(in English below)
O Crepúsculo dos Deuses de R. Wagner foi levado à cena em Março de
2016 no Liceu de Barcelona. A encenação
foi de Robert Carsen. Não vi nenhuma
das 3 outras óperas deste Anel, pelo que não consigo enquadrar esta última no
que se terá passado anteriormente.
No início há uma
sala desactivada, com parte da mobília empilhada ou tapada e presa com cordas,
os fios dourados que traçam o destino que as Nornas tecem, prendendo algumas
peças. Aparecem como empregadas domésticas inicialmente a lavar o chão.
Toda a ópera
decorre essencialmente em três cenários. Um espaço aberto (o rochedo) onde
estão depositados despojos militares, entre eles roupas, armas, capacetes e
espadas. É aqui que surgem inicialmente Siegfried (vestido de camuflado) e
Brünhilde, e será também neste cenário que ocorrerá o diálogo entre Brünhilde e
Waltraute.
O palácio dos Gibichung é uma enorme sala de uma instalação militar com
bandeira vermelha com faixa branca a meio e lareira ao fundo e com uma grande
secretaria central. Gunther é o militar de mais alta patente e está rodeado por
outros. Hagen está vestido à civil. Siegfried quando chega vem desarranjado, ao
contrário de todos os militares impecavelmente fardados. Não sabe o que é o
agrafador ou o telefone que estão sobre a secretária.
O 1º acto termina
no cenário já referido em que Siegfried, transformado pelo elmo em Gunther, procura
Brünhilde. Nesta produção é o próprio Gunther que aparece, faz os movimentos bocais
como se cantasse, mas quem canta é o Siegfried nos bastidores. A ideia não
resulta cenicamente.
No 2º acto,
novamente no grande salão militar, Brünhilde chega vestida de noiva, e não é
reconhecida por Siegfried, que está com Gutrune, impecavelmente vestida. O coro
é um grande grupo de militares, em determinado momento agitando muitas
bandeiras idênticas. Aqui o efeito cénico é excelente. As analogias com o
nazismo são evidentes, mas a cena poderia passar-se em qualquer outro
enquadramento.
O 3º acto abre
com as filhas do Reno sujas, a lavarem-se na água de um Reno poluído, com toda
a espécie de materiais velhos: pneus, armas, um televisor, rodas empenadas, alguidares,
etc. É neste cenário que Siegfried é assassinado por Hagen (com o cabo de uma
bandeira) e levado, morto, para a grande secretária do salão militar. Surge Brünhilde
mas a cortina desce e ela interpreta em palco o impressionante final sem
qualquer suporte visual até à imolação pelo fogo que surge de todos os lados do
palco.
A direcção musical,
excelente, foi do maestro Josep Pons.
A Orquestra Sinfónica e, sobretudo,
o Coro do Gran Teatre del Liceu
estiveram ao mais alto nível, como raramente se ouvem no Liceu.
Num conjunto de
cantores de primeira água, as 3 Nornas (Cristina
Faus, Pilar Vásquez, Jacquelyn Wagner) cantaram bem mas foram
as que menos impressionaram. Já as 3 Filhas do Reno (Isabel Gaudí, Anna Alàs i
Jové, Marina Pinchuk) foram óptimas.
Alberich foi interpretado
de forma banal pelo barítono Oskar
Hillebrandt, num papel pequeno.
A mezzo Michaela Schuster foi uma grande
Waltraute, de voz firme, bem colocada e expressão cénica impecável.
O tenor Lance Ryan foi o Siegfried. Cantou bem mas não é o heldentenor que se
deseja para a personagem porque lhe falta corpo vocal. Tem figura de Siegfried,
cumpre todas as notas, mas há quem o faça de forma mais imponente. Contudo, foi
uma boa interpretação.
O Gunther do
barítono Samuel Youn foi óptimo. O
cantor tem uma voz potente e bem timbrada, muito agradável e afinada. Esteve também
muito bem no desempenho cénico.
O baixo Hans-Peter König foi absolutamente
fabuloso como Hagen. É o melhor da actualidade neste papel. Voz poderosíssima e
de uma beleza invulgar, interpretação absolutamente irrepreensível, cénica e
vocal.
E que dizer da Brünhilde
do soprano Iréne Theorin? Que foi a
melhor da noite? Que foi excelente tanto cénica como vocalmente? Que
interpretou a personagem de forma absolutamente impecável e convincente? Que a
voz foi imponente e sempre sobre a orquestra? Que na cena da imolação, sozinha
em palco, foi comovente e arrasadora? Sim, foi tudo isso! Uma das melhores
interpretações que vi e ouvi até hoje da personagem. Fabulosa!
