Les Contes d’Hoffmann é uma ópera de Jacques Offenbach com libreto de Jules Barbier baseado em contos de E.T.A. Hoffmann.
A acção passa-se em
Nuremberg no início do Século XIX. Hoffmann bebe com os amigos e Nicklausse (a
sua musa protectora transformada). Conta a história de três casos de amor
anteriores que ilustram facetas do seu actual relacionamento infeliz com a
cantora Stella, que é desejada por Lindorf, um político sem escrúpulos. A
primeira é Olympia, uma boneca mecânica construída por Spalanzani, em Paris. A
segunda em Munique, é Antónia que, contrariando as ordens do seu pai, morre por
cantar, na sequência de uma indicação nesse sentido do Dr. Miracle. A terceira,
em Veneza, é Giulietta uma cortesã que tira o reflexo às pessoas por ordem de
Dapertutto. No final está bastante bêbedo e adormece após um diálogo com Stella
que é levada por Lindorf.
A encenação de Bartlett Sher é vistosa e diversificada
mas irregular. O prólogo e o epílogo decorrem numa taberna alemã convencional.
O primeiro acto, a história de Olympia, é o mais bem conseguido. Passa-se numa
feira, na barraca de Spalanzani, com uma estrutura em caracol dominante e onde
a utilização de guarda-chuvas com olhos desenhados tem um efeito de grande
impacto. O segundo acto é, teatralmente, decepcionante porque não há nada para
ver. O palco está vazio e podia passar-se em Munique ou em qualquer outro
local. Em contraste, o 3º acto é cenicamente exagerado, com uma mistura de
prostitutas e outros figurantes (recuperando-se as referencias aos actos
anteriores) numa Veneza com gôndolas. Uma mistura pirosa e sem jeito.
A direcção musical foi excelente, a cargo de James Levine. A Orquestra
e o Coro da Met Opera estiveram ao mais alto nível.
O tenor
norte-americano Matthew Polenzani
foi um Hoffmann superior. Tem uma voz de timbre muito bonito, potente e
expressiva. Os agudos soam fáceis e de grande qualidade. Foi o melhor da noite
e foi a melhor interpretação que lhe ouvi.
Também ao mais
alto nível esteve a mezzo francesa Karine
Deshayes como musa / Nicklausse. Tem uma voz ponderosa e penetrante, e
esteve sempre muito bem.
Outro grande
intérprete foi o baixo-barítono francês Laurent Naouri nos papéis diabólicos, Lindorf / Copéllius / Doctor
Miracle e Dappertutto. Tem um registo grave muito interessante, a voz é bonita
e de grande musicalidade. O cantor tem uma excelente figura o que o ajudou
muito na superior prestação cénica.
A soprano
norte-americana Audrey Luna fez uma
Olympia excelente na representação mas aquém das expectativas no que ao canto
respeita. Tem uma voz bem audível mas, por vezes tornou-se agreste e
estridente, e ocasionalmente pareceu perder o controlo, o que foi mais notório
no registo agudo.
Antonia e Stella
foram interpretadas pela soprano norte-americana Susanna Philips. Esteve muito bem, sobretudo como Antonia, que
cantou com grande emotividade, poderio e beleza vocal.
A mezzo russa Elena Maximova fez uma Giulietta sem
brilho. A voz é relativamente pequena e monocórdica. A belíssima barcarola Belle nuit, ô nuit d’amour valeu apenas
pela música.
No cômputo geral,
um bom espectáculo.
****
LES CONTES D'HOFFMANN, Metropolitan Opera, March 2015
Les Contes d'Hoffmann
is an opera by Jacques Offenbach
with libretto by Jules Barbier based
on tales by E.T.A. Hoffmann.
The action takes place in Nuremberg in the early nineteenth
century. Hoffmann drinks with friends and Nicklausse (his protective muse
transformed). He tells the story of
three cases of previous love that illustrate facets of his current unhappy
relationship with the singer Stella, who is wanted by Lindorf, an unscrupulous
politician. The first is Olympia, a mechanical doll built by Spalanzani in Paris.
The second, in Munich, is Antonia that, contrary to her father's orders, dies
for singing, following an indication to that direction of Dr. Miracle. The
third, in Venice, is a courtesan, Giulietta, that takes the reflection to
people in order of Dapertutto. At the end Hoffmann is quite drunk and falls
asleep after a dialogue with Stella that follows Lindorf.
The staging of Bartlett
Sher is fine and diverse but irregular. The prologue and the epilogue are
in a conventional tavern. The first act, the story of Olympia, is the best
achieved. It is set in a fair, in the tent of Spalanzani, where the use of
umbrellas with eyes designed on them has a great visual impact. The second act
is disappointing because there is nothing to see. The stage is empty and could be
in Munich or elsewhere. In contrast, the 3rd act is scenically exaggerated,
with a mixture of prostitutes and other extras (recovering the references to
previous acts) in Venice with gondolas.
Musical direction by James
Levine was excellent. The Orchestra
and Chorus of the Met were at the highest level.
American tenor Matthew
Polenzani was an excellent Hoffmann. He has a very beautiful, powerful and
expressive voice. Top notes sound easy and of high quality. He was the best of
the night and it was the best performance I heard from him.
Also at the highest level was the French mezzo Karine Deshayes as Muse / Nicklausse.
She has a strong and penetrating voice, and she was always at the top level throughout
the performance.
Another great performer was French bass-baritone Laurent Naouri in the evil roles,
Lindorf / Copéllius / Doctor Miracle and Dappertutto. He has a very interesting
low register, the voice is beautiful and has great musicality. The singer has a
great figure which helped a lot in the acting.
American soprano Audrey
Luna was an excellent theatrical performer as Olympia but short of expectations
with respect to the singing. She has a very audible voice but sometimes became
wild and seemed to lose control, which was most notable in the high register.
Antonia and Stella were interpreted by American soprano Susanna Philips. She was very good,
especially as Antonia, who sang with great emotion and vocal beauty.
Russian mezzo Elena
Maximova was a dull Giulietta. The voice is relatively small and
monotonous. The beautiful barcarola Belle
nuit ô nuit d'amour paid only for music.
All together, it was an excellent performance.
****
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