domingo, 5 de setembro de 2010

Plácido Domingo como Rigoletto em Mantova (Mantua) - 2º acto

Simplesmente genial esta produção!!!

Comecemos com observação jocosa: achei fantástico como alguém que acorda como o Duque acordou consegue cantar como ele cantou, sem um catarrozinho matinal, sem uma tossezinha de limpeza... Está bem que é jovem mas mesmo assim… Claro que brinco e fico com calos nas palmas das mãos por aplaudir este Vittorio Grigolo. Mais uma vez soberbo, exponencialmente lírico, perfeito. Só espero que não venha a seguir o caminho de Villazon…

Plácido Domingo ao seu nível. Talvez um tom mais sarcástico no “Ch’hai di nuovo, buffon?” seja recomendável. Mas espelha muito bem o drama de Rigoletto. Do mesmo modo que referi nas minhas crítica do Simão, a margem de manobra para a perfeição é curta mas com maior envolvimento representativo do papel chegaremos por certo a um Rigoletto em palco semelhante ao Simão de Londres e Madrid. Alguém o ouviu em alto e bom som a limpar a garganta perto do final ou fui só eu? Que saudades do final do primeiro acto de A Valquíria… fazia o mesmo…

Não sei se o meu pâncreas é capaz de produzir suficiente insulina para controlar o doce que é Julia Novikova. É simplesmente surreal a capacidade vocal da jovem. E a beleza é cativante. Reforço ainda mais o que ontem disse. Este evento vai projectá-la ainda mais. Até agora, das Catedrais dos Fanáticos, é em Viena que mais tem e vai cantar esta temporada. Adivinha-se outros grandes palcos num futuro recente.

O ambiente local é maravilhoso e credível.

Esperemos o último acto.

2 comentários:

  1. Caro wagner_fanatic,
    Claro que me rendo às qualidades cénicas de Placido Domingo. Como referi ontem, acho que é um excelente actor, seguramente um dos melhores e mais completos que pisam actualmente palcos de ópera e que canta como todos sabemos. O meu problema, talvez por conhecer bem e ter ouvido muitas vezes esta ópera, é a voz de tenor, ou melhor, a falta daquele barítono mais grave e forte nas partes que o exigem. Confesso que a ária “cortigiani vil razza dannata” ficou aquém das minhas elevadas expectativas, pela razão que apontei. Não quero estar a escrever comparações (são inevitáveis), mas há poucos meses vi um Rigoletto em que essa capacidade vocal foi um dos maiores trunfos.
    Contudo, acho que Domingo se pode permitir cantar apenas o que quiser e como quiser. Imaginemo-lo no papel de Duque nesta produção.Mesmo com voz mais ajustada, já não tem idade para fazer a personagem credível.. E credibilidade é coisa que não lhe falta.

    Vittorio Grigolo e Julia Novikova foram excepcionais. Quando cantores deste calibre conseguem também representar e têm boa figura, perfeitamente ajustada ao papel, a magia impregna o espectáculo. Que maravilha!

    Confesso que não ouvi o Domingo a limpar a garganta mas oiço muito frequentemente uma quebra do som ambiente nos momentos em que os intérpretes não cantam, ainda que momentos muito breves (esta é a melhor maneira que consigo descrever estes silêncios) que perturbam a audição pois dão a entender que o som vai falhar. Também não sei se será um problema local meu ou se o também estão a notar.
    E aguardemos mais logo o desfecho, para voltarmos a mais umas notas no blogue.

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  2. Caro FanaticoUm,

    É claro que comparações não são possíveis e nunca poderemos esperar que Domingo seja um barítono. Mas tal como ele o diz, não o pretende ser. Canta Rigoletto à Domingo. Para já estou a gostar. Recordo efectivamente que quando entrei no mundo da Ópera comecei a ouvir Wagner com os grandes do passado e causou-me alguma estranheza ouvir Domingo como Parsifal e Siegmund, quer pelo alemão, quer pelo sentido lírico próprio que transmitia às personagens. Mas hoje, ouvindo tudo o que vou ouvindo, ainda não escutei um Parsifal que me agradasse totalmente e ainda espero um Siegmund que o suplante (talvez o Kaufmann em NY o consiga). É claro que estes papéis são para tenor e não barítono...

    Ainda não vi nenhum Rigoletto ao vivo mas tenho como eleição das gravações clássicas disponíveis, a voz e interpretação de Sherill Milnes na gravação de Bonynge com Sutherland e Pavarotti. Os meus comentários sobre a interpretação de Domingo nestas duas entradas do blog, têm a ver com esse registo que considero impecável e memorável. Claramente a sensação de ouvir Domingo em papéis onde temos referências diferentes pode causar alguma resistência ao gosto. Como Wagner é o meu "território" preferencial, talvez sinta a diferença menos marcadamente.

    Na mesma gravação, o Sparafucile de Martti Talvela também em nada se pode comparar a Raimondi...

    Os momentos de corte de som também os notei ontem, não em relação às vozes mas em relação à parte orquestral. Hoje, como vi em televisão com menor qualidade não me foi possível identificar se se mantinham.

    Cumprimentos musicais.

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