(review in English below)
Assisti à opera Lucia di Lammermoor de G. Donizetti no Liceu de Barcelona. Aqui deixo uma nota sobre um dos elencos (o
principal).
Já várias vezes
escrevi neste blogue sobre a obra de Donizetti, uma das que mais gosto. Nesta
produção, a encenação do italiano Damiano
Michieletto foi pobre e desinteressante. Há uma grande estrutura de metal e
vidros, com 4 níveis, à esquerda do palco, que é usada pelos cantores que a
sobem e descem várias vezes e cantam dos seus vários patamares, mas sem grande
efeito. O resto do palco está quase sempre vazio, por vezes nele aparecem umas
mesas ou umas cadeiras e pouco mais. A fonte é um balde metálico com água. O
encenador optou pela presença quase contínua do fantasma, que só a Lucia vê. O
ponto de maior impacto é a morte da Lucia, que se atira do patamar cimeiro da
estrutura existente no palco. No final há dois homens a cavarem a sepultura e a
ópera termina com o suicídio do Edgardo, com um punhal, que morre agarrado ao
caixão da Lucia.
A direcção
musical foi de Marco Armiliato que
cumpriu sem encantar.
Os solistas
tiveram interpretações de grande nível. A Lucia foi interpretada pelo soprano
romeno Elena Mosuc. Cantou com
enorme correcção, foi excelente no último acto, mas poderia ter sido um pouco
mais emotiva. Vocalmente foi óptima, mas faltou-lhe aquele toque que torna a
interpretação inesquecível.
O tenor Juan Diego Florez foi o Edgrado. Os
leitores habituais deste bloque sabem a admiração que tenho por este cantor,
sempre que o ouvi fiquei maravilhado. Pela primeira vez, acho que não esteve ao
nível de excepção em que sempre o vi. A voz pareceu pequena para o papel e o
maestro não ajudou. Contudo, Florez é um cantor muito inteligente e guardou-se
para o último acto, onde esteve muito bem. O timbre vocal, esse é único e
inigualável, mas confesso-me, pela primeira vez, desiludido com a sua actuação.
O barítono Marco Caria cumpriu com nível o papel
do vilão Enrico, irmão da Lucia. Esteve bem vocalmente, voz grande e bem
timbrada, embora tenha tido uma interpretação excessivamente estática, sempre
mais preocupado com a voz do que com o desempenho cénico, o que não deixa de
ser uma opção aceitável quando o intérprete não consegue dar a mesma qualidade
a ambas.
Verdadeiramente
sensacional e, para mim, o melhor intérprete da noite, foi o baixo barítono
espanhol Simon Orfia no papel de Raimondo.
A voz é belíssima, sempre bem colocada e de grande potencia e constante
afinação. O cantor tem uma óptima figura e em cena foi excelente, só igualado
neste aspecto pelo Florez. Bravo!
Os restantes
cantores foram bastante fracos. O tenor Albert
Casals foi um Arturo que não deixa saudades, a mezzo Sandra Ferrández fez uma Alisa apagada e Jorge Rodríguez-Norton também não convenceu como Normanno.
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Lucia di Lammermoor, Liceu, Barcelona, December 2015
I watched the opera Lucia
di Lammermoor by G. Donizetti at
the Liceu, Barcelona. Here I leave a
note on one of the cast considered the principal.
I have often written in this blog about this work of
Donizetti, one of my favorite operas. In this production, the staging of
Italian Damiano Michieletto was poor
and uninteresting. There is a large metal and glass structure with 4 levels, to
the left of the stage, which is used by the singers that walk up and down
several times and sing on its various heights, but without much effect. The
rest of the stage is almost always empty, sometimes with a few tables or chairs
and little else. The fountain is a metal bucket with water. The director opted
for the almost continuous presence of the ghost, which only Lucia sees. The
point of greatest impact is the death of Lucia, who kills herself jumping from
the top level of the existing structure on the stage. In the end two men dig
the grave and the opera ends with the suicide of Edgardo, with a dagger, dying
clinging to the coffin of Lucia.
The musical director was Marco Armiliato conducted well but without enthusiasm.
The soloists had great level of interpretations. Lucia was
interpreted by the Romanian soprano Elena
Mosuc. She sang with huge correction, was outstanding in the last act, but
she could have been a little more emotional. Vocally she was great, but she
lacked that touch that makes the interpretation unforgettable.
Tenor Juan Diego
Florez was Edgrado. Regular readers of this bloque know the admiration I
have for this singer, whenever I heard him he was always amazing. For the first
time, I think he was not the top level of exception. The voice seemed small for
the role and the conductor did not help. However, Florez is a very intelligent
singer and kept the best for the last act, which was very good. The vocal
timbre is of unique beauty, but I confess I was, for the first time,
disappointed with his performance.
Baritone Marco Caria
sang the villain's role, Enrico, Lucia's brother. He was well vocally, with a large,
well-heard voice, although he had an overly static interpretation, always more
concerned with the voice than with the scenic performance, which is an
acceptable option when the interpreter can not give the same quality to both.
Truly amazing and, for me, the best performer of the night
was the Spanish bass baritone Simon
Orfia in the role of Raimondo. The voice is beautiful, always well heard,
tuned, and with great power. The singer has an excellent figure and on stage
was excellent, only matched in this respect by Florez. Bravo!
The other singers were quite weak. Tenor Albert Casals was Arturo, mezzo Sandra Ferrández was Alisa and Jorge Rodríguez-Norton was Normanno.
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Olá boa noite.
ResponderEliminarSei que o que lhe peço não tem muito a ver com o post, mas pergunto-lhe se por acaso sabe de alguma ópera em Lisboa durante este mês de Dezembro. Ando á procura de algo, porém não estou a encontrar nada na internet. Acha que me conseguiria ajudar? Eu adorava ir à ópera, sou grande fã mas nunca assisti a nenhuma ao vivo infelizmente.
Obrigada por tudo e pelo magnifico blog.
Boa noite Edna,
ResponderEliminarInfelizmente, que seja do meu conhecimento, não haverá ópera em Lisboa no mês de Dezembro.
Caro Fanático_Um, não ouvi a récita e, por isso, é difícil opinar. Mas diria que o papel do Edgardo está já um pouco fora do repertório do Florez, pois exige uma voz mais lírica, com algum corpo. E acho que ele, que tem gerido muito bem os papéis que aceita cantar, faz mal se começar já a transitar para este tipo de repertório, pois é uma viagem sem grande possibilidade de regresso.
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