizeram o básico. Repito mais uma vez, papéis pequenos podem ser cantados por solistas nacionais ou por membros do Coro Lírico Municipal. Não existe a necessidade de trazer gente de fora. Infelizmente a direção do Theatro Municipal de São Paulo representada pelo diretor John Neschling insiste em não prestigiar os cantores nacionais ou os da casa. Muitos solistas renomados e que fazem carreira pelos teatros do Brasil estão entrando no Coro Lírico Municipal para garantir o salário mensal, mais um motivo para usar membros do coro. 

O programa vendido ao público teve um aumento injustificável de 100%. Os antes R$ 5,00 passaram para R$ 10,00 sem qualquer motivo aparente. Falando em programa a capa dele é de um mal gosto tremendo, elaborada por Kiko Farkas e segundo o diretor da casa "é mais uma obra prima", "arquitetura moderna dos anos 70" ou "um dos cartazes mais bonitos da nossa já alentada coleção de obras primas". Mais uma vez tenho que discordar de você Joninho, o que vejo é uma capa sem graça e quem não conhece o título não consegue decifrá-lo. 


Ali Hassan Ayache

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