terça-feira, 8 de janeiro de 2019

LA TRAVIATA, Viena, Staatsoper, Setembro / September 2018


(review in English below)

La Traviata de Verdi é uma das óperas mais vezes apresentada e uma das minhas favoritas por várias razões. Foi a primeira que vi ao vivo e que me despertou a paixão pela ópera, a temática é muito próxima da minha área profissional, a música é de grande beleza, quando bem interpretada pela orquestra e pelos cantores.

Já vi inúmeras encenações. Gosto particularmente das convencionais e, de entre estas, a da Royal Opera House de Londres, velhinha mas ainda em cena, é imbatível. Quando os encenadores resolvem quebrar a tradição e modernizar, ou conseguem fazer uma obra prima, como foi o caso de Willy Decker na produção de Salzburgo (com a Netrebko e o Villazon) que tive oportunidade de ver na Metropolitan Opera em 2017, ou o resultado é, frequentemente, muito mau.




Infelizmente, foi esse o caso na Wiener Staatsoper. A encenação de Jean-François Sivadier é feia, escura e nada eficaz. O palco está quase sempre vazio, há umas mesas de madeira e cadeiras que vão mudando de posição, vários figurantes (e membros do coro e cantores) que vão deambulando pelo palco, e uns painéis de pano pintado que representam ou nuvens ou plantas. A cama do 2º acto é um pano no chão com 2 almofadas e no último é só uma almofada. A Violeta começa logo a ser consultada e tratada pelo Dr. Grenvil na abertura da ópera e quando morre o palco está totalmente vazio. Poderá haver quem faça leituras mais intelectualizadas deste tipo de encenações, mas não gosto porque acho que prejudicam o espectáculo.



Já em relação à interpretação musical, tudo foi diferente. A Orquestra da Ópera Estatal de Viena foi superiormente dirigida pelo maestro Evelino Pidò que fez um excelente trabalho. A abertura do último acto foi sublime no tempo lento que imprimiu à orquestra, o que não acontece muitas vezes.



Albina Shagimuratova foi uma Violeta que começou à defesa mas, a partir do 2º acto, foi vocalmente deslumbrante. Habituada a papéis de soprano de coloratura, os agudos foram aparentemente fáceis e fabulosos, sem perder qualquer qualidade e sem estridências. Mas a interpretação também impressionou pela componente mais dramática. Apesar de jovem, é pena que a sua figura não seja a de uma “tísica” convencional, mas nesta encenação nem isso conta.



O Alfredo de Pavel Breslik foi também de grande categoria. O tenor junta tudo neste papel, voz bonita e bem timbrada, sempre bem audível, grande capacidade interpretativa e excelente figura de aparência jovem.



Também o barítono Simon Keenlyside esteve ao melhor nível, interpretando de forma convincente, cénica e vocal, o cruel  Giorgio Germont, pai do Alfredo. Ainda bem que parecem ultrapassados os problemas vocais que afectaram gravemente o cantor.



Nos papéis secundários uma nota muito positiva para o baixo Dan Paul Dumitrescu como Dr. Grenvil  e para a mezzo Bongiwe Nakani como Annina, 



e menos boa para Szilvia Vörös, uma Flora de voz estridente e Gabriel Bermúdez que foi quase inaudível como Baron Douphol.  







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LA TRAVIATA, Wiener Staatsoper, September 2018

La Traviata by Verdi is one of the most often performed operas and one of my favorites for several reasons. It was the first opera I saw live and that awakened me for the passion for the opera, the theme is very close to my professional area, the music is of great beauty when well interpreted by the orchestra and the singers.

I've seen countless stagings. I especially like the conventional ones, and among them, the one seen at Royal Opera House in London, old but still on stage, is unbeatable. When the directors decide to break the tradition and modernize, or they can do a masterpiece, as was the case of Willy Decker in the Salzburg production (with Netrebko and Villazon) that I had the chance to see at the Metropolitan Opera in 2017, or the result is often very bad.

Unfortunately, this was the case at Wiener Staatsoper. The staging by Jean-François Sivadier is ugly, dark and ineffective. The stage is almost always empty, there are wooden tables and chairs, various extras (and choir members and singers) wandering around the stage, and panels of painted cloth representing either clouds or plants. The bed of the 2nd act is a cloth on the floor with 2 cushions and in the last one is only one cushion. Violetta begins to be consulted and treated by Dr. Grenvil at the opening of the opera and when she dies, the stage is totally empty. There may be some who make more intellectual readings of this kind of stagings, but I do not like them because I think they harm the show.

But in relation to the musical interpretation, everything was different. The Orchestra of the State Opera of Vienna was superiorly directed by conductor Evelino Pidò who did an excellent work. The opening of the last act was sublime in the slow tempi that he obtained from the orchestra, which does not happen many times.

Albina Shagimuratova was a Violetta who started with contention but, from the 2nd act, she was vocally dazzling. Accustomed to coloratura soprano roles, the top notes were apparently easy and fabulous, without losing any quality and no stridencies. But the interpretation also impressed by the more dramatic component. Although young, it is a pity that her figure is not that of a conventional "tuberculous patient", but in this staging, this does not even count.

Alfredo by Pavel Breslik was also of great category. The tenor has it all for this role, beautiful and well-timbre voice, always audible, great interpretive ability and good young-looking figure.

Also baritone Simon Keenlyside was at top level, interpreting convincingly, on stage and vocal, the cruel Giorgio Germont, Alfredo's father. Thankfully, the vocal problems that have gravely affected the singer seem to have been overcome.

In the supporting roles a very positive mark for bass Dan Paul Dumitrescu as Dr. Grenvil and for mezzo Bongiwe Nakani as Annina, and less good for Szilvia Vörös, a Flora of strident voice and fro Gabriel Bermúdez who was almost inaudible as Baron Douphol.

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