quinta-feira, 2 de outubro de 2014

RIGOLETTO, Opera de Zurique, Fevereiro de 2014 / Zurich Opernhaus, February 2014


(review in english below)

Mais uma vez tive oportunidade de ver o Rigoletto de Verdi, numa deslocação à Suiça. Das três óperas que vi em Zurique, esta era aquela que me despertava menor interesse e vi-a apenas porque estava em cena na altura. Mal imaginava a surpresa que iria ter.

Foi uma Volksvorstellung, uma récita popular, com preços muito abaixo do habitual, mas com elenco idêntico ao das récitas “normais”.

A encenação de Tatjana Gürbaca foi caricata. Do início ao fim do espectáculo o palco tinha no centro uma grande mesa rectangular, coberta por uma toalha branca e rodeada por cadeiras. Toda a acção se passou à volta, em cima ou por baixo da mesa e das cadeiras, com os cantores em trajos informais actuais. O Rigoletto não é corcunda, o Duque aparece inicialmente de calções e ténis, e os outros todos vestidos de forma semelhante. Penso que não é necessário descrever mais nada.


 A direcção musical foi do maestro Stefan Blunier e, não tendo sido isenta de pequenas falhas e desencontros, na globalidade esteve bem.


 Verdadeiramente sensacional foi a qualidade interpretativa de todos os cantores! Foi talvez o melhor Rigoletto que ouvi ao vivo e esta é das óperas que já devo ter visto umas dezenas de vezes. Como dizia a minha companheira, com este nível interpretativo, nem se repara na encenação. Não partilho totalmente desta opinião mas, hoje, confesso que também o senti.

 Rigoletto foi cantado pelo barítono polaco Andrzej Dobber. Tem uma voz belíssima, muito expressiva, emotiva e de uma potência avassaladora. É um papel em que já o tinha ouvido, mas nesta récita achei a sua interpretação superlativa.


 O tenor albanês Saimir Pirgu que, finalmente, voltei a ouvir ao vivo depois das duas óperas que cantou em Lisboa há anos, foi o melhor Duque que vi nos últimos tempos. Tem uma excelente presença física, a voz é forte e de uma beleza invulgar, os agudos são fáceis, luminosos e emitidos aparentemente sem esforço.



 A Gilda foi interpretada pelo soprano russo Olesya Golovneva, uma substituição de última hora. A cantora tem uma figura magra, pequena e frágil, parece uma adolescente de 15 anos, mas a voz é arrasadora. Canta fabulosamente em todos os registos, deve ouvir-se até fora do teatro e, contudo, sempre que quer, é de uma suavidade tocante.



 O baixo italiano Andrea Mastroni impôs-se como Sparafucile, com um vozeirão de fazer tremer o chão e, também, de timbre invulgarmente agradável.


 Outra voz de qualidade muito acima do habitual foi a do barítono ucraniano Valery Murga como Conde Monterone.


 A Maddalena do mezzo suíço Judith Schmid foi, vocalmente, a menos espectacular mas, ainda assim, não destoou.


 Merecem também uma palavra de apreço as óptimas interpretações dos cantores secundários, Júlia Riley como Giovanna, Cheyne Davidson como Marullo, Yuriy Tsiple como conde Ceprano e Deanna Breiwick como condessa Ceprano.






 Numa encenação deplorável, um Rigoletto de luxo na ópera de Zurique, para ver de olhos fechados!

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Rigoletto Zurich Opera, February 2014

Again I had the opportunity to see Verdi's Rigoletto during a recent trip to Switzerland From the three operas I attended in Zurich, this was the one in which I had less interest. I saw it just because it was on at the time. I could not anticipate the surprise I would have.

It was a Volksvorstellung, a performance with prices far below the usual but with the cast identical to the " normal " performances..

The staging by Tatjana Gürbaca was ridiculous. From start to finish the stage had in the center a large rectangular table covered with a white cloth and surrounded by chairs. All the action happened around, over, or under the table and chairs, with the singers in current informal costumes. Rigoletto was not hunchback, the Duke appears initially in shorts and tennis shoes, and all others dressed similarly. I think it is not necessary to describe anything else

Musical direction of conductor Stefan Blunier has not been free of small flaws but, on the whole, it was good.

Truly sensational was the quality of all singers! This was perhaps the best Rigoletto I've heard live, and this is an opera that I have already seen many many times.

As my companion said, with this interpretive level, we even do not notice what is happening on stage. I do not fully share her view but, this night, I confess I also felt that.

 Rigoletto was sung by the Polish baritone Andrzej Dobber  He has a very expressive, emotive and with an overwhelming powerful and beautiful voice. It's a role in which I had already heard him, but in this performance I found his interpretation superlative.

Albanian tenor Saimir Pirgu that I finally could hear live after the two operas he sung in Lisbon several years ago, was the best Duke I've seen in recent times. Has an excellent stage presence, the voice is strong and of an unusual beauty, the top notes are easy, bright and seemingly effortless issued .

Gilda was interpreted by Russian soprano Olesya Golovneva a last minute replacement. The singer has a thin, small, frail figure, looks like a 15 year old adolescent, but her voice is overwhelming. She sings fabulously in all registers, must have been hear even outside the theatre and yet, whenever necessary, she was of a touching softness.

Italian bass Andrea Mastroni was Sparafucile, with a booming voice “to shake the ground” and with an unusually pleasant timbre.

Another voice of much higher quality than usual was Ukrainian baritone´s Valery Murga as Count Monterone.

Swiss mezzo Judith Schmid was Maddalena, vocally the less spectacular but still very good.


A final word of appreciation for the good performances of the other singers, Julia Riley as Giovanna, Cheyne Davidson as Marullo, Yuriy Tsiple as Count Ceprano, and Deanna Breiwick as Countess Ceprano .

A deplorable staging but luxury Rigoletto at the Zurich Opera, to see eyes wide shut!

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