(in English below)
A segunda ópera
apresentada do Il Trittico de G. Puccini na Royal Opera House foi a Suor Angelica, numa fabulosa encenação de Richard Jones.
O ponto alto da
noite seria a ópera globalmente menos apreciada deste trio.
A encenação é deslumbrante. O pano abre e estamos numa
enfermaria de crianças, cuidadas por freiras, algures em meados do século
passado. Há 11 camas, todas ocupadas, e todo o material trazido para o palco
(bacias, frascos para medicamentos, as próprias camas, as roupas, etc.) é de
muito bom gosto. A irmã Angelica está sentada ao centro, frente a uma mesa onde
prepara as suas poções curativas.
Dirigiu o maestro
Nicola Luisotti. O Coro foi
excelente e, de entre as cantoras secundarias, duas destacaram-se pelo impacto
da sua interpretação vocal - a madre superiora foi interpretada pela
mezzo italiana Elena Zilio (voz
grave, escura, segura e poderosa, que parecia cantar sempre em forte) e a mezzo russa Irina Mishura que foi uma abadessa que
também se impôs vocalmente.
A contralto sueca Anna
Larsson foi a princesa e tia da
Angelica. Teve uma presença em palco impressionante, na frieza e distância que
colocou na personagem, sendo muito ajudada pelo guarda roupa e encenação.
Surgiu elegantemente vestida de negro, com uma estola de raposa, contrastando
com o branco dominante dos hábitos das freiras. Foi cínica, fria e
insensível. Contudo, a voz grave e
escura não esteve ao mesmo nível que
ouvi neste papel há cinco anos atrás, mas a ária Nel silenzio di quei raccoglimenti foi outro dos momentos
superlativos do espectáculo.
Mas a noite seria
da soprano albanesa Ermonela Jaho
como Angelica. Uma interpretação perfeita, arrasadora! Raramente temos
oportunidade de assistir a desempenhos deste calibre. A voz é lindíssima, cheia
de nuances, forte quando necessário e de um dramatismo inigualável. Em cena foi
perfeita, tanto na agilidade como na expressividade de todos os movimentos. Se
todas as suas intervenções foram de nível superior, na ária Senza Mamma foi insuperável. Um
assombro!
Também foi impressionante o final, em que a visão do filho,
nesta encenação, é retratada pelo abraço a uma das crianças da enfermaria com
idade idêntica à que o filho teria. Puro deslumbramento e magia em palco!
Quando Puccini
escreveu esta ópera deveria saber que, um século mais tarde, surgiria a cantora
para quem a escrevera – Ermonela Jaho!
No final foi
longamente ovacionada em pé, com toda a justiça.
Só esta
interpretação teria valido a noite, mas ainda lá viria o Gianni Schicchi...
*****
SUOR
ANGELICA, Royal Opera House, London, February 2016
The second
opera of Il Trittico by G. Puccini at the Royal Opera House was Suor Angelica, in a fabulous direction of Richard Jones.
The highest
qualitative moment of the night would be this globally less appreciated opera of
the three.
The staging
is stunning. The curtain opens and we are in a ward of children looked
after by nuns somewhere in the middle of last century. There are 11 beds, all occupied, and all the
materials brought to the stage (bowls, bottles for medicines, the beds,
clothes, etc..) are of high beauty and totally appropriate. Sister
Angelica sits at the centre, facing a table where she prepares her healing
potions.
Maestro
Nicola Luisotti conducted. The choir was excellent and among the singers in the
supporting roles, two stood out due to the impact of their vocal performances -
the Monitress
interpreted by Italian mezzo Elena Zilio
(dark and powerful voice) and Russian mezzo Irina Mishura who was a vocally imposed abbess.
Swedish
contralto Anna Larsson was the
Princess and Angelica’s aunt. She had an impressive stage presence. She
appeared elegantly dressed in black, with a fox stole, contrasting with the dominant
white of the dresses of the nuns. She was cynical, cold and insensitive.
However, her dark voice was not at the same quality level as I heard her in
this role five years ago. But the aria Nel
silenzio di chee raccoglimenti was another superlative moment of this
performance.
But the
night would belong to the Albanian soprano Ermonela
Jaho as Angelica. A perfect, sweeping interpretation! Rarely we have the
opportunity to see performances of this caliber. The voice is beautiful, full
of nuances, strong when needed and unparalleled dramatic. On stage she was
perfect in the expression of all movements. If all her performance was top
level, in the aria Senza Mamma she
was unsurpassed!
Also
impressive was the end, with the child's vision, in this staging, portrayed by
embracing one of the children of the ward. Pure wonder and magic on stage!
When
Puccini wrote this opera he should know that, a century later, a singer would
emerge to interpret this character - Ermonela
Jaho!
At the end she
received a totally deserved long standing ovation.
Only this
interpretation would have been worth the night, but still to come was Gianni
Schicchi ...
*****
A Butterfly da Ermonela Jaho foi a interpretação de um papel principal em ópera que mais me emocionou até hoje na minha modesta experiência operática. No ano passado, ponderei ir ver este Tríptico mas acabei por não ir; uma pena, já que todos os registos apontam para uma produção ímpar...
ResponderEliminarhttp://www.roh.org.uk/news/nominations-announced-for-international-opera-awards-2016 -> comentários
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