(review in english below)
Eugene Onegin é
uma ópera de PI Tchaikovsky com
libretto de Konstantin Shilovski baseado
no poema de Pushkin. O enredo pode ler-se aqui.
Se a encenação anterior de Carsen na Metropolitan Opera era
de grande beleza, esta não fica atrás. De Fiona
Shaw, importada da English National
Opera, é sóbrea e muito agradável, retratando o ambiente rural russo. A
acção passa-se numa sala da casa de Larina, num salão de baile, no campo e, no
final, em São Petersburgo, noutra sala de baile com umas colunas imponentes, De
todos os cenários talvez o últomo será o menos conseguido. O guarda roupa de Chloe Obolensky é de invulgar bom
gosto.
A direcção musical de Valery
Gerghiev foi excelente e o maestro deu sempre a primazia aos cantores, o
que não acontece frequentemente e é louvável. Por isso a sonoridade musical
soou mais contida em certas partes, mas a interpretação foi muito emotiva.
Que dizer de Anna
Netrebko como Tatiana? Que, mais uma vez, foi insuperável, é já um lugar
comum. Mas vê-la num papel mais contido e introspectivo foi uma novidade para
mim que confirmou as suas qualidades interpretativas de excepção. A voz é
fabulosa, de uma beleza avassaladora, perfeitamente adequada ao papel, com
agudos fáceis e luminosos e pianíssimos audíveis nos locais mais recônditos do
enorme teatro, de arrepiar. Cenicamente foi notável, tanto na postura tímida e
insegura no início como, num contraste total, no beijo final de despedida e
rejeição de Onegin. Um privilégio único ver e ouvir a Netrebko cantando na sua
língua natal, talvez na melhor interpretação a que assisti.
O tenor polaco Piotr
Beczala foi um Lenski também ao mais alto nível interpretativo. Está no seu
máximo esplendor e a voz é de grande beleza tímbrica e sempre bem colocada. O cantor
foi excelente em cena, protagonizando alguns dos momentos mais marcantes do
espectáculo.
Onegin foi interpretado pelo barítono polaco Mariusz Kwiecien. Foi um vilão à altura
da exigência da personagem, com uma assinalável prestação vocal, embora a
potência tenha estado, ocasionalmente, abaixo do desejável. Também teve uma
insuperável presença cénica, ajudada pela sua boa figura.
Quem me surpreendeu pela negativa foi o baixo bielorusso Alexei Tanovitski que foi decepcionante
como Príncipe Gremin. Quando há poucos anos cantou o mesmo papel em São Carlos,
impressionou-me muito positivamente pela qualidade interpretativa. Não sei o
que se terá passado com o cantor que está uma sombra do que foi há poucos anos.
Voz fraca, mal audível, quase sempre fora de tom. Foi uma interpretação
confrangedora e em contraste absoluto com os outros solistas.
Também o tenor John
Graham-Hall fez um Triquet fraco, que mal se ouviu.
Elena Zaremba
(Larina), Larissa Diadkova (Filipyevna)
e Oksana Volkova (Olga),
respectivamente mãe, aia e irmã da Tatiana, ofereceram-nos interpretações de
grande nível.
No computo final, um excelente Eugene Onegin, digno da
abertura da temporada da Metropolitan Opera.
*****
Eugene Onegin, Metropolitan Opera, New York , October 2013
Eugene Onegin is an opera by PI Tchaikovsky with libretto by Konstantin
Shilovski based on the poem by Pushkin. The plot can be read here.
If the
previous Carsen staging at the Metropolitan Opera was of great beauty, the
present one by Fiona Shaw is not far
behind. Imported from the English National Opera, it is sober and very
enjoyable, portraying the Russian rural atmosphere . The action takes place in
a room of Larina’s house, a ballroom, in the field and at the end in St. Petersburg , in
another ballroom with stately columns. From
all of the scenarios perhaps the last one is less successful . The
dresses by Chloe Obolensky are
fabulous.
Musical direction of Valery Gerghiev was always excellent and the conductor gave primacy to singers, which does not happen often and is an excellent option. So the musical sonority sounded less expansive in parts, but the interpretation was very emotional.
What can I say about Anna Netrebko as Tatiana? That, again, she was unsurpassed, is commonplace . But seeing her in a more restrained and introspective role was new to me, and confirmed her exceptional performance qualities. The voice is fabulous, of an overwhelming beauty, perfectly suited to the role, with sharp, bright and easy top notes, and pianissimi audible in the far reaches of the huge theater. Scenically she was remarkable, both in the shy and unsure posture at the beginning, in stark contrast to the final kiss goodbye and rejection of Onegin. A unique privilege to see and hear Netrebko singing in their native language, perhaps her best performance I attended.
Polish tenor Piotr Beczala was a top quality Lenski. He is at the maximum vocal splendor and the timbre is very beautiful and always in tune . The singer was excellent on stage, starring some of the most memorable moments of the show.
Onegin was sung by Polish baritone Mariusz Kwiecien. He was a good villain as required by the character, with a remarkable vocal interpretation, although the strength of the voice has been occasionally below the desirable. He also had an unsurpassed stage presence, helped by his good figure.
Who negatively surprised me was Belarusian bass Alexei Tanovitski which was disappointing as Prince Gremin. When a few years ago he sang the same role in São Carlos Opera House in
Also tenor John Graham-Hall was a weak Triquet, barely heard.
Elena Zaremba ( Larina), Larisa Diadkova ( Filipyevna) and Oksana Volkova ( Olga), respectively mother, companion and sister of Tatiana, offered us great interpretations.
All together, an excellent Eugene Onegin, worthy of the opening of the season at the Metropolitan Opera.
*****
Desta é que eu não estava à espera! Realmente, Tanovitsky foi um Gremin fora de série em S. Carlos - lembro-me muito bem de que foi a cereja do espectáculo e uma surpresa incrível vinda da tribuna. Também tinha lido algures que tinha sido um dos últimos Wotans do anel de Schenk em NY. As observações sobre Kwiecien não me surpreenderam porque já no Don Giovanni em HD tinha ficado com a impressão de que a voz não era muito cheia... Ainda bem que Beczala está em forma! Aquele clip do Rigoletto estava uma miséria.
ResponderEliminarTambém me lembro do Gremin de Tanovitsky em S. Carlos; e também que me surpreendeu negativamente no Don Carlo do Met há uns anos. Estranho!
ResponderEliminarCaro Fanático_Um:
ResponderEliminarEsperemos que, aquando da transmissão HD (a ver na Gulbenkian), a qualidade dos principais protagonistas se mantenha tão elevada como a que aqui dá nota.
Estou muito curioso de ouvir da Anna Netrebko cantar a Tatyana (sei que existe um cd de árias russas em que o faz, mas não conheço) e a incarnar o papel. E também o tenor Piotr Beczala, cuja voz e panache muito admirei no Rigoletto “mafioso” da temporada passada do MET.
Esperemos também que o Princípe Gremin tenha uma noite mais inspirada, pois parece ter potencial para isso.
Suponho que os problemas de volume sonoro de algumas vozes irão “desaparecer” aquando da transmissão, pois parece-me que eles manipulam bastante o som, especialmente no balanço entre vozes e orquestra.
Uma provocação: Será Onegin um vilão? Não será um egotista infeliz, uma vítima da sua própria indolência e ausência de objectivos, que se entrega ao mal de vivre?
E já agora, em termos de gravações desta ópera, qual ou quais as suas preferidas? Conhece a dirigida por Khaikin em 1956, com a Tatyana de Galina Vishnevskaya e o Lenski de Sergei Lemeshev?
Cumprimentos,
J. Baptista