(review in English below)
O Navio Fantasma (Der
Fliegende Holländer) é uma das primeiras óperas de R. Wagner, escrita
quando o compositor tinha 28 anos. É uma ópera romântica que, como outras que
lhe seguiram, foi inspirada numa lenda nórdica. A música é belíssima e de
grande intensidade dramática.
No libretto original o Holandês errante
está condenado a navegar eternamente pelos mares, vindo a terra uma vez de sete
em sete anos, na costa norueguesa, em busca de uma mulher que lhe seja fiel, o
que nunca aconteceu. Daland, um capitão norueguês, em troca de ouro,
oferece-lhe a mão da filha, Senta, que é amada por Erik, mas que jura
fidelidade ao Holandês. O final é trágico com o Holandês (julgando-se traído) a
partir e naufragar e Senta a suicidar-se, saltando de um rochedo para o mar.
A encenação de Peter Konwitschny é original e curiosa. Tudo o que se refere ao holandês e
seus homens é muito clássico, passado no século XVII, e o que se refere a
Daland e restantes passa-se na actualidade. É bizarro mas interessante. No
1º acto, sombrio, não se vêem os barcos, só as escadas de desembarque e
as diferenças das personagens são nos trajes, com os marinheiros do navio
fantasma vestidos como os retratados num quadro de Rembrandt.
(Fotografias / Photos: Bayerische Staatsoper)
O 2º acto é um contraste total, passa-se um ginásio actual cheio e luz e
cor e as mulheres em vez de fiarem exercitam-se em bicicletas. A Senta aparece
com um quadro dessa época e o holandês entra vestido como num quadro flamengo.
O 3º acto passa-se num bar novamente sombrio no porto. À direita estão
devidamente trajados os marinheiros do navio fantasma com os seus exuberantes
chapéus, e à esquerda os outros, em trajos actuais. A interacção entre ambos
não corre bem. Quando o holandês decide partir, a Senta mata-se fazendo
explodir o bar, já sem os marinheiros do holandês. Fica uma escuridão total no
palco e ouve-se a parte final da ópera, longe, como se estivesse a ser tocada
no navio a afundar-se. A ideia é original, mas musicalmente não resulta porque
se perde a imponência do belíssimo final da ópera.
O maestro Bertrand de Billy não
se comparou com o Petrenko no Parsifal visto no dia anterior. Fez soar
frequentemente a orquestra em forte,
não se preocupando com os cantores.
O Daland do Franz-Josef Selig esteve em grande estilo,
cantando e interpretando o papel de forma soberba.
O jovem tenor Dean Power foi um timoneiro muito agradável e com excelente
presença cénica.
Wolfgang Koch foi um Holandês ao mais
alto nível, de voz bonita, imponente e sempre sobre a orquestra. Em palco
conservou uma postura sinistra e intimidatória, adequada à personagem.
O Erik, tenor Tomislav Muzek, foi
o menos impressionante dos homens. Teve uma boa prestação teatral e cantou com
qualidade, timbre agradável, mas que foi abafado pela orquestra algumas vezes.
Okka von der Damerau (que canta muito por
aqui) foi uma Mary que cumpriu sem deslumbrar.
A grande surpresa foi a substituta no papel de Senta - a soprano russa Elena Stikhina que não conhecia. Um
colosso avassalador!! Do melhor que tenho ouvido em potência e beleza vocal. Nem
o Bertrand de Billy, com a orquestra em fortíssimo, a conseguiu afogar! Um nome
a ter em conta para estes papéis de soprano dramático. Foi absolutamente fabulosa. E o publico local,
conhecedor, foi ao rubro nos aplausos que lhe dedicou, como raramente tenho
presenciado.
Uma nota final de
júbilo para as excelentes interpretações da Orquestra, do Coro e Extra-coro da
Ópera Estatal da Baviera.
*****
DER
FLIEGENDE HOLLÄNDER, Bayerische Staatsoper, Munich, July 2018
The Flying Dutchman (Der Fliegende Holländer) is one of the first
operas of R. Wagner, written when
the composer was 28 years old. It is a romantic opera that, like others that
followed, was inspired by a Nordic legend. The music is beautiful and of great
dramatic intensity.
In the
original libretto the wandering Dutchman is doomed to sail eternally through
the seas, coming ashore once every seven years, on the Norwegian coast, in
search of a woman who is faithful to him, which never happened. Daland, a
Norwegian captain, in exchange for gold, offers him the hand of his daughter,
Senta, who is loved by Erik, but who vows fidelity to the Dutchman. The ending
is tragic with the Dutchman (judged to be betrayed) to depart and sink and
Senta to commit suicide, jumping from a cliff to the sea.
The staging
of Peter Konwitschny is original and
curious. All that refers to the Dutchman and his men is very classic, around
the seventeenth century, and what refers to Daland and others is nowadays. It's
bizarre but interesting. In the first act, darker, we do not see the ships,
only the landing ladders, and the differences of the characters are in the
costumes, with the sailors of the Dutchman ship dressed like those portrayed in
a painting of Rembrandt.
The 2nd act
is a total contrast, a current gym full and light and color, and women are
spinning on bicycles. Senta appears with an ancient portrait of the Dutchman
and he enters dress like in a Flemish painting.
The 3rd act
happens in a bar in the port, to the right the sailors of the Dutchman ship dressed
in black with exuberant hats, and at the left the others in current modern clothes.
The interaction between the two does not go well. When the Dutchman decides to
leave, Senta kills herself making the bar explode, already without the sailors
of the Dutchman. There is a total darkness on the stage and the final part of
the opera is heard, as if it were being played by the sinking ship. The idea is
original, but musically it does not work because the splendour of the final of
the opera is lost.
Bertrand de Billy's musical direction did not compare to
Petrenko’s in Parsifal the day before. He often sounded the orchestra forte, not caring about the singers.
Franz-Josef Selig's Daland was excellent, singing and playing
the role in a superb way.
Young tenor
Dean Power was a very pleasant
helmsman with an excellent stage presence.
Wolfgang Koch was a Dutchman at the top level, with beautiful,
imposing voice and always over the orchestra. On stage he kept a sinister and
intimidating behaviour, appropriate to the character.
Erik, tenor
Tomislav Muzek, was the least
impressive of men. He had a good theatrical performance and sang with quality,
nice timbre, but that was drowned by the orchestra a few times.
Okka von der Damerau (who sings FREQUENTLY here) was a correct
but not impressive Mary.
The big
surprise was the substitute in the role of Senta – Russian soprano Elena Stikhina that I did not know. An
overwhelming colossus!! The best I've heard in vocal power and beauty. Not even
Bertrand de Billy, with the orchestra in forte,
managed to drown her voice! A name to take into account, for these dramatic
soprano roles. She was absolutely fabulous. And the local knowledgeable public,
was crazy in the applause dedicated to her as I have rarely witnessed.
A final
note for the excellent performances of the Orchestra,
the Choir and Extra-choir of the Bavaria
State Opera.
*****
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