(Review in English below)
A ópera Il
Trovatore de Giuseppe Verdi foi
estreada a 19 de Janeiro de 1853 no Teatro Apollo em Roma. O libretista foi o
italiano Salvador Cammarano que se
baseou na peça El trovador do
espanhol Antonio García Gutiérez. É
uma das mais famosas óperas de Verdi e foi a 21.ª ópera mais representada entre
2007 e 2012.
A encenação ficou a cargo de Francesco Esposito. Decidiu modernizar
a ópera que se passa no século XV. O problema maior é que o texto está cheio de
referências a situações e coisas não transponíveis para os tempos de hoje:
guerras de condes, espadas, cercos a castelos, etc. Utilizou estruturas
metálicas com painéis para fazer edifícios de betão. Transformou os homens do
Conde em guerreiros com metralhadoras. O castelo numa camarata militar com
beliches. Azucena é uma cigana com medalhas militares alcoólica temida pelos
militares. Em suma, pode dizer-se que, apesar de a história se seguir, a encenação
estava totalmente desadequada ao século XV e não houve esforço de uma real
adaptação aos tempos de hoje.
A Orquestra
Sinfónica Portuguesa não estiveram em grande plano. Martin André teve uma interpretação muito irregular no tempo, com
desencontros frequentes com os solistas, muito pouco clara no som e com alguns naipes a falhar (os sopros no famoso coro que abre o 2.º acto) e a apostar em finais demasiado...
apoteóticos...
Os solistas também não foram brilhantes.
O soprano italiano Rachele Stanisci foi Leonora. A voz tem um timbre ligeiramente sujo
e não é especialmente belo. Teve uma interpretação cénica aceitável, embora a
direcção de actores a tenha feito ser histérica: sempre a apontar-se uma arma à
cabeça. Mas a interpretação vocal esteve longe de ser magnífica com muitas
estridências nos agudos.
O mezzo-soprano italiano Agostina Smimmero foi Azucena. Cenicamente esteve em bom plano,
conseguindo transmitir os sentimentos trágicos da ópera, nomeadamente quando
conta a Manrico a morte da mãe e do seu filho. Vocalmente, apesar de não ter a
voz potente e timbre escuro em toda a amplitude vocal típica dos mezzo
verdianos, foi regular e teve a interpretação mais conseguida da récita.
O tenor sérvio Ivan Momirov foi Manrico. Apesar de após o intervalo do 2.º acto
ter sido anunciado que o tenor estava indisposto e que, ainda assim, iria
continuar, teve uma interpretação vocal sofrível. É verdade que tem potência
vocal e que foi sempre audível, mas o timbre da voz não é agradável, esteve
sempre em esforço para atingir as notas agudas e tem um tom lamurioso.
O barítono letão Valdis Jansons foi Il Conte di Luna. Cenicamente teve uma postura
um pouco estática e, vocalmente foi regular, apesar de alguma dificuldade na
projecção ao início.
O baixo italiano Giovanni Furlanetto foi Ferrando. Teve uma interpretação cénica
eficaz e vocalmente, embora regular, não encantou.
Os restantes elementos têm papéis demasiado
menores para se fazer uma avaliação.
Assim, pode afirmar-se que se assistiu a uma
récita homogénea, mas pautada pela diminuta qualidade vocal e orquestral com
uma encenação pouco adequada ao texto. Tendo em conta a escassez de recursos,
continua a não ser compreensível o porquê de se apostar em cantores
estrangeiros e não nos portugueses que nem oportunidade para se mostrar têm, o
mesmo se aplicando aos encenadores. Porque não ir buscar aos caixotes do TNSC uma
encenação das antigas?
--------------
(Review in
English)
The opera Il Trovatore of Guiseppe Verdi had its premiere in January 19, 1853 at the Teatro
Apollo in Rome. The Italian Salvador
Cammarano wrote the libretto that was based on the Spanish play El trobador by Antonio García Gutierez. It is one of the most famous operas of
Verdi and was 21st most represented opera between 2007 and 2012.
Francesco Esposito did the staging decided to
modernize the opera that takes place in the fifteenth century. The bigger
problem is that the text is full of references to situations and things do not
translated to modern times: wars between counts, swords, castles sieges, etc.
Metal structures were used to make concrete buildings. Cout’s men were turned
men into warriors with lot of guns. The castle was transformed in a military
dormitory with bunk beds. Gypsy Azucena is an alcoholic with military medals
feared by the military. In short, it can be said that although the storyline is
followed, the scenario was totally inadequate to the fifteenth century and
there was no real effort to adapt it to modern times.
The Portuguese Symphony Orchestra was not
in good plan. Martin André had an
interpretation very irregular in tempo, with frequent clashes with the soloists
and bet on apotheotic finales…
The soloists were
not brilliant.
The Italian
soprano Rachele Stanisci was
Leonora. The voice has a timbre slightly dirty and not especially beautiful. She
had an acceptable scenic interpretation, although the direction of the actors
has done her to be hysterical: always pointing a gun up to her head. But the
vocal interpretation was far from the shrillness, shouting pitch notes a lot.
The Italian
mezzo-soprano Agostina Smimmero was
Azucena. Scenically she was in good plan, managing to convey the feelings of
the tragic opera, particularly when tells Manrico her mother and son deaths.
Vocally, despite not having a powerful voice and dark tone throughout the vocal
range of typical Verdian mezzo, she was regular.
The tenor Manrico
was Serbian Ivan Momirov. Although
after the 2nd intermission has been announced that the tenor was
unwell and that he still will continue, he had an insufficient vocal
interpretation. He has vocal power and was always audible, but his timbre is not
pleasant, he was always in effort to reach the high notes and has a plaintive
tone.
The Latvian
baritone Valdis Jansons was Il Conte
di Luna. Scenically he was slightly static and vocally was regular, although with
some difficulties in vocal projection at the beginning.
The Italian bass Giovanni Furlanetto was Ferrando.
Scenically he had an effective interpretation and vocally, although regular, he
did not charmed.
The remaining
elements have roles too minor to make an assessment.
Thus, it can be
said that there has been a regular performance uniform, but guided by faulty quality
at orchestral and vocal levels with a staging not adapted to text. Given the
scarcity of resources, it is still not understandable why to invest in foreign
singers and not the Portuguese who neither have the opportunity to show them. The
same applies to directors. Why not pick up on TNSC’s archives an old good stage?
Discordo em relação a quase tudo--gostei muito do espectáculo!! Tenho de acabar umas coisas urgentes, mas já escrevi a crítica. Mais logo, depois de reler, publico-a! Cumprimentos aos amigos fanáticos!
ResponderEliminarTambém estive presente e é com tristeza que deixo as seguintes notas:
ResponderEliminarPôr em cena o Trovador é um acto arrojado que exige, entre outras coisas, cantores capazes para os papeis principais.
Não posso estar mais de acordo consigo, camo_opera, quando sugere que a maioria das interpretações deveria ter sido entregue a cantores portugueses. atendendo ao que vimos e ouvimos nestes estrangeiros.
O soprano começou muito mal, mais a gritar que a cantar, embora tenha melhorado ao longo da récita, mas revelou fragilidades marcantes nas notas mais agudas. O baixo não tinha graves e o barítono ouvia-se mal sempre que a orquestra soava um pouco mais forte. O tenor nem vou comentar, mas vamos admitir que a sua prestação foi por que estava "indisposto", como nos comunicaram. O mezzo foi, ainda assim, a melhor, apesar de a encenação não a ter ajudado nada (nem a nenhum dos outros!)..
Mas, para mim, o pior de tudo foi o maestro André. Os desencontros foram constantes, o ritmo que imprimiu foi, por vezes, excessivamente rápido, causando dificuldades aos cantores e tirando beleza à obra musical (o melhor exemplo foi na "Stride la vampa!!" da Azucena, mas houve outros) e fez uma direcção tão ruidosa que quase dava vontade de dizer um schiiii! em plena actuação!
Na situação actual em que termos a possibilidade de assistir a uma ópera encenada é um presente raro, é com muita mágoa que escrevo estes comentários mas, com todos os condicionalismos actuais, confesso que esperava muito melhor!
E confiem nos canotres portugueses e dêem-lhes papéis mais relevantes!
Assisti à récita de Domingo. Concordo plenamente com a crítica inicial. Para quê gastar dinheiro com cantores estrangeiros de 2ª categoria, em vez de dar oportunidade aos cantores portugueses, os quais ficam sempre com os papéis menores. Ou então, se não há dinheiro para fazer um programa com qualidade, porque não fazer uma só ópera, em vez de três, mas com com interpretes de 1º plano. Depois de ouvir um Manrico e uma Leonora tão más, não falando do resto, saí desta récita extremamente desiludido, a desejar que as próximas duas sejam melhores. 15/04/2013 M. Mourato
ResponderEliminarA título de curiosidade, refira-se que Ivan Momirov já havia cantado este mesmo papel em São Carlos, designadamente, na produção levada à cena em 2002, protagonizada pelo malogrado Salvatore Licitra.
ResponderEliminarTambém estive presente e concordo com o que foi dito pelo camo_opera. Pessoalmente não tenho nada contra encenações modernas de óperas, aliás já assisti a algumas muito bem conseguidas e de enorme sucesso. Porquê?! Porque assentaram na história e nos seus personagens como base. Penso que este caso é um daqueles crassos onde se parte de um conceito estético para depois se adaptar o drama o que na minha opinião é logo um mau começo. Bem sei que partir do drama para depois lhe aplicar um conceito de estética é bem mais difícil pois a base de uma produção é feita a partir da direcção de actores e não num superficial "modelling" que, estou certo, deve resultar muito bonito no papel mas que realmente deixam ao espectador as incoerências citadas acima. Quanto ao canto, que é (ou deveria ser) sempre o factor principal de uma ópera, como extensão da voz falada e como veículo condutor do drama fico-me apenas também pela constatação que aos portugueses não são dadas oportunidades. Realmente este país é cruel com a sua gente e de facto, depois de algumas boas prestações por cantores nacionais nos últimos tempos, percebe-se que o grande problema dos cantores portugueses em Portugal é terem nacionalidade portuguesa. Nenhum serve para papeis de relevência, mas qualquer badameco pode vir estrear-se em S. Carlos que, mesmo sendo mediocre, já não há problema!. Não é só no canto, o provincianismo d' "o que vem de fora é que é bom" está no ADN nacional, o mesmo que apenas contrata estrangeiros para os lugares decisores da nossa Cultura.
ResponderEliminarE preparam-se para o que vem aí para o Rigoletto. Mais arrojado era impossível. E mais não posso dizer.
ResponderEliminar