(Text in English below)
O Museu Victoria and Albert, em
colaboração com a Royal Opera House
de Londres apresentaram uma fabulosa exposição designada “Opera: Paixão, Poder e Política”.
Nela são
abordados, de forma não exaustiva, os 400 anos de história da ópera, recorrendo
a sete óperas e cidades onde foram pela primeira vez apresentadas, salientando
os aspectos culturais, sociológicos e políticos da época.
São-nos
fornecidos auscultadores que nos permitem ouvir extractos de cada uma das
óperas em cada sala temática, que reproduzem automaticamente os trechos
musicais adequados ao local da exposição onde nos encontramos, sem haver
necessidade de qualquer manipulação do dispositivo.
Para além do
canto (ouvido nos auscultadores), essencial na exposição e a essência da ópera,
é-nos oferecida a possibilidade de vermos instrumentos musicais da época, partituras,
trajos, filmes, cartazes, pinturas, cenários e outros objectos que marcaram as
óperas e as cidades retratadas.
A exposição
inicia-se em Veneza com a ópera de Claudio Monteverdi L’incoronazione di Poppea. Ouve-se o dueto final. Para além de
instrumentos da época, há um modelo de uma cortesã veneziana em tamanho
natural, vestida de escarlate. Enquanto ouvimos o som característico, vemos um
cravo em que as superfícies reproduzem os padrões dos tetos dos palácios
renascentistas venezianos de então.
Segue-se Londres e a ópera Rinaldo de George Frideric
Handel. Um dos pontos altos da exposição é uma réplica de um teatro barroco
onde uma caravela atravessa o mar tempestuoso, vendo-se também as sereias,
enquanto se ouve o seu coro (Il vostro
maggio, por Catherine Bott e Ana-Maria Rincon). Ainda nesta sala, ouvem-se
árias magníficas, incluindo o lamento Lascia
ch’io pianga mia cruda sorte numa interpretação superlativa de Cecilia
Bartoli como Almirena, e a ária de bravura Venti,
turbini, prestate também numa interpretação marcante de David Daniels como
Rinaldo, um contra-tenor (na ausência de um castrato).
Viena é a cidade para a ópera As Bodas de
Fígaro de Wolfgang Amadeus Mozart.
Num ecran é projectado o belíssimo sexteto do 3º Acto, que também ouvimos.
Salienta-se a importância da ópera, um espelho da sociedade da época, onde
Mozart e o libretista Lorenzo da Ponte, pela primeira vez, colocam criados e
patrões ao mesmo nível, questionando os privilégios dos últimos na Viena
pujante de então.
A ópera Nabucco de Giuseppe Verdi é a escolha para Milão e constituiu um hino à luta pela independência de Itália, no
palco e fora dele, aqui bem ilustrada. O belo coro dos escravos hebreus Va pensiero sull’ali dorati domina mas
temos também a oportunidade de ouvir Maria Callas como Abigaille, terminando
com disparos de canhão enquadrados por objectos visuais. Outro ponto alto da
exposição é a fotografia de 150 teatros de ópera italianos, vistos do palco.
Para Paris, com belos quadros de Degas e
Manet, foi escolhida a ópera Tannhäuser de
Richard Wagner estreada na cidade em
1861 (já havia sido apresentada em Dresden anteriormente). A mudança do balanço
convencional entre recitativos e árias para melodia contínua, a introdução de
temas musicais (leitmotive) que
identificam personagens e emoções, e a ruptura com a tradição da Grand Opera que obrigava a 4 ou 5 actos
e a um ballet longo foram algumas das convenções quebradas por Wagner, que
chocaram a elite parisiense. Outro momento bem conseguido é a apresentação
simultânea em 8 ecrans televisivos de várias produções recentes da ópera,
nomeadamente a orgia (e música) do Venusberg,
de cariz sexual marcada.
A Salome de Richard Strauss é a ópera para Dresden,
onde foi estreada em 1905. Entre outros, são apresentados estudos de Freud
sobre histeria, nus de Ernst Kirchner, anotações originais de Strauss e a
afirmação do feminismo. A ópera é só de um acto, o que quebra a tradição, e tem
uma conotação sexual violenta e chocante ainda nos dias de hoje. É apresentado
uma proposta de um fato surrealista para o carrasco, da autoria de Salvador
Dali. Em mais um ecran de grandes dimensões vê-se o final da produção em cena
na Royal Opera House, em que a Salome (interpretada por Nadja Michael) meia
despida, totalmente coberta de sangue e enlouquecida, abraça a cabeça de João
Baptista e beija-lhe a boca. A música (Ah!
Ich habe deinen Mund geküsst, Jochanaan) é, mais uma vez, brutal!
A sétima cidade é
Leninegrado e a ópera Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk, de
Dmitri Shostakovich, que foi
censurada posteriormente por Estaline. De novo há uma conotação sexual marcada.
As ilustrações na sala são muito interessantes e incluem vários cartazes e
outras peças alusivas ao modernismo soviético, partituras anotadas de forma
caótica pelo compositor e um filme dele a fumar e tocar uma passagem da obra no
piano.
A exposição
termina numa sala com vários ecrans de grande dimensão onde são projectadas
imagens de teatros de ópera modernos e icónicos (Sidney, Copenhaga e Oslo entre
muitos outros) e pequenos excertos de óperas recentes, todas associadas a uma
temática, incluindo Porgy and Bess
de Gershwin – integração, Peter
Grimes de Britten –
homossexualidade, Dialogues des
Carmélites de Poulenc – amor, Written on Skin de Benjamin – violência domestica, The Death of Klinghoffer de Adams
– terrorismo.
