sábado, 15 de junho de 2013

NABUCCO, New National Theater, Tóquio, Junho de 2013 / Tokyo, June 2013




Nabucco é uma das primeiras óperas de Verdi, com libretto de Temistocle Solera, que conta a história do rei Nabucodonosor da Babilónia. Foi o primeiro grande êxito do compositor, estreado durante a ocupação austríaca do norte da Itália. O famoso coro dos escravos hebreus Va, pensiero, sull'ali dorate tornou-se um hino do nacionalismo italiano.

Desta vez vou falar menos da ópera e mais da vivência que tive em Tóquio.


 O New National Theatre faz parte do Opera Palace da cidade, uma construção muito recente, moderna e de uma beleza de cortar a respiração. A arquitectura é belíssima, o espaço de uma harmonia formidável, com lagos entrecortados por estruturas de pedra criando um ambiente repousante e de um impacto visual marcante.


 O teatro é uma das muitas salas existentes no complexo, tem uma entrada ampla e magnífica e é de grandes dimensões. Tudo está imaculadamente limpo e arranjado, a decoração é sóbria, a funcionalidade inexcedível e o conforto assinalável. 


 Imediatamente antes do início do espectáculo há os habituais avisos sobre a proibição de tirar fotografias ou fazer gravações durante o espectáculo. Mas nestes há sempre aspectos interessantes (sobre os quais, um dia mais tarde, escreverei algo). Desta vez, em japonês e em inglês, também se pede às pessoas para não se inclinarem para a frente porque perturbam a visibilidade de quem está sentado atrás e informa-se que, em caso de sismo, deveremos permanecer sentados até nos indicarem uma saída em segurança, dado que o edifício foi construído com a mais avançada tecnologia anti-sísmica.


 Sendo o povo japonês talvez aquele que, no mundo, mais gosta de tirar fotografias, ninguém o fez dentro do teatro e sempre que tentei registar fotograficamente, para memória futura, alguns dos momentos inesquecíveis para mim desta experiência única, fui imediatamente convidado, com toda a correcção, a não fotografar. Por isto a escassez de imagens.


 E passo já a comentar a postura dos japoneses. São o povo mais cortês e educado que conheci até hoje! No dia a dia não há ninguém que não tente ajudar empenhadamente, apesar da barreira da língua. Só vindo ao Japão se consegue apreciar a dignidade e respeito com que tratam os estrangeiros (e entre si). Há uma influência significativa do ocidente, sobretudo na imagem corporal e vestuário, mas a essência da cultura oriental nipónica é constante e impressionante. A sensação de segurança é absoluta e, no mar de gente que circula por Tóquio, a ordem e respeito pelos outros não são frequentes, são a única forma de estar!

Em relação ao espectáculo em si, diria que o “eurotrash” chegou em força a Tóquio. A encenação do inglês Graham Vick é horrorosa. Do pior que já vi. O cenário é rico, toda a acção se passa dentro de um moderníssimo centro comercial actual com vários andares e escadas rolantes entre eles. Os hebreus são os sofisticados visitantes e compradores, e os assírios um grupo de assaltantes mal vestidos com cabeças de porco, máscaras dos “anonymous” ou outras, que tudo saqueiam e destroem. E é assim até ao fim do espectáculo. Um nojo!


 Pelo contrário, a música foi de elevada qualidade. A direcção musical esteve a cargo do maestro Paolo Carignari. A Tokyo Philarmonic Orchestra foi grande e competente e o New National Theatre Chorus foi absolutamente excepcional.


 Também os solistas tiveram interpretações notáveis. O barítono Lucio Gallo fez um Nabucco vocalmente muito aceitável, bem audível e expressivo, o mezzo Mariane Coretti foi a melhor da noite na Abigaille pérfida que nos ofereceu. A cantora tem uma voz enorme e soube utilizá-la de forma superior, cativando sempre em todas as intervenções. Também o baixo Konstantin Gorny foi um Zacharia competente, com um timbre muito interessante e um registo grave assinalável. Os cantores japoneses foram excelentes, nomeadamente o tenor Higuchi Tatsuya como Ismael e o mezzo Taniguchi Mutsumi como Fenena. Nos papéis secundários foram também muito bem o soprano Ando Fumiko como Anna, o tenor Uchiyama Shingo como Abdallo e o baixo Tsumaya Hidekazu como Grande Sacerdote.


 O público manteve-se totalmente silencioso durante o espectáculo. Não se ouviu uma tosse ou qualquer outro ruído, apenas os aplausos, calorosos, mas sempre só depois de a música terminar.


 Apesar da encenação abjecta, foi uma noite que não esquecerei.

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Nabucco, New National Theater, Tokyo, June 2013

Nabucco is one of the first operas by Verdi, with libretto by Temistocle Solera, which tells the story of King Nabucco of Babylon. It was the first great success of the composer because it was released during the Austrian occupation of northern Italy. The famous chorus of the Hebrew slaves Va, pensiero, sull'ali dorate became an anthem of Italian nationalism.

This time I will talk less on the opera and more of the experience I had in Tokyo.

The New National Theatre is part of the city Opera Palace, a very recent, modern construction of breathtaking beauty. The architecture is beautiful, the place is of a formidable harmony with lakes interspersed with stone structures creating a relaxing environment and a striking visual impact.

The theater is one of the many existing rooms in the complex, and has a wide magnificent and large entrance. Everything is immaculately clean and organized, the decor is sober, of unsurpassed functionality and remarkable comfort.

Immediately before the start of the performance we heard the usual warnings about the prohibition to take photographs or make recordings during the performance. But there are always interesting aspects on these warnings (on which, later on, I will write something). This time, in Japanese and in English, they also urged people not to lean forward because they disrupt the visibility of who is sitting back and inform that, in case of earthquake, we should remain seated until we were indicated a way out in safety, since the building was built with the most advanced technology against earthquakes.

The Japanese people are, perhaps, those in the world who like more to take photographs, but nobody did it within the theatre. When I tried to take some for future memory of the unforgettable moments for me during this unique experience, and for this blog, I was immediately invited not to do it, in the most polite way. Hence the lack of pictures in this post.

And I now comment on the the Japanese public. This people is the most courteous and polite I met until today! On day by day there is none that does not try to help assiduously, despite the language barrier. Just when we are in Japan we can appreciate the dignity and respect with which they treat foreigners (and each other). There is a significant influence of the West, especially in body image and clothing, but the essence of oriental japsnese culture is constant and impressive.
The feeling of safety is absolute, and the constant characteristics of the thousands of ​​people flowing through Tokyo are sympathy, order, discipline and respect for others!

Regarding the performance, I would saythe that  "Eurotrash" arrived in full to Tokyo.
The staging by English director Graham Vick is horrible. The worst I've seen. The scenery is rich, the action happens inside a modern shopping mall with several floors with escalators between them. The Hebrews are sophisticated buyers and visitors, and the Assyrians a group of robbers dressed in evil pig heads, masks of "anonymous" or similar. They plunder and destroy everything. And i tis so until the end of the performance. Disgusting!

In contrast, the music was of high quality. Musical director was conductor Paolo Carignari. The Tokyo Philharmonic Orchestra was great and competent and the N
ew National Theatre Chorus was absolutely exceptional.

Also the soloists gave outstanding interpretations. The baritone Lucio Gallo was a vocally very acceptable, very audible and expressive Nabucco. Mezzo Mariane Coretti was the best of the night as the perfidious Abigaille. The singer has a big voice and knew how to use it, always captivating in all interventions. Also the bass Konstantin Gorny was a competent Zacharia, with a very interesting timbre and remarkable bass register. The Japanese singers were excellent, especially  tenor Tatsuya Higuchi as Ishmael and mezzo Taniguchi Mutsumi as Fenena. In supporting roles also were well, soprano Ando Fumiko as Anna, tenor ​​Shingo Uchiyama as Abdallo, and bass Tsumaya Hidekazu as High Priest.

The public remained completely silent during the performance. A cough or any other noise was not heard, just the warm applause, but always only after the music ended.

Despite the abject staging, it was a night I will not forget.

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3 comentários:

  1. Parece-me tudo magnífico em termos arquitectónicos.

    Quanto à encenação, já tinha visto umas fotografias. Nem sei o que diga, caro Fanático_Um.

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    1. Tem razão Paulo, arquitectonicamente é um espaço maravilhoso.
      A encenação é inenarrável. E estava em cena, em simultâneo, um Così fan tutte que, segundo me relatou um amigo que viu, ainda tinha uma encenação pior (se é que é possível, ele não viu este Nabucco).
      Mais um espectáculo para ver de olhos bem fechados! (o que é uma pena em ópera).

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    2. Boa piada, dizer que havia encenação!

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