DON QUIXOTE ABRE TEMPORADA DE ÓPERAS DO THEATRO SÃO PEDRO.
Crítica de
Ali Hassan Ayache do blog de Ópera e Ballet:
Toda a força da obra de Jules
Massenet está nas melodias encantadoras, foi criticado na sua época por
seus pares por ser demasiado popularesco. O sentimentalismo em excesso presente
na sua escrita deixou óperas inesquecíveis e que são queridas do grande público
e se encontram no repertório dos grandes teatros. "Thais" ,
"Wherther" e "Manon" são exemplos desse sucesso melódico.
Pena não poder dizer o mesmo de "Don Quixote" baseada na obra
"Le Chevalier à la Longe Figure" drama em versos de Jacques de Lorrain
e não no clássico de Cervantes.
"Don Quixote" tem
escrita orquestral fraca nos três primeiros atos, consegue força dramática nos
dois últimos e o principal, a obra não empolga e carece de força emotiva. O
libreto é fraco, um folhetim que desagrada a intelectuais, por conhecerem a
obra prima de Cervantes e ao público comum pela simplicidade do enredo. O
terceiro ato diviniza o personagem central, ele consegue com a força da reza
fazer bandidos durões e implacáveis se comoverem e devolverem as joias roubadas.
Nada mais fora da realidade, a cena mais estranha da história da ópera.
"Don Quixote" só existe porque um dos maiores baixos de todos os
tempos popularizou a ópera. Escrito na medida para o russo Feodor Chaliaplin,
este com seu excepcional talento vocal e cênico popularizou o Cavalheiro de
Triste Figura na ópera.
O Theatro São Pedro se
especializa em títulos raros de ópera e esse foi mais um deles. Para abrir sua
temporada convocou um diretor que passeia pela ópera e por outros gêneros. Jorge Takla não poupou esforços para
fazer desse "Don Quixote" uma "Carmen" de Bizet. As danças
com sapateado, os figurinos dos coristas e a roupa da solista lembram o
ambiente e clima da famosa cigana. Takla consegue criar um clima espanhol bem
característico, diferente de diretores que gostam de inventar moda fica no
básico. A movimentação dos solistas e coristas correta deu dinâmica a montagem.
Enriqueceu o enredo os belos cenários de Nicolas Boni, gravuras e os
famosos moinhos aparecem e identificam de forma fácil a conexão com a história.
Os figurinos de Fabio Namatame foram pelo mesmo caminho, corretos e
adequados ao enredo. O desenho de luz de Ney Bonfante mostra cores
e movimentações que dialogam com as cenas.
O que dizer do mezzo-soprano Luisa
Francesconi, a moça sempre se apresenta em nível elevado e dessa vez não
foi diferente. Sua voz tem o timbre correto, sedutora e cristalina que esbanja
na técnica e com um refinamento único. Sua Dulcineia teve uma atuação cênica
precisa. O baixo americano Gregory
Reinhart fez um Don Quixote constante, do começo ao fim o personagem
mostrou o mesmo tipo de atuação cênica e temperamento. Vocalmente esteve à
altura do personagem, esbanjou nos graves em uma voz que se mostra extensa. A
voz de Eduardo Amir oscilou e balançou
em um timbre desagradável.
A Orquestra do Theatro São Pedro mostrou maturidade operística nas mãos
do regente Luiz Fernando Malheiro,
sonoridade e volume compatível com o tamanho da sala. Sua regência enriqueceu
uma obra que peca pela falta de qualidade orquestral.
Convidada para assistir a ópera no dia 04 de Março e prestigiar o amigo
Jorge Takla a apresentadora Marília Gabriela ficou conversando com um
amigo diversas vezes no decorrer do espetáculo, levou um pito de um espectador
próximo, fez cara de poucos amigos e sentiu-se inconformada. No teatro de ópera
ou em qualquer tipo de teatro cara Marília manda o bom senso que as pessoas
assistam o evento e não fiquem conversando. Os que compraram ingresso querem
ouvir os cantores e não sua voz.
Ali Hassan Ayache
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