Um Crepúsculo dos
Deuses ao mais alto nível no Liceu de Barcelona.
*****
TWILIGHT OF
THE GODS / Götterdämmerung, Gran Teatro del Liceu, Barcelona, March 2016
The Twilight of the Gods by R. Wagner was on stage in March 2016 in
Liceu de Barcelona. The staging was Robert Carsen. I did not see any of the
three previous operas of this ring so I cannot fit in the latter that will have
passed before.
At the
beginning there is a disabled room, with part of the furniture stacked or
covered and secured with ropes, the golden threads with which the Norns trace
the destiny (presented as maids initially washing the floor). The whole opera
takes place essentially in three scenarios. An open space (the rock) which has
deposited military remains, including clothing, weapons, helmets and swords. It
is here that initially Siegfried (dressed in camouflaged) and Brünhilde, appear,
and will also be in this scenario that the dialogue between Brünhilde and
Waltraute will occur.
The Gibichung’s
Palace is a huge room of a military set with a red flag with white band in the
middle, a fireplace in the background and a large central desk. Gunther is a high-ranking
militar and is surrounded by others. Hagen is dressed in civilian clothes.
Siegfried arrives deranged, in opposition to all impeccably uniformed military
men. He does not know what is the staple or the phone on the desk. The 1st act
ends in the scenario mentioned above in which Siegfried, transformed by the
helmet in Gunther, looks for Brünhilde. In this production it is Gunther himself
that appears, make the mouth movements like singing, but who is singing is Siegfried
behind the scenes. The idea does not result well.
In the 2nd
act again in the great military hall, Brünhilde arrives dressed as a bride, and
is not recognized by Siegfried, who is with an elegantly dressed Gutrune. The
choir is a large group of military people, at some point wielding many
identical flags. Here the scenic effect is excellent. The analogies with Nazism
are evident, but the scene could happen in any other framework.
The 3rd act
opens with the dirty daughters of the Rhine washing themselves in the water of
a polluted Rhine with all sorts of debris: tires, weapons, a TV, warped wheels,
bowls, etc. It is in this scenario that Siegfried is murdered by Hagen (with
the handle of a flag) and led, dead, to the large desk military hall. Brünhilde
appears but the curtain comes down and she sings in the final stunning immolation
scene without any visual support. Finally fire that comes from all sides of the
stage.
The excellent
musical direction was the conductor Josep
Pons. The Symphony Orchestra and, above all, the Gran Teatre del Liceu
Choir were at the highest level, as I rarely heard at the Liceu.
The three
Norns (Cristina Faus, Pilar Vásquez, Jacquelyn Wagner) sang well but were less impressive than the 3
daughters of the Rhine (Isabel Gaudí,
Anna Alàs i Jové, Marina Pinchuk) that were great.
Alberich
was interpreted by the baritone Oskar
Hillebrandt, in a small banal role. Mezzo Michaela Schuster was a great
Waltraute, with a firm voice, well tuned and impeccable scenic expression.
Gutrune was
sung by soprano Jacquelyn Wagner. She
was very good and has a nice figure, which helped to the character. Vocally she
was one of the less impressive because the voice, beautiful and lyrical, is not
full-bodied and occasionally was drowned out by the orchestra.
Tenor Lance Ryan was Siegfried. He sang well
but is not the heldentenor you want for the character because he lacks vocal
potency. He looks like a Siegfried, sings well all the notes, but a more
imposing singer would fit better. However, it was a good interpretation.
Baritone Samuel Youn was an impressive Gunther.
The singer has a powerful, very nice and refined voice. He was also very good on
stage.
Bass Hans-Peter König was absolutely
fabulous as Hagen. At present times, he is the best present in thisrole. Powerful
and unusually beauty voice. His performance was absolutely irreproachable,
scenic and vocal.
And what
about soprano Iréne Theorin’s Brünhilde?
Was she the best of the night? Was she excellent both scenic as vocally? She
played the character absolutely flawless and convincing? Her voice was imposing
and always above the orchestra? At the scene of the immolation, alone on stage,
was she touching and overwhelming? Yes, it was all! One of the best
performances I have ever seen and heard of this Brünhilde. Fabulous!
A Twilight
of the Gods at the highest level in the Liceu de Barcelona.
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Que inveja. Mas afinal Barcelona é aqui tão perto...
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