Uma exposição
notável, que ilustra bem que a ópera inclui música, canto, narrativa,
representação, dança, encenação e muito mais -
é a obra de arte total - Gesamtkunstwerk!,
como também ilustrado na exposição, a propósito de Wagner.
OPERA,
Passion, Power and Politics, Victoria & Albert Museum, London
The Victoria and Albert Museum, in
collaboration with the Royal Opera House
in London, presents a fabulous exhibition called "Opera: Passion, Power
and Politics".
It covers,
in a non-exhaustive way, the opera's 400 years of history, using seven operas
and cities where they were first performed, highlighting the cultural, sociological
and political aspects of the period.
We are
provided with headphones that allow us to listen to excerpts from each of the
operas in each thematic room, which automatically reproduce the musical
excerpts appropriate to the location of the exhibition where we are, without
the need for any manipulation of the device.
In addition
to the singing (heard in the headphones), essential in the exhibition and the
essence of opera, we are offered the possibility of seeing musical instruments,
scores, costumes, films, posters, paintings, scenery and other objects that
marked the operas portrayed.
The
exhibition begins in Venice with the
opera of Claudio Monteverdi L'incoronazione di Poppea. We hear the
final duet. In addition to instruments of that period, there is a model of a
life-size Venetian courtesan, dressed in scarlet. While we hear the
characteristic sound, we see a harpsichord in which the surfaces reproduce the
patterns of the ceilings of the Venetian renaissance palaces.
It follows London and George Frideric Handel's opera Rinaldo.
One of the highlights of the exhibition is a replica of a Baroque theater where
a caravel crosses the stormy sea, the mermaids are seen, while their chorus is
heard (Il vostro maggio, by Catherine
Bott and Ana-Maria Rincon). Still in this room, magnificent arias are heard,
including the lament Lascia ch'io pianga
mia cruda sorte in a superlative interpretation of Cecilia Bartoli as
Almirena, and the aria of bravery Venti,
turbini, prestate also in a striking interpretation of David Daniels as
Rinaldo, a counter-tenor (in the absence of a castrate).
Vienna is the city for the opera The Marriage of Figaro by Wolfgang
Amadeus Mozart. On a screen is projected the beautiful sextet of the 3rd
Act, which we also hear. The importance of opera, a mirror of the society of
the time, is emphasized by Mozart and librettist Lorenzo da Ponte, for the
first time, placing servants and masters on the same level, questioning the
privileges of the latter in the puissant Vienna.
The opera Nabucco by Giuseppe Verdi is the choice for Milan and it was a hymn to the fight for the independence of Italy,
on stage and outside it, well illustrated here. The beautiful chorus of the
Hebrew slaves Va pensiero sull'ali dorati
dominates but we also have the opportunity to hear Maria Callas as Abigaille,
ending with cannon shots framed by visual objects. Another highlight of the
exhibition is the photograph of 150 Italian opera houses, seen from the stage.
For Paris, with beautiful paintings by
Degas and Manet, was chosen the opera Tannhäuser
of Richard Wagner premiered in the
city in 1861 (had already been presented in Dresden previously). The change of
the conventional balance between recitatives and arias for continuous melody,
the introduction of musical themes (leitmotive)
that identify characters and emotions, and the break with the Grand Opera
tradition that required 4 or 5 acts and a long ballet were some of the
conventions broken by Wagner, which shocked the Parisian elite. Another
successful moment is the simultaneous presentation in 8 TV screens of several
recent productions of the opera, namely the orgy (and music) of Venusberg, of marked sexual inprint.
Richard Strauss's Salome
is the opera for Dresden, where it
was premiered in 1905. Among others, are presented studies of Freud on
hysteria, nudes of Ernst Kirchner, original notes of Strauss and the
affirmation of feminism. The opera is only an act, which breaks the tradition,
and has a violent and shocking sexual connotation still today. A surrealistic dress
proposal is presented for the executioner, by Salvador Dali. On another large
screen we see the final moments of the production on stage at the Royal Opera
House, where Salome (interpreted by Nadja Michael) half-naked, totally covered
in blood and crazed, embraces the head of John the Baptist and kisses him in the
mouth. The music (Ah! Ich habe deinen
Mund geküsst, Jochanaan) is once again brutal!
The seventh
city is Leningrad and the opera Lady Macbeth of the Mtsensk, by Dmitri Shostakovich, who was
subsequently censored by Stalin. Again, there is a marked sexual connotation.
The illustrations presented are very interesting and include several posters
and other pieces allusive to Soviet modernism, scores chaotically annotated by
the composer and a film of him smoking and playing a passage of the work on the
piano.
The
exhibition ends in a large multi-screen room where images of modern and iconic
opera houses (Sidney, Copenhagen and Oslo among many others) are projected and
small excerpts from recent operas, all associated with a theme, including Porgy
and Bess by Gershwin - Integration, Peter Grimes by Britten - Homosexuality,
Dialogues des Carmélites by Poulenc - Love, Written on Skin by Benjamin -
Domestic Violence, The Death of Klinghoffer by Adams - Terrorism.
A
remarkable exhibition that illustrates well that opera includes music, singing,
narrative, representation, dance, staging and much more - is the total work of
art - Gesamtkunstwerk!, as also
illustrated in the exhibition, on Wagner.
Excelente apontamento critico sobre uma exposição que também muito me interessava, Obrigado pela informação,
ResponderEliminarMagnífico ! Excelente reportagem, Fanático_Um, deixou-me a salivar. Mas já terminou a 25 ... não tive hipótese de ver. Só sugiro que corrija "apresentam" para "apresentaram" :(
ResponderEliminarObrigado pela muito boa informação.
Correcção feita, obrigado Mário :-)
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