quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

MAHLER - Casa da Música, Porto, 14.12.2014

Assisti no passado domingo, dia 14, a um concerto na Casa da Música, integrado no ciclo “Música para o Natal”.



O programa foi integralmente preenchido com a Sinfonia n.º 4 de Gustav Mahler e contou com a interpretação do maestro Christoph König à frente da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música e da soprano cipriota Zoe Nicolaidou.

Composta entre Julho de 1899 e Agosto de 1800 em Maiernigg-am-Wörthersee, na Caríntia, onde Mahler havia mandado construir uma casa de Verão, a 4ª Sinfonia foi estreada a 25 de Novembro de 1901, em Munique, sob a regência do compositor, tendo alcançado pouco sucesso.

A 4ª Sinfonia marca uma ruptura com a evolução no sentido no gigantismo sinfónico que Mahler vinha trilhando. Em contraste com a anterior, a 4ª Sinfonia regressa à duração da Titã, aos quatro andamentos e a uma orquestração menos complexa, com supressão dos trombones, da tuba e do próprio coro, mantendo apenas a voz solista no 4º andamento.

A razão da escolha desta sinfonia para um programa de Natal foi desvendada por Mário Azevedo, a quem coube o comentário musical com que começou o concerto. Como referiu, a ideia desta sinfonia prende-se com a infância e a descoberta progressiva do mundo, com a entrada num Paraíso que é apenas entrevisto nos três primeiros andamentos e que é cantado no quarto pelo mais miraculoso instrumento musical: a voz humana.

No 4º andamento a soprano canta o poema “Das himmlische Leben” (A  vida celestial), extraído dos Knaben Wunderhorn, em que os prazeres bucólicos e gastronómicos dos Céus são descritos de forma entusiástica, tendo Mahler recomendado que fossem cantados com uma expressão alegre e infantil, completamente desprovida de paródia.


O maestro Christoph König concebeu uma interpretação bastante sóbria, sem excessos expressivos, embora salientando bem as variações dinâmicas e os diferentes ambientes sonoros criados por Mahler. As vozes interiores foram evidenciadas, mas sem se sobreporem ou criarem desequilíbrios. No 2º andamento faltou talvez um pouco de verve, mas o 3º andamento, para mim um dos mais belos de Mahler, foi muito bem conseguido. A sonoridade das cordas foi belíssima e a construção do crescendo até ao conflito central foi bastante eficaz.


A orquestra esteve sempre bastante bem, sem falhas que eu tenha notado e mantendo elevados padrões de acerto entre os diversos naipes. Destacaria a concertina, tocando os solos de violino desafinado com vigor, bem como o quarteto de trompas, em grande destaque. Penso que os naipes de cordas ganhariam se tivessem um maior número de instrumentistas, em especial nos graves, para ganhar alguma espessura.


Devido ao lugar onde estava sentado, no coro, a minha percepção da actuação da soprano ficou muito prejudicada, pois a voz era praticamente inaudível. Ficou apenas a sensação de um timbre claro e jovial e de uma boa integração no tecido orquestral.

Duas notas mais sobre outros aspectos do concerto.
Tratou-se de um concerto pelas 12:00, com um público bastante heterogéneo e com a presença de bastantes crianças e jovens, o que é de registar com bastante agrado. Naturalmente que tal implicou um nível acrescido de ruído e movimentações na sala, mas nada que tivesse perturbado a fruição da música. Todavia, verifiquei muitos adultos a entrar e sair da sala durante o concerto, o que já me pareceu pouco admissível.

Outra nota para o atraso no início do concerto, que foi de cerca de um quarto de hora. Parece-me pouco admissível, mesmo para um concerto com as características apontadas. A circunstância de só ser dado um sinal sonoro a chamar o público a menos de 5 minutos da hora marcada para o início do concerto, embora não justifique o atraso do público a tomar os seus lugares, também não ajuda.

Em suma, foi um excelente concerto de Natal e uma oportunidade para ouvir a belíssima 4ª Sinfonia de Mahler, numa sala de concertos de excepção.

1 comentário:

  1. Por acaso assisti ao concerto da véspera, à noite. Suponho que era mais formal, porque não houve atrasos nem gente a sair da sala.

    Concordo com alguns pontos que salienta - o quarteto de sopros esteve muito bem, o 2º andamento foi algo falhado (muito lento e mortiço), em contrapartida no Ruhevoll König conseguiu uma bela interpretação, dinâmica e contrastada. Em geral pareceu-me uma 4ª desconsoladita, pouco alegre, a tender mais para a 'gravitas', mas sempre com uma sonoridade bonita e fluente. Gosto mais de ouvir esta sinfonia de Mahler com algum entusiasmo festivo.

    Já a soprano cipriota foi totalmente desastrosa. Tem voz de soubrette para ópera buffa - fininha, sem qualquer espessura, de afinação mal controlada e expressividade nula. E ouvi-a de frente e relativamente próximo.

    Portanto, se esta é "a escolha de König", não se pode dizer que tenha sido totalmente convincente. Esperava mais. Mesmo assim espero também que, depois dele partir, a OSP/CdM conheça outro dirigente pelo menos do mesmo nível.

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