quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

DER FLIEGENDE HOLLÄNDER, Bayerische Staatsoper, Munique / Munich, Julho / July 2018


(review in English below)

O Navio Fantasma (Der Fliegende Holländer) é uma das primeiras óperas de R. Wagner, escrita quando o compositor tinha 28 anos. É uma ópera romântica que, como outras que lhe seguiram, foi inspirada numa lenda nórdica. A música é belíssima e de grande intensidade dramática.


No libretto original o Holandês errante está condenado a navegar eternamente pelos mares, vindo a terra uma vez de sete em sete anos, na costa norueguesa, em busca de uma mulher que lhe seja fiel, o que nunca aconteceu. Daland, um capitão norueguês, em troca de ouro, oferece-lhe a mão da filha, Senta, que é amada por Erik, mas que jura fidelidade ao Holandês. O final é trágico com o Holandês (julgando-se traído) a partir e naufragar e Senta a suicidar-se, saltando de um rochedo para o mar.

A encenação de Peter Konwitschny é original e curiosa. Tudo o que se refere ao holandês e seus homens é muito clássico, passado no século XVII, e o que se refere a Daland e restantes passa-se na actualidade. É bizarro mas interessante. No 1º acto, sombrio, não se vêem os barcos, só as escadas de desembarque e as diferenças das personagens são nos trajes, com os marinheiros do navio fantasma vestidos como os retratados num quadro de Rembrandt.

(Fotografias / Photos: Bayerische Staatsoper)





O 2º acto é um contraste total, passa-se um ginásio actual cheio e luz e cor e as mulheres em vez de fiarem exercitam-se em bicicletas. A Senta aparece com um quadro dessa época e o holandês entra vestido como num quadro flamengo.




O 3º acto passa-se num bar novamente sombrio no porto. À direita estão devidamente trajados os marinheiros do navio fantasma com os seus exuberantes chapéus, e à esquerda os outros, em trajos actuais. A interacção entre ambos não corre bem. Quando o holandês decide partir, a Senta mata-se fazendo explodir o bar, já sem os marinheiros do holandês. Fica uma escuridão total no palco e ouve-se a parte final da ópera, longe, como se estivesse a ser tocada no navio a afundar-se. A ideia é original, mas musicalmente não resulta porque se perde a imponência do belíssimo final da ópera.






O maestro Bertrand de Billy não se comparou com o Petrenko no Parsifal visto no dia anterior. Fez soar frequentemente a orquestra em forte, não se preocupando com os cantores.



O Daland do Franz-Josef Selig esteve em grande estilo, cantando e interpretando o papel de forma soberba.



O jovem tenor  Dean Power foi um timoneiro muito agradável e com excelente presença cénica.



Wolfgang Koch foi um Holandês ao mais alto nível, de voz bonita, imponente e sempre sobre a orquestra. Em palco conservou uma postura sinistra e intimidatória, adequada à personagem.



O Erik, tenor Tomislav Muzek, foi o menos impressionante dos homens. Teve uma boa prestação teatral e cantou com qualidade, timbre agradável, mas que foi abafado pela orquestra algumas vezes.



Okka von der Damerau (que canta muito por aqui) foi uma Mary que cumpriu sem deslumbrar.



A grande surpresa foi a substituta no papel de Senta - a soprano russa Elena Stikhina que não conhecia. Um colosso avassalador!! Do melhor que tenho ouvido em potência e beleza vocal. Nem o Bertrand de Billy, com a orquestra em fortíssimo, a conseguiu afogar! Um nome a ter em conta para estes papéis de soprano dramático. Foi  absolutamente fabulosa. E o publico local, conhecedor, foi ao rubro nos aplausos que lhe dedicou, como raramente tenho presenciado.





Uma nota final de júbilo para as excelentes interpretações da Orquestra, do Coro e Extra-coro da Ópera Estatal da Baviera.









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DER FLIEGENDE HOLLÄNDER, Bayerische Staatsoper, Munich, July 2018

The Flying Dutchman (Der Fliegende Holländer) is one of the first operas of R. Wagner, written when the composer was 28 years old. It is a romantic opera that, like others that followed, was inspired by a Nordic legend. The music is beautiful and of great dramatic intensity.

In the original libretto the wandering Dutchman is doomed to sail eternally through the seas, coming ashore once every seven years, on the Norwegian coast, in search of a woman who is faithful to him, which never happened. Daland, a Norwegian captain, in exchange for gold, offers him the hand of his daughter, Senta, who is loved by Erik, but who vows fidelity to the Dutchman. The ending is tragic with the Dutchman (judged to be betrayed) to depart and sink and Senta to commit suicide, jumping from a cliff to the sea.

The staging of Peter Konwitschny is original and curious. All that refers to the Dutchman and his men is very classic, around the seventeenth century, and what refers to Daland and others is nowadays. It's bizarre but interesting. In the first act, darker, we do not see the ships, only the landing ladders, and the differences of the characters are in the costumes, with the sailors of the Dutchman ship dressed like those portrayed in a painting of Rembrandt.

The 2nd act is a total contrast, a current gym full and light and color, and women are spinning on bicycles. Senta appears with an ancient portrait of the Dutchman and he enters dress like in a Flemish painting.

The 3rd act happens in a bar in the port, to the right the sailors of the Dutchman ship dressed in black with exuberant hats, and at the left the others in current modern clothes. The interaction between the two does not go well. When the Dutchman decides to leave, Senta kills herself making the bar explode, already without the sailors of the Dutchman. There is a total darkness on the stage and the final part of the opera is heard, as if it were being played by the sinking ship. The idea is original, but musically it does not work because the splendour of the final of the opera is lost.

Bertrand de Billy's musical direction did not compare to Petrenko’s in Parsifal the day before. He often sounded the orchestra forte, not caring about the singers.

Franz-Josef Selig's Daland was excellent, singing and playing the role in a superb way.

Young tenor Dean Power was a very pleasant helmsman with an excellent stage presence.

Wolfgang Koch was a Dutchman at the top level, with beautiful, imposing voice and always over the orchestra. On stage he kept a sinister and intimidating behaviour, appropriate to the character.

Erik, tenor Tomislav Muzek, was the least impressive of men. He had a good theatrical performance and sang with quality, nice timbre, but that was drowned by the orchestra a few times.

Okka von der Damerau (who sings FREQUENTLY here) was a correct but not impressive Mary.

The big surprise was the substitute in the role of Senta – Russian soprano Elena Stikhina that I did not know. An overwhelming colossus!! The best I've heard in vocal power and beauty. Not even Bertrand de Billy, with the orchestra in forte, managed to drown her voice! A name to take into account, for these dramatic soprano roles. She was absolutely fabulous. And the local knowledgeable public, was crazy in the applause dedicated to her as I have rarely witnessed.

A final note for the excellent performances of the Orchestra, the Choir and Extra-choir of the Bavaria State Opera.

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