(Review in English below)
A ópera de R Wagner Tannhäuser esteve em cena na Ópera
Nacional de Amsterdão, numa encenação de Christof Loy, com cenografia de Johannes Leiacker, guarda roupa de
Ursula Renzenbrink, luzes de Olaf Winter e dramaturgia de Klaus Bertisch.
A acção original passa-se
em Wartburg (Século XIII) e conta a história do cavaleiro trovador Tannhäuser
que é incapaz de escolher entre o amor profano, carnal (Venus) e o amor
sagrado, casto (Elisabeth). Depois da belíssima abertura, a ópera começa com um
bacanal no monte de Vénus, perto de Wartburg, onde a deusa mantinha os
cavaleiros em grande deleite carnal.
Loy traz a acção
para um clube masculino do início do século passado. Há um salão com lustres
grandes, um piano a meio, alguns sofás, uma larga passagem à esquerda e um arco
ao centro que dá acesso a outra sala com portas para além das quais pouco se
vê. Os trovadores estão vestidos de casaca e os membros do coro de fato e laço
preto. Venus tem um longo vestido negro. No bacanal entram bailarinas vestidas
a rigor e, com o desenrolar frenético da acção, alguns homens e mulheres vão-se
despindo até ao nú integral. É uma das partes mais bem conseguidas da
encenação.
Tannhäuser
regressa a Wartburg encontrando os seus amigos trovadores de longa data.
Elisabeth, sua antiga amada, fica feliz com o regresso. O cenário mantem-se o
mesmo até ao final. Elisabeth tem um longo vestido branco. Num concurso de canto
sobre a natureza do amor os trovadores elogiam o amor puro, mas Tannhäuser
defende Venus e o amor carnal. Todos ficam chocados e condenam-no, excepto
Elisabeth que evoca a virgem Maria. Tannhäuser decide ir com os peregrinos a
Roma para obter o perdão papal, sem sucesso. Wolfram, eterno apaixonado por
Elisabeth, antevê o seu fim trágico. Tannhäuser regressa e encontra finalmente
a redenção quando vê que Elisabeth sacrificara a vida. Nesta encenação, os
peregrinos entram pela passagem lateral, há o reaparecimento muito precoce de
Venus (em todo o 3º acto), o ambiente do monte de Venus tenta recrear-se e
todos obtêm a redenção, excepto a Elisabeth.
É uma encenação
vistosa, a preto e branco, mas que não faz justiça plena à obra de Wagner.
O maestro Marc Albrecht dirigiu superiormente a Nederlands Philharmonisch Orkest.
O Coro
da De Nationale Opera, sobretudo o
masculino, esteve ao mais alto nas várias e magníficas intervenções.
Os solistas
principais foram globalmente muito bons, mas com diferenças. A Venus foi
interpretada pela mezzo russa Ekaterina
Gubanova. Esteve muito bem, a voz é grande, agradável e sempre sobre a
orquestra. Contudo, não transmitiu a sensualidade libidinosa que a personagem
exige.
O Heinrich (Tannhäuser)
foi o tenor alemão Daniel Kirch. É
um papel muito difícil e o cantor fez o que pode. Com voz algo monocórdica, foi
o solista menos marcante da noite, deixando-se afogar ocasionalmente pela
orquestra.
O baixo
dinamarquês Stephen Milling foi um Hermann,
senhor da Turíngia, de grande qualidade. Tem uma voz bonita, potente, sempre
afinada e teve uma notável presença cénica.
A Elisabeth,
interpretada pela soprano russa Svetlana
Aksenova foi uma das melhores da noite, muito expressiva em palco e com uma
voz forte, limpa, sempre afinada e sobre a orquestra. Começou logo bem com a
ária Dich teure Halle e assim se
manteve até ao final.
O barítono alemão
Björn Bürger foi o Wolfram von
Eschenbach. O melhor interprete da noite, teve tudo o que se pode esperar desta
personagem. Um cantor jovem e com uma excelente figura. Voz magnífica, de uma
beleza invulgar, afinação perfeita e uma interpretação muito emotiva. Wagner
reservou-lhe a mais bela música da ópera, mas Bürger esteva à altura e fez-lhe
justiça. Todas as intervenções foram muito boas mas a mais conhecida, O du mein holder Abendstern, foi
comovente.
Os restantes
solistas foram de grande nível, Attilio
Glaser (Walter), Lucas van Lierop
(Heinrich), Eric Ander (Reinmar) e Kay Stiefermann (Biterolf, este com uma
voz potente mas algo agreste). Termino com um grande elogio à soprano Julietta Aleksanyan que foi excelente
como jovem pastor!
Apesar da
encenação e de alguns pontos menos favoráveis que referi referentes às
interpretações vocais, foi um espectáculo que ficará na minha memória por três
componentes extraordinárias, a Orquestra, o Coro masculino e o Wolfram (Björn Bürger).
*****
TANNHÄUSER,
De Nationale Opera, Amsterdam, April 2019
R Wagner’s opera Tannhäuser was on stage at the
Amsterdam National Opera, staged by Christof
Loy, with scenography by Johannes Leiacker, dresses by Ursula Renzenbrink, lights
by Olaf Winter and dramaturgy by Klaus Bertisch.
The
original action takes place in Wartburg (13th century) and tells the story of
the troubadour knight Tannhäuser who is unable to choose between carnal,
profane love (Venus) and sacred, chaste love (Elisabeth). After the beautiful
overture, the opera begins with a bacchanal on the mount of Venus, near
Wartburg, where the goddess kept the knights in great carnal delight.
Loy brings the
action to a male club from the beginning of the last century. There is a hall
with large chandeliers, a piano in the middle, some sofas, a large passage on
the left and an archway in the center that gives access to another room with
doors beyond which little is seen. The troubadours are dressed in their formal
suits and the members of the choir in black suites and black bow. Venus has a
long black dress. In the bacchanal there are classical dancers dressed in rigor
and, with the frenetic unfolding of the action, some men and women go
undressing to the full nude. It is one of the most accomplished parts of the
staging.
Tannhäuser
returns to Wartburg meeting his long-standing troubadour friends. Elisabeth,
her old beloved, is happy to know he is back. The scenario remains the same
until the end. Elisabeth has a long white dress. In a singing contest about the
nature of love the troubadours praise pure love, but Tannhäuser defends Venus
and carnal love. Everyone is shocked and condemn him except Elisabeth who
evokes the Virgin Mary. Tannhäuser decides to go with the pilgrims to Rome to
obtain the Pope´s pardon, without success. Wolfram, eternally in love with
Elisabeth, foresees her tragic end. Tannhäuser returns and finds redemption at
last when he sees that Elisabeth had sacrificed her life. In this production,
there is a very early reappearance of Venus (throughout the whole 3rd act), the
atmosphere of the mount of Venus tries to be recreated, and everyone obtains
redemption, except Elisabeth.
It is a
showy, black and white production, but does not do full justice to Wagner's
work.
Maestro Marc Albrecht directed the Nederlands Philharmonisch Orkest. The Choir of De Nationale Oper, especially
the male choir, was sublime in several magnificent interventions.
The main
soloists were overall very good, but with differences. Venus was performed by Russian
mezzo Ekaterina Gubanova. She was
very well, the voice is great, pleasant and always over the orchestra. However,
she did not convey the libidinous sensuality that the character demands.
Heinrich
(Tannhäuser) was the German tenor Daniel
Kirch. It's a very difficult role and the singer has done what he can. Not
bad, he was the least striking soloist of the evening, occasionally drowning in
the orchestra.
Danish bass
Stephen Milling was a high-quality
Hermann, Lord of Thuringia. He has a beautiful, powerful voice, always in tune
and has a remarkable stage presence.
Elisabeth
was Russian soprano Svetlana Aksenova.
She was one of the best of the night, very expressive on stage and with a
strong and always tuned voice and over the orchestra. She began very well with
the aria Dich teure Halle and so she
remained until the end.
German
baritone Björn Bürger was Wolfram von
Eschenbach. The best interpreter of the night, he had everything that can be
expected for this character. A young singer with an excellent figure.
Magnificent voice, of an unusual beauty, perfect tuning and a very emotional
interpretation. Wagner reserved to him the most beautiful music of the opera,
and Bürger did him justice. All the interventions were very good, but the best
known aria, O du mein holder Abendstern,
was moving.
The other soloists
were also good, Attilio Glaser
(Walter), Lucas van Lierop
(Heinrich), Eric Ander (Reinmar) and
Kay Stiefermann (Biterolf, this one
with a powerful but somewhat harsh voice). I end with a great compliment to the
young soprano Julietta Aleksanyan
who was excellent as a young shepherd!
Despite the
staging and a few less favorable points I mentioned regarding vocal
performances, it was a performance that will remain in my memory for three
extraordinary components, the Orchestra, the Male Choir, and Wolfram (Björn
Bürger).
*****
Sem comentários:
Enviar um comentário