(Review in English below)
A Fundação
Calouste Gulbenkian apresentou ontem uma das mais mais emblemáticas obras da
música — Sinfonia n. º 9, op. 125,
“Coral”, de Ludwig van Beethoven —, um verdadeiro património imaterial da
humanidade, não apenas pela qualidade artística inegável de uma genialidade e
inovação ímpares, como pela mensagem que o poema An die Freude (“À Alegria”)
de Friedrich Schiller transmite e
que deveria ser um mote para esta nossa Europa em cisão económico-política. De
referir, que esta sinfonia assinala este ano os 190 anos da sua estreia.
Sublinhar, uma vez mais, que Beethoven e a sua
Sinfonia n.º 9 são geniais é desnecessário e revelar-se-ia um exercício
tautológico desgastante para o leitor. Por isso, passemos à análise do
concerto.
(fotos da FCG)
A primeira parte foi constituída por uma obra
de Daan Janssens com o nome (...revenir
dans l’oubli...), encomenda da FCG em estreia mundial. Não é
particularmente interessante, explora uma sonoridade no vazio, éterea, com
alguma estridência e angústia misturada.
A Sinfonia de Beethoven foi dirigida pelo
maestro titular da FCG — o britânico e fleumático Paul McCreesh. Confesso, novamente, que, no meu entender limitado, é um maestro que transmite muito pouca
energia e que parece pouco envolvido, o que se transmite à orquestra que, por
regra, tem interpretações suficientes (Pedro
Ribeiro em oboé esteve em destaque — é um dos melhores músicos da
Orquestra!). Foi o que ontem se verificou: foi apenas suficiente. Não ajudaram em nada
os solistas que se apresentaram a um nível manifestamente insuficiente para a
dimensão da obra e qualidade exigível numa casa com a tradição da FCG.
Florian Boesch, barítono e o melhor dos
quatro, teve algumas dificuldades no registo agudo; Noah Stewart, tenor, mal se ouviu; Virpi Raisanen, meio-soprano, não se ouviu de todo; e Ann-Helen Moen, soprano, fez soar as
notas mais agudas de modo audível. O Coro
Gulbenkian (maestro Jorge Matta)
esteve, como lhe é habitual, em muito bom nível, tendo sido, o elemento
artístico em destaque do concerto.
O público aplaudiu, pois, Beethoven!
Terminada que está a temporada de estreia de Paul McCreesh, lamento fazer um balanço
negativo: não vi qualquer crescimento desta Orquestra, antes vi uma involução.
Veremos o que nos reserva a temporada 2014/15...
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(Review in English)
The Calouste
Gulbenkian Foundation presented one of the most emblematic works of music history
- Symphony no. 9, op. 125 by Ludwig van
Beethoven - a true heritage of humanity, not only because of the undeniable
artistic quality of a genius and its unmatched innovation, but also by the
message that the poem An die Freude ("To
Joy ") by Friedrich Schiller
conveys and that should be a motto for our Europe in fission. It should be
noted that this symphony marks this year the 190 years of its premiere.
Emphasize once again that Beethoven and his
Symphony no. 9 are remarkable is unnecessary and would prove to be an
exhausting tautological exercise for the reader. So we move to the analysis of
the concert.
The first part consisted of a work of Daan Janssens named (...revenir
dans l' oubli…), an order of FCG in world premiere. It is not particularly
interesting, explores an emptiness sound, ethereal, with some stridency and
mixed anxiety.
Principal conductor of FCG - British
phlegmatic Paul McCreesh - led the Symphony of Beethoven. I admit, once
again, that, in my limited understanding, he is a conductor that transmits very
little energy and seems not very involved, which is transmitted to the
orchestra that, as a rule, have only sufficient interpretations (Pedro Ribeiro on oboe was particularly
at good level and he is one of the best musicians of the Orchestra!). That's
what yesterday was found: it was just enough. Did not help the soloists who
presented a grossly inadequate quality for the size of the work and required
quality in a hall with the tradition of FCG. Florian Boesch, baritone and the best of the four, had some
difficulties in the high register; Noah
Stewart, tenor, was barely heard; Virpi
Raisanen, mezzo-soprano, was not heard at all; and Ann-Helen Moen, soprano, sounded the higher notes audibly. The Gulbenkian Choir (conductor Jorge Matta) was, as usual, in very
good level, being the artistic element highlight of the concert. I think the
audience applauded Beethoven’s music!
Now that Paul McCreesh debut season is ended, I regret making a negative
balance: not seen any growth in this orchestra but an involution. We'll see
what the next 2014/15 season is bringing...
Eu gostei de ouvir os solistas! A audibilidade pareceu-me aceitável e fiquei com curiosidade de ouvir o tenor Stewart noutro contexto - voz invulgar!
ResponderEliminarI dropped by to say hello! I have been absent from blogging for a while, and I did miss your posts. It’s good to be back.
ResponderEliminarCaro Camo_Opera, peço desculpa mas terei de corrigi-lo. O coro foi preparado pelo novo maestro assistente do coro, Paulo Lourenço, e não pelo Jorge Matta, como menciona no texto.
ResponderEliminarCaro, Reparei que foi Paulo Lourenço quem veio aos aplausos e sei, igualmente, que foi recentemente nomeado maestro assistente do Coro Gulbenkian. Todavia, fiz fé na informação divulgada pela própria FCG no programa de sala. Mas fica a correcção. Saudações
Eliminar...coro em grandíssimo nível...
EliminarLamentalvemente, não reconheci a 9ª naquilo que ouvi. Talvez no último andamento, com a intervenção do coro, e mesmo assim... Houve momentos penosos, com "efeitos" inventados pelo maestro. "Esvaziar" obras parece-me ser uma constante de McCreesh. Especialistas no barroco tendem a espalhar-se ao comprido nos restantes períodos, exceptuando talvez o contemporâneo. Não sei por que razão falharam os solistas. Mesmo a parte soprano do coro soou-me no final demasiado estridente -- gritada, seria mais adequado -- e não é costume. Ouço comentários de amigos que vão no sentido de lamentar a presença de McCreesh como maestro da gulbenkian. Não sei fazer petições, mas quem souber que faça uma a pedir para o substituírem. No que respeita ao maestro titular, foi uma temporada catastrófica.
ResponderEliminarMcCreesh é um especialista a estragar obras de todo o género (barroco, inclusive). Já na temporada passada, depois de anunciado, dei nota do Requiem de Mozart que veio cá apresentar: dessa vez nem o Coro o salvou. Foi uma das maiores decepções de sempre naquela sala. Entretanto teve, como diz, uma temporada catastrófica e a Sinfonia n.º 9 foi o culminar disso mesmo. Tem um gosto particular por inventar e isso também ficou bem patente: por exemplo na entrada do 4.º andamento. Mas basta ler algumas críticas a gravações suas para perceber que é, no mínimo, muito pouco consensual. E, para além das insuficiências qualitativas manifestas, ainda apresenta uma postura de que não gosto. Confesso que tenho saudades de Foster… Nunca pensei… Quanto à petição: se alguém a fizer eu assino-a de olhos fechados.
EliminarSim, na entrada do 4º andamento... Também assino, nãio sei é como fazer petições na net.
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