PUBLICO VAIA EQUIPE DE CRIAÇÃO DA TOSCA DE PUCCINI. Críticade Ali Hassan Ayache no blog de Ópera e Ballet
Tosca de
Puccini encerra a temporada lírica do Theatro Municipal de São Paulo de 2014,
a ópera manteve o padrão do programa "Mais Cantores" instituído pelo
teatro paulistano (http://operaeballet.blogspot.com.br/2014/04/programa-mais-cantores-do-teatro.html) com uma penca de estrangeiros cantando e
dirigindo. A direção cênica esteve a cargo do italiano Marco Gandini, não me comove em nada ele ter sido assistente do
afamado diretor de óperas Franco Zeffirelli. Na Tosca ele
pisou na bola em diversos quesitos. Seu maior pecado foi ter transportado a ação
para a década de 1970 em meio a uma ditadura militar. O problema é que o
libreto não permite essas aventuras já que nele constam fatos históricos do
século XIX e a confusão está instaurada.
O primeiro ato representa uma
catedral moderna em concreto com duas estátuas fantasmas ou sei lá o que é
aquilo no centro. Parece uma assombração, cruz credo! Os atores se movimentam
com dinâmica e conseguem dar sustentação ao enredo. O segundo ato utiliza dois
níveis ao fundo do palco, no primeiro ficam os torturadores, cena escura demais
e quase invisível, aconselho o público a levar óculos para visão noturna. Na
parte de cima se passa a ação, quando se abre a porta para ouvir o canto
de Tosca uma luz florescente está bem de frente para a plateia
ofuscando a visão, recomendo que o público leve um óculos escuros. Colocar a
ação no alto e no fundo acabou com a acústica e as vozes foram prejudicadas. O
terceiro ato mostrou uma limpeza cênica com exceção de um monumento artístico
com anjos. Bonito pra caramba e inútil em um local recheado de milicos
fuzilando condenados e heroínas se atirando das alturas.
Outro que diziam que era um
figurão e que também não me comoveu é o regente Oleg Caetani, filho do também regente Igor Markevitch. Exagerou no
volume e colocou sua orquestra acima de tudo. A opção por tempos lentos em
diversos momentos realça a música de Puccini, regeu uma ópera como se fosse um
concerto de Mahler ou de Strauss. Faltou a delicadeza e a sensibilidade
operística em sua leitura. O Theatro Municipal de São Paulo possuí um excelente
órgão Tamburini que não está sendo utilizado, dizem que está quebrado. Será que
é tão difícil concertar o Tamburini? Enquanto isso não acontece usa-se um órgão
elétrico de churrascaria.
Os solistas foram soberbos, Marcelo Alvarez é tenor top e sua voz
está entre as mais belas da atualidade. Agudos brilhantes em uma voz de
coloridos únicos que beiram a perfeição. Ainhoa
Arteta fez uma Tosca com voz densa e escura, um timbre
ideal para a personagem e uma atuação cênica comovente. O Scarpia de Roberto Frontali exibiu um timbre de
barítono clássico com os graves volumosos e cheios. Voz que realça a excelente
atuação cênica: sádico, dominador e sacana são atributos de um bom Scarpia e
Frontali consegue com naturalidade. Saulo
Javan, um dos raros brasileiros, mostrou como sempre voz segura e uma
interpretação muito engraçada do sacristão.
O personagem Spoleta de Luca Casalin e Angelotti cantado por Massimiliano Catellani fizeram o
básico. Repito mais uma vez, papéis pequenos podem ser cantados por solistas
nacionais ou por membros do Coro Lírico Municipal. Não existe a necessidade de
trazer gente de fora. Infelizmente a direção do Theatro Municipal de São Paulo
representada pelo diretor John Neschling insiste em não prestigiar os cantores
nacionais ou os da casa. Muitos solistas renomados e que fazem carreira pelos
teatros do Brasil estão entrando no Coro Lírico Municipal para garantir o
salário mensal, mais um motivo para usar membros do coro.
O programa vendido ao público
teve um aumento injustificável de 100%. Os antes R$ 5,00 passaram para R$ 10,00
sem qualquer motivo aparente. Falando em programa a capa dele é de um mal gosto
tremendo, elaborada por Kiko Farkas e segundo o diretor da casa "é mais
uma obra prima", "arquitetura moderna dos anos 70" ou "um
dos cartazes mais bonitos da nossa já alentada coleção de obras primas".
Mais uma vez tenho que discordar de você Joninho, o que vejo é uma capa sem
graça e quem não conhece o título não consegue decifrá-lo.
Ali Hassan Ayache
Sem comentários:
Enviar um comentário