sexta-feira, 18 de outubro de 2013

JUPYRA COM CLICHÊS E CAVALLERIA COM MAFIOSOS NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO.


Crítica de Ali Hassan Ayache no blog de Ópera e Ballet.

 Após umas 300 polêmicas da direção o Theatro Municipal de São Paulo apresentou no dia 15 de Outubro duas óperas do período verista. Jupyra de Antônio Francisco Braga e a mundialmente famosa Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagni. Essa geralmente é apresentada junto da ópera Pagliacci de Leoncavallo. A sua substituição por Jupyra é interessante, uma curiosidade musical que combina com o período histórico.

O que não combina é a qualidade da ópera, Jupyra tem um libreto fraco com ação lenta e sem a menor dinâmica. Trinta minutos iniciais se passam e quase nada acontece e no final a ópera acaba por falta de personagens, morrem quase todos. A música de Antônio Francisco Braga não tem uma grande ária, carece de melodias impactantes e muitas vezes se mostra banal e sem inspiração.

A montagem apresentada abusa dos clichês do índio e da floresta tropical do Brasil colonial. O cenário de Juan Gillermo Nova é interessante, com belas cores e mato por todos os lados. A luz de Pascal Merat realçou a beleza do cenário dando-lhe suntuosidade, os figurinos de Carla Galleri estiveram adaptados ao enredo. A direção de Pier Francesco Maestrini tem soluções razoáveis e tenta dar dinâmica a um enredo engessado com consegue saídas criativas. Não vou cansar você leitor descrevendo-as.



 Cena de Jupyra, foto Internet

 Para encarar o papel de Jupyra escalaram o soprano Angeles Blancas Gulin, a moça mostrou uma voz com timbre escuro e agudos gritados em diversas passagens. Quebrou algumas notas e mostrou-se muitas vezes agressiva. Marcello Vanucci é um tenor que sempre apresenta enorme qualidade vocal e dessa vez não foi diferente, seus agudos brilhantes e seu timbre agradável trouxe solidez ao personagem Carlito. A pequena participação de Marina Considera serviu para provar que a moça tem um futuro como cantora, seu timbre é bonito e sua técnica é sólida. A bela moça pecou no fraseado, mas isso é de fácil correção. Angelo Vecchia cantou de forma convencional e não mostrou nada mais que um barítono comum, no coral do teatro tem muitos que cantam melhor que ele.
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Após um longo intervalo, mas longo mesmo onde o público começa a bater palmas pedindo o início da apresentação tivemos a mais famosa ópera de Mascagni. A Cavalleria Rusticana ambientada no século XX onde desfilam mafiosos parecidos com os capangas de Al Capone foi uma saída interessante que não prejudicou o enredo. Os cenários, figurinos e luz estiveram a contento e harmonizaram com as ideias do diretor.

Angeles Blancas Gulin se transformou após o intervalo, sua voz esteve escura, possante e adequada à personagem. Densidade forte no timbre que capta a essência do Verismo. Atuou e cantou de maneira primorosa. Fernando Portari é um tenor com sólida carreira internacional, cantou um Turiddu de forma mágica, sua voz dispara agudos brilhantes e emotivos. Seu timbre tem um colorido mágico que sempre convence.

O pequeno papel de Lola exige que a cantora mostre em um curto espaço de tempo todo o caráter da personagem. Mulher que traí o marido e é cínica pacas. Adriana Clis consegue esse feito, sua voz escura com agudos potentes, graves quentes e unidos a uma interpretação correta mostraram quem é Lola. Sua presença de palco é exuberante e sedutora, uma Lola na medida certa. Angelo Del Vecchia voltou do intervalo da mesma maneira, convencional e sem pegada.


A Orquestra Sinfônica Municipal esteve com sonoridade e volumes corretos. Victor Hugo Toro fez um bom trabalho com os músicos. Destaque de sempre é o Coral Lírico e dessa vez junto com o Coral Paulistano, as vozes estiveram em ponto de bala. Junções, fusões e extinções que a atual diretoria promove não abalaram os coristas, estes mostraram que cantam muito bem e sempre estiveram equilibrados em todas as vozes.